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De "governante máxima" a "denunciada": as representações discursivas de Dilma Rousseff na denúncia do processo de impeachment

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Academic year: 2021

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DEPARTAMENTO DE LETRAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: LINGUÍSTICA TEÓRICA E DESCRITIVA

ALBA VALÉRIA SABÓIA TEIXEIRA LOPES

DE “GOVERNANTE MÁXIMA” A “DENUNCIADA”: AS REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS DE DILMA ROUSSEFF NA DENÚNCIA DO PROCESSO DE

IMPEACHMENT

NATAL-RN 2019

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DE “GOVERNANTE MÁXIMA” A “DENUNCIADA”: AS REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS DE DILMA ROUSSEFF NA DENÚNCIA DO PROCESSO DE

IMPEACHMENT

Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem (PPgEL) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), para obtenção do título de Doutora em Estudos da Linguagem.

Área de concentração: Linguística Teórica e Descritiva

Orientador: Prof. Dr. João Gomes da Silva Neto

Natal-RN 2019

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes – CCHLA

Lopes, Alba Valéria Saboia Teixeira.

De "governante máxima" a "denunciada": as representações discursivas de Dilma Rousseff na denúncia do processo de impeachment / Alba Valéria Saboia Teixeira Lopes. - Natal, 2019. 196f.: il. color.

Tese (doutorado) - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2019. Orientador: João Gomes da Silva Neto.

1. Análise textual dos discursos - Denúncia - Tese. 2. Impeachment - Representação discursiva - Tese. 3. Sequências textuais - Tese. I. Silva Neto, João Gomes da. II. Título.

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IMPEACHMENT

Esta tese foi submetida por Alba Valéria Sabóia Teixeira Lopes ao Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de doutora em Estudos da Linguagem, outorgado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. João Gomes da Silva Neto – Orientador Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Profa. Dra. Maria das Vitórias Nunes Silva Lourenço – Examinadora externa Faculdade do Seridó

Prof. Dr. Ananias Agostinho da Silva – Examinador externo Universidade Federal do Semi-árido

Profa. Dra. Maria Eliete Queiroz – Examinadora externa Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

Prof. Dr. Luis Álvaro Sgadari Passeggi – Examinador interno Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Profa. Dra. Célia Maria de Medeiros – Examinadora interna Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Prof. Dr. Marcelo da Silva Amorim – Examinador interno Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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Dedico

Ao meu querido esposo, Gilwagner, pelo amor, dedicação e pelos incentivos constantes para o meu crescimento pessoal, profissional e espiritual.

Aos meus filhos, André Luiz e Pedro Henrique, por serem os responsáveis pela minha caminhada e por estarem comigo desde sempre.

Aos meus pais, Evaristo e Nildete, pelo exemplo que são e por serem responsáveis pelo que sou.

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A Deus, meu amado pai e amigo, por ter me sustentado em todos os momentos da minha vida e por tantos benefícios que tem me concedido; eu só tenho a agradecer.

Ao meu querido orientador, Prof. Dr. João Gomes da Silva Neto, pelas orientações que venho recebendo desde o mestrado. Se cheguei até aqui, foi porque eu tive um professor-amigo que confiou, acreditou e me acolheu. Minha inspiração diária. Sou-lhe grata por tudo.

À minha amiga de todas as horas, Célia Maria de Medeiros, em especial, por sua ajuda constante no desenvolvimento desta pesquisa.

Aos professores do Grupo de Pesquisa da ATD, Profa. Dra. Maria das Graças Soares Rodrigues, Prof. Dr. Luis Passeggi e Prof. Dr. João Gomes da Silva Neto, pelas generosas contribuições nas aulas, cursos ministrados. Gratidão é o que sinto por todos eles.

À banca examinadora, constituída pelos professores: Prof. Dr. Luis Passeggi, Profa. Dra. Célia Maria de Medeiros, Prof. Marcelo da Silva Amorim, Profa. Dra. Maria das Vitórias Nunes Silva Lourenço, Prof. Dr. Ananias Agostinho da Silva e Profa. Dra. Maria Eliete Queiroz, que com suas valiosas contribuições e pesquisas realizadas, fizeram com que este trabalho fosse possível.

Aos meus colegas e amigos de sempre e também de todas as horas, que fazem parte do nosso grupo de orientação, Iranilson, Geonilson, Fátima, Socorro, Walter, Marília, Eraldo, Profa. Célia, Niete, pelo convívio, pela troca de experiências, pelos incentivos, pelas conversas. São pessoas que estão no meu coração.

Ao Grupo da ATD, em especial, Emiliana, Angélica, Karla, Lindemberg, Euclides, Nouraide, Fernanda, Flávia, Vitória e tantos outros, que fizeram com que os momentos de aprendizagem em sala de aula, nos eventos, fossem momentos memoráveis. Agradeço a cada um deles pelas pessoas que são e pelo coração generoso que possuem.

Ao Instituto Federal do Rio Grande do Norte - IFRN, instituição na qual exerço minhas funções profissionais, pelo afastamento concedido para que eu pudesse dedicar-me à construção dessa pesquisa.

À toda a minha família, tios, tias, primos, irmãos, sobrinhos, sou-lhes grata pelo apoio e palavras de carinho sempre.

À minha querida Igreja Cristã Maranata, pelas constantes orações e intercessões ao Senhor por minha vida espiritual e profissional.

Em especial, À Vilma (in memoriam), pelo cuidado, pelo carinho e pela história de vida. Um exemplo a ser seguido.

A todos que cruzaram o meu caminho nas “veredas acadêmicas”, o meu MUITO

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“Que darei eu ao Senhor, por todos os benefícios que me tem feito? ” Salmos 116: 12.

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Esta tese tem como objetivo analisar a construção das representações discursivas de Dilma Rousseff no texto da Denúncia, documento que inaugura o processo de impeachment da ex-Presidente. A pesquisa buscou fundamento nos pressupostos teóricos da Linguística Textual, com Koch (2004, 2011), Marcuschi (2008, 2012) e, mais especificamente, na Análise Textual dos Discursos, abordagem teórico-metodológica proposta por Adam (2011). No que concerne a essa abordagem, a pesquisa tem seu foco no nível semântico do texto, com destaque para a noção de representação discursiva, com Grize (1996, 1997) e Adam (2011). No âmbito do discurso jurídico, o estudo tem por base pesquisas de vários autores, entre eles, Capez (2012), Lourenço (2015), Pimenta (2007), Rodrigues (2016) e outros. Metodologicamente, consiste em uma pesquisa de caráter qualitativo, descritivo e explicativo. O corpus eleito é o texto da Denúncia de Dilma Rousseff apresentado pelos juristas Hélio Pereira Bicudo, Miguel Reale Júnior, Janaína Conceição Paschoal e Flávio Henrique Costa Pereira. No texto, a ex-Presidente é acusada, principalmente, pela edição irregular de decretos de suplementação orçamentária e da prática das “pedaladas fiscais”, como manobra de maquiar as contas públicas. Na época, o Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, em 02 de dezembro de 2015, aceitou a denúncia, sendo amplamente divulgado na mídia nacional e internacional, portanto, é um documento de domínio público. No dia 31 de agosto de 2016, Dilma Rousseff perde o cargo de Presidente da República, após a tramitação do processo de impeachment no Congresso Nacional. A análise consta das seguintes etapas: na primeira, faz a descrição do estabelecimento do texto em investigação; na segunda, descreve o plano de texto da Denúncia, destacando sua estrutura fixa, formal, normativa, apresentando um texto híbrido, ou seja, uma interface jurídico-política; na terceira, trata da composição sequencial da Denúncia ao identificar que os textos apresentam em conjunto as sequências narrativa, descritiva, explicativa e argumentativa, havendo uma predominância da argumentativa, pois o texto tem como propósito a persuasão do seu leitor ou do seu auditório sobre os fatos abordados no texto. Em relação às sequências textuais, retoma os três modos de textualização – a descrição, a narração e a argumentação –, por entender que essas são as principais sequências que constroem e representam discursivamente no texto o objeto de discurso, “Dilma Rousseff”. Para análise, utiliza as categorias semânticas da Rd, a saber: a referenciação, a predicação, a modificação, a relação, a conexão e a isotopia. A análise dessas categorias ocorre em cada sequência textual, selecionando enunciados que são parte da seção

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“denunciada”. A seleção dos designadores constrói representações discursivas de Dilma que interligam dois polos: o de sua ascensão como “Presidente da República” e o de sua queda, como “denunciada”. Em relação às predicações, observa que o referente assume papel semântico de agente. Nesse sentido, o destaque é para a forma verbal “praticar” e sua ligação com o termo “crime”, construindo a representação discursiva de Dilma Rousseff como “criminosa”. A construção das várias representações/imagens da ex-Presidente Dilma ocorre discursivamente no texto de forma coletiva ou individualizada, considerando as intenções do enunciador e a orientação argumentativa pretendida na Denúncia.

Palavras-chave: Análise textual dos discursos. Denúncia. Impeachment. Representação discursiva. Sequências textuais.

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This thesis aims to explain the construction of discursive representation in the complaint against Dilma Rousseff, a document that starts President’s impeachment process. The research has bases in the theoretical presupposes of textual linguistic (LT), with authors as Koch (2004, 2011), Marcuschi (2008, 2012) and, specifically, in the textual discourse analyzes (ATD), with theoretical-methodological approach by Adam (2011). Related to this approach, this research focuses on semantical level of the text, detaching discursive representation notion by Grize (1996, 1997) and Adam (2011). About juridical discourse, this study takes many authors as Capez (2012), Lourenço (2015), Pimenta (2007), Rodrigues (2016) among others. Methodologically, it consists on a qualitative, descriptive and explanatory research. The corpus is the text of the complaint against Dilma Rousseff presented by the jurists Hélio Pereira Bicudo, Miguel Reale Júnior, Janaína Conceição Paschoal and Flávio Henrique Costa Pereira. In this text, the accusation is mainly the ex-President published irregular decrees of budget supplementation and made creative accouting, trying to make up public account. At that time, the Presidente of the Chamber of Deputies, Eduardo Cunha, in 2015 December 2nd, accepted this complaint, with national and international media reports, therefore, this is a public document. In 2016 August 31st, is the Dilma Rousseff lost her position as President, after impeachment process in the Nacional Congress. This analyze has the following steps: the first, it describes the text as an investigation; the second, it describes the text plan of the complaint detaching its fix, formal and normative structure, presenting a hybrid text, that is, a juridical-political interface; the third, it treats the complaint sequential composition, identifying narrative, descriptive, explicative, injunctive and argumentative sequences, pointing the predominance of argumentative ones, since they have a persuasive purpose, aiming to convince the reader or the audience to the facts presented in the text. Related to the textual sequences, it takes three planning ways – description, narration and argumentation – considering these are the main sequences that construct and represent discursively the object of this research, “Dilma Rousseff”. To analyze, it uses Rd semantic categories that are reference, predication, modification, relation, connection and isotopy. Analyzes of those categories occurs in each textual sequence since statements in the “Dos fatos” section. Results point to the diverse representations of “Dilma”, among them, she is named “President”, “Maximum leader”, “Head of the nation” and “denounced”. The selection of those terms constructs Dilma’s discursive representations that link two sides, her ascension as “Republic President” and her

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the term “crime”, constructing Dilma’s discursive representation as a “criminal”. The construction of various Dilma’s representations/images occurs discursively in the text in a collective or an individual way, considering enunciator aiming and the argumentative support of the complaint.

Keywords: Discourse Textual Analyze. Complaint. Impeachment. Discursive representation. Textual sequences.

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Cette thèse a le but d’analyser la construction des représentations discursives de Dilma Rousseff dans le texte de la dénonciation, document qui ouvre le procès d’impeachment de l’ex-Présidente. La recherhe prospecte des fondements dans les présupposés théoriques de la Linguistique Textuelle avec Koch (2004, 2011), Marcuschi (2008, 2012) et, plus spécifiquement, dans l’Analyse Textuelle des Discours, l’approche théorico-méthodologique proposée par Adam (2011). En ce qui concerne cette approche, la recherche a sa cible au niveau sémantique du texte, avec saillie à la notion de représentation discursive, avec Grize (1996, 1977) et Adam (2011). Chez le discours juridique, l’étude a pour base des recherches de plusieurs auteurs, parmis eux, Capez (2012), Lourenço (2015), Pimenta (2007), Rodrigues (2016) et d’autres. Méthodologiquement, ceci consiste à une recherche qualitative, descriptive et explicative. Le Corpus élu est celui du texte de la dénonciation de Dilma Rousseff qui fut présentée par les juristes Hélio Pereira Bicudo, Miguel Reale Júnior, Janaína Conceição Paschoal et Flávio Henrique Costa Pereira. Dans le texte, l’ex-Présidente est accusée principalement de l’édition irrégulière des décrets de supplémentation du budget et de la pratique des “pedaladas” trompeuses de l’administration des finances publiques comme une manœuvre de dissimuler les comptes publiques. En ce temps-là, le président de la Chambre des Députés, Eduardo Cunha, le 02 décembre 2015, a accepté la dénonciation, laquelle fut largement divulguée aux médias nationales et internationales, alors, c’est un document publique. Le 31 août 2016, Dilma Rousseff perd le poste de présidente de la République, après le passage du processus d’impeachment au Congrès National. L’analyse se passa dans les suivantes étapes: la première fait la description de l’établissement du texte sous investigation; la deuxième décrit le plan de texte de la dénonciation en y mettant en évidence la structure fixe, formelle, normative, et, ainsi, elle présente un texte hybride, c’est à dire, une interface jurídico-politique; la troisième étape étudie la composition des séquences de la dénonciation, l’instant où l’on identifie que les textes présentent, ensemble, les séquences narative, descriptive, explicative et argumentative, en y prédominant la séquence argumentative, car le texte a le but de persuader le lecteur ou l’auditoire par rapport aux faits trouvés dans le texte. En ce qui concerne les séquences textuelles, il reprend les trois modes de textualisation – la description, la narration et l’argumetation – pour comprendre que celles-ci sont les princelles-cipales séquences qui costruisent et qui représentent discursivement dans le texte l’objet de discours, “Dilma Rousseff”. Pour l’analyse, on utilise les catégories

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séquences textuelles choisissant des énoncés qui appartiennent à la section “des faits”. Les résultats montrent de différentes représentations de “Dilma”, entre lesquelles, il y a celles à partir de ses désignations comme “Présidante”, “governante maximale”, “Chef de la nation” et “dénoncée”. La sélection des mots qui le désignent, construit des représentations dicursives de Dilma qui relient deux pôles: celui de son ascension comme “Présidente de la République” et celui de sa chute comme “dénoncée”. Par rapport aux prédications, on observe que le référent prend la charge d’agent. Dans ce sens, il se fait évidente la forme verbale “pratiquer” et ses rapports avec le terme “crime”, ce qui construit la représentation dicursive de Dilma comme “criminelle”. La construction de plusieurs représenations/images de ex-présidente Dilma sont créées, discursivement, de façon colective ou individuelle, en considérant les intentions de l’énonciateur et l’orientation argumentative voulue dans la dénonciation.

Mots-clé: Analyse textuelle des Discours. Dénonciation. Impeachment. Représantion discursive. Séquences textuelles.

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Figura 1 – Resultado das análises da representação discursiva nas pesquisas da ATD ... 33

Figura 2 – Operações de ligação e segmentação ... 45

Figura 3 – Níveis ou planos da análise de discurso ... 46

Figura 4 – Dimensões da proposição-enunciado ... 50

Figura 5 – Operações de ligação ... 53

Figura 6 – Estruturação sequencial-composicional ... 55

Figura 7 – Estrutura hierárquica da sequência narrativa ... 59

Figura 8 – Sequência explicativa por Grize (1990) ... 61

Figura 9 – Esquema da sequência explicativa por Adam (2011) ... 61

Figura 10 – Representações discursivas ... 66

Figura 11 – Elementos constitutivos da Denúncia no pedido de impeachment de Dilma Rousseff ... 89

Figura 12 – Movimento Pró-impeachment (13/03/2016) ... 94

Figura 13 – Movimento contra o impeachment (16/12/2015) ... 94

Figura 14 – A Denúncia de Dilma Rousseff: um gênero jurídico e político ... 102

Figura 15 – A sequência descritiva na Denúncia de Dilma Rousseff ... 105

Figura 16 – Síntese dos fatos narrados na Denúncia ... 126

Figura 17 – Representação discursiva de Dilma Rousseff na sequência narrativa ... 128

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Quadro 1 – Pesquisas da ATD sobre a representação discursiva ... 25

Quadro 2 – Síntese dos procedimentos teóricos e metodológicos dos trabalhos da ATD ... 32

Quadro 3 – Linguística textual ... 43

Quadro 4 – Classificação retórica das descrições ... 56

Quadro 5 – Macro-operações ... 57

Quadro 6 – Esquematização ... 68

Quadro 7 – Organizadores e marcadores textuais ... 79

Quadro 8 – Conectores argumentativos... 80

Quadro 9 – Documentos constantes no Processo de Impeachment ... 88

Quadro 10 – Legenda utilizada para a marcação das sequências descritiva, narrativa e argumentativa...91

Quadro 11 – Plano de texto da Denúncia...97

Quadro 12 – A sequência narrativa da Denúncia ... 116

Quadro 13 – A sequência argumentativa da Denúncia... 129

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ACM Antônio Carlos Magalhães

AL Alagoas

AD Análise do discurso

ADF Análise de discurso francesa

APEC Arquivo Público do Estado do Ceará ATD Análise Textual dos Discursos

E Enunciado

LT Linguística Textual LOA Lei Orçamentária Anual LRF Lei de Responsabilidade Fiscal ORarg Orientação argumentativa PCC Postulados dos pré-construídos

PdV Ponto de Vista de acordo com Adam (2011) PDV Ponto de Vista de acordo com Rabatel (2016) PI Petição Inicial

PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro

PPgEL Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem PT Partido dos Trabalhadores

Rd Representação Discursiva RE Responsabilidade Enunciativa RN Rio Grande do Norte

TD Tradições Discursivas

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1 INTRODUÇÃO ... 19

2 ESTADO DA ARTE ... 24

2.1 O ESTUDO DA REPRESENTAÇÃO DISCURSIVA ... 24

2.2 GÊNERO JURÍDICO EM FOCO: DENÚNCIA ... 34

3 FUNDAMENTOS TEÓRICOS ... 39

3.1 LINGUÍSTICA TEXTUAL: BREVE RETROSPECTIVA ... 39

3.2 ANÁLISE TEXTUAL DOS DISCURSOS: PARA UMA ANÁLISE DE TEXTOS CONCRETOS ... 44

3.2.1 Entre texto, cotexto e contexto ... 47

3.2.2 Unidades composicionais de base do texto ... 50

3.2.2.1 Os períodos e as sequências ... 53 3.2.2.1.1 Sequências descritivas ... 56 3.2.2.1.2 Sequências narrativas ... 58 3.2.2.1.3 Sequências argumentativas ... 59 3.2.2.1.4 Sequências explicativas ... 61 3.2.2.2 Plano de texto ... 62 3.3 REPRESENTAÇÃO DISCURSIVA ... 63

3.3.1 Representação discursiva: a noção semântica do texto ... 63

3.3.1.1 Categorias semânticas das representações discursivas: um instrumento de construção dos objetos de discurso ... 71

3.3.1.1.1 Referenciação ... 71

3.3.1.1.2 Predicação ... 74

3.3.1.1.3 Modificação (Referentes/ Predicação) ... 77

3.3.1.1.4 Conexão ... 78

3.3.1.1.5 Isotopia ... 81

3.3.1.1.6 Relação de analogia ... 82

4 METODOLOGIA ... 83

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5 ANÁLISE ... 93

5.1 O ESTABELECIMENTO DO TEXTO: A DENÚNCIA DE DILMA ROUSSEFF .... 93

5.2 PLANO DE TEXTO E ESTRUTURA SEQUENCIAL DO GÊNERO DENÚNCIA .. 96

5.2.1 O plano de texto da Denúncia de Dilma Rousseff ... 96

5.3 A REPRESENTAÇÃO DISCURSIVA DE DILMA ROUSSEFF NA ESTRUTURAÇÃO SEQUENCIAL DA DENÚNCIA ... 102

5.3.1 A representação discursiva de “Dilma Rousseff” na sequência descritiva ... 103

5.3.1.1 Síntese dos resultados da Rd de “Dilma Rousseff” na sequência descritiva .. 114

5.3.2 A representação discursiva de “Dilma Rousseff” na sequência narrativa ... 115

5.3.2.1 Síntese dos resultados da Rd de “Dilma Rousseff” na sequência narrativa .. 126

5.3.3 A representação discursiva de “Dilma Rousseff” na sequência argumentativa . 129 5.3.3.1 Síntese dos resultados da Rd de “Dilma Rousseff” na sequência argumentativa ... 137

6 CONCLUSÃO ... 140

REFERÊNCIAS ... 144

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1 INTRODUÇÃO

“Não estamos alegres, é certo, mas também por que razão haveríamos de ficar tristes? O mar da história é agitado. As ameaças e as guerras havemos de atravessá-las rompê-las ao meio, cortando-as como uma quilha corta as ondas.” (Vladimir Maiakóvski – 1893-1930)

No dia 31 de agosto de 2016, Dilma Vana Rousseff, primeira mulher Presidente eleita democraticamente no Brasil em 2011 e reeleita em 2014, fez o seu último discurso no Senado após decisão do seu afastamento definitivamente do cargo. Em uma democracia tão jovem, o Brasil experienciou o seu segundo processo de deposição de um presidente.

As acirradas eleições de 2014 e a vitória de Dilma Rousseff (PT) contra Aécio Neves (PMDB) promoveu um clima de polarização em toda a sociedade, ou seja, de um lado estavam aqueles que apoiavam o Governo Dilma; e do outro lado, grupos contrários à Presidente. O governo de Dilma Rousseff tinha um grande desafio pela frente, entre eles: dar continuidade aos programas e projetos sociais, combater a corrupção, lidar com uma sociedade dividida entre ideologias políticas, fortalecer a base aliada, entre outras prioridades.

Ademais, desde o início do seu segundo mandato, a ex-Presidente passou a enfrentar ameaças de abertura de processo de impeachment. As denúncias baseavam-se em financiamento ilegal de campanha. As acusações partiram de empreiteiros e políticos envolvidos em esquemas de corrupção investigados pela Polícia Federal. No entanto, as suspeitas do envolvimento da ex-Presidente no crime de corrupção e lavagem de dinheiro sem a devida comprovação legal, não eram suficientes para interpor pedido de impeachment contra Dilma Rousseff. O reforço à tese de impeachment por crime de responsabilidade contra a Administração Pública cometido pelo Governo veio após a reprovação das contas públicas de 2014 pelo Tribunal de Contas da União. O processo ganhava, nesse momento, o embasamento jurídico e político que a base oposicionista precisava para pedir o afastamento do cargo da então Presidente e a cassação do seu mandato, apesar de ter sido uma prática realizada durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Além disso, após a decisão do impeachment de

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Dilma Rousseff, o Senado Federal sancionou a lei n° 13.332/2016, que flexibiliza as regras para abertura de créditos suplementares sem a necessidade de autorização do Congresso Nacional.

Nesse contexto, e já enfrentando dificuldades de negociação com o Congresso e com a base aliada, o Governo da Presidente Dilma sofre os reflexos da crise econômica mundial que passou a se refletir também no Brasil, provocando o enfraquecimento da economia, o desequilíbrio na balança comercial e, por consequência, o aumento do número de desempregados, desgastando cada vez mais a imagem da ex-Presidente e de seu partido, principalmente entre os seus eleitores. Frente aos problemas de ordem política e econômica, grupos de oposição contrários ao governo começaram a ganhar força em todo o país. As manifestações que se iniciaram na internet passaram a tomar as ruas.

A crise política agravou-se com o rompimento de Eduardo Cunha, então Presidente da Câmara dos Deputados com o Governo. Em um ato de chantagem e vingança, o ex-presidente acolheu o pedido de impeachment de Dilma Rousseff, logo após a abertura de processo administrativo por crime de corrupção contra ele, no Conselho de Ética, por deputados do PT.

A peça acusatória montada por seus denunciantes, Hélio Pereira Bicudo, Janaína Paschoal, Miguel Reale Júnior e Flávio Henrique Costa Pereira, teve como principal objetivo a denúncia de supostas ilegalidades cometidas por Dilma Rousseff na edição de decretos relativos a créditos suplementares que feriram a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Nesse sentido, de acordo com a acusação, Dilma teria autorizado a abertura de créditos suplementares sem a autorização do Congresso Nacional e realizado operações de crédito com instituições financeiras controladas pela União, conhecidas como as “pedaladas fiscais”.1

É nesse cenário de crise política, econômica e social que o trabalho se insere, a partir do qual abordaremos o estudo das representações discursivas (Rd) de Dilma Rousseff sob o ponto de vista de sua acusação. A justificativa para a escolha do corpus, a Denúncia da ex-Presidente, deu-se, primeiramente, pelo contexto de crise política estabelecido naquele período. Além disso, o foco de investigação concentra-se no ponto de vista da acusação. Dessa forma, descrever e explicar como essa perspectiva é apresentada no texto e como os

1 Sites pesquisados: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/L13332.htm.

https://economia.ig.com.br/2016-09-02/lei-orcamento.html

https://georgeshumbert.jusbrasil.com.br/artigos/385539062/pedalada-fiscal-ainda-e-crime https://revistas.pucsp.br/pontoevirgula/article/view/29900

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elementos selecionados pelo enunciador constroem representações discursivas da Presidente Dilma de forma coletiva e individualizada é o nosso principal objeto de análise. Nesse sentido, consideramos que a escolha do corpus e do tema foram motivados por sua relevância política e jurídica, além do interesse da pesquisadora em analisar um texto histórico pouco explorado no âmbito linguístico. Em relação ao nosso objeto teórico de análise, a representação discursiva, sua escolha justifica-se por este ter sido um assunto já estudado quando da dissertação de mestrado, em que tivemos como objetivo descrever e explicar o fenômeno da representação discursiva da vítima e do réu no gênero Sentença Judicial. Dessa forma, nesta tese, ampliamos a investigação anterior por entendermos que a representação discursiva é um fenômeno interativo, negociável, dinâmico, além de ser uma das dimensões responsáveis pela construção dos sentidos do texto.

A noção de representação discursiva supõe uma construção no texto do(s) enunciadore(s), do(s) coenunciadore(s) e do(s) tema(s) tratado(s). É o interpretante quem constrói essas representações ou “imagens” a partir de sua história, de sua cultura, dos seus conhecimentos acumulados e de seus pontos de vista. Conforme Adam (2011, p. 113), “[...] toda representação discursiva [Rd] é a expressão de um ponto de vista [PdV]”. Dessa forma, partimos do pressuposto de que o processo de construção de uma representação discursiva só é possível por meio das escolhas do material linguístico utilizado pelos enunciadores em seus enunciados, conforme seus objetivos e intenções. Assim, considerando que o texto em análise é uma denúncia, é previsível que as vozes presentes no texto argumentem em desfavor da ex-presidente Dilma Rousseff, contribuindo para a construção de uma representação discursiva negativa, em função de seus próprios interesses e dos pontos de vista da acusação.

Diante disso, para esta investigação, elegemos algumas questões norteadoras, a saber:

a) Como ocorre o fenômeno da representação discursiva de Dilma Rousseff no gênero jurídico Denúncia constante do seu processo de impeachment?

b) Que recursos linguísticos são utilizados no corpus para a construção das representações discursivas de Dilma Rousseff, de acordo com a orientação argumentativa do texto?

c) Como essas representações discursivas configuram-se nas sequências textuais?

A fim de responder às questões, objetivamos, de forma geral, analisar como se constroem as representações discursivas de Dilma Rousseff no gênero jurídico Denúncia constante do seu processo de impeachment. Mais especificamente, pretendemos:

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a) investigar como as representações discursivas de Dilma Rousseff ocorrem no texto da Denúncia a partir do ponto de vista da acusação;

b) descrever os recursos linguísticos utilizados pelo enunciador para construir as representações discursivas de Dilma Rousseff, considerando os direcionamentos argumentativos pretendidos no texto;

c) examinar como se configuram as Rd nas sequências descritiva, narrativa e argumentativa.

Para cumprir com tais objetivos, fundamentamos esta pesquisa nos pressupostos teóricos da Linguística Textual, com Koch (2004, 2011) e Marcuschi (2008, 2012) e, na Análise Textual dos Discursos, com Adam (2011). Focalizando a noção de representação discursiva, ancoramo-nos nos estudos de Grize (1996, 1997) e Adam (2011). Além dos teóricos, buscamos ampliar o entendimento sobre o assunto nas pesquisas (teses e dissertações) realizadas pelo grupo da Análise Textual dos Discursos, em que não podemos deixar de destacar os vários estudos de Rodrigues, Passeggi e Silva Neto (2010, 2014), Rodrigues et al. (2012), Passeggi (2012, 2016) e Rodrigues e Passeggi (2016), sobre a ATD e principalmente sobre o módulo semântico, que nortearam todas as outras pesquisas. No âmbito do discurso jurídico, embasamo-nos em pesquisas de vários autores, entre eles, Pimenta (2007), Capez (2012), Lourenço (2015), Tullio (2012), Rodrigues (2016) e Rodrigues (2018).

A pesquisa apresenta como metodologia uma abordagem qualitativa, descritiva e explicativa. Este estudo é do tipo bibliográfico, documental e seu método é o indutivo e o dedutivo. Como procedimentos de investigação, utilizamos as categorias semânticas da representação discursiva, a saber: a referenciação, a predicação, a modificação, a relação, a conexão e a isotopia. Essas categorias serão analisadas nas sequências descritiva, narrativa e argumentativa por entendermos que o objetivo desses modos de textualização é o de “[...] fazer partilhar uma crença com a finalidade de induzir um certo comportamento [...]” (ADAM, 2011, p. 207). Dessa forma, pretendemos investigar como as categorias semânticas articulam-se nas sequências textuais construindo representações discursivas de Dilma Rousseff no texto da Denúncia.

Para a realização do estudo, esta tese está organizada nesta introdução e em mais cinco seções, conforme detalharemos a seguir:

A segunda seção foi reservada ao estado da arte, momento em que apresentamos um levantamento detalhado de pesquisas sobre a representação discursiva, nosso objeto de análise, além de estudos que versam sobre o gênero jurídico Denúncia, que constitui o corpus.

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A terceira seção apresenta os fundamentos teóricos da pesquisa. Fizemos uma breve retrospectiva sobre a Linguística Textual, situando, nesse contexto, a Análise Textual dos Discursos (ATD), abordagem teórica proposta pelo linguista francês Jean-Michel Adam, que embasa esta pesquisa. De modo mais específico, aprofundamos a noção de representação discursiva e das categorias semânticas de análise.

A quarta seção trata da metodologia da pesquisa, do tratamento das amostras, dos procedimentos adotados na análise e da caracterização do corpus.

A quinta seção apresenta a análise do corpus. Está subdividida em estabelecimento do texto, descrição do plano de texto da Denúncia, análise da representação discursiva de Dilma Rousseff nas sequências descritiva, narrativa e argumentativa e a síntese das análises.

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2 ESTADO DA ARTE

Esta seção trata da apresentação de dois objetos de investigação: a representação discursiva e o gênero Denúncia. Dessa forma, em relação à Rd, fizemos o levantamento das pesquisas realizadas pelo Grupo de Pesquisa da Análise Textual dos Discursos da UFRN, destacamos os procedimentos teóricos e metodológicos utilizados, além de uma síntese dos resultados de análise. Da mesma forma, no âmbito do discurso jurídico, apresentamos pesquisas que tiveram como foco a análise mais específica do gênero Denúncia.

2.1 O ESTUDO DA REPRESENTAÇÃO DISCURSIVA

A noção de representação discursiva supõe que todo texto constrói, de forma explícita ou implícita, uma representação ou uma imagem dos objetos de discurso e, para tanto, faz-se necessária a interação entre os interlocutores no processo de comunicação. Nesse sentido, compreendemos que, ao lermos ou produzirmos um texto, sempre estamos construindo uma representação discursiva que pode vir a ser invalidada, modificada ou complementada.

No Brasil, o número de pesquisadores que tem como objeto de estudo a representação discursiva vem crescendo e se diversificando em relação às propostas metodológicas e aos corpora analisados. Nesse contexto, merece destaque o Grupo de Pesquisa da Análise Textual dos Discursos (ATD), vinculado ao Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPgEL/UFRN), pelo grande número de estudos relacionados a esse tema, os quais apresentamos no Quadro 1 a seguir.

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Quadro 1 – Pesquisas da ATD sobre a representação discursiva

Autor(es) e ano Teses, dissertações e artigos

Maria das Graças Soares Rodrigues, Luis Passeggi e João Gomes da Silva Neto (2010)

“Voltarei. O povo me absolverá...”: a construção de um discurso político de renúncia. (Artigo)

Milton Guilherme Ramos (2011) Representações discursivas de ficar e namorar em textos de vestibulandos e pré-vestibulandos. (Tese)

Maria das Graças Soares Rodrigues, Luis Passeggi, João Gomes da Silva Neto e Sueli Cristina Marquesi (2012)

A Carta-testamento de Getúlio Vargas (1882-1954): genericidade e organização textual no discurso político. (Artigo)

Luis Passeggi (2012) A conceptualização do sertão nas cartas de Câmara Cascudo a Mário de Andrade (1924-1944): um estudo de semântica cognitiva. (Artigo)

Karla Geane de Oliveira (2013) Representações Discursivas da figura feminina no jornal O POVIR (Currais Novos/Rio Grande do Norte – 1926-1929): um sexo que ironicamente se intitula de frágil. (Dissertação) Maria Eliete de Queiroz (2013) Representações discursivas no discurso político: “Não me fiz

sigla e legenda por acaso”: o discurso de renúncia do senador Antônio Carlos Magalhães (30/05/2001). (Tese)

Maria das Graças Soares Rodrigues, Luis Passeggi e João Gomes da Silva Neto (2014)

Planos de texto e representações discursivas: a seção de abertura em processos-crime. (Artigo)

Benedita Vieira de Andrade (2014) Representações discursivas de Câmara Cascudo por Mário de Andrade (Correspondência 1924-1944). (Tese)

Anahy Samara Zamblano de Oliveira (2014)

Análise textual das representações discursivas no discurso político brasileiro: o discurso da primeira posse da presidenta Dilma Rousseff (01/01/2011). (Tese)

Alba Valéria Saboia Teixeira Lopes (2014)

A representação discursiva da vítima e do réu no gênero sentença judicial. (Dissertação)

Lucélio Dantas de Aquino (2015) Representações discursivas de Lula nas capas das revistas Veja e Época durante o período do Mensalão. (Tese)

Ananias Agostinho da Silva (2015) Representações discursivas sobre Lampião e seu bando em notícias de jornais mossoroenses (1927): “O mais audaz e miserável de todos os bandidos” e o seu “grupo de asseclas”. (Tese)

Maria das Graças Soares Rodrigues e Luis Passeggi (2016)

"'Tentam colocar medo no povo': vozes, emoções e representações num texto jornalístico" (Capítulo de livro) Luis Passeggi (2016) Uma abordagem do discurso jurídico do ponto de vista da

linguística de texto e do Discurso. (Artigo) Cristiane Maria Praxedes de Souza

Nóbrega (2016)

Representações discursivas de Nordeste nas cartas trocadas entre Câmara Cascudo e Mário de Andrade. (Tese)

Maria de Fátima Silva dos Santos (2016)

Representações discursivas de vítima e agressor em textos de inquéritos policiais. (Tese)

Karla Geane de Oliveira (2017) A figura feminina e suas representações textual-discursivas em textos do jornal O PORVIR (Currais Novos/Rio Grande do Norte – 1926/1929). (Tese)

Euclides Moreira Neto (2018) J’Accuse!: análise de representações textual-discursivas de Dreyfus e de Esterhazy. (Dissertação)

Fonte: Autoria própria

As pesquisas apresentadas tiveram como objeto empírico de análise uma diversidade de textos que abarca não apenas o universo acadêmico, como ainda o literário, o político, o

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jurídico e o midiático. É importante referenciar um dos primeiros trabalhos do grupo da ATD, que norteou todas as outras pesquisas desde então, cujo título é: "Voltarei. O povo me absolverá...:” a construção de um discurso político de renúncia. Trata-se de um artigo dos professores-pesquisadores Maria das Graças Soares Rodrigues, Luis Passeggi e João Gomes da Silva Neto (2010), que, em uma de suas seções, traz análises das representações discursivas que o deputado Severino Cavalcante faz de si. Rodrigues, Passeggi e Silva Neto (2010, p. 174) definem que “[...] uma representação discursiva é habitualmente composta por um conjunto – uma rede – de proposições e uma rede lexical [...]”. Dessa forma, observamos que o léxico utilizado pelo enunciador, tais como, “sertanejo forte”, “nordestino”, “menino pobre do Nordeste” ou simplesmente “Severino Cavalcanti” reflete as várias representações que constroem sua imagem e definem seu propósito comunicativo. O trabalho traz instrumentos de análise, ou seja, as categorias semânticas da Rd que nos permitem observar como as representações discursivas são construídas e perceber como essas “figuras” ou “imagens” orientam argumentativamente o texto. Um ponto destacado no estudo corresponde à estrutura linear das sequências textuais presentes no texto. Com base nas investigações, os autores observam que a construção de uma representação discursiva pode configurar-se também em sequências não lineares.

Em sua tese, Ramos (2011) investiga como os termos “ficar” e “namorar” são construídos nas produções textuais de vestibulandos e pré-vestibulandos. O estudo utilizou como suporte teórico, além dos pressupostos da Análise Textual dos Discursos, a abordagem da semântica cognitiva a partir das noções de memória discursiva, de frames e dos modelos culturais. Trata-se de uma pesquisa qualitativa e quantitativa, e seu corpus de análise é constituído por cento e sessenta e oito textos de vestibulandos e pré-vestibulandos do estado do Rio Grande do Norte. As categorias de análise selecionadas pelo autor foram a referenciação, a predicação, a aspectualização, a localização e a analogia. As operações semânticas utilizadas nas análises revelaram a construção de representações discursivas distintas para as expressões “ficar” (sentidos negativos, pejorativos) e “namorar” (sentido positivo). A pesquisa revelou, ainda, que a construção dessas imagens foi determinada também pelos fatores sociais, históricos e ideológicos. Os dados da pesquisa apontam para a necessidade de uma prática docente que possibilite aos estudantes estratégias de produção de texto de modo a atender os contextos de interação sociocomunicativa.

Em outro artigo, Rodrigues et al. (2012) analisam a carta-testamento de Getúlio Vargas, abordando a dupla genericidade, a configuração composicional e a dimensão semântica do texto. Em relação à dimensão semântica, os autores utilizam três categorias de

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análise, quais sejam: a designação/redesignação dos participantes, a predicação e a localização espacial e temporal. A representação discursiva focalizada no texto foi o componente “povo”, que apresenta uma "[...] agentividade crescente, passando do papel semântico de paciente/vítima para o de agente/resistente. Nesse contexto, estabelecem-se relações de isotopia entre ‘povo’/ ‘sangue’ / ‘vida’” (RODRIGUES et al., 2012, p. 304).

Com base em uma abordagem da Semântica Cognitiva, Passeggi (2012) investiga como a representação discursiva do sertão é construída nas cartas de Câmara Cascudo a Mário de Andrade, no período entre 1924 e 1944. Com ênfase nos aspectos enunciativos e cognitivos, em seu texto, o autor apresenta categorias de análise baseando-se na lógica natural de Grize (1996). Passeggi (2012) analisa, principalmente, como são articulados os conceitos de “sertão” a partir do seu significado convencional (dicionarizado) e, de forma mais ampla, a sua conceptualização no campo semântico, que entende estar intrinsecamente relacionado às características mais valorizadas pelo enunciador e em conformidade com seu ponto de vista, tais como: “O sertão está morrendo”, “Os açudes engoliram o sertão”, “os Fordes pisaram o sertão”, “as lâmpadas cegaram o sertão”.

Focalizando ainda a noção de representação discursiva, Oliveira (2013) abordou, em seu trabalho, como a figura feminina é semanticamente representada no jornal O Povir, da cidade de Currais Novos/RN, no período entre 1926 a 1929. É uma pesquisa documental que tem como corpus de análise trinta e nove edições do referido jornal. A pesquisa é do tipo qualitativa e quantitativa, de natureza descritiva e interpretativa. Utiliza como categorias de análise a referenciação, a predicação, a modificação e a localização espacial e temporal. Para a construção dessas representações, a autora destaca diferentes estratégias e recursos linguísticos, tais como o uso de substantivos e expressões nominais, verbos e expressões verbais, advérbios e locuções verbais. A autora identifica, nos textos, algumas representações mais frequentes como “senhorinha”, “filha”, “mulher”, “senhora”, “esposa”, “mãe”, “consorte”, “madmoselle”. Conforme Oliveira (2013, p. 220), “[...] isso se justifica em razão de que os modelos sociais de figura feminina vigentes sempre se construíram com base em determinados grupos, dentre outros critérios.”. Dessa forma, as análises evidenciaram uma figura feminina pautada em aspectos ou caracterizações positivas que podem ser justificadas pelos modelos sociais e culturais do início do século XX.

Queiroz (2013), por sua vez, dedica-se às análises das representações discursivas no gênero político. Para tanto, seu corpus é constituído pelo discurso de renúncia do senador Antônio Carlos Magalhães. Nesse contexto, objetiva investigar como as Rd do locutor e dos alocutários são construídas nesse discurso. Durante as análises, a autora destaca as

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construções das imagens que ACM faz de si, caracterizadas a partir dos elementos como “vítima”, “político”, “sigla”, “nordestino”, “presidente do Senado”, “senador confiante” e “condenado”; e de seus adversários como “juízes do Conselho de Ética”, “moralistas”, “os movidos pelo ódio”, “rábulas”. De acordo com a investigação, a autora observa que, como protagonista de sua história, o enunciador assume sua voz no discurso, seus pontos de vista e se posiciona como um sujeito ativo quanto ao seu papel político e social, sendo alvo de seus adversários. Queiroz (2013) ressalta ainda a importância da representação discursiva do locutor para a produção e a compreensão dos sentidos textuais, uma vez que desencadeiam, no contexto, outras representações mais específicas.

Em um estudo mais recente, abordando textos específicos do discurso jurídico, Rodrigues, Passeggi e Silva Neto (2014) examinam a estrutura composicional e os aspectos da dimensão semântica da seção de abertura de processos-crimes brasileiros dos séculos XIX, XX e XXI. A pesquisa tem como foco a descrição linguística da organização e o funcionamento desses textos, além de investigar como são abordadas as representações discursivas das três entidades de abertura da seção: o delegado, a(s) testemunha(s) e o escrivão. Conforme as análises realizadas, em relação à sua composição, o documento aponta para uma estrutura que apresenta “[...] planos de textos (quase) fixos, ou seja, os textos são constituídos pelos modelos prototípicos de formulação textual” e, nesse caso, “baseiam-se no movimento retórico de responder às questões ‘quando?’, ‘como? ’ e ‘onde?’” (RODRIGUES; PASSEGGI; SILVA NETO, 2014, p. 253). Quanto às representações discursivas, constatou-se que elas constatou-se constroem e constatou-se organizam paralelamente ao plano de texto.

A Rd também é objeto de estudo no texto de Andrade (2014), que analisa o gênero epistolar. Dessa forma, a autora se propõe a analisar como são construídas e reconstruídas as imagens de Câmara Cascudo por Mário de Andrade. O corpus da pesquisa é composto por um conjunto de cartas referente à correspondência trocada pelos dois escritores no período entre 1924 e 1944. A partir das categorias de análise semântica da Rd – tematização, referenciação, predicação, aspectualização, localização, conexão, relação e isotopia –, a autora destaca como uma das representações discursivas mais evidentes de Câmara Cascudo a de ser “uma pessoa dotada de inteligência forte e eficaz”. De acordo com a autora, essas categorias possibilitam a construção e a (re)construção das imagens do interlocutor no discurso de Mário de Andrade, proporcionando uma multiplicidade de representações da personalidade do escritor potiguar.

A pesquisa de Oliveira (2014) analisa como se constrói a representação discursiva de Dilma Rousseff, no seu discurso de posse como Presidenta da República, em 01/11/2011. As dimensões semânticas investigadas foram a referenciação e a predicação. Em sua

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metodologia, a autora propõe uma abordagem que designa como marcação ou mapeamento textual, que, por sua vez, na dimensão sequencial-composicional, permite marcar os valores semânticos das formas linguísticas, identificando-as no fluxo textual. Para a autora, os vários elementos de uma representação discursiva podem ser organizados de acordo com seus “domínios conceptuais”, ou seja, a representação discursiva da presidenta é construída em um “domínio político”, “domínio ético ou comportamental” e no “domínio familiar”. A autora apresenta uma proposta metodológica de trabalho inovadora baseada nos procedimentos de marcação textual e de análise tabular. Dessa forma, Oliveira (2014) considera que seu método ajudou na organização e na articulação dos diferentes elementos que compuseram a representação discursiva de Dilma Rousseff.

Lopes (2014) analisa como se dá o fenômeno da representação discursiva no âmbito jurídico. A pesquisa teve como propósito identificar, descrever e interpretar a construção das representações discursivas de “vítima” e de “réu” no gênero sentença judicial. O corpus é constituído por uma sentença judicial, de natureza penal, coletada eletronicamente do sítio do Tribunal de Justiça de São Paulo – Poder Judiciário, em Consulta de Julgados de 1° Grau, com a temática da violência contra a mulher. Os resultados focalizaram a construção da representação discursiva dos sujeitos (vítima e réu) a partir de PdV de enunciadores distintos, que podem aproximar-se ou distanciar-se de acordo com a orientação argumentativa do texto. Em sua pesquisa, Silva (2015) investiga o processo de construção das representações discursivas de Lampião e de seu bando de cangaceiros em notícias de jornais mossoroenses publicados na década de 1920, na cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Seu corpus é composto por três notícias do referido jornal, reconstituídas pelo Museu Municipal Lauro da Escócia, do Memorial da Resistência de Mossoró. O autor observa que as Rd são construídas a partir do emprego das operações semânticas de análise. Em suas conclusões, observa que as representações dos objetos de discurso analisados são feitas a partir dos pontos de vista dos jornais da época que perspectivaram essencialmente os interesses dos comerciantes, políticos e da população de Mossoró. Conforme o autor, Lampião e seu bando “[...] eram enxergados como ameaça à tranquilidade e à ordem da cidade de Mossoró” (SILVA, 2015, p. 186).

Aquino (2015) trabalhou, em sua tese, os elementos verbo-visuais em que analisou as representações discursivas de Lula nas capas de revista Época e Veja durante o período do Mensalão. Em termos metodológicos, é uma pesquisa documental que traz uma abordagem qualitativa com apoio quantitativo. As categorias semânticas utilizadas foram a referenciação, a predicação e seus modificadores, bem como a relação e a localização espacial e temporal. Seu corpus é constituído por quarenta e uma capas de revistas, que datam do período em que

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Lula foi eleito presidente do Brasil. Com base na análise de seu corpus,foram identificadas, nas revistas, diversas representações discursivas de Lula, tais como: “candidato”, “candidato eleito”, “presidente”, “petista”, “sigla do PT”, entre outras representações. Conforme o autor, a construção dessas figuras ou imagens só foi possível a partir da descrição e da interpretação dos elementos linguístico-textuais e discursivos articulados co(n)textualmente para a produção dos efeitos de sentidos desejados pelas revistas.

Nóbrega (2016) analisa as cartas trocadas entre Luís Câmara Cascudo e Mário de Andrade entre o período de 1924 e 1944. Particularmente, seu objeto de investigação passa a ser o Nordeste ou os termos diretamente ligados a essa representação, tais como “Norte” e “sertão”. De acordo com a pesquisadora, as categorias semânticas da representação discursiva possibilitam a análise e a interpretação das imagens de Nordeste construídas no discurso dos dois autores. Dessa forma, tem como objetivo principal investigar como se constrói a Rd de Nordeste nas cartas de Câmara Cascudo e Mário de Andrade, com base na Análise Textual dos Discursos. O corpus da pesquisa constitui-se de cento e cinquenta e nove cartas, dividindo-se entre os gêneros carta, bilhete, bilhete postal e telegrama. Metodologicamente, é uma pesquisa de cunho qualitativo, quantitativo e interpretativo. As categorias utilizadas em suas análises foram a tematização, a predicação, os modificadores e a localização espacial e temporal. De acordo com a autora, a “[...] análise aponta para a construção de uma representação de Nordeste como espaço constitutivo da brasilidade a partir de um conjunto de imagens associadas a aspectos culturais relacionados à constituição dos traços identitários da região” (NÓBREGA, 2016, p. 8).

Santos (2016), por sua vez, investiga a representação discursiva no âmbito jurídico. Para tanto, seus textos de análise são constituídos por inquéritos policiais em que a autora analisa como a composição das representações discursivas de vítima e agressor contribui para a construção de sentidos nesses textos. Como hipótese, a autora considera que as escolhas linguísticas utilizadas para construir uma representação discursiva são feitas a partir de determinados objetivos e em função de um propósito argumentativo, de acordo com as intenções ou os objetivos do enunciador. Em suas conclusões, a autora destaca que as imagens ou as representações de “vítima” e “agressor” podem ser consideradas, enunciativamente, como efeitos de estratégias argumentativas, no sentido de promover ações discursivas próprias da formação sociodiscursiva jurídico-policial.

O texto de Rodrigues e Passeggi (2016), “Tentam colocar medo no povo”: vozes, emoções e representações, baseado na publicação de um artigo na Folha de S. Paulo, em 20 de março de 2014, escrito pelo jornalista Fernando Rodrigues, examina a relação de três

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dimensões textual-discursivas: a enunciativa (as vozes do texto), a argumentativa (focalizada nas emoções) e a semântica (na representação discursiva). No caso da dimensão enunciativa, as análises apontam que o locutor/enunciador primeiro ancora seu texto em várias outras vozes ou instâncias enunciativas. Para tanto, observa-se, no texto, a presença de verbos dicendi ou, de acordo com o contexto linguístico, de verbos relacionados ao ato de enunciar, como é o caso do verbo “pregar”. A argumentação destaca o “discurso emocionado” e traz para análise o termo “medo”, que, no texto, é semanticamente construído por meio das analogias, comparações e oposições. A construção da representação discursiva evidencia as vozes e as emoções encontradas no texto. A imagem de Eduardo Campos é construída a partir do uso de comparações e de um contradiscurso. O texto traz como reflexão a necessidade do estudo das dimensões enunciativa, argumentativa e semântica e de várias outras estratégias cognitivas que podem ajudar no processo de leitura e interpretação textual.

Em sua pesquisa de doutoramento, Oliveira (2017) dá continuidade à sua dissertação de mestrado, em que investigou o processo de construção das representações da figura feminina no jornal O Porvir (1926-1929). Em sua tese, a autora inaugura o termo representação textual-discursiva por entender que a construção das representações dos objetos de discurso ocorre simultaneamente no texto e no discurso, complementando-se. A metodologia adotada é o uso de métodos mistos, qualitativo e quantitativo. Para as análises, a autora utiliza as operações de textualização, a saber: a referenciação, a predicação, a modificação (referenciação e da predicação) e a conexão. Os resultados apresentam diferentes representações textual-discursivas da figura feminina: “mãe”, “mulher”, “eleitora”, de acordo com o contexto social e cultural da época.

Moreira Neto (2018) analisa as representações textual-discursivas de Dreyfus e Esterazy em “J’Accuse...!”, texto do gênero jornalístico de Émile Zola. Para tanto, sua pesquisa tem como objetivo analisar a construção das representações textual-discursivas desses dois principais sujeitos, “[...] Dreyfus que protagoniza o enredo como vítima de um juízo preconcebido e, Esterhazy como um traidor protegido de uma justiça confusa e embaraçada” (MOREIRA NETO, 2018, p. 151). Sua abordagem metodológica é de natureza quali-quantitativa e interpretativista, e os procedimentos de análise foram feitos por meio de documentação indireta. As categorias semânticas para análise foram a referenciação, a predicação, a modificação da referenciação e dos processos e a localização espacial e temporal. Em suas considerações, o autor demonstra que o léxico é fator preponderante na construção de uma representação textual-discursiva.

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Observamos, assim, uma variedade de pesquisas que têm a representação discursiva como objeto de estudo em diferentes textos e gêneros. No Quadro 2, fizemos o levantamento dos gêneros textuais analisados, das teorias aplicadas, das abordagens metodológicas, das categorias mais utilizadas e suas respectivas expressões linguísticas.

Quadro 2 – Síntese dos procedimentos teóricos e metodológicos dos trabalhos da ATD

Gêneros analisados

Teoria Metodologia Categorias utilizadas Expressões

linguísticas Político Acadêmico Midiático Jornalístico Epistolar Jurídico - Linguística Textual Análise Textual dos Discursos com foco nos níveis ou planos de análise: N5 – Estrutura composicional (sequências e planos de textos) N6 – Semântico (Representação discursiva) N7 – Enunciação (responsabilidade enunciativa e coesão polifônica) N8 – Atos de discurso (ilocucionário e orientação argumentativa) - Semântica cognitiva - Pesquisa qualitativa - Quantitativa - Documental - Método indutivo e dedutivo - Natureza interpretativista - Natureza descritiva - Método dialético e hermenêutico - Referenciação/ Tematização/ Designação - Predicação - Modificação (da referenciação e da predicação) - Conexão - Localização espaço-temporal - Comparação - Analogia - Isotopia - Relação - Aspectualização - sintagmas nominais, expressões nominais e equivalentes semânticos; - Verbos, locuções verbais; - Expressões qualificativas e atributivas, Expressões adverbiais; - Expressões locativas; - Expressões temporais; - Marcas de comparação; explícitas ou inferidas; - Marcadores de conexão (conectores)

Fonte: Autoria Própria

A partir dessas pesquisas, apresentamos, na Figura 1, alguns resultados sobre como a representação discursiva se constrói no texto e como essas representações produzem efeitos de sentidos diversos.

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Figura 1 – Resultado das análises da representação discursiva nas pesquisas da ATD

Fonte: Autoria própria

A relevância das pesquisas e a diversidade dos gêneros analisados evidenciam a possibilidade da análise semântica em textos concretos, conforme dispõe Adam (2011). A retomada desses trabalhos serviu de base para a estruturação teórica e metodológica desta tese. Aproximamo-nos dos objetivos desenvolvidos no âmbito do Grupo de Pesquisa da

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Análise Textual dos Discursos, no tocante à análise das representações discursivas dos enunciadores, dos coenunciadores e dos temas tratados no texto. Como já anunciamos, em nosso trabalho, interessamo-nos pela construção das representações discursivas de Dilma Rousseff no texto da Denúncia, documento que inicia o processo de impeachment da Presidente.

Dessa forma, nossa pesquisa vem complementar os estudos desenvolvidos sobre a representação discursiva, quando nos propomos a analisar como as Rd são construídas nas sequências descritiva, narrativa e argumentativa, utilizando, como instrumento de análise, tanto as estruturas sequenciais, como as categorias semânticas da Rd. Assim, por entendermos que os sentidos se constroem no todo textual e não em suas partes e, por concordarmos com Adam (2011) quando ele assevera que não existe enunciado isolado, não analisaremos cada categoria separadamente, mas como elas se inter-relacionam nessas estruturas textuais e como, a partir do ponto de vista do enunciador, constroem uma representação discursiva de um objeto de discurso comunicável.

2.2 GÊNERO JURÍDICO EM FOCO: DENÚNCIA

Sobre os gêneros, Bakhtin (1992, p. 302) traz a seguinte reflexão: “[...] se os gêneros do discurso não existissem e se fosse preciso criá-los pela primeira vez em cada processo da fala, se nos fosse preciso construir cada um de nossos enunciados, a troca verbal seria quase impossível”. Diante dessa afirmação, segue que, se para cada ação comunicativa o homem tivesse de criar novos gêneros, seria improvável a comunicação. Dessa forma, os gêneros surgem de acordo com as necessidades comunicativas dos falantes e se adaptam ao ambiente histórico e social no qual estão inseridos.

Os gêneros textuais caracterizam-se por apresentarem determinada regularidade, o que lhes confere certa estabilidade. Além disso, para Marcuschi (2002, p. 19), os gêneros são “[...] altamente maleáveis, dinâmicos e plásticos”. Por consequência, eles apresentam uma grande variedade e, por isso, muitas vezes, sua identificação pode parecer difícil ou difusa. No dizer de Bakhtin (1992, p. 279), “[...] a variedade virtual da atividade humana é inesgotável e cada esfera dessa atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que vai diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa”.

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Desde que não concebamos os gêneros como modelos estanques, nem como estruturas rígidas, mas como formas culturais e cognitivas de ação social corporificadas de modo particular na linguagem, temos de ver os gêneros como entidades dinâmicas. Mas é claro que os gêneros têm uma identidade e eles são entidades poderosas que, na produção textual, nos condicionam a escolhas que não podem ser totalmente livres nem aleatórias, seja do ponto de vista do léxico, grau de formalidade ou natureza dos temas [...]. Os gêneros não são entidades formais, mas sim entidades comunicativas em que predominam os aspectos relativos a funções, propósitos, ações e conteúdos. [...] Os gêneros são atividades discursivas socialmente estabilizadas que se prestam aos mais variados tipos de controle social e até mesmo ao exercício de poder. Pode-se, pois, dizer que os gêneros textuais são nossa forma de inserção, ação e controle social no dia-a-dia. Daí também a imensa pluralidade de gêneros e seu caráter essencialmente sócio-histórico. Os gêneros são também necessários para a interlocução humana.

Conforme exposto, os gêneros são essenciais para os falantes de uma língua porque, é por meio deles que nos comunicamos. Nessa perspectiva e considerando que o gênero jurídico vem sendo cada vez mais objeto de investigação por diversas ciências por seus efeitos incidirem direta ou indiretamente na vida dos cidadãos, concordamos com Rodrigues (2005, p. 20) quando a autora nos chama a atenção para a necessidade de mais estudos sobre o tema. De acordo com a autora, “[...] se (quase) todos os aspetos da nossa vida em sociedade estão regulamentados, isto é, organizados em termos legais, é urgente que prestemos alguma atenção à análise dessa linguagem que define e estrutura os nossos comportamentos”.

Nesse sentido, ao dominarmos um gênero, também dominamos uma forma de realização linguística, com objetivos determinados e em situações sociais definidas. Nessa direção, quando passamos a compreender melhor os textos forenses, sua funcionalidade e suas manifestações concretas, percebemos o quanto são necessárias mais pesquisas sobre esses tipos textuais complexos e específicos dos operadores do Direito.

Na linguística, são diversos os estudos que versam sobre a linguagem jurídica, o gênero jurídico, entre outras temáticas, que vêm desmistificando os textos desse domínio, visto fazerem parte do nosso cotidiano. A esse respeito, Bittar (2015, p. 177) assevera que o discurso jurídico não é descontextualizado, mas sim que se produz no seio da vida social. Conforme o autor, o discurso jurídico se constitui de:

1) linguagem técnica, 2) constrói-se a partir de experiências da vida ordinária, 3) ocorre intraculturalmente, 4) possui ideologia, 5) exerce poder, 6) seu caráter é normalmente, performativo, e sua apresentação se faz, fundamentalmente, por meio de pressupostos lógico-deônticos (BITTAR, 2015, p. 183).

Há uma variedade de gêneros que faz parte do universo jurídico. Considerando esse fato e de acordo com os nossos objetivos, apresentamos pesquisas que nos ajudaram a

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compreender a estrutura composicional e linguística do gênero que estamos analisando nesta tese, a Denúncia.

Nessa perspectiva, Pimenta (2007) traz, em sua dissertação, um estudo aprofundado sobre textos forenses criminais. A autora tem, como um de seus objetivos, o levantamento e a caracterização dos diferentes gêneros textuais jurídicos. Para tanto, traz como embasamento a teoria tipológica geral de textos proposta por Travaglia (2003b, 2007)2.Além disso, o trabalho é norteado pelos pressupostos teóricos da Linguística Textual, voltando-se para as teorias dos atos de fala, da ação comunicativa e dos postulados teóricos de comunidades discursivas. A autora faz o levantamento e a caracterização da estrutura composicional de cento e vinte e sete textos circunscritos à esfera penal, entre eles, a autora aborda o gênero denúncia. Em sua estrutura, a autora observa a predominância dos tipos textuais narrativo, descritivo, dissertativo e injuntivo, com o cruzamento do tipo argumentativo. No que diz respeito ao léxico produzido nesse gênero, a análise constata um estilo de escrita altamente formal e variado, específico dos profissionais da área do Direito.

Em sua tese, Gêneros textuais jurídicos: petição inicial, contestação e sentença: um olhar sobre o léxico forense, Tullio (2012) propõe-se à análise dos gêneros jurídicos supramencionados, promovendo um estudo interdisciplinar entre a linguagem e o direito. Seu corpus é formado por processos civis produzidos nas Comarcas de Ponta Grossa e Londrina/PR. Como objetivo, seu estudo verifica se houve modificações lexicais entre essas peças processuais em um lapso temporal de duas décadas, ou seja, o material coletado compreende os períodos de 1990 a 2010. A pesquisa tem como base teórico-metodológica os estudos sobre o Interacionismo Sociodiscursivo, a Análise Crítica do Discurso e a Lexicologia. Os resultados de análise demonstram que, apesar de os textos estudados localizarem-se em culturas e tradições diferentes, o discurso jurídico manteve, em grande parte, uma linguagem cristalizada, ornamentada e de difícil compreensão para os cidadãos comuns.

No estudo Análise textual dos discursos: responsabilidade enunciativa no texto jurídico, Lourenço (2015) tem por objetivo a descrição, a análise e a interpretação da responsabilidade enunciativa em petições iniciais (PI). Seu corpus constitui-se de quinze petições iniciais da Vara Cível da Comarca de Currais Novos-RN, com propósitos comunicativos diversos. Para sua investigação, escolhe como objeto de estudo as seções que

2 TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Tipologias textuais e linguísticas. In: “Abordagens transdisciplinares de língua e

literatura”, Revista Scripta. MG: PUC/MG. 2003b. TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Tipelementos e a construção de uma teoria tipológica geral de textos. In: FÁVERO, Leonor Lopez; BASTOS, Neuza M. de Oliveira B., et al. (org.). Língua Portuguesa e Ensino. São Paulo: Cortez/EDUC, 2007.

Referências

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