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O contraste entre o tradicional e o moderno: vivências, hábitos, costumes e bens de consumo.

Atividades Extrativistas praticadas na Ilha de Juba ao longo do ano Atividades

2. O contraste entre o tradicional e o moderno: vivências, hábitos, costumes e bens de consumo.

A população da região Tocantina, em particular a Ilha de Juba, vem adaptando-se às mudanças na sua cultura nativa ao longo dos anos, assumindo comportamentos, hábitos e costumes de outras culturas, reflexo e/ou influência de uma invasão simbólica e cultural, provocada pela imitação de uma sociedade pós-moderna. A qual vai gradativamente interferindo de forma significativa na estrutura do viver que o ribeirinho possui. O qual passa a adquirir e a assimilar pouco a pouco a cultura do outro. Este comportamento social tem deixado de lado as tradições, depreciando e enterrado com os mais velhos a cultura nativa da localidade, devido o “convívio” com outras culturas. Para Stuart Hall, este comportamento social praticado pela comunidade pode ser entendido, a partir da relação que,

[...] Os fluxos culturais, entre as nações, e o consumismo global criam possibilidades de “ identidades partilhadas” – como “ consumidores” para os mesmos bens, “clientes” para os mesmos serviços, “público” para as mesmas mensagens e imagens – entre pessoas que estão bastante distantes umas das outras no espaço e no tempo. A medida em que as culturas nacionais tornam-se mais expostas a influências externas, é difícil conservar as identidades culturais intactas ou impedir que elas se tornem enfraquecidas através do bombardeamento e da a infiltração cultural.

As pessoas que moram em aldeias pequenas, aparentemente remotas, em países pobres, do “terceiro mundo”, podem receber, na privacidade de suas casas, as mensagens e imagens das culturas ricas, consumistas, do Ocidente, fornecidas através de aparelhos de TV ou rádios portáteis, que as prendem à “aldeia global, (HALL, 2001, p. 74).

Este comportamento cultural elencado pelo autor pode ser sentido na comunidade pesquisada, e em seus moradores. O processo a assimilação e de reprodução de outras culturas, está presente no cotidiano das pessoas da localidade, segundo o entrevistado Marinaldo Teles,“ [...] hoje a vida ficou mais fácil pra nós, nós temos hoje televisão, antena parabólica e até celular pega aqui no Juba. [...] agente aprende muita coisa, hoje as coisa tão muito diferente de antes [...] do tempo dos meus avós”. Todas essas mudanças em relação a questão cultural-histórica, tem contribuído de certa forma, para o processo desvalorização da cultura local, a qual passa a incorporar novos valores e desprestigiar os valores construídos pela comunidade ao longo desses anos. Assim como, a entrada de novas informações na comunidade local, abre a possibilidade de reflexão a cerca de toda a cultura da comunidade, este comportamento poderá despertar, um processo social de valorização e conservação da cultura cabocla.

Desta forma, pode ser observado na fala do referido entrevistado, a importância das informações que a comunidade assimila, elas chegam por meio da televisão ou através de outro equipamento tecnológico presente nas residências. A presente pesquisa revelou que a presença destes novos equipamentos, das novas tecnologias no cotidiano da comunidade jubense está a cada vez mais presente, o que demonstra que 28% das casas visitadas possuem rádio, seja à pilha ou à bateria; 24% das casas possuem televisão, seja de imagem colorida ou imagem em preto e branco; 24% das casas tem fogão à gás, com forno ou somente de duas bocas; 15% das casas dos moradores da localidade possuem antena parabólica. Dos moradores apenas 6%

declararam possuir vídeo cassete e/ou DVD em suas casas e 3% dos entrevistados declararam possuir ferro de passar roupa, seja ele elétrico ou a carvão.

Na imagem 17 é possível perceber que o padrão de vida dos ribeirinhos tem mudado e com ele, sua cultura também vem sofrendo alterações. Porém, embora estes sujeitos tenham assimilado novos elementos a sua cultura, ainda, mantém “velhos” hábitos do viver nativo, tradicional, caboclo (COSTA,2206). Entre esses costumes que ainda resiste está o jogo de baralho, jogado por homens e mulheres, no assoalho da cozinha, regado a risadas e um bom café, na sua maioria das vezes, torrado com erva doce. Este jogo é utilizado em dois momentos importantes, um está relacionado às nas noites de velório, pelas pessoas que ficam durante a vigília do corpo, durante toda a noite. O outro momento é no período da semana santa, como uma maneira de passar o tempo e se distrair da tristeza, uma vez que, é proibido o uso da televisão. Esta proibição propriamente dita, tem haver com o comportamento religioso da comunidade, que nos explica este comportamento é dona Maria da Paz, “[...] agente guarda a sexta- feira santa por que foi o dia em que Jesus morreu.Pra nós é um sentimento. Deus o livre! É como se um parente da gente tivesse morrido também. Então a intrevistada continua seu relato lembrando que a semana santa, é muito parecida ao período de preceito ou luto que as famílias vivem, quando morre um de seus membros, geralmente este período é de uma semana. Para a entrevistada, nestes sete dias a família se recolhe socialmente, não assiste televisão, não faz barulho67, não ri exagerado, mas principalmente evita tocam nas plantas, maquina de costura, pois acredita, que esta ação desencadeia danos ao objeto tocado, podemos ver esta afirmação em sua fala, “[...] eu acredito que no período do luto isso acontece, minha cunhada e também minha comadre morreu, as crianças daqui de casa viviam pegando no meu pé de muruci, [...] naquele ano deu bicho na fruta. Esta constatação feita pela entrevista, reforça a fé nesta crença popular, que é presente em todas as famílias da comunidade pesquisa. Ainda há muito da cultura cabocla nesta localidade.

67 Pude observar no transcorrer da pesquisa de campo, que as famílias que residem próximo as casas que

estão vivenciando o período luto, manifestam um comportamento de solidariedade e profundo respeito à família enlutada, pois não deixam que seus filhos façam barulho alto, não ligam o som. Este comportamento demonstram o nível de consideração e de sentimento das famílias em relação a pessoa que morreu e a seus familiares.

Imagem 17: A presença do moderno e do tradicional, através da antena parabólica. Fonte: Amarílis Maria Farias da Silva. Cametá/PA– Abril de 2009.

Porém, este comportamento tipicamente caboclo, vem sofrendo alterações. O acesso a informação e a assimilação de novos conteúdos, tem acima de tudo contribuído para o processo de mudança de comportamento da comunidade, no que diz respeito a natureza e ao destino que ela vem tendo. O que levanta a preocupação sobre o meio ambiente e o futuro das próximas gerações.