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A representação discursiva de “Dilma Rousseff” na sequência descritiva

5.3 A REPRESENTAÇÃO DISCURSIVA DE DILMA ROUSSEFF NA

5.3.1 A representação discursiva de “Dilma Rousseff” na sequência descritiva

Nesta subseção, analisamos como se dá a organização interna da sequência descritiva no corpus em análise. Para tanto, além da investigação de como a sequência se estrutura no texto, iremos analisar como as categorias semânticas articulam-se nessa sequência contribuindo para a construção das representações discursivas de “Dilma Rousseff” que, de acordo com nossas observações, tornam-se mais significativas.

Conforme mencionamos anteriormente, a sequência descritiva não se organiza de forma linear no texto e geralmente surge intercalada em outras sequências. Dessa maneira, apresenta-se em formas combinadas ou encaixadas em uma ordem hierárquica ou vertical. Adam (2011) organiza essa sequência em quatro macro-operações principais, que se subdividem em outras mais específicas: as operações de tematização, de aspectualização, de relação e de expansão por subtematização. Essas operações foram definidas na seção da fundamentação teórica (cf., p. 58) e, portanto, não trataremos aqui de sua conceituação, mas de sua aplicação na unidade de análise.

Focalizando o “paradigma designacional”, adotamos em nossas análises o conceito de referenciação como tematização (ou retematização). Também em relação à categoria da aspectualização, podemos relacioná-la à categoria da modificação, pois, semelhantemente à aspectualização, essa categoria compreende a operação semântica responsável pelas características ou propriedades, tanto dos referentes, quanto das predicações. Desta maneira, e de modo a não confundirmos com o “aspecto verbal”, optamos pelo uso do termo “modificação”.

Os objetos de discurso também podem ser descritos por meio de suas ações. Para Adam (2011, p. 222), “[...] descrever um personagem pelas ações apresentadas como habituais equivale a torná-las propriedades da pessoa ou do personagem”. Assim, para a sequência descritiva, selecionamos como instrumentos de análise as categorias da referenciação, predicação, modificação, relação, conexão e isotopia. Salientamos que existem outras operações ou categorias de análise das representações discursivas, no entanto, consideramos que as que foram selecionadas neste estudo são suficientes para os nossos propósitos.

Conforme definimos na seção metodológica, não analisamos as categorias da Rd em separado no texto, mas em cada sequência textual, destacamos as categorias semânticas que estão mais evidentes e elas serão analisadas na continuidade textual. Assim, investigaremos como essas categorias aparecem e se conectam umas com as outras nos enunciados construindo uma rede de representações do objeto de discurso de acordo com o ponto de vista da acusação. Pretendemos, portanto, descrever e explicar as várias significações geradas a partir da relação dessas categorias que ajudam a orientar argumentativamente o texto da Denúncia de Dilma Rousseff.

Para iniciarmos nossas análises, exemplificamos, através da Figura 15, a organização interna da sequência descritiva do nosso corpus.

Figura 15 – A sequência descritiva na Denúncia de Dilma Rousseff

Fio condutor – A denúncia de Dilma Rousseff pelos crimes de responsabilidade na Administração Pública

Objetivo da denúncia: Pedido de impeachment da Presidente Dilma Rousseff

Tematização (nomeação) Aspectualização (características) Predicação Ação como propriedades do sujeito Relação (comparação/ metáforas)

- Sra. Dilma Vana Rousseff, Dilma Rousseff - Presidente da República - Governo Federal - Governo Dilma - Governante Máxima - Dirigente máxima - Chefe da nação - Ministra da Casa Civil - Presidente do Conselho da Petrobrás - Denunciada - Valorosa economista - Pessoalmente responsável pelas finanças públicas - Aura de profissional competente e ilibada - Sua expertise na área de energia - Economista - Personalidade centralizadora - conduta - comportamento - se apresentou - deixou - contrariando - desconstruindo - agiu (com dolo) - (sempre) se mostrar - (sempre) se gabar - incorrera - desrespeitar - se revela - tinha consciência - (não) condiz - Tentáculos - Maquiagem do governo/ máscara CONTEXTO Fonte: Autoria própria

Observamos, a partir do esquema apresentado, que a sequência descritiva se constitui em torno do objeto de discurso, “Dilma Rousseff”, atribuindo-lhe características gerais ou específicas. O fio condutor é o que garante ao texto uma linha coerente, orientando tanto o produtor textual quanto o interpretante sobre a temática a ser tratada no texto. Ele também corresponde ao ponto de vista que o enunciador imprime em seu texto. Nesse sentido, o assunto desenvolvido na denúncia versa sobre os crimes de responsabilidade no Governo cometidos por Dilma Rousseff e seu pedido de impeachment.

Os termos que designam ou tematizam o referente “Dilma Rousseff” apresentam, no texto, múltiplas facetas ou representações desse objeto de discurso. Essas representações são construídas desde a sua nomeação mais específica, ou seja, por meio do seu nome próprio, “Dilma”, “Dilma Vana Rousseff”, a partir de sua pronominalização “ela” e sujeito elíptico, até as funções em que Dilma Rousseff ocupou no Governo Federal, como, por exemplo, a de

Referente: Dilma Rousseff

“Presidente da República”, entre tantas outras representações. No entanto, não vamos nos ater ao levantamento quantitativo dessas ocorrências, mas de acordo com os nossos objetivos, selecionamos no texto os elementos linguísticos que contribuíram para a construção das representações discursivas de Dilma Rousseff de acordo com o ponto de vista da acusação.

Para identificarmos as múltiplas construções dessa imagem na sequência descritiva, consideramos viável a identificação do objeto de discurso a partir da focalização de características atribuídas ao referente.

a) “Valorosa economista, pessoalmente responsável pelas finanças públicas”

[E11] Essa notitia criminis demonstra que a Presidente, que sempre se apresentou como valorosa economista, pessoalmente responsável pelas finanças públicas, deixou de contabilizar empréstimos tomados de Instituições Financeiras públicas (Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil), contrariando, a um só tempo, a proibição de fazer referidos empréstimos e o dever de transparência quanto à situação financeira do país.

Observamos, no enunciado [E11], uma primeira tematização para o referente “Dilma” como “Presidente”. Para esse objeto, o enunciador seleciona, inicialmente, dois atributos, o de “valorosa economista” e o de “pessoalmente responsável pelas finanças públicas”. Essas características estão relacionadas à formação profissional da Presidente que é economista. No entanto, verificamos que o enunciador relaciona esses atributos ao termo “que sempre se apresentou”, evidenciando uma suposta construção da imagem que a própria Presidente fazia de si durante o seu governo, deixando claras sua competência e habilidade nos setores energético e econômico do país.

Faz-se necessário destacar ainda os termos “valorosa” e “pessoalmente”. O primeiro modificador está diretamente relacionado à reputação e à conduta de Dilma Rousseff na presidência. Esses valores também podem ser considerados valores sociais e éticos e, nesse sentido, de acordo com o enunciado, relacionam-se aos princípios que se esperam de um Presidente. A segunda expressão modificadora “pessoalmente responsável” produz um efeito de ênfase no enunciado. Nesse contexto, podemos entender que “Dilma”, durante o seu governo, sempre procurou se inteirar de todos os assuntos, principalmente os relacionados à esfera econômica de seu país. Todavia, observamos que essa primeira representação é logo desconstruída a partir da utilização das formas verbais “deixar” e “contrariar”, que evidenciam pontos de contradição entre a formação e a competência da Presidente e suas ações, configurando o que o enunciador destaca no início da proposição “notitia criminis”, ou a notícia do crime de responsabilidade da Presidente.

b) “Aura de profissional competente e ilibada”

[E13] [...] foi deflagrada a Operação Lava Jato, que em cada uma de suas várias fases colhe pessoas próximas à Presidente, desconstruindo a aura de profissional competente e ilibada, criada por marqueteiros muito bem pagos.

O termo “competência”, que diz respeito à capacidade de fazer bem feito algo ou o conhecimento de alguém sobre um determinado assunto, é utilizado no enunciado como uma forma de ironia, ou seja, o destaque das expressões “aura de profissional” e “competente e ilibada” constrói uma imagem de equilíbrio, perfeição e pureza da “Presidente” que logo é desconstruída pela expressão “criada por marqueteiros muito bem pagos”.

O sintagma nominal “marqueteiros” foi intencionalmente citado no enunciado pelo enunciador, pois traz à memória dos interlocutores que os investimentos da campanha de Dilma Rousseff, na eleição presidencial de 2014, foram milionários e, de acordo com investigações da Operação Lava-jato30, advindos de “caixa dois”. Dessa forma, o recurso é estratégico e novamente reforça a construção de uma imagem forjada e que não condiz com a realidade, segundo o enunciador.

No mesmo enunciado, é interessante observar a expressão “colhe pessoas próximas à Presidente”. O sintagma verbal “colher” foi utilizado na expressão com o sentido de apanhar, capturar, aprisionar. Dessa forma, o uso do sintagma e sua relação com os outros termos

30O “Mensalão” e a “Operação Lava-Jato foram dois termos muito recorrentes citados na denúncia e que levou, a partir de suas constatações, ao pedido de impeachment de Dilma Rousseff.

O “Mensalão”, expressão usada para se referir a uma espécie de “mesada”, ficou conhecido pelo escândalo de corrupção política, ocorrido nos períodos de 2005 e 2006, no governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Consistia na compra de votos de parlamentares com recursos financeiros não declarados aos órgãos de fiscalização (o chamado “caixa dois”) em troca de aprovação dos projetos do governo. De acordo com as investigações, membros de vários partidos estavam envolvidos no esquema de corrupção, mas um número maior de integrantes era do Partido dos Trabalhadores. O esquema foi revelado por Roberto Jefferson, em que segundo sua delação, era chefiado por José Dirceu. Lula negou a existência do mensalão em seu governo, mas no final de 2005 admitiu que tivesse conhecimento do esquema.

A “Operação Lava-Jato” consiste em um conjunto de operações de investigação em andamento conduzida pelo então juiz Sérgio Moro, pela Polícia Federal e pelo Ministério Público que revelou um dos maiores escândalos de corrupção no país e de lavagem de dinheiro. As investigações se iniciaram em 2014 e foi constatado um esquema de desvio de dinheiro dos cofres da Petrobrás. O crime envolveu empreiteiras (Odebrecht, OAS), funcionários públicos da estatal, operadores financeiros (doleiros) e agentes públicos, principalmente integrantes do PMDB e PT. Outro fato importante para a Operação Lava-Jato foi a prisão do Presidente Lula no dia 07 de abril de 2018. Moro condenou Lula pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no processo do apartamento do triplex no Guarujá e segundo a sentença, o ex-Presidente recebeu vantagens indevidas em decorrência de seu cargo. Lula foi condenado em 2ª instância pelo TRF-4 a cumprir pena de doze anos e um mês. O impacto dos escândalos, a crise econômica e a baixa popularidade fragilizaram o governo de Dilma Rousseff o que culminou na perda de seu mandato, encerrando um ciclo de 13 anos do Partido dos Trabalhadores no governo.

“pessoas próximas à Presidente” reforçam a argumentação sobre a existência de um grupo criminoso do qual a Presidente faz parte.

c) “Personalidade centralizadora”

[E44] Reforça o entendimento de que a Presidente da República agiu com dolo o fato de ela sempre se mostrar muito consciente de todas as questões afetas ao setor de energia, bem como aquelas relacionadas à área econômica e financeira. Ademais, além de ser economista por formação, a dirigente máxima do país ocupou cargos umbilicalmente relacionados ao setor de energia, não sendo possível negar sua personalidade centralizadora.

Outra propriedade atribuída a “Dilma Rousseff” refere-se à sua “personalidade centralizadora”. Nesse caso, a personalidade da Presidente é construída a partir da sua área de formação, “além de ser economista por formação” e dos cargos que ela assumiu, “a dirigente máxima do país ocupou cargos umbilicalmente relacionados ao setor de energia”. Dessa forma, o enunciador argumenta que o perfil de “Dilma” era sempre chamar para si as tomadas de decisão no governo. Nesse contexto, pelo conhecimento e pelos cargos importantes ocupados pela Presidente seria impossível o seu desconhecimento em relação aos problemas da estatal. Essa característica é complementada pelo uso do modalizador asseverativo negativo “não sendo possível negar”.

Outro designador do referente que também é importante destacar é o termo “dirigente máxima do país”. Essa expressão faz parte da cadeia paradigmática construída a partir dos termos “Presidente da República” e “Governo Federal”. Vale ressaltar que o modificador “máxima” liga-se ao termo “dirigente”, intensificando e atribuindo uma conotação de superioridade ao referente.

O emprego da forma verbal no pretérito perfeito “agiu” apresenta um fato já concluso das ações do referente. Observemos que essa ação se liga ao seu complemento “com dolo”, indicando uma intenção consciente da “Presidente” acerca de um ato criminoso. O termo é ratificado a partir da proposição “o fato de ela sempre se mostrar muito consciente de todas as questões afetas ao setor de energia”, demonstrando que a “Presidente” tinha noção dos seus atos praticados no governo. A proposição é intensificada a partir do uso do modificador “muito consciente”.

d) “maquiagem”, “máscara”

[E11] Essa notitia criminis demonstra que a Presidente, que sempre se apresentou como valorosa economista, pessoalmente responsável pelas finanças públicas, deixou de contabilizar empréstimos tomados de Instituições Financeiras públicas

(Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil), contrariando, a um só tempo, a proibição de fazer referidos empréstimos e o dever de transparência quanto à situação financeira do país. Em suma, houve uma maquiagem deliberadamente orientada a passar para a nação (e também aos investidores internacionais) a sensação de que o Brasil estaria economicamente saudável e, portanto, teria condições de manter os programas em favor das classes mais vulneráveis. Diante da legislação penal comum, a Presidente incorrera, em tese, nos crimes capitulados nos artigos 299, 359-A e 359-C, do Código Penal, respectivamente, falsidade ideológica e crimes contra as finanças públicas.

[E14] Com efeito, a máscara da competência fora primeiramente arranhada no episódio envolvendo a compra da Refinaria em Pasadena pela Petrobrás. Por todos os ângulos pelos quais se analise impossível deixar de reconhecer que o negócio, mesmo à época, se revelava extremamente prejudicial ao Brasil. Segundo consta, as perdas foram superiores a setecentos milhões de reais.

[E122] Conforme apurado pelo Tribunal de Contas da União, em processo ainda em andamento (TCU 021.643/2014-8), durante os anos de 2011 e 2014 a contabilidade da União não espelha a realidade das contas públicas – o que afronta a necessária transparência -, em razão da prática de diversas maquiagens contábeis que ficaram conhecidas como “pedaladas fiscais”.

[E239] Ao desrespeitar a lei orçamentária anual de forma deliberada, como consta do parecer acima, mascarando o orçamento para dele fazer constar informações incorretas, com apresentação de um resultado fiscal, ao final de cada mês, superior ao que efetivamente seria adequado, mais uma vez, a denunciada incorreu em crime de responsabilidade, nos termos do art. 10, 4 da Lei 1.079/50, que dispõe:

[E291] Primeiro, há mais de dois anos que a imprensa nacional alerta o Governo de que a contabilidade pública está sendo maquiada. Aliás, foi este o motivo que levou o MP do TCU a agir para fiscalizar este fato, como consta do parecer do Procurador Júlio Marcelo de Oliveira:

[E402] No teatro sem fim em que vivem engendrados a Presidente da República e seus consortes, insiste-se que apenas a elite está descontente, supostamente com a elevação das classes menos favorecidas.

Nos enunciados acima, a escolha do termo “maquiagem” e termos correlatos estão diretamente relacionados ao Governo de Dilma. No enunciado [E11], a metáfora “uma maquiagem” salienta e aspectualiza a conduta da “Presidente Dilma” como falsa, que encobre algo e, ainda, a partir da expressão “deliberadamente orientada”, modaliza e enfatiza o ponto de vista do enunciador em relação aos principais objetivos do Governo no poder.

Outro termo a ser levado em consideração na construção do enunciado é "sensação". O sintagma chama a atenção pela invocação dos sentidos, das percepções. Nesse contexto, o enunciador liga o termo à expressão "maquiagem deliberadamente orientada" para criar a representação da ilusão e da ironia no sentido de que, de acordo com “Dilma”, "o Brasil estaria economicamente saudável e, portanto, teria condições de manter os programas em favor das classes mais vulneráveis". O predicado "incorrer nos crimes [...] de falsidade ideológica e crimes contra as finanças públicas", seguido da expressão "Diante da legislação

penal comum", sinaliza que o enunciador busca preservar sua face em relação ao dito e traz outras vozes para testificar os fatos, ou seja, a lei.

O termo metafórico “máscara” é utilizado no enunciado [E14] como modificador do termo “competência”. A estratégia discursiva faz alusão à competência da Presidente e de seu governo que, conforme a acusação, não passava de uma verdadeira farsa para enganar a nação. É interessante a ligação entre as expressões “a máscara da competência” e “fora primeiramente arranhada”. Esse recurso personifica o termo “competência” como algo que possa ser manchado, depreciado ou desconstruído. Por extensão, temos no enunciado a construção de uma representação discursiva negativa da competência de Dilma Rousseff.

No [E122], podemos observar que o uso do termo “maquiagem” deixa de caracterizar a conduta da Presidente e passa a caracterizar a estrutura administrativa do seu governo. Dessa forma, o uso da expressão “prática de diversas maquiagens contábeis” é utilizado pelo enunciador para dar a entender que a Presidente, durante o seu governo, empregou de meios ilícitos para esconder “a realidade das contas públicas” e para dar a impressão de que o país estaria economicamente equilibrado. Chamamos a atenção para o termo “prática”, que, conforme a proposição sinaliza uma regularidade ou uma continuidade nos atos do Governo Federal e o uso do adjetivo quantificador “diversas” que pluraliza, mas não define, de forma mais evidente, essas “práticas”. Ademais, o uso dos termos “mascarando o orçamento” e “a contabilidade pública está sendo maquiada”, enunciados [E239] e [E291], ratificam a informação anterior sobre as supostas manobras contábeis do governo.

Passamos a destacar a expressão “teatro sem fim”, de modo a relacioná-la aos termos anteriores “máscara” e “maquiagem”, criando a isotopia do irreal, do imaginário e do fictício que para o enunciador, se transformou o “Governo Dilma”. Dessa forma, a metáfora da “máscara” constrói a imagem de um governo que não usou de transparência e de verdade para com o seu povo.

A construção da representação discursiva de Dilma Rousseff apresenta-se, ainda, em algumas formas verbais com sentidos correlatos, como em “incorrer”, “afrontar” e “desrespeitar”.

[...] a Presidente incorrera, em tese, nos crimes capitulados [...] [...] o que afronta a necessária transparência [...]

[...] Ao desrespeitar a lei orçamentária anual de forma deliberada [...]

Observamos que os enunciados acionais apresentam uma carga semântica que remete a uma ação criminal, apesar da ressalva “em tese”. A construção dessa imagem é intensificada

com o uso da expressão modalizadora “de forma deliberada”, ou seja, que “Dilma” cometeu tais ações de modo intencional e premeditado.

e) “sua conduta no cargo”, “seu comportamento”

[E86] A ilegalidade da conduta da denunciada se revela a partir das proibições constantes do art. 167, V da CF2 e art. 4º da Lei Orçamentária Anual – LOA-2014 (Lei 12.952/2014).

[E93] Porém, a conduta da denunciada foi contrária ao que determina a lei. Editou decretos com ampla e vultosa movimentação financeira, ampliando os gastos da União com recursos suplementares, quando estava vedada esta ação.

[E119] Esta constatação diz respeito às práticas ilegais intentadas pela denunciada no ano de 2014. E, ainda assim, ela reiterou em 2015! O caso é grave!

[E228] A conduta da denunciada, Dilma Rousseff, na concretização destes crimes, é de natureza comissiva, pois se reunia, diariamente, com o Secretário do Tesouro Nacional, determinando-lhe, agir como agira. A este respeito, cumpre lembrar que a Presidente é economista e sempre se gabou de acompanhar diretamente as finanças e contas públicas. Aliás, durante o pleito eleitoral, assegurou que tais contas estavam hígidas.

[E229] Ainda que a Presidente não estivesse ativamente envolvida nesta situação, restaria sua responsabilidade omissiva, pois descumpriu seu dever de gestão da administração pública federal, conforme art. 84, II, da Constituição Federal. Abaixo, em item específico, resta melhor caracterizada a responsabilidade da denunciada no que se refere a suas condutas omissivas.

[E395] Os ora denunciantes, por óbvio, prefeririam que a Presidente da República tivesse condições de levar seu mandato a termo. No entanto, a situação se revela tão drástica e o comportamento da Chefe da nação se revela tão inadmissível, que alternativa não resta além de pedir a esta Câmara dos Deputados que autorize seja ela processada pelos crimes de responsabilidade previstos no artigo 85, incisos V, VI e VII, da Constituição Federal; nos artigos 4º., incisos V e VI; 9º. números 3 e 7; 10 números 6, 7, 8 e 9; e 11, número 3, da Lei 1.079/1950.

[E342] O comportamento da Presidente, infelizmente, não condiz com a honorabilidade do cargo.

Nos enunciados selecionados, observamos que a construção da representação discursiva de Dilma concentra-se em sua conduta e no seu comportamento como Presidente da República. Nos enunciados [E86], [E93] e [E119], o referente é retematizado como “denunciada”. É interessante fazermos um parêntese para explicar sobre alguns termos jurídicos que, para o leigo, podem parecer sinônimos, mas não o são. É o caso de indiciado, denunciado e acusado. O indiciado está relacionado ao indivíduo que é objeto de investigação em um inquérito policial, portanto, o termo é utilizado no início da apuração de um suposto