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A relação entre Representações Sociais e valores

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CAPÍTULO II – AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NA CONCEPÇÃO DE

2.9 A relação entre Representações Sociais e valores

O primeiro estudo original sobre valores humanos, foi feito pelo psicólogo Milton Rokeach, que buscou identificá-los de forma exaustiva, tornando-se um referencial exemplar para todas as pesquisas seguintes.

Portanto, ao falarmos de valor é necessário compreendermos que ele possui uma noção plurívoca. Já para Rockeach (1973), os valores são critérios que os indivíduos usam para elencar e justificar as ações e para analisar os acontecimentos ou pessoas, até a si mesmo. Isso demonstra que os indivíduos tendem a construir um juízo das situações diárias com base nos valores que elas têm. Segundo Rokeach (1968/69, p. 550), "Dizer que uma pessoa 'tem um valor' significa que ela tem uma crença firme no sentido de que um determinado modo de conduta ou um determinado estado terminal são preferíveis a modos de conduta, ou estados terminais alternativos".

As pessoas analisam se tal conjuntura é boa ou ruim, certa ou errada. Essas mesmas pessoas, analisam também as ações delas mesmas ou dos outros, fazendo por tanto, julgamentos morais, ou analisando de acordo com suas pretensões de vida. Rokeach (1973, p. 122) coloca que “o conhecimento dos valores de uma pessoa nos deveria permitir predizer como ela se comportará em situações experimentais e em situações da vida real”

Segundo Rockeach (1973), o número de valores de um indivíduo é parcialmente reduzido, isto é, cada indivíduo possui um repertório pequeno de valores para analisar os acontecimentos da vida. Salienta-se ainda, que cada pessoa, em todo o mundo, possuem os mesmos valores, mas em dimensões dissemelhantes, por meio do qual podemos concluir que existem poucos valores na humanidade. Assim, esses valores são estruturados em um sistema de valores, onde os indivíduos podem considerar a alguns e não a outros. Podendo também os indivíduos considerar em intensidades dissemelhantes a cada um dos valores que eles aderiram. Por conseguinte, a responsabilidade é um valor que permeia o pensar humana. Os indivíduos habituaram-se a se preocupar em analisar as situações e as ações em comportamentos de responsabilidade. Entretanto, as pessoas podem aderir a dissemelhantes maneiras aos valores de responsabilidade e, consequentemente, podem analisar de maneiras dissemelhantes a mesma situação.

Na concepção de Rockeach (1973), existe uma sistematização dos valores em um sistema. Um sistema de valores “nada mais do que uma disposição hierárquica de valores, uma classificação ordenada de valores ao longo de um contínuo de importância" (ROKEACH,

1968/69, p. 551). E este sistema é um equilíbrio homeostático que sintonizam os valores da sociedade e as realidades que as pessoas precisam lidar para existir. Quando ocorre uma falha nessa sintonia, acontece um desequilíbrio e, em consequência, uma mudança. Portanto, os valores são duráveis, contudo, podem evoluir ao logo do desenvolvimento da história, como será explicitado a seguir.

É importante ressaltar, que as origens e a conservação dos valores da humanidade situam-se na sociedade, nas instituições e na personalidade das pessoas. Os indivíduos adquirem esses valores como se fossem uma herança histórica transmitida por meio da socialização e também por intermédio da educação da criança.

Entretanto, esses valores são tradicionais e transmitidos para a sociedade e para as pessoas por meio de instituições, bem como, as instituições educativas, jurídicas, religiosas, entre outras. Por essa razão, as consequências dos valores humanos se apresentam e quase todos os fenômenos que os pesquisados da área das Ciências Humanos podem pesquisar, como a educação.

Logo, os valores também servem para garantir a uniformidade do pensamento e a ação de cada grupo, criando uma base identitária para os mesmos. Partindo desse segmento, isso significa que os indivíduos normalmente participam de grupos em que eles partilham os mesmos tipos de valores e, por este motivo, eles se sentem identificados com esses grupos. Para Spadoni (2016), as dessemelhanças de valores entre os grupos servem de critérios para diferenciá-los entre si, isto é, os indivíduos sabem que não partilham dos mesmos valores de determinados grupos e, por este motivo, não pretendem participar do mesmo. Já nas relações pessoais dentro dos grupos os valores servem de acordo e união. Entretanto, nas relações entre grupos dissemelhantes os valores servem como elemento de discórdia e polêmica, que na maioria das vezes, podem provocar conflitos. Podemos citar como exemplo os grupos que privilegiam os valores coletivos e outros grupos que privilegiam os valores individuais. O primeiro grupo prestigia as ações que contribuem para o bem geral de seus membros, enquanto, o segundo grupo estima ações competitivas que propiciem o sucesso pessoal. Tudo isso poderá variar de acordo com o contexto ou a situação demonstrada a esses grupos. Outro ponto importante, é que possivelmente os grupos modifiquem suas prioridades a fim de se ajustarem a acontecimentos vividos.

Assim, um grupo de orientação geral coletivista pode motivar condutas individualistas em acontecimentos específicos. E o mesmo pode acorrer com um grupo individualista, quando por exemplo, aparece uma situação competitiva em que para vencer é preciso trabalhar em grupo.

Na visão de Spadoni (2016), o que irá variar aqui é a intensidade com que cada grupo considera determinados valores, pois, normalmente, os valores são os mesmos para a maioria dos grupos e dos indivíduos. Assim, cada grupo possui uma hierarquia de valores mais relevantes, que devem predominar em casos de divergências entre dois valores.

Uma pesquisa internacional foi realizada em 1983, por Stoetzel, no qual aponta que os valores se estruturam entre eles e podem direcionar tomadas de posições políticas. Ele descobriu que existe uma contraposição entre os valores de liberdade e igualdade, na área política. Logo, a esquerda política pende a elencar a igualdade como subjacente à liberdade e a direita política privilegia a liberdade em detrimento da igualdade.

Na perspectiva de Spadoni (2016), os valores também propiciam referências estáveis de julgamento para uma grande diversidade de objetos e situações. Os valores possuem uma hierarquia entre eles que permite aos indivíduos determinar e justificar as suas escolhas. Eles são compartilhados pelos indivíduos que pertencem ao mesmo grupo. Os valores asseguram os procedimentos de conservação do status quo, que permanece invariáveis por longos períodos e asseguram a continuidade de instituições políticas. Portanto, os valores possuem papel particularmente organizador nas representações sociais. Eles encontram-se no núcleo central, fazendo parte dos elementos não negociáveis de uma representação. E por essa razão, as propriedades do núcleo são equivalentes a dos valores.

Na concepção de Abric (2003), o núcleo central da representação está conectado a memória coletiva e também a historicidade do grupo. Apresenta-se de forma consensual e determina a homogeneidade do grupo, também é estável, coeso, rígido e resistente a mudança, sendo pouco sensitivo as situações imediatas. Os valores, do mesmo modo, possuem todas essas particularidades, logo, podemos deduzir que os valores interferem nas representações sociais, criando e estruturando tomadas de atitudes sobre os objetos sociais variados, ou seja, os valores sugestionam as representações, que consequentemente, conceberá atitudes. Por exemplo, as atitudes e opiniões de um indivíduo são induzidos pelos valores que ele tem. Quando um indivíduo assiste alguma coisa polêmica na televisão, imediatamente irá criar uma opinião sobre aquele assunto, e isso acontecerá segundo os valores morais e as representações que esse indivíduo possui.

É importante ressaltar, que os valores são considerados como conceitos de nível ideológico, pertencendo a um conhecimento bem abrangente que serve, principalmente para conservar a ordem e as hierarquias econômicas e sociais. Assim, o nível ideológico só irá mudar mediante mudanças históricas que tenha uma longa duração e, por este motivo, propicia muito

trabalho para os historiadores mostrarem suas variações e mutações. Este nível ideológico dos valores interfere diretamente na organização das representações sociais.

No próximo item, descreveremos uma aproximação entre as concepções de Moscovici e Piaget, no que tange as Representações Sociais.

2.10 UMA ABORDAGEM DE APROXIMAÇÃO ENTRE AS CONCEPÇÕES DE

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