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3.2 ANÁLISE TEXTUAL DOS DISCURSOS: PARA UMA ANÁLISE DE TEXTOS

3.2.2 Unidades composicionais de base do texto

3.2.2.1 Os períodos e as sequências

Para Adam (2011, p. 204), o período e a sequência são definidos como “[...] dois grandes tipos de agrupamentos que mantêm as proposições-enunciados”. O autor classifica, então, os períodos como “unidades textuais frouxamente tipificadas” e as sequências como “unidades mais complexas”.

Para Adam (2011, p. 205), a noção de período no quadro teórico da ATD não é a mesma utilizada pelas gramáticas normativas, ou seja, o período compreende “[...] uma unidade de estruturação textual intermediária articuladora de proposições e sequências, na interface gramática/texto”. Nesse sentido, é importante deixar claro que a noção de período não deve ser confundida com a noção de frase, ou seja, um período pode ser formado por uma

frase ou por um agrupamento de frases que se ligam a partir dos critérios de conexão. “Os períodos resultam das mais variadas formas de ligações: ligações rítmicas das proposições (por retomadas de fonemas/grafemas, lexemas, sintagmas inteiros), ligações léxico- semânticas (paralelismos, quiasmas, antíteses) e ligações por conexão asseguradas por conectores” (PASSEGGI et al., 2010, p. 272). A distinção que Adam (2011) faz entre o período e a sequência está diretamente vinculada à sua complexidade e à sua organização. Dessa forma, e “[...] de amplitude potencialmente menor que as sequências, os períodos são unidades que entram diretamente na composição das partes de um plano de texto” (ADAM, 2011, p. 205).

Já as sequências são definidas pelo autor como “[...] unidades textuais complexas, compostas de um número limitado de conjuntos de proposições-enunciados: as macroproposições” (ADAM, 2011, p. 205). As macroproposições são caracterizadas como, “[...] uma espécie de período cuja propriedade principal é a de ser uma unidade ligada a outras macroproposições, [...] cada macroproposição adquire seu sentido em relação às outras na unidade hierárquica complexa da sequência” (ADAM, 2011, p. 205).

Dessa forma, a estrutura de uma sequência caracteriza-se por apresentar “uma rede relacional hierárquica, que se caracteriza em partes que se ligam entre si e o todo, e uma entidade relativamente autônoma, dotada de uma organização interna”, constituindo uma relação de dependência-independência com o texto (ADAM, 2011, p. 205, grifo do autor). No que diz respeito às sequências, e em conformidade com o autor, Marquesi, Elias e Cabral (2017, p. 15) caracterizam as sequências como “[...] estruturas compostas de um número limitado de elementos. Além disso, elas são dotadas de uma organização interna própria, cujos elementos se organizam de forma hierárquica”.

A estruturação sequencial de um texto é formada pelos vários encadeamentos narrativos, descritivos, argumentativos, explicativos, entre outros, que ajudam na compreensão de um texto como um todo. Nesse sentido, de acordo com Adam (2011), para garantir a unidade textual e sua coerência, são necessários dois tipos de operações: “[...] o estabelecimento de uma unidade semântica (temática) global, e (pelo menos) um ato de discurso dominante. Unidade temática e unidade ilocucionária determinam a coerência semântico-pragmática global de um texto (ou de uma parte de um texto) ”. (ADAM, 2011, p. 256, grifos do autor).

Em relação às macroproposições que formam um texto coeso e coerente, o autor explica que o fato de um texto ser caracterizado como narrativo, descritivo, argumentativo tem a ver com o seu efeito dominante, ou seja, são as sequências que predominam ou que

mais aparecem em determinado texto. Para Adam (2011), o fato de um texto apresentar uma sequência dominante “[...] não tem nada a ver com a hipótese demasiadamente geral da existência dos tipos de textos” (ADAM, 2011, p. 277, grifos do autor). O conjunto de ligações que se articula e forma a estruturação-sequencial é resumida pelo autor no esquema que segue, apresentado na Figura 6.

Figura 6 – Estruturação sequencial-composicional

Fonte: Passeggi et al. (2010, p. 298) adaptado de Adam (2011, p. 257).

As macroproposições são absorvidas pelos falantes com base na sua cultura. Conforme Adam (2011, p. 206),

[...] as asserções narrativas, descritivas, argumentativas e explicativas, factuais ou ficcionais, antes constroem representações esquemáticas do mundo do que se ajustam a ele e o estabelecimento de uma crença partilhada não é a finalidade última dessas asserções. Seu objetivo último é, como nos diretivos, uma finalidade de ação: fazer partilhar uma crença com a finalidade de induzir um certo comportamento (sonhar, chorar, indignar-se, revoltar-se, agir no mundo, etc.).

Passeggi et al. (2010, p. 274) explicitam que “[...] essa concepção cognitivo- semântica das sequências é complementada por uma perspectiva pragmática que salienta seu caráter operatório para a análise textual”. A seguir, apresentaremos as sequências descritiva, narrativa, argumentativa e explicativa, alguns conceitos e como se estruturam.

3.2.2.1.1 Sequências descritivas

As sequências descritivas são identificadas por Adam (2011) como unidades particulares, por apresentar fragilidades em sua organização interna comparável a das sequências narrativas, argumentativas e explicativas. Para o autor, “A descrição é tão pouco ordenada em si mesma que é obrigada a se moldar, permanentemente, aos planos de textos fixados pela retórica ou, como é o caso mais frequente, aos planos de textos ocasionais” (ADAM, 2011, p. 206).

Conforme Bonini (2005, p. 222), a sequência descritiva é “[...] a menos autônoma entre todas. Dificilmente será predominante em um texto. Sua ocorrência mais característica é como parte da sequência narrativa, principalmente na parte inicial (a situação), quando são introduzidos o espaço e os personagens do fato”. Na Antiguidade, esse tipo de sequência foi resumida às funções descritivas de coisas, lugares e pessoas. A esse respeito, Adam e Revaz (1997, p. 40) explicam que “[...] esta forma de textualização é, em função dos diferentes referentes, agrupada em tipos pela retórica clássica”. A seguir apresentamos como a descrição se classifica, conforme exposto no Quadro 4.

Quadro 4 – Classificação retórica das descrições Descrição - Retrato moral ou etopeia de pessoas - Retrato físico ou prosopografia - Retrato de um tipo ou caráter - Retrato duplo ou paralelo Descrição de coisas

Descrição de lugares - Topografia Descrição de tempo - Cronografia Descrição de animais

Descrição de plantas Fonte: Adam e Revaz (1997, p. 40)

Adam (2011) ressalta que as sequências descritivas são formadas por um conjunto de operações (macro-operações) que se subdivide em operações descritivas, denominadas: tematização, aspectualização, relação e expansão por subtematização, sintetizadas no Quadro 5, que segue.

Quadro 5 – Macro-operações

N. Macro-operações Definição

01 Tematização

“É a macrooperação principal: dá unidade a um segmento e faz dele um período tão fortemente característico que aparece como uma espécie de sequência” (ADAM, 2011, p. 218).

Essa operação se subdivide em: pré-tematização ou ancoragem; pós- tematização ou ancoragem diferida e retematização (ou reformulação). Pré-tematização: “[...] é uma denominação imediata do objeto que abre (escopo à direita) um período descritivo e anuncia um todo” (ADAM, 2011, p. 218). Ex: [E4] “vêm apresentar DENÚNCIA em face da

Presidente da República, Sra. DILMA VANA ROUSSEFF, haja vista

a prática de crime de responsabilidade [...]”.

Pós-tematização ou ancoragem diferida: “[...] é uma denominação adiada do objeto, que somente nomeia o quadro da descrição no curso ou no final da sequência. Quando a denominação do todo é dada tardiamente, a descrição pode permanecer obscura e demorar a formar uma unidade de sentido” (ADAM, 2011, p. 218).

Retematização (ou reformulação): “[...] nova denominação do objeto que reenquadra o todo, fechando o período descritivo. [...] a retematização implica a existência de uma primeira nomeação [N] do objeto do discurso e vem, portanto, interromper seu escopo” (ADAM, 2011, p. 219).

Ex: [E12] “Em 26 de agosto do corrente ano, Ministro do TCU noticiou à BBC que alertara a Presidente acerca das irregularidades em torno das chamadas pedaladas fiscais. E, no último dia 07, o mesmo Tribunal, em decisão histórica, inegavelmente técnica, rejeitou as contas do Governo

Dilma, relativamente a 2014.”

02 Aspectualização

Apoiada na tematização, essa operação se agrupa em duas operações: a fragmentação, que se define pela análise de um todo, em partes e subpartes de partes, tendendo a fragmentar o objeto do discurso; e a qualificação, que tem como função evidenciar as propriedades de um todo e/ou das partes selecionadas pela operação de fragmentação.

Ex: [E44] “Ademais, além de ser economista por formação, a dirigente máxima do país ocupou cargos umbilicalmente relacionados ao setor de energia, não sendo possível negar sua personalidade centralizadora”.

03 Relação

Diz respeito a uma operação que agrupa a relação de contiguidade e a analogia. A relação por contiguidade incide em uma situação temporal (situação do objeto de discurso em um tempo histórico ou individual) ou espacial (relações de contiguidade entre o objeto do discurso e os outros objetos suscetíveis de tornar-se o centro [tematização] de um procedimento descritivo ou, ainda, contiguidade entre as diferentes partes consideradas).

Ex: [E404] “Os tiranos que dele se apoderaram construíram um discurso de cisão, objetivando nos enfraquecer, para se perpetuarem”.

04 Expansão por subtematização

“Estende a descrição pelo acréscimo de uma operação a outra anterior” (PASSEGGI, 2010, p. 283)

Ex: [E62] “Registre-se, por oportuno, que, embora os denunciantes já tenham ofertado anterior pedido de Impeachment contra a denunciada, inclusive aditando-o, é certo que os fatos que se sucederam, após aquela oportunidade, exigem nova denúncia para que se possa consolidar, com ainda maior clareza, os crimes praticados por Dilma Rousseff”.

Para Adam (2011), é a partir da aplicação e da relação dessas operações de base que são geradas as proposições descritivas. Segundo o autor, a sequência descritiva mostra uma impressão de “anarquia descritiva” por não apresentar uma linearidade em suas operações de textualidade. Nesse sentido, os planos de textos são importantes visando garantir a legibilidade e a interpretação dessas sequências.

A descrição apresenta dois modos de descrever que são determinados pelas intenções ou pelas atitudes do produtor de texto: o perceptual e o epistêmico. A descrição perceptual pode ser entendida como a caracterização de um determinado objeto de discurso a partir das percepções, sensações do produtor textual, ou seja, “o sentir”, “o saborear”, “o ouvir”, “o ver”, “o tocar” etc. A descrição epistêmica “[...] evidencia o estado de saber do descritor”. São descrições que se constroem a partir do conhecimento enciclopédico do falante e de suas relações com os outros sujeitos e objetos de discurso (ADAM, 2011, p. 225). De acordo com Marquesi, Elias e Cabral (2017, p. 19), “[...] é possível dizer que, ao designar, tematizar ou nomear um ser/objeto, o produtor já indica a orientação argumentativa do texto, que se manifestará pelas escolhas lexicais e sintáticas para qualificar, localizar, situar esse objeto, em função de um querer dizer”.

3.2.2.1.2 Sequências narrativas

As sequências narrativas caracterizam-se por apresentar “fatos reais ou imaginários” e “pela presença de um agente – ator humano ou antropomórfico – que provoca ou tenta evitar uma mudança” (ADAM, 2011, p. 225). O principal objetivo das sequências narrativas nas palavras de Cavalcante (2012, p. 65), é o de “[...] manter a atenção do leitor/ouvinte em relação ao que se conta. Para isso, são reunidos e selecionados fatos, e a história passa a ser desenvolvida [...]”. A sequência narrativa constitui-se dos seguintes elementos: situação inicial (estágio inicial de equilíbrio), nó (conflito), re-ação (avaliação), desenlace (resolução), situação final. Vejamos, na Figura 7, como se estrutura:

Figura 7 – Estrutura hierárquica da sequência narrativa

Fonte: Adam (2011, p. 226)

Uma narrativa pode constituir-se de simples enumerações de ações ou de eventos e assim apresentar um baixo grau de narrativização. Narrativas mais complexas apresentam os elementos constantes do esquema 18 (Figura 7) e correspondem a uma trama com um alto grau de narrativização. Conforme Adam (2011, p. 228), “[...] a aplicação do esquema de enredo é um processo interpretativo de construção de sentido. Esse processo, guiado pela segmentação e por marcas linguísticas muito diversas, é submetido a escolhas e decisões de estruturação centradas na identificação de um núcleo e um desenlace”.

De acordo com Passeggi et al. (2010, p. 284), “uma sequência narrativa pode ser fortemente segmentada”, isto é, quando são separadas por ponto-maiúscula, e “fracamente segmentadas”, quando separadas por conector. O autor ainda esclarece que “na escrita, quando a sequência se expande, as macroproposições narrativas costumam ser destacadas por mudanças de parágrafos”.

3.2.2.1.3 Sequências argumentativas

Em relação às sequências argumentativas, Adam (2011, p. 233, grifos do autor) destaca dois movimentos: o de “demonstrar-justificar uma tese e refutar uma tese ou certos argumentos de uma tese adversa”. Nesse sentido, o produtor do texto parte dos dados, dos fatos, e dos elementos que lhe darão suporte para determinada conclusão. O autor explica ainda, que os dois movimentos estão garantidos “[...] pelos procedimentos argumentativos que assumam a forma de encadeamentos de argumentos-provas, correspondendo ora aos suportes de uma lei de passagem, ora a microcadeias de argumentos ou a movimentos argumentativos encaixados” (ADAM, 2011, p. 233). Nesse sentido, entendemos que a

estrutura de um texto argumentativo se diferencia de um texto narrativo pela finalidade de cada sequência.

Em conformidade com Adam (2011), Cavalcante (2012, p. 67) afirma que “[...] uma sequência argumentativa visa a defender um ponto de vista, uma tese, e os argumentos para sustentá-la vão sendo gradativamente apresentados”. A autora apresenta e detalha as seguintes fases de uma sequência argumentativa:

[...] tese inicial ou premissas – contextualização ou inserção da orientação argumentativa, propondo uma constatação de partida;

argumentos – apresentação de dados que direcionam a uma provável conclusão; contra-argumentos – apresentação de dados que se opõem à argumentação;

conclusão – nova tese consequente aos argumentos e contra-argumentos (CAVALCANTE, 2012, p. 67).

Em relação à contra-argumentação, Adam (2011) cita Moeschler (1985), ao mencionar que,

Um discurso argumentativo [...] situa-se sempre em relação a um contradiscurso efetivo ou virtual. A argumentação é, por isso, indissociável da polêmica. Defender uma tese ou uma conclusão consiste em defendê-la contra outras teses ou conclusões, da mesma maneira que entrar em uma polêmica não implica somente um desacordo [...], mas, sobretudo, ter contra-argumentos. Essa propriedade da argumentação – a de estar submetida à refutação – parece-me ser uma de suas características fundamentais, distinguindo-a, nitidamente, da demonstração ou da dedução que, no interior de um dado sistema, apresentam-se como irrefutáveis (MOESCHLER, 1985 apud ADAM, 2011, p. 234).

Em conformidade com o autor, para Passeggi et al. (2010),

[...] a argumentação é indissociável da polêmica. Defender uma tese ou uma conclusão consiste em defendê-la contra outras teses ou conclusões. Essa propriedade da argumentação, de ser refutada, parece constituir uma característica que a distingue da demonstração ou da dedução, as quais, no interior de um dado sistema, apresentam-se como irrefutáveis (PASSEGGI et al., 2010, p. 290).

Por sua vez, Cabral e Lima (2017, p. 95) acrescentam que, “argumenta-se para polemizar, isto é, estratégias argumentativas são utilizadas no discurso polêmico para marcar um ponto de vista e igualmente para marcar a hostilidade perante o adversário”. Nesse sentido, observamos que tais estratégias são bastante utilizadas em nosso corpus, não apenas com o intuito de convencer, mas também para atrair a adesão dos interlocutores para a veracidade dos fatos apresentados.

3.2.2.1.4 Sequências explicativas

As sequências explicativas têm como objetivo básico fazer com que o interlocutor adquira um conhecimento ou um saber que até então não se tinha. Para Marquesi, Elias e Cabral (2017, p. 21), apesar desse pré-requisito incontestável, as sequências explicativas precisam ser explicadas.

Nesse sentido, e para uma melhor visualização da sequência explicativa, Adam (2011) apresenta sua estrutura, segundo Grize (1990), de acordo com a Figura 8.

Figura 8 – Sequência explicativa por Grize (1990)

Fonte: ADAM (2011, p. 244)

Esse esquema de base é ampliado por Adam (2011, p. 244) quando o autor introduz dois tipos de POR QUE(?), ou seja, “[...] os que retomam um elemento anterior e reesquematizam o problema colocado e os que não dispondo de contexto anterior, realizam, diretamente, essa esquematização do problema (POR QUEp?), muitas vezes por meio de pseudoquestões”, o que pode ser visto na Figura 9, a seguir.

Figura 9 – Esquema da sequência explicativa por Adam (2011)

Fonte: Adam (2011, p. 245).

A sequência explicativa encontra-se composta pelas seguintes partes:

1. a esquematização inicial – caracteriza-se por uma informação não polêmica realizada pelo enunciador aos seus interlocutores;

2. o problema – diz respeito à formulação de uma questão e é assinalado pelos operadores “por quê?” ou “como?”;

3. a explicação – corresponde à resposta do problema; 4. a avaliação – encerramento da sequência.

Nesse contexto, as sequências explicativas são igualmente importantes, pois, “[...] embora a explicação esteja associada a fenômenos incontestáveis, [...] a explicação de um conceito ou de um fenômeno pode, muitas vezes, servir de argumento para apoiar um ponto de vista e, nesse sentido, contribuir para a orientação argumentativa do texto” (MARQUESI; ELIAS; CABRAL, 2017, p. 22).

3.2.2.2 Plano de texto

Os planos de texto caracterizam-se pela organização estrutural do texto tendo em vista os objetivos comunicativos de acordo com o seu gênero textual. Conforme Adam (2011, p. 258), “[...] os planos de textos estão, juntamente com os gêneros, disponíveis no sistema de conhecimentos dos grupos sociais. Eles permitem construir (na produção) e reconstruir (na leitura ou na escuta) a organização global de um texto, prescrita por um gênero”. Segundo Cabral (2013, p. 243), “[...] o conceito de plano de texto é entendido pela ATD como um princípio organizador que permite atender e materializar as intenções de produção e distribuir a informação no desenvolvimento da textualidade e é responsável pela estrutura composicional do texto”. Em conformidade com a autora, Rodrigues (2018, p.51-52) acrescenta que “o plano de texto contribui para que os interlocutores cumpram seus papéis de autor e de ouvinte/leitor em uma perspectiva interacional e cooperativa, no que concerne à construção do sentido”. Dessa forma, os planos de textos são responsáveis pela estruturação global do texto, ou seja, pela forma como se ordenam e se desenvolvem, de modo a fornecer ao leitor/ouvinte elementos necessários para sua compreensão e interpretação.

Adam (2011, p. 254) ressalta a importância do plano de texto como o principal fator unificador da estrutura composicional, desempenhando um papel fundamental na composição macrotextual dos sentidos. De acordo com suas funções, os planos de texto se subdividem em convencional (ou fixo) e ocasional. Os planos de texto convencionais são aqueles fixados pela história e pela cultura de uma determinada sociedade. Já um plano de texto ocasional é “[...] inesperado, deslocado em relação a um gênero ou subgênero de discurso” (ADAM, 2011, p. 258). Segundo Passeggi et al. (2010, p. 297), os planos de texto ocasionais “são mais abertos e flexíveis e, [...] com frequência, fogem à estruturação clara de um gênero ou subgênero do discurso”. Nessa perspectiva, Adam (2011) explica que todo gênero é passível de construções ou de reconstrução, tanto no seu processo produtivo quanto no interpretativo. Dessa forma, um gênero que apresenta um plano de texto convencional/fixo pode passar a apresentar um plano de texto ocasional, levando-se em conta os aspectos culturais, históricos e sociais em

que esse texto está inserido. Essa operação de estruturação baseia-se na sua macrossegmentação. Cabral (2013, p. 245) destaca ainda que “A compreensão e a construção dos sentidos de um texto repousam sobre um conjunto de processos desconhecidos do leitor, ou, pelo menos, não conscientes e que podem se tornar conscientes e controlados quando o leitor é proficiente em leitura”.

Diante das reflexões apresentadas, compreendemos a importância que o plano de texto tem para a construção dos sentidos do texto. O planejamento e a organização das ideias, os objetivos e as intenções do produtor devem ser previamente ordenados pensando num plano de texto que reflita aquilo que se quer dizer. No entanto, vale ressaltar que em todo planejamento deve-se levar em conta o conhecimento de mundo, os aspectos culturais, históricos, além das estratégias que são mobilizadas e utilizadas pelos escritores e leitores durante o processo de produção textual.

3.3 REPRESENTAÇÃO DISCURSIVA

Esta seção trata da representação discursiva (Rd) como uma das principais noções utilizadas pela Análise Textual dos Discursos, ao lado da correferência, anáfora, isotopia, colocação, entre outras, que fazem parte das categorias semânticas do texto. Essa noção será tratada aqui a partir dos estudos de Grize (1996, 1997) e Adam (1999, 2011). A noção de ponto de vista (PdV) também será abordada nesta seção, pois entendemos que a construção das representações discursivas dos objetos de discursos dependem das percepções e intenções do enunciador(es) ou dos coenunciador(es).