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Degradação ambiental e os reflexos na atual realidade da comunidade estudada.

Encontro da Memória com História Oral: as relações de homens e mulheres da localidade de Juba com a natureza.

3. A instalação da Usina Hidrelétrica de Tucuruí e os impactos socioambientais no Baixo Tocantins e na realidade cotidiana da Ilha de

3.1. Degradação ambiental e os reflexos na atual realidade da comunidade estudada.

O processo de degradação do meio ambiente na região Tocantina, teve inicio na década de 1980, com a implantação pela ELETRONORTE da Usina Hidrelétrica de Tucuruí. A partir de então, os habitantes da região Tocantina, mais especificamente das ilhas do município de Cametá, vem buscando alternativas de sobrevivência, diante dos problemas socioambientais provocados pela barragem.

A empresa ELETRONORTE responsável pela obra, não levou em consideração, os instrumentos legaisjá existe na legislação brasileira, que são: o Código

de Águas e a Lei 3.824/60, ambos direcionados ao controle e ao uso racional e equilibrado da água, mas especificamente, da energia hidráulica. Descumprindo, desta maneira, as normas de proteção ao meio ambiente já existente. Assim como, não levou em consideração o inventário feito pelos próprios técnicos da empresa, a cerca dos possíveis impactos que este tipo de obra provocaria para o meio natural e social das regiões atingidas (SILVA, 1991). Somente a partir do ano de 1981 criam-se leis direcionadas para a proteção do meio ambiente.

A ação da empresa responsável pela construção da usina UHE de implantar uma obra como esta, sem antes conhecer a fauna, a flora e o modo de vida desta população ribeirinha, desencadeou um imenso transtorno socioambiental para esta região atingida. Para dona Ivanildes Garcia, os prejuízos foram diversos e várias ordens, ente eles, a moradora da Ilha de Juba cita aquele que ela considera de extrema importância para a comunidade,

[...] primeiro foi a água, que antigamente, quando não tinha a barragem, nossos pais contam que entrava [água] dentro da casa, era grande, era uma água limpa, porque era água corrente, hoje em dia ficou uma água parada, tem época que ela [água] tá verde, ela se torna uma água contaminada, faz mal para a saúde do ser humano.

Esta situação descrita pela moradora da Ilha Juba ocorre freqüentemente ao longo do ano, tendo uma freqüência maior no período denominado de inverno, devido ao aumento das chuvas nesta região. Esta cor esverdeada está relacionada a uma espécie de limo criado sobre a água e que alguns moradores relacionam a sua presença a água parada em algum ponto do lago pertencente a hidroelétrica de Tucuruí. Vinte anos se passaram desde a implantação da Usina Hidrelétrica de Tucurui, e os danos ao meio ambiente e a população são visíveis (COSTA, 2006). Outro problema identificado através de estudos técnicos está relacionado aos sedimentos naturais trazidos pelo rio, como folhas, barro, pedaços de madeira, sementes, entre outros, os quais serviam de

adubação natural do solo das várzea, a partir da barragem essas substâncias naturais passaram a não mais chegar onde as populações ribeirinhas cultivavam o cacau e o açaí.

A partir do funcionamento da referida usina que esses sedimentos naturais não chegam mais ao seu destino de origem. A falta desse processo natural interferiu negativamente na qualidade e na quantidade desses produtos, o que ocasionalmente desencadeou prejuízos econômicos para toda uma região (SILVA, 1991).

Imagem 04: Através desta imagem fotográfica é possível notar o distanciamento da casa em relação ao rio, causa do desequilíbrio ambiental decorrente do assoreamento do Rio Tocantins e seu afluente, o Rio Juba. Fonte: Amarílis Maria Farias da Silva Dado coletado em maio de 2007.

Desta forma, foi possível identificar, no decorrer da pesquisa de campo, que o assoreamento de rios e igarapés trata-se de um dos maiores desequilíbrios ambientais que a comunidade de Juba está enfrentando, já que acarreta dificuldades de locomoção desta população. Segundo dona Socorro Teles e demais entrevistados, há

alguns anos atrás era possível chegar as residências através de casco ou rabeta, ou seja, o barco ficava na ponte ou no porto das casas.

Atualmente, principalmente, durante a maré baixa ou seca, quando se deseja sair de casa é necessário caminhar uma longa distância por cima de várias toras de miritizeiro. Isso tudo, por causa da significativa distância entre as casas dos moradores e o rio. Decorrência do desequilíbrio ambiental que provocou o assoreamento do Rio Tocantins e seus afluentes. Ao falar desta realidade, Braúlio Leão, morador da Ilha de Juba, evidencia outro problema ambiental, provocados pela instalação da Hidrelétrica de Tucurui, que é vivenciado cotidianamente pela comunidade,

[...] sumiu o nosso peixe, o nosso peixe conhecido em toda Cametá é o mapará, que era demais e se sumiu, o camarão e os outros peixes. Hoje só se colhe camarão por época, quando da um pouquinho, o mapará é por época, quando os pescadores chegam a pegar negócio de cem, cinqüenta quilos, isso quando era naquela época, quando não era fechada a barragem aqui fazia a tapada, aqui nesse rio para tirar em três dias, aqui todo mundo vendendo e comprando, tava na rede, o camarão de novo era demais, me criei aqui, arrumei família, filhos, só saía quando ia trabalhar, não tinha nenhuma preocupação com comida, porque se deixa-se os matapis no porto[em frente a casa] era suficiente para mulher de manhã ir tirar, dava para dez, quem não tinha matapi e não tinha essa preocupação.

O relato deste morador de Juba reflete a realidade enfrentada pela população ribeirinha. Este fato referente ao desaparecimento de algumas espécies aquáticas como o mapará, a branquinha, curimatã e o próprio jacundá. Os peixes sempre buscaram à Montante do rio para realizaram o processo de reprodução da espécie, Silva (2003). Porém, com o bloqueamento do rio pela barragem e também pela qualidade da água após a barragem, algumas dessas espécies desapareceram ou simplesmente migraram para outras regiões. O que ocasionou uma crise no abastecimento e na segurança alimentar desta região. O Sr. Braúlio, defini assim a situação atual dos moradores do Juba, “ hoje em dia se tiver dinheiro você come, se não tiver fica difícil para comer ”.

3.2.

A presença do lixo doméstico e os riscos à saúde humana: o