• Nenhum resultado encontrado

7 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

7.3 A relação entre música e exposição

Ao que se refere à relação entre música e exposição, para o grupo controle foi questionado a possibilidade de uma música ou um tipo de música ser relacionada à

exposição pela qual eles passaram. A categorização temática deste grupo mostra que os temas com maior número de menções são Elementos Musicais e Elementos Sonoros. Assim, nota-se que praticamente todos os participantes afirmam ser possível esta relação (apenas um diz-se impossibilitado de responder por não entender do assunto) e sugerem uma música ou compositor determinados, um estilo convencional ou características desejáveis. Os temas Conteúdos Abordados e Intenção do Expositor tratam de questões intrínsecas à construção da exposição, onde é ressaltada a importância de uma música construída em conformidade com os objetivos da exposição. São sugeridas, ainda, características que a música deve possuir para pré-dispor o visitante a um melhor aproveitamento do conteúdo trazido pela exposição, tais como nos temas Sensibilização

Musical, Evocação de Sentimentos e Interação com Conteúdos.

De uma forma geral, ao descrever como poderia ser a “música da exposição”, eles estão afirmando ser possível a transmissão de mensagens através de uma música, além de uma maior interação entre o público e a exposição. Como visto nos capítulos teóricos, a linguagem musical apresenta diferenças em relação à linguagem verbal, mas nem por isso deixa de ter funções comunicativa, social e representativa (Magnani, 1996; Bauer, 2003; Duarte & Mazzotti, 2003).

Este mesmo princípio é confirmado pelo grupo experimental, que disserta sobre a linguagem musical presente na exposição. A categorização temática deste grupo apresenta uma relação direta entre a música e a exposição nos temas Elementos Musicais,

Conteúdos Abordados e Intenção do Expositor. Os participantes falam ainda, e com

freqüência superior, da maior interação entre eles e a exposição, proporcionada pela música utilizada. Esta característica pode ser vista nos dois temas mais mencionados

Evocação de Sentimentos e Interação com Conteúdos, além do tema Sensibilização Musical.

Estes dados corroboram a discussão feita anteriormente sobre a relação estreita entre a função comunicativa da música e seu aspecto social (Bauer, 2003). Eles indicam também que a música pode preencher um espaço importante existente no contexto da exposição científica. De acordo com Stocklmayer (2002) o aprendizado da ciência pode ser visto como uma inter-relação entre os contextos pessoal, físico e social. Desta forma, a linguagem musical, em relação próxima com a proposta da exposição, reforça a mensagem a ser transmitida, além de pré-dispor o indivíduo para a exposição e proporcionar uma melhor interação entre ambos.

Comparando-se o quadro temático do grupo controle e do grupo experimental, percebe-se uma relação entre os temas dos grupos. O grupo controle aponta como desejáveis para a pré-disposição dos visitantes características presentes nos temas

Evocação de Sentimentos, Interação com Conteúdos e Sensibilização Musical, ao

passo que o grupo experimental apresenta características semelhantes (em temas correlatos) como pertinentes à linguagem musical utilizada para proporcionar uma melhor interação com a exposição. O grupo controle indica a importância da construção de uma música de acordo com o proposto pela exposição como nos temas Intenção do Expositor e Conteúdos Abordados, enquanto o grupo experimental traz esta mesma concordância presente através dos temas correlatos. Por fim, o grupo controle sugere elementos que devem se fazer presentes na música para que esta esteja em relação harmoniosa com a exposição, como os encontrados nos temas Elementos Musicais e Elementos Sonoros. O grupo experimental, por sua vez, mostra a presença de alguns destes elementos (contraste, sons da natureza, som de água, ruído) e fala da sua importância neste contexto no tema

Elementos Musicais. Assim, constata-se uma concordância entre o que foi sugerido como

desejável para a “música da exposição” e o que foi apresentado como pertinente na linguagem musical utilizada na exposição.

Ainda sobre a linguagem musical presente na exposição científica, ressalta-se a sua composição de acordo com o conceito de paisagem sonora de Schafer (1991). A construção desta foi feita a partir de uma música prévia, inserindo-se “interferências”, ou seja, ruídos, segundo a concepção deste mesmo autor. Estes ruídos, que estão de acordo com a paisagem sonora contemporânea – pessoas falando, sons de fábricas e motores, entre outros – foram utilizados como indicativos da relação intrusiva do ser humano com o meio ambiente. Desta forma, a linguagem musical objetiva enfatizar o conteúdo abordado pela exposição (paradigmas ambientais e água), dialogando com as outras linguagens presentes. Atendo-se aos temas discutidos anteriormente, percebe-se que este aspecto foi contemplado nos discursos dos participantes.

Tomando-se a variável experiência musical dos dois grupos (controle e experimental) percebe-se que os temas Evocação de Sentimentos e Interação com

Conteúdos (correlatos nos dois grupos) são mais mencionados pelos não-músicos. Por

outro lado, os temas Intenção do Expositor e Elementos Musicais (correlatos nos dois grupos) são mais freqüentes para a parcela dos músicos. Estes dados indicam que os não- músicos falam mais da música em relação a sentimentos e atitudes despertados por ela. Enquanto que os músicos discorrem de uma forma mais analítica sobre a música

propriamente dita e sobre sua relação com a exposição. Novamente confirma-se que experiências musicais diferentes e interesses distintos em relação à música demonstram experiências de aprendizado diferenciadas (Stocklmayer, 2002).

A música utilizada na exposição foi analisada sob uma forma diferente, pelos alunos que não passaram pela exposição (grupo ouvinte). Os discursos deste grupo foram utilizados como uma forma de controle, questionando-se a função comunicativa da música utilizada num contexto diferente.

Observando-se o quadro temático obtido a partir dos dados deste grupo, nota-se que tanto as imagens evocadas quanto as temáticas específicas relacionadas à música abordam elementos da natureza, elementos humanos e/ou de produção do homem, ou a interação entre ser humano e meio ambiente. O tema Imagens de Elementos Naturais é o mais mencionado nos discursos, sendo que as categorias Motores, Questões Ambientais e

Atividades Humanas estão entre as mais freqüentes. A maior parte das temáticas

específicas sugeridas pela música (dez de um total de catorze), na opinião dos estudantes, está relacionada com a temática dos paradigmas ambientais.

A partir destes resultados, pode-se dizer que, apesar do contexto diferenciado e a inexistência de reforços visuais, a música é percebida de maneira semelhante no que se refere à mensagem transmitida através de imagens evocadas. Corrobora-se, assim, Bauer (2003) quando este atribui o sentido conotativo da música, ou seja, sua capacidade simbólica às imagens e associações que podem ser partilhadas por um grupo social. Acrescenta-se ainda à discussão os estudos de Duarte e Mazzotti (2003), que entendem a música como fenômeno de comunicação social e, por isso, tratam objetos musicais como objetos de representações sociais. Desta forma, a música que foi composta para ressaltar o conteúdo da exposição científica parece trazer em si as representações trabalhadas na exposição, transmitindo informações semelhantes a estas.

É necessário colocar que isto parece estar relacionado principalmente ao contraste entre a música base (previamente composta) e os ruídos inseridos. A unidade de análise mais vezes mencionada nas respostas do grupo ouvinte é a categoria Contraste entre

Música e Ruídos, que trata exatamente desta relação. Dezessete estudantes (de um total de

vinte e oito) falam desta categoria, além dos discursos atribuírem a maior parte das imagens evocadas aos recursos sonoros utilizados. Observando-se as respostas dos ouvintes, nota-se a identificação destes elementos (água, pessoas, máquinas) e conseqüente evocação das imagens. Assim, compreende-se que os participantes percebem a paisagem

sonora apresentada pela contemporaneidade, estando familiarizados com seu vocabulário sonoro (Schafer, 1991).

Conforme Tomás (1998), a música está aberta à colagem de significados externos, integrando-se a outras linguagens. É isto que acontece na exposição científica e faz esta linguagem tão importante no contexto da divulgação da ciência. A música não desempenha um papel de fundo, mas interage, no mesmo plano, com as demais linguagens presentes na exposição. Fazendo parte desta construção, da exposição científica, a música influencia, conseqüentemente, na percepção geral da exposição e esta, por sua vez, na idéia de meio ambiente dos visitantes. Desta forma, pode-se dizer que a própria música apresenta certa influência na idéia de meio ambiente dos participantes.