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Origem da Teoria das Representações Sociais

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CAPÍTULO II – AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NA CONCEPÇÃO DE

2.3 Origem da Teoria das Representações Sociais

Logo, a Teoria das Representações Sociais foi elaborada pelo psicólogo romeno, naturalizado francês, Serge Moscovici (1925-2014). O termo Representação Social foi cunhado por Moscovici em seu doutoramento, em 1961. Para definir este termo, Moscovici precisou de algumas décadas de trabalho intelectual entre a obra La Psychanalyse: son image et son public, de 1961 e a apresentação da teoria no livro Social Cognition, de 1984. Moscovici propôs-se a considerar as representações como um fenômeno, o que era visto antes da década de 1960 como um conceito.

Moscovici (1978), propõe uma nova posição epistemológica ao afirmar que a absorção da ciência pelo senso comum não é, como geralmente se defendia, uma vulgarização do saber científico, mas sim, um tipo de conhecimento adaptado a outras necessidades, obedecendo a determinados critérios e contextos específicos. Neste sentido, o autor faz a

seguinte colocação: “Toda representação é de alguém tanto quanto de alguma coisa, configurando-se como uma forma de conhecimento por meio do qual aquele que conhece se substitui no que é conhecido” (2009, p. 11).

A partir dessa premissa, a Representação Social pode ser compreendida como uma teoria ou ciência coletiva, destinada à interpretação e à intervenção no real, indo além do que é imediatamente dado na Filosofia e na Sociologia acerca da classificação de eventos e fatos sociais. Elas seriam, portanto, teorias do senso comum que se elaboram coletivamente nas interações sociais sujeito-sujeito e sujeito-instituição, num determinado tempo, em uma cultura e espaço próprios, na tentativa de tornar o estranho familiar e dar conta do real. A este respeito Jodelet faz a seguinte definição: “As representações sociais são uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um determinado conjunto social” (2001, p. 32).

Moscovici foi percursor dos estudos das representações sociais como teoria do senso comum, porém não criou um conceito para as Representações Sociais, pois considerava que elas ocupavam uma posição mista no “cruzamento de uma série de conceitos sociológicos e psicológicos” (2012, p. 39).

Moscovici não criou um conceito inicial para sua Teoria sobre Representações Sociais, pois acreditava não ser possível determinar antecipadamente como sua pesquisa iria desenvolver-se. Portanto, não conclui um conceito fechado de representações sociais justamente para que este evoluisse com sua pesquisa e que pudesse ter abrangência. Moscovici (1981, p. 181), acrescenta que as Representações Sociais são:

Um conjunto de conceitos, preposições e explicações criado na vida cotidiana no decurso da comunicação interindividual. Elas são o equivalente, na nossa sociedade, aos mitos e sistemas de crenças das sociedades tradicionais, podem ainda ser vistas como a versão contemporânea do senso comum.

A Teoria das Representações Sociais tem sua origem na sociologia e na antropologia, por meio dos estudos de Durkheim e Levi-Bruhl, no que orienta a concepção de representação coletiva, utilizada como modelo para produzir teorias sobre religião, magia e pensamento místico. Outros grandes teóricos, também contribuíram para a Teoria das Representações Sociais, como Saussure, com a Teoria da Linguagem, Piaget, com a Teoria das Representações Sociais Infantis, e Vygotsky com a Teoria do Desenvolvimento Cultural.

Dentre todos esses teóricos, o primeiro a falar em representações sociais como “representação coletiva” foi Émile Durkheim (1978), mostrou a especificidade do pensamento social em relação ao pensamento individual. O debate inicial de Durkheim sobre representações

coletivas foi fundamental para que Moscovici procurasse na sociologia um contraponto para a perspectiva individualista da psicologia social, presente na psicologia social. Entretanto, Moscovici propõe que a representação social deve ser vista “tanto na medida em que ela possui uma contextura psicológica autônoma como na medida em que é própria de nossa sociedade e de nossa cultura” (1978, p. 45).

Mesmo que Moscovici tenha sido contagiado pelos pensamentos de Émile Durkheim, suas concepções teóricas são dissemelhantes, já que seu foco se concentrou nas representações da nossa sociedade contemporânea, do político, científico e humano. O raciocínio de Moscovici se diferencia do conceito de Durkheim no aspecto de acreditar que as relações entre sociedade e cultura são correlativas, possuem controvérsias e não estáticas, como defendia Durkheim. Nesta mesma concepção, Duran (2006, p. 41), faz a seguinte colocação: “Enquanto Durkheim vê as Representações Sociais como formas estáveis de compreensão coletiva, Moscovici esteve mais interessado em explorar a variação e a diversidade das ideias coletivas nas sociedades modernas”.

As representações sociais, são apresentadas por Moscovici como um núcleo quase tangíveis, que circulam, se cruzam e se solidificam constantemente por meio da fala, do gesto, do encontro no universo cotidiano.

Para o autor, todo conhecimento implica um exercício que lhe é característico. Cada pessoa é um conhecedor, dotado de sabedoria, que se orienta de ideias e declarações, os quais são acumulados para depois serem utilizados para exprimirem o que pensam. Porém, existem conceitos sem entendimento, entendimento sem conceito, palavras sem teor e teor sem palavras. Nesta perspectiva, para Moscovici (2004, p. 34), as representações apresentam duas funções:

a) “Elas ‘convencionalizam’ os objetos, pessoas ou acontecimentos que encontram. Elas lhes dão uma forma definitiva, as localizam em uma determinada categoria e gradualmente as põem como um modelo de determinado tipo, distinto e partilhado por um grupo de pessoas. Todos os novos elementos se juntam a esse modelo e se sintetizam nele. Mesmo quando uma pessoa ou objeto não se adequam exatamente ao modelo, nós o forçamos a assumir determinada forma, entrar em determinada categoria, na realidade, a se tornar idêntico aos outros, sob pena de não ser nem compreendido, nem decodificado. Os indivíduos pensam por meio de uma linguagem; organizam os pensamentos de acordo com o sistema que está subordinado, tanto por suas representações, como por nossa cultura.

b) Representações são ‘prescritivas’, isto é, elas se impõem sobre nós com uma força irresistível. Essa força é uma combinação de uma estrutura que está presente antes mesmo que nós comecemos a pensar e de uma tradição que decreta o que deve ser pensado. Essas representações são partilhadas pelas pessoas, influenciando-a”.

No conceito de Moscovici (2004), essas representações são compartilhadas pelas pessoas, impactando-as. Neste contexto, as representações significam a circulação de todos os sistemas de seriação, todas as imagens e todas as exposições, mesmo as científicas.

Para Abric (2000, p. 28), essas representações têm um papel fundamental na dinâmica das relações e nas práticas sociais e respondem, também, a quatro funções que as sustentam: a) “Função de saber: as Representações Sociais permitem compreender e explicar a realidade. Elas permitem que os atores sociais adquiram os saberes práticos do senso comum em um quadro assimilável e compreensível, coerente com seu funcionamento cognitivo e os valores aos quais eles aderem.

b) Função identitária: as Representações Sociais definem a identidade e permitem a proteção da especificidade dos grupos. As representações têm por função situar os indivíduos e os grupos no campo social, permitindo a elaboração de uma identidade social e pessoal gratificante, compatível com o sistema de normas e de valores socialmente e historicamente determinados. 3) Função de orientação: as Representações Sociais guiam os comportamentos e as práticas. A representação é prescritiva de comportamentos ou de práticas obrigatórias. Ela define o que é lícito, tolerável ou inaceitável em um dado contexto social.

4) Função justificadora: por essa função as representações permitem, a posteriori, a justificativa das tomadas de posição e dos comportamentos. As representações têm por função preservar e justificar a diferenciação social, e elas podem estereotipar as relações entre os grupos, contribuir para a discriminação ou para a manutenção da distância social entre eles”.

Com base na definição destas funções, faz-se necessário entender como se manifestam e surgem as representações sociais. Moscovoci, afirma que o processo da Representações Sociais é tornar o estranho, normal; ou tornar conhecido o não-conhecido. A esse segmento, ele denomina de “Objetivação” e “Ancoragem”, estruturas que serão explicadas no item seguinte.

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