• Nenhum resultado encontrado

A relação PNRH com as demais políticas públicas

CAPÍTULO 3. POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS – PNRH:

3.4 A relação PNRH com as demais políticas públicas

A ausência do processo de transversalização da PNRH em políticas setoriais cria situações propícias para o estabelecimento de conflitos, descompassos, superposições e vácuos institucionais e legais que afetam a sua efetividade. Neste contexto de conflitos distinguem-se quatro pontos principais. Em primeiro lugar, a desarticulação institucional que gera sombreamento e indefinições acerca das atribuições e dos papéis dessas organizações que já sofrem com a falta de recursos humanos, materiais e de apoio político. Em segundo lugar, o atendimento prioritário às demandas econômicas, em detrimento da consideração de princípios de sustentabilidade, reduzindo-se a atividade de gestão e implantação da PNRH a uma atividade cartorial e burocratizante. O terceiro ponto é a ausência da atividade de planejamento de longo prazo em nível de políticas públicas, fator que inibe a personalização dos mandatos públicos em função da formalização de políticas de Estado. Permanece

amplamente utilizada a prática de políticas de governo, onde compromissos eleitorais se refletem nas práticas de gestão ambiental e especificamente de recursos hídricos, em cada estado e município. Outro ponto de constatação de conflitos ocorre exatamente no processo de concepção, elaboração, implementação e avaliação de políticas públicas setoriais que acontecem de forma segmentada em cada estado e município, com características personalísticas dos gestores públicos contemporâneos.

Existem conflitos sim, principalmente entre a PNMA e a PNRH você tem duplicidade, sombreamento de responsabilidades em órgãos públicos há uma total desarticulação institucional [...] O código das águas a constituição de 1988 e a de 1947 no que se refere a recursos minerais e água e esse é um problema... Criou pessoas, instituições que legitimamente davam autorização para exploração de água a lei nacional de meio ambiente que também criou estruturas públicas, lei da saúde pública autoriza, lei de saneamento autoriza também, o DNPM que dá autorização de recursos naturais e a lei das águas outorga e nenhuma destas estruturas legais conversa entre si [...] é um caos institucional onde se tem sobreposição de políticas. O Estado está ali para atender prioritariamente as demandas dos setores econômicos que pagam impostos e que o ajudam reeleger. Isto se reflete diretamente na política ambiental o Estado tem uma estrutura para facilitar ao máximo o que ele mesmo criou, que é uma política ambiental cartorial, ele vai na papelada na burocracia na centralização pra poder manter o domínio. (Entrevistado Q).

Políticas setoriais muitas desconhecem a PNRH que é uma política transversal e existe muitas vezes planos e políticas setoriais que desenvolvem seus programas sem se preocupar se há água disponível[...] Acaba virando a lei da selva, quem chegar primeiro leva e cria um problema por causa de investimentos e estoura quando há falta de água... Política energética que muitas vezes se instala embora seja o setor melhor organizado que nós temos, mas mesmo assim ou por ignorar em determinados momentos a política de recursos hídricos ou por falta de que a política de recursos hídricos incorporasse todos estes usos setoriais que ela já estabeleceria pra estratégicamente [...] Acaba então acontecendo estes problemas de conflito. Não existe articulação entre políticas setoriais e as transversais são desconhecidas. O grande desafio no Plano Nacional de Recursos Hídricos [...] é exatamente como fazer articulação. Há um receio que isto acabe resultando em custos de transação mais altos [...] Isto exige a criação de colegiados comitês e leva muito tempo instâncias de aprovação há uma certa preocupação com relação a isto, e há também o processo de planejamento, articulado que não é do interesse do político brasileiro [...] ou da maioria quem detém cargos executivos. Há uma prática no Brasil de os governantes chegarem eu querem mudar os programas dos programas dos governos anteriores [...] imaturidade política que ainda existe no Brasil, o processo de planejamento a existência de planos é uma coisa inibidora desta tipo de ação entra em conflito com a expectativa de governantes e chegar e inovar. De repente ele se vê diante de um plano que é muito grande pra ele afrontar [...] Estas políticas acabam sendo um obstáculo que não é bem aceito pelos políticos e isto contribui para que elas não sejam bem acatadas [...] os planos acabam se tornando planos de governo e não de Estado quando na verdade o processo de planejamento deveria ser algo que ultrapassasse governos de forma que cada um desse continuidade [...] isto é a imaturidade institucional a mesma que prejudica a implantação da PNRH é a mesma que também prejudica esta articulação entre políticas públicas (Entrevistado D).

Ainda que a atividade de coordenação de políticas públicas seja considerada pelos entrevistados como positiva e necessária, não são explicitados modos e possibilidades no que

concerne à forma de efetivação dessa coordenação. Ressaltam os entrevistados que a cooperação entre poderes públicos de diferentes níveis, órgãos interessados e comunidades envolvidas pode conduzir a uma situação de equilíbrio de forças e de desenvolvimento de ações conjuntas. Os entrevistados destacam que a atividade de planejamento administrativo e econômico dos poderes públicos possui maior efetividade nos avanços ou retrocessos do que as práticas dos ministérios, secretarias estaduais e municipais ligados ao meio ambiente. Afirmam esses entrevistados que a indução de processos de políticas, programas e projetos em nível de órgãos de planejamento e econômicos podem, já na fase embrionária, inserir a variável ambiental de forma transversal nas políticas de governo. (Entrevistado U).

Falta integração, aí nos vamos entrar naquele discurso da transversalidade entre as políticas setoriais o setor de recursos hídricos com os instrumentos que ele tem ele não tem uma base industrial, ou seja, recursos importantes, vamos admitir que o plano do Rio Grande estivesse pronto, tudo funcionando, você acha que a política setorial de saneamento iria enxergar o programa de investimento do comitê de integração, por exemplo, o PAC saneamento, o único setor que enxerga a bacia é o setor de recursos hídricos os outros enxergam pontualmente a bacia como inserir a as diretrizes da PNRH que não tem recursos nas políticas setoriais, outra coisa os fundos estaduais de recursos hídricos 6,75% 0,75% e 6 % dividido entre estado união e município...é muito dinheiro mas os fundos não são contingenciados mas cai no caixa único do Estado [...] é preciso ver o que é arrecadado o que o estado e o município e aplicam. (Entrevistado E).

De modo geral, os atores sociais percebem situações em que conflitos, falta de interação ou mesmo indefinição de abrangência e conflitos de competência dificultam o desenvolvimento de políticas ambientais, notadamente a PNRH. Cabe ressaltar que a busca pela transversalidade de políticas públicas pode conduzir a uma situação em que esses aspectos negativos sejam minimizados.