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Atividades Extrativistas praticadas na Ilha de Juba ao longo do ano Atividades

E. Fund.1ª a 4ª Séries 135 crianças

5. A relevância da presença da mulher na extração do Óleo de Andiroba.

Segundo informações do último censo populacional feito no Brasil, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2002), o número de mulheres responsáveis pelo sustento de suas famílias aumentou consideravelmente. Esta realidade também está ocorrendo na Amazônia Legal, também está ocorrendo. Entre essas mulheres estão trabalhadoras rurais, pescadoras, extrativistas, parteiras, entre outras. As quais assumem suas próprias lutas, ao lado de seus companheiros, filhos. As extrativistas do óleo de andiroba ocupam a terra de onde extraem recursos naturais e começam a beneficiados tais recursos, melhorando a renda familiar e de sua comunidade, contribuindo assim, para o processo de conservação da floresta. Para Lígia Simonian, “ Estas mulheres tem logrado avançar em suas lutas por melhores condições de vida, através da melhoria de produtos extraídos da floresta e de sua comercialização e, mais recentemente, pela entrada na educação formal, que às vezes, inclui a ambiental (SIMONIAN, 2001, p. 50)”. O fortalecimento das discussões em torno da natureza e a definição de novos rumos para o desenvolvimento sustentável70 amazônico está evidente na presença na feminina nas atividades de trabalho do cotidiano (GTA 21, 2001).

O tempo e as atividades relacionadas ao trabalho das mulheres extrativistas e andirobeiras de Juba é organizado a partir dos espaços casa e floresta, ou mato chamam cotidianamente. Sendo que o espaço casa se subdivide em: responsabilidades com a casa em si, com idosos e criança, criação de animais, cultivo de plantas medicinais, preparo de remédios, entre outras atividades pertencentes aos afazeres de casa. Em relação ao tempo floresta, na maioria das vezes acontece quanto seus companheiros, filhos estão fora, além dos trabalhos rotineiros elas assumem os dois espaços. Se embrenhando na floresta em busca se sementes, cascas, cipós, lenha,

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O Desenvolvimento sustentável acontece o crescimento de uma comunidade de forma organizada, e

todos podem estudar, ter boa saúde, trabalhar e receber de maneira justa, utilizando bem os recursos da natureza. Para isso acontecer, é necessário mudar a forma de cultivar a terra, de utilizar a água, tirando do meio ambiente somente o necessário para uma vida saudável. Essa é uma forma de desenvolvimento de países e comunidades sem destruição do meio ambiente e com maior justiça social, sem comprometer o direito das futuras gerações também utilizarem os recursos naturais, (GTA, 2001, p.39).

frutas. Nos igarapés quando a maré baixa, para retiram os matapis71 que foram

colocados na maré anterior a fim de capturar camarão e pequenos peixes. Fazem tapagem do igarapé com ajuda dos filhos mais novos em busca de pequenos peixes para o consumo das famílias (FIGUEIRA, 2005), (HÉBETTE; MAGALHÃES; MANESCHY, 2002).

Entre as atividades de casa desempenhada pelas mulheres é importante ressaltar a atividade de lavagem de roupa, pois esta atividade é feita a céu aberto, de modo mais tradicional, onde as roupas são levadas ou para o igarapé que corta a propriedade ou no rio principal que passa em frente a residência , esta ação justifica pelo fato das casas não possuírem sistemas de encanação, ou qualquer forma de bombeamento da água do rio para casa. Nesta atividade muitas das mulheres utilizam durante a lavagem o sabão de andiroba72. Quando estas mulheres encontram-se menstruadas ou de parto costumam trazer água do rio ou igarapé para o jirau de suas casas para executarem esta atividade. Esta mudança na rotina da doméstica ocorre em virtude do receio que as mulheres demonstram ter do boto73 e de seus encantamentos. Isto por que na localidade acredita-se que o boto transforma-se em uma entidade encantada que malinam com as mulheres. Segundo Pinto,

[...] o sangue menstrual e do pós-parto assume uma espécie de elo simbólico que desperta o interesse das “ coisas do encantado”, principalmente do boto, já que nesses períodos o sangue da mulher se expõe, ganha visibilidade, e por ele, a mulher fica mais atraente e desprotegida para o ataque das forças do invisível, como, por exemplo, do boto, que, pelo sangue, entra em contato com a mulher, já que suas ligações amorosas são ativadas pelo sangue, durante as relações sexuais, (PINTO,2004, p.199 - 200).

71 O matapi é uma armadilha de pesca feita de talas de palmeiras amarradas com cipós, mede

aproximadamente um metro de comprimento por 70 cm de diâmetro. O pescador deixa as armadilhas durante a noite, isto é, dependendo da maré pode também ser colocado durante o dia, e, ao amanhecer, vai tirar ou “revistar”, (PINTO,2004, p. 200).

72 Segundo dona Ivanildes, o sabão de andiroba é composto: sebo animal, cinzas da casca da fruta do

cacau, óleo de andiroba endurecido, folhas de uma planta chamada oriza, folhas de urtiga cheirosa e solda cáustica. Ele é utilizado na lavagem de roupa, mas também é recomendado para o tratamento de coceiras na pele. – Dados da Pesquisa de Campo – maio de 2007, Ilha Juba – Cametá –PA.

73 Segundo Benedita Celeste, “O boto é um cetáceo platanídeo marinho de água doce. Quando adulto

pode alcançar mais de dois metros de comprimento e aproximadamente 80 cm de diâmetro. [...] (PINTO,2004, p.199 - 200).

Para as pessoas mais antigas da comunidade de Juba, o boto ao simpatizar com uma mulher, não leva em consideração se ela é moça donzela ou mulher casada. Ele simplesmente enamora a mulher e a partir de então passa a perseguir sua escolhida. A mulher escolhida passa a manifestar um comportamento físico e psicológico diferente, manifestando tristeza e profunda palidez. Para que a mulher não enlouqueçam ao encantamento do boto é preciso que ela seja tratada à tempo por um experiente, uma espécie de pajé. Porém, se a família não procurar um tratamento rapidamente, ela poderá até morrer. Por essa razão as mulheres da localidade previnem- se contra os encantamentos do boto, evitando o contato com direto com ele. Sendo assim, executam suas atividades no período menstrual de forma mais cautelosa e recatada, no interior de suas casas.

A atividade doméstica de lavar roupa nos remete ao trabalho das lavadeiras, na Escócia do século XVIII, e a importância desse trabalho. O qual, serviu de contribuição para a criação da indústria de branqueamento do linho. Assim, também, o trabalho das mulheres extrativistas em torno da extração do óleo de andiroba, aqui na Amazônia, tem despertando o mercado das indústrias de cosméticos (shampoo, óleos aromáticos, sabão líquidos e em barra, velas, etc) e das farmácias que trabalham com remédios fitoterápicos (MACEDO, 1981).

As mulheres da floresta74 ocupam um espaço significativo em todo o

processo de extração do azeite de andiroba, pois cabe a elas todas as etapas dessa atividade, mesmo as mais perigosas como a etapa do cozimento das sementes. Algumas mulheres nesta etapa recebem ajuda de seus maridos e/ou filhos, nesta tarefa, principalmente, para retirar o tacho cheio de semente de andiroba cozida do fogo. Este trabalho é tão árduo a ponto de algumas entrevistadas como dona Maria do Socorro o definir da seguinte maneira,

74 “ Dentre as mulheres da floresta podem estar incluídas as indígenas, as caboclas e as quilombolas,

especialmente por seu envolvimento com as atividades de coleta, caça e pesca voltadas para a subsistência familiar, ou na economia extrativista voltada para o mercado. Tais mulheres intervêm no ambiente via produção agro-florestal e ainda [...] mantêm toda uma relação mítico-espiritual com os ecossistemas florestais, ribeirinhos, [...]. Essas mulheres conhecem, exploram e utilizam os recursos naturais no seu cotidiano, comercializam-nos e empenham-se em sua preservação, (SIMONIAN, 2001, p. 109)”.

[...] nem pense dona, esse trabalho é muito sacrificoso, perigoso; agente tem sempre que tá prestando atenção, pra não pisar num bicho, pra num ser batido por cobra; e o pior é quando agente vai cozer as amêndoas; agente tem de esperar a água baixar, aí nós vamos arrumar a lenha pra fazer o fogo, é muito difícil, porque o terreiro tá molhado, o fogo demora pegar pressão; agente tem de tá mexendo as sementes pra elas cozerem igual, aí agente pega aquele imenso calor do fogo, quiete! É muito trabalho! Muita das vezes pra vender o óleo bem baratinho, quase de graça.

O processo de extração do óleo de andiroba, de acordo com a fala da informante é um trabalho muito difícil e sobretudo, perigoso. Observou-se durante a pesquisa que as mulheres que fazem desta atividade, na sua maioria não possuem os equipamentos adequados como luvas apropriadas para o calor, botas, panelão para executar tal tarefa. Muitas vezes elas tomam emprestado de suas comadres ou vizinhas objetos como o tacho, onde é feito o cozimento das sementes. Devido a tantas dificuldades, as famílias que extraem o óleo de andiroba costumam reunir outras famílias em torno dessa atividade de beneficiamento, numa espécie de convidado ou mutirão. Segundo dona Maria do Socorro, “ [...] essa atividade reúne visinhos, compadre, comadre, parentes e amigos, geralmente acontece na casa de alguém que estila muito óleo”. Ou seja, uma quantidade acima de 500 quilos de sementes. Segundo dona Maria Maíde, essa atividade acontece geralmente à noite, quando todos estão livres para ajudar. Para Figueira, nesta ocasião as pessoas aproveitam para conversar e, conseqüentemente, estreitar os laços entre as famílias convidadas (FIGUEIRA, 2005).

Atualmente, esta prática de convidado está passando por transformação na comunidade, devido a fatores como: a gradativa diminuição de pessoas que retiram o óleo de andiroba, associado ao fator econômico relacionado ao valor do produto no mercado e o grau de dificuldade de se obter o produto final, o óleo de andiroba. Estes seriam segundo os informantes, as razões principais que estariam contribuindo para o processo de diminuição da prática do convidado.