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Cultura, religiosidade e a significativa presença da Igreja Católica entre os habitantes de Juba.

Encontro da Memória com História Oral: as relações de homens e mulheres da localidade de Juba com a natureza.

2. O perfil sociocultural de um povoado amazônida: Ilha de Juba, localização geográfica e origem.

2.3. Cultura, religiosidade e a significativa presença da Igreja Católica entre os habitantes de Juba.

Cametá, assim como, as demais localidades da região Tocantina, entre elas a ilha de Juba, convive com um universo religioso que tem na Igreja Católica Apostólica Romana, uma das mais, importante ( se não a mais importante) presença no cenário popular desta região. A qual concentra sua manifestação religiosa no culto aos santos, entre eles o padroeiro da cidade (São João Batista), sede do município, e os demais padroeiros das localidades do interior do município. É importante destacar que culto aos santos, neste moldes, surgiu na Europa, mas especificamente na cidade portuguesa de Lisboa. Com o processo de colonização do Brasil a prática de cultuar imagens de santos foi sendo disseminada e introduzida á nossa cultura.

Segundo Sousa, “ [...] as irmandades surgiram no Brasil seguindo os moldes das confrarias que na Europa organizavam o culto aos santos (SOUSA, 2002, p. 66)”. Efetivamente o culto aos santos chega a Bahia no ano de 1686, por influência dos portugueses, os quais através de documentos oficiais, enviaram no mesmo ano ao Vaticano, os estatutos da Irmandade dos Bem-aventurados Frei Benedito (BRANDÃO,1979). Esta manifestação religiosa de culto a imagens consideradas sagradas também chegou e pulverizou-se pela região do Tocantins e multiplica-se pelas ilhas da região Tocantina, onde são erguidos barracões, capelas e organizadas festas em homenagem aquele santo padroeiro da localidade. Entre os santos mais cultuados está São Benedito, a Santíssima Trindade, o Divino Espírito Santo e o Menino Jesus (FAVACHO, 1984).

As irmandades mantinham uma relação de proximidade com as elites oligárquicas locais e comerciantes mais fortes da região. Esta aproximação facilitava aos donos do santo, o poder de barganhar favores e serviços para a sua comunidade, como a contração de uma professora, ou até mesmo a construção de alguma obra na localidade. Segundo Iracy, “ o dono do santo era o cabo eleitoral daquela área: fazia campanha para os Mendonças, para os Parijós, para os Peres, ou para os Moreira” (IRACY apud SOUSA, 2002:69).

A partir da década de 1960, a Igreja Católica Apostólica Romana passou a implantar nas localidades do município de Cametá estratégias diferenciadas para a intervenção pastoral. Onde as irmandades de santos e padroeiros passaram a receber críticas cada vez mais freqüentes por parte dos dirigentes da Igreja Católica Apostólica Romana. Estes passaram a traçar um plano para a organização das comunidades cristãs e de organização da vida social dos cametaenses, as quais estariam submetidas as ordens e decisões de toda uma hierarquia eclesiástica (FAVACHO, 1984), (SOUSA, 2002), (FIGUEIRA, 2005). Desta forma, as comunidades cristãs foram criadas em todo o território pertencente a Prelazia de Cametá. A partir da criação das CC (comunidades cristãs), as irmandades passaram a receber um tratamento mais rigoroso por parte da Igreja Católica Apostólica Romana, que passou a ditar as ordens e ocupar espaço, sufocando de certa forma o catolicismo popular desta região.

As entrevistas realizadas na localidade da Ilha de Juba tiveram entre seus questionamentos itens destinados ao levantamento da identidade cultural e religiosa da comunidade, através dos quais se constatou que a grande maioria da população se diz pertencer a Igreja Católica Apostólica Romana, em média de 90%. Dentre as famílias católicas, que constituem a comunidade cristã da localidade, estão as famílias: Prestes, Ribeiro, Oliveira, Louzada, Furtado, Lopes, Castro e Vasconcelos. Para Figueira:

A Igreja Católica, traço característico da colonização portuguesa, está situada na vila principal, [Vila Pinto – centro da Ilha de Juba] ali, uma vez ao mês é celebrada uma missa. Ao lado da igreja [...] o barracão do Divino, dado o padroeiro da vila, o “Divino Espírito Santo”. No barracão são realizados os eventos e festas religiosas. [...] os comunitários discutem os problemas por eles vivenciados (FIGUEIRA, 2005, p. 49).

A pesquisa faz crê que a realidade religiosa da comunidade da Ilha de Juba, não foge à regra nacional, nem a regional. Pois, segundo um diagnóstico feito pela Fundação Getúlio Vargas em parceria com o Governo do Estado do Pará, no mês de Maio de 2004, foi concluído que a população católica do Brasil é de aproximadamente 73,9% da população brasileira, assim como, 74,6% da população do Pará se considera católica. Vindo em segundo lugar, os evangélicos com 16,2% da população nacional, e 18,5% da população paraense. Outro dado importante deste estudo é o fato de os católicos aparecerem como os mais pobres em relação as outras religiões. Este dado

também está presente na realidade da comunidade de Juba. Os dados apresentados na pesquisa, apenas demonstram quão fortes foi o processo de doutrinação e aculturação religiosa implantada pelos europeus no Brasil. Referente a questão religiosa, dona Joana Dias, 102 anos, moradora da Ilha de Juba, declara o seguinte:

[...] tem certas coisas que não acredito [refere-se aos evangélicos e aos umbandistas], se Deus não vem a nossa defesa outro não vem fazer! Na boca da noite, eu rezo as minhas orações a Nossa Senhora de Nazaré, Nossa Senhora do Livramento [...] tenho orações que meu filho me deu.

A fala da moradora reflete toda a força e a presença da doutrinação exercida pela Igreja Católica Apostólica Romana, na região e no imaginário das pessoas da comunidade, que mantém o costume de se recolher para fazer as suas orações, ao final do dia, mantendo assim um laço de proximidade com o divino, o sacro. Pode-se observar ainda que esse comportamento, tem seu desdobramento para as novas gerações, quando a entrevistada relata que seu filho a presenteou com outras orações. Portanto, fica evidente que na comunidade da Ilha de Juba, as pessoas têm uma maior identificação com os ensinamentos da igreja católica e pela fé representada nos santos.