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Os Quatro Níveis de Análise em Psicologia Social

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CAPÍTULO II – AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NA CONCEPÇÃO DE

2.8 Os Quatro Níveis de Análise em Psicologia Social

A abordagem societal proposta por Doise (2002) adota uma perspectiva mais sociológica, enfatizando a inserção social dos indivíduos como fonte de variação dessas representações. Nesta perspectiva, ela pode ser considerada, de acordo com Doise (1990, p. 172), uma grande teoria das representações sociais:

Com efeito, a teoria das representações sociais pode ser considerada como uma grande teoria, grande no sentido de que sua finalidade é a de propor conceitos de base /.../ que devem atrair a atenção dos pesquisadores sobre um conjunto de dinâmicas particulares e suscitar, assim, estudos mais detalhados sobre os múltiplos processos específicos.

A abordagem societal pressupõe a integração de quatro níveis de análise no estudo das representações sociais: processos intraindividuais, interpessoais, intergrupais e societais. O primeiro focaliza os processos intraindividuais, analisando o modo como os indivíduos organizam suas experiências com o meio ambiente. Para Spadoni (2016, p.76), “o primeiro nível (ou nível intraindividual): focaliza como os indivíduos organizam suas experiências pessoais no meio ambiente”.

O segundo centra-se nos processos interindividuais e situacionais, buscando nos sistemas de interação os princípios explicativos típicos das dinâmicas sociais. E para Spadoni (2016, p.76), “o segundo nível (ou nível interindividual ou situacional): focaliza as interações dos indivíduos”.

O terceiro nível, refere-se aos processos intergrupais, leva em conta as diferentes posições que os indivíduos ocupam nas relações sociais e analisa como essas posições modulam os processos do primeiro e do segundo níveis. Para Spadoni (2016, p.76): “Este nível é também

chamado de “nível intergrupal, onde focaliza as diferentes posições que os indivíduos ocupam nas relações sociais”.

E o quarto, o societal, enfoca os sistemas de crenças, representações, avaliações e normas sociais, adotando o pressuposto de que as produções culturais e ideológicas, características de uma sociedade ou de certos grupos, dão significação aos comportamentos dos indivíduos e criam as diferenciações sociais, a partir de princípios gerais. Na visão de Spadoni (2016, p.76):

O quarto nível (ou nível societal): focaliza as produções culturais e ideológicas de um grupo ou de uma sociedade, que dão significados sociais aos comportamentos dos indivíduos e sustentam as diferenciações sociais. Esse nível é bem complexo e detém a maioria dos aspectos universais, pois é o resultado de estruturas profundas construídas num tempo longo de história da humanidade, que denominamos de ideologias.

Essa distinção em 4 níveis de análise não deve servir apenas a objetivos classificatórios. Ela deve, sobretudo, facilitar a realização de articulações de análises. Análises articulando vários níveis teóricos são mais completas; elas conduzem a uma melhor descrição de um processo conceitualizado em um dos níveis, precisando, prioritariamente, as condições de sua atualização, a partir dos outros níveis de análise.

A partir dessa concepção, dentro da educação afetiva, os níveis de análise podem ser articulados da seguinte maneira:

a) 1º nível - O que os professores conhecem e pensam sobre a afetividade;

b) 2º nível - Como os aspectos afetivos afetam as relações entre os professores e alunos; c) 3º nível - Os posicionamentos dos processos, lógica grupal de pertença do grupo de professores diante do cognitivo e afetivo dos alunos;

d) 4º nível – Como as finalidades educativas tratam os aspectos cógnitos e afetivos.

Cada um dos aspectos pode ser explicação ou não de um fenômeno, depende do ponto de vista, do nível de análise, ou seja, do que é enfatizado.

Em seguida iremos explicar a relação entre Representações Sociais que está na base teórica deste trabalho, visto que relacionaremos a parte afetiva das representações Sociais com os valores.

2.9 A RELAÇÃO ENTRE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E VALORES

O primeiro estudo original sobre valores humanos, foi feito pelo psicólogo Milton Rokeach, que buscou identificá-los de forma exaustiva, tornando-se um referencial exemplar para todas as pesquisas seguintes.

Portanto, ao falarmos de valor é necessário compreendermos que ele possui uma noção plurívoca. Já para Rockeach (1973), os valores são critérios que os indivíduos usam para elencar e justificar as ações e para analisar os acontecimentos ou pessoas, até a si mesmo. Isso demonstra que os indivíduos tendem a construir um juízo das situações diárias com base nos valores que elas têm. Segundo Rokeach (1968/69, p. 550), "Dizer que uma pessoa 'tem um valor' significa que ela tem uma crença firme no sentido de que um determinado modo de conduta ou um determinado estado terminal são preferíveis a modos de conduta, ou estados terminais alternativos".

As pessoas analisam se tal conjuntura é boa ou ruim, certa ou errada. Essas mesmas pessoas, analisam também as ações delas mesmas ou dos outros, fazendo por tanto, julgamentos morais, ou analisando de acordo com suas pretensões de vida. Rokeach (1973, p. 122) coloca que “o conhecimento dos valores de uma pessoa nos deveria permitir predizer como ela se comportará em situações experimentais e em situações da vida real”

Segundo Rockeach (1973), o número de valores de um indivíduo é parcialmente reduzido, isto é, cada indivíduo possui um repertório pequeno de valores para analisar os acontecimentos da vida. Salienta-se ainda, que cada pessoa, em todo o mundo, possuem os mesmos valores, mas em dimensões dissemelhantes, por meio do qual podemos concluir que existem poucos valores na humanidade. Assim, esses valores são estruturados em um sistema de valores, onde os indivíduos podem considerar a alguns e não a outros. Podendo também os indivíduos considerar em intensidades dissemelhantes a cada um dos valores que eles aderiram. Por conseguinte, a responsabilidade é um valor que permeia o pensar humana. Os indivíduos habituaram-se a se preocupar em analisar as situações e as ações em comportamentos de responsabilidade. Entretanto, as pessoas podem aderir a dissemelhantes maneiras aos valores de responsabilidade e, consequentemente, podem analisar de maneiras dissemelhantes a mesma situação.

Na concepção de Rockeach (1973), existe uma sistematização dos valores em um sistema. Um sistema de valores “nada mais do que uma disposição hierárquica de valores, uma classificação ordenada de valores ao longo de um contínuo de importância" (ROKEACH,

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