• Nenhum resultado encontrado

Uso da Avaliação Ambiental Estratégica AAE na PNRH

CAPÍTULO 4. USO DA AVALIAÇÃO AMBIENTAL ESTRATÉGICA – AAE NA

4.2 Uso da Avaliação Ambiental Estratégica AAE na PNRH

O uso da AAE na PNRH deve ser precedido da correção de disfunções que restringem a sua efetividade. De modo destacado, os órgãos ambientais, devido à incapacidade humana, técnica e de infra-estrutura têm indefinições acerca de seus papéis e de seus limites, o que permite uma situação de permissividade e de interferências do poder público na política ambiental e de recursos hídricos. A figura do comitê de bacia hidrográfica carece de apoio político e de regulamentação de sua agência de bacia, fatores que permitiriam a manutenção da independência dos atos do poder público e de setores mais organizados da sociedade. Outro aspecto que deve preceder o uso da AAE na PNRH é o estabelecimento de um sistema de informações confiável e periodicamente atualizado para embasar as avaliações e tomadas de decisão que, dessa forma, propiciam melhores condições de avaliação da capacidade suporte, fator inicial para qualquer processo estratégico de planejamento e gestão.

Juntamente com o componente institucional, a implementação de todos os instrumentos da PNRH se mostra como de fundamental importância ao seu efetivo desenvolvimento. Esse aspecto, revelado de forma recorrente nas entrevistas, dá conta da importância de o sistema funcionar com todas as partes com as quais foi planejado. Essa ação sistêmica permite uma avaliação efetiva da PNRH e a possibilidade de correção de desvios entre o planejado e o executado. Outro fator que carece de urgente equacionamento é a realidade da dupla dominialidade dos rios brasileiros, que se apresenta como um fator dificultador das ações e de multiplicação das possibilidades de conflitos ou de omissões legais frente à questão ambiental, fato que ocorre também pela transferência de responsabilidade de um ente federativo para outro, no que concerne a políticas, planos e programas. Esse fortalecimento institucional propiciaria uma melhora nas análises dos processos de licenciamento, notadamente na verificação e avaliação da qualidade dos estudos de impactos ambientais e das ações mitigatórias propostas pelos empreendedores.

Soma-se a esses fatores a debilidade característica da participação social nas entidades colegiadas, elemento reconhecidamente inovador da PNRH. Nesse contexto, a qualificação da participação torna-se urgente em função de seus desdobramentos em termos de legitimação de posições defendidas por atores sociais melhor preparados para o debate. Da mesma forma, uma clara determinação de classificação e controle da representação social nos comitês merece especial atenção. A representação em determinados casos esconde interesses

mascarados por representantes nomeados para um dos três segmentos do comitê de bacia hidrográfica e que, por ignorância ou por má fé, atuam defendendo interesses de outro segmento.

A atividade de licenciamento ambiental deve considerar as proposições elaboradas pelos comitês de bacia hidrográfica. Antes de um entrave a mais aos processos de licenciamento, esta prática pode antecipar as orientações dos órgãos ambientais que autorizam ou não o licenciamento, no sentido de consideração da capacidade suporte – e conseqüentemente dos impactos suportados por determinado recorte geográfico e da determinação de padrões de lançamento de efluentes condizentes com a capacidade de absorção de tais lançamentos - e das definições do comitê sobre as opções de desenvolvimento. Nesse sentido, ter-se-á uma situação de efetiva consideração da bacia hidrográfica como unidade de planejamento e gestão de recursos hídricos conforme preconizado na PNRH.

Concluída essa fase de acertos e correções e de efetivação dos instrumentos da PNRH, a introdução da AAE pode contribuir na sua dinamização por meio de uma análise prévia, baseada em um sistema de informações, da capacidade suporte com a análise de alternativas de desenvolvimento implementação e avaliação que considere aspectos sociais, ambientais econômicos e institucionais envolvidos. O uso da AAE no processo de elaboração do plano de bacia pode representar além dos ganhos intrínsecos deste processo de avaliação ex-ante, uma forma de interface e coordenação das demais políticas públicas com impactos diretos, indiretos, cumulativos e sinérgicos no recorte geográfico representado pela bacia hidrográfica.

Aliar a gestão ambiental em nível de bacia hidrográfica plenamente descrita na PNRH com a adoção da AAE significa criar uma nova arena de debate social acerca dos rumos sociais, econômicos, ambientais e institucionais dos municípios abrangidos pela bacia. Da mesma forma, desvia-se o centro do poder de decisões ou pelo menos do veto a elas, do poder público para entidades colegiadas com maior conhecimento de sua realidade e com poder de decisão sobre seu futuro. Essa situação, ainda que contrária ao stablishment,permite a consolidação de modelos de desenvolvimento legítimos que expressam de forma clara aos empreendedores, públicos ou privados, as regras do jogo.

Dessa forma, a AAE, juntamente com os instrumentos da PNMA e da PNRH, permite a consideração das variáveis ambientais, econômicas, sociais e institucionais, num contexto de

planejamento governamental. Essa inserção se traduz não apenas pela diminuição dos impactos negativos ao meio ambiente, mas também pela diminuição dos custos de implementação e avaliação das políticas públicas e principalmente pela transparência decorrente deste processo com consulta a partes interessadas e à manutenção de registros e de uma base de informações eficiente.

A existência de uma estrutura jurídico-institucional, as experiências nos 10 anos de implementação e o aumento do debate social acerca da questão ambiental fazem transparecer a necessidade de correções e na evolução para uma situação de sua consideração em níveis estratégicos de decisão. Essa situação constitui um ambiente propício à adoção de um instrumento de avaliação ex-ante, que cobre lacunas tanto na atividade de planejamento quanto nas atividades de articulação com as demais políticas públicas e nas fases operacionais, notadamente o licenciamento de atividades potencialmente poluidoras.

A revitalização da PNRH se reveste de um caráter de legitimação e de definição de postura pró-ativa frente à questão ambiental e de modo específico da gestão de recursos hídricos. Sua transversalização representa a possibilidade de inserção das variáveis ambientais em momento anterior à decisão de realização de empreendimentos e conclui o ciclo de formulação de uma política pública evidenciando transparência nas ações e decisões públicas, respeito às partes interessadas e principalmente a consideração aos princípios do desenvolvimento sustentável.