• Nenhum resultado encontrado

Conforme mencionamos na introdução, nossa pesquisa caracteriza-se por sua natureza qualitativa, descritiva e explicativa. A pesquisa qualitativa

[...] considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. É descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem (SILVA; MENEZES, 2005, p. 20).

Além disso,

Na pesquisa qualitativa, os investigadores usam a literatura de maneira consistente com as suposições de aprendizado do participante, e não para prescrever as questões que precisam ser respondidas sob o ponto de vista do pesquisador. Uma das principais razões para conduzir um estudo qualitativo é que o estudo é exploratório. Isso significa que ainda não foi escrita muita coisa sobre o tópico ou sobre a população em estudo, e o pesquisador tenta ouvir os participantes e construir um entendimento baseado nas ideias deles (CRESWELL, 2007, p. 46).

Nesse contexto, entendemos que o conhecimento é construído entre o pesquisador e os objetos observados. Assim, a perspectiva qualitativa pode incidir em uma análise mais flexível das amostras analisadas, possibilitando uma exploração mais detalhada do fenômeno que estamos investigando. De acordo com Oliveira (2005, p. 41), a abordagem qualitativa

implica em um “[...] processo de reflexão e análise da realidade através da utilização de métodos e técnicas para compreensão do objeto de estudo em seu contexto histórico e/ou segundo sua estruturação”. Segundo Creswell (2007), o estudo qualitativo é um estudo exploratório, ou seja, a pesquisa aborda uma temática a respeito da qual pouco se escreveu ou se estudou. Para tanto, em seção específica, delimitamos e descrevemos o objeto de estudo, a coleta e o tratamento das amostras previamente selecionadas e os procedimentos de análise.

Quanto aos nossos objetivos, a pesquisa apresenta um caráter descritivo. Nessa perspectiva, segundo Charoux (2004, p. 39, grifo do autor),

A pesquisa descritiva busca descrever/narrar/classificar características de uma situação e estabelece conexões entre a base teórico-conceitual existente ou de outros trabalhos já realizados sobre o assunto e os fatos coletados. Esse tipo de pesquisa pressupõe uma boa base de conhecimentos anteriores sobre o problema estudado, já que a situação-problema é conhecida, bastando descrever seu comportamento. As respostas encontradas nesse tipo de pesquisa informam como determinado problema ocorre.

Nessa direção, conforme mencionamos, este trabalho tem seus alicerces teóricos fundamentados nos pressupostos da Linguística Textual e, mais especificamente, na Análise Textual dos Discursos, com foco no nível semântico do texto. Além dessa teoria, também nos embasamos em trabalhos, artigos, dissertações e teses realizados pelo grupo de pesquisa da ATD/PPgEL/UFRN, que nos deu a oportunidade de refletir sobre as bases teóricas que respaldam nossas investigações. Dessa forma, a pesquisa, ao assumir o aspecto descritivo, pressupõe conhecimentos diversos, enciclopédicos, linguísticos, cognitivos, entre outros, por parte do pesquisador, que darão subsídios necessários para a identificação e a descrição dos dados analisados.

A natureza explicativa da pesquisa “[...] visa identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos. Busca aprofundar o conhecimento da realidade, porque explica a razão, o porquê das coisas” (FARIAS FILHO; ARRUDA FILHO, 2012, p. 63). A esse respeito, procuramos identificar e explicar como os elementos linguísticos contribuem para a construção do objeto de discurso em análise.

Outra característica metodológica presente em nossa tese é o uso dos métodos dedutivo e indutivo. O método dedutivo “[...] é sempre definido como sendo o procedimento de estudo que vai do geral para o particular ou, melhor dizendo, parte dos princípios já reconhecidos como verdadeiros e indiscutíveis para se chegar a determinadas conclusões” (OLIVEIRA, 2005, p. 55). Desse modo, e partindo do mais geral para o particular, pressupomos que a construção ou a reconstrução dos objetos de discurso só são possíveis a

partir das escolhas dos elementos linguísticos de acordo com os pontos de vista dos enunciadores e coenunciadores no processo de produção e interpretação dos textos. O método indutivo “[...] compreende a observação e a experimentação dos fenômenos estudados [...] vai do particular para o geral para se tirar conclusões” (OLIVEIRA, 2005, p. 55). Além disso, “[...] é uma ferramenta que conduz o pesquisador a observar a realidade para fazer seus experimentos e tirar suas conclusões, constituindo-se, por isso um método bastante usado nas ciências em geral” (OLIVEIRA, 2005, p. 56). No entanto, Fiorin (2015, p. 60) ressalta que o uso do método indutivo “[...] é suscetível a erros”. Apesar disso, o autor esclarece que “[...] do ponto de vista metodológico, a questão mais importante é a representatividade dos fenômenos observados para permitir a generalização” (FIORIN, 2015, p. 60). Esse ponto é relevante em nossas investigações, pois partimos de alguns pressupostos que só poderão ser confirmados no momento das análises.

Sobre os procedimentos técnicos, a pesquisa é do tipo bibliográfica e documental. A pesquisa bibliográfica se alicerça na contribuição de diferentes autores sobre o assunto, que estão dispostos em livros, revistas, artigos, periódicos e em outros materiais que estão disponíveis na internet. De acordo com Manzo (1971, p. 32), “[...] a pesquisa bibliográfica oferece meios para definir, resolver, não somente problemas já conhecidos, como também explorar novas áreas onde os problemas não se cristalizam suficientemente”. Em conformidade com o autor, Marconi e Lakatos (2003, p. 182) ressaltam que “[...] a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras”. Dessa forma, entendemos que a pesquisa nunca se esgota e, apesar de já termos um número significativo de estudos que focalizam a representação discursiva em diferentes tipos de textos e gêneros, muitos pontos ainda precisam ser elucidados e discutidos. Portanto, propomo-nos, com esta investigação, a buscar novas informações que possam complementar as lacunas existentes sobre o fenômeno estudado.

Em relação à pesquisa documental, Oliveira (2005, p. 76-77) caracteriza-a

[...] pela busca de informações em documentos que não receberam nenhum tratamento científico, como relatórios, reportagens de jornais, revistas, cartas, filmes, gravações, fotografias, entre outras matérias de divulgação. [...]. Chama-se, porém a atenção do leitor(a) para o fato de que, na pesquisa documental, o trabalho do pesquisador(a) requer uma análise mais cuidadosa, visto que os documentos não passaram antes por nenhum tratamento científico.

O corpus em análise, o texto da Denúncia de Dilma Rousseff, é um documento que ainda não recebeu qualquer tratamento analítico, ou seja, são dados originais sobre os quais o pesquisador exerce influência direta.

4.2 DESCRIÇÃO DO CORPUS

Antes mesmo de nos determos na descrição composicional da Denúncia, que ficou popularmente conhecida como o pedido de impeachment contra a Presidenta Dilma Rousseff, é importante fazermos uma distinção entre a Denúncia que compõe uma ação da esfera Penal Pública e está prevista no Código de Processo Penal e a Denúncia constante da Lei n° 1.079, de 10 de abril de 1950, que é a lei específica para os crimes de responsabilidade e crimes contra a Administração Pública. De acordo com Rodrigues (2016, p. 55),

O que permite que uma denúncia seja evocada, isto é, que alguém tenha o direito de invocar o Poder Judiciário para aplicar o direito penal objetivo, por meio de uma ação penal, é o fato de o crime ser um acontecimento que lesa os direitos tanto do indivíduo como da sociedade e cabe ao Estado reprimi-lo.

A Denúncia é a peça inaugural do inquérito policial e, conforme Capez (2012, p. 193), “[...] consiste em uma exposição por escrito de fatos que constituem, em tese, ilícito penal, com a manifestação expressa da vontade de que se aplique a lei penal a quem é presumivelmente seu autor e a indicação das provas em que se alicerça a pretensão punitiva”.

A Denúncia é um gênero da esfera jurídica e é redigido pelos operadores do Ministério Público. Para que seja recebida pelo juiz, é preciso que preencha os requisitos legais previstos no art. 41, do Código do Processo Penal, tais como:“A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas”.

Após um breve resumo sobre a Denúncia, gênero específico da esfera penal, voltamos nossa atenção para o nosso objeto empírico de análise, o texto da Denúncia contra Dilma Rousseff. É importante ressaltar que a Constituição Federal de 1988 não fala sobre impeachment, mas sobre crimes de responsabilidade. Dessa forma, para que se dê a apuração de um possível crime dessa natureza, é necessário que se instaure um processo de impedimento. A CF/88 traz um rol exemplificativo dos crimes de responsabilidade que venham a ser cometidos pelo Presidente da República, pelos Ministros de Estado e do Supremo Tribunal Federal e pelo Procurador Geral da República, no art. 85:

Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra:

I – a existência da União;

II – o livre exercício do Pode Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação;

III – o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais; IV – a segurança interna do País;

V – a probidade na administração; VI – a lei orçamentária;

VII – o cumprimento das leis e das decisões judiciais (BRASIL, 1988).

A Carta Magna define que esses crimes serão normatizados em lei federal específica que regulará e estabelecerá os demais procedimentos de julgamento. Dessa forma, é a Lei n° 1.079, de 10 de abril de 1950, a responsável por descrever todos os crimes contra a Constituição, contra o exercício dos direitos, contra a probidade administrativa e o cumprimento de leis e decisões judiciais. Vale esclarecer que outras autoridades também podem ser alvo de um impeachment, a saber: os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, os Governadores e os Secretários de Estado, conforme descritos no art. 52, incisos I e II da CF/88 e art. 74 da lei 1.079/50.

Ao contrário da denúncia criminal, que só pode ser impetrada pelo Ministério Público, a denúncia contra o Presidente da República pode partir da iniciativa de qualquer cidadão, conforme descrito nos art. 14 e 41 da Lei n° 1.079/50.

Art. 14. É permitido a qualquer cidadão denunciar o Presidente da República ou Ministro de Estado, por crime de responsabilidade, perante a Câmara dos Deputados.

Art. 41. É permitido a todo cidadão denunciar, perante o Senado Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal e o Procurador Geral da República, pêlos crimes de responsabilidade que cometerem (BRASIL, 1950).

Exemplificamos o exposto com um excerto retirado do nosso corpus:

[AE3] HÉLIO PEREIRA BICUDO, brasileiro, casado, Procurador de Justiça Aposentado, portador da Cédula Identidade RG n. 5888644, CPF n. 005.121418-00, [...]; MIGUEL REALE JÚNIOR, brasileiro, casado, advogado, inscrito na OAB, Secção de São Paulo, sob nº. 21.135, CPF n. 020.676.928.87, [...]; e JANAINA CONCEIÇÃO PASCHOAL, brasileira, casada, advogada, portadora da Cédula de Identidade RG n. 24.130.055-1, CPF n. 195.295.878-48, [...], todos cidadãos brasileiros, como comprovam as certidões anexas, subscrevendo, ainda, esta petição, o advogado FLÁVIO HENRIQUE COSTA PEREIRA, brasileiro, OAB/SP 131.364 e inscrito no CPF sob nº 173.800.188-17, [...], com fundamento nos artigos 51, inciso I, e 85, incisos V, VI e VII, da Constituição Federal; nos artigos 4º., incisos V e VI; 9º. números 3 e 7; 10, números 6, 7, 8 e 9; e 11, número 3, da Lei 1.079/50; bem como no artigo 218 do Regimento Interno desta Egrégia Casa, vêm apresentar DENÚNCIA em face da Presidente da República, Sra. DILMA VANA ROUSSEFF, haja vista a prática de crime de responsabilidade, conforme as razões de fato e direito a seguir descritas, requerendo seja decretada a perda de seu cargo, bem como a inabilitação para exercer função

pública, pelo prazo de oito anos.” (Denúncia contra Dilma Rousseff, grifo do autor).

A Lei n° 1.079 ainda descreve alguns requisitos necessários para o estabelecimento da denúncia. A falta de alguns desses elementos pode tornar o documento inepto:

Art. 15. A denúncia só poderá ser recebida enquanto o denunciado não tiver, por qualquer motivo, deixado definitivamente o cargo.

Art. 16. A denúncia assinada pelo denunciante e com a firma reconhecida deve ser acompanhada dos documentos que a comprovem, ou da declaração de impossibilidade de apresentá-los, com a indicação do local onde possam ser encontrados, nos crimes de que haja prova testemunhal, a denúncia deverá conter o rol das testemunhas, em número de cinco no mínimo.

Art. 17. No processo de crime de responsabilidade, servirá de escrivão um funcionário da Secretaria da Câmara dos Deputados, ou do Senado, conforme se achar o mesmo em uma ou outra casa do Congresso Nacional.

Art. 18. As testemunhas arroladas no processo deverão comparecer para prestar o seu depoimento, e a Mesa da Câmara dos Deputados ou do Senado por ordem de quem serão notificadas, tomará as providências legais que se tornarem necessárias legais para compeli-las a obediência (BRASIL, 1950).

O processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff contém os seguintes documentos26, disponíveis no Quadro 9:

Quadro 9 – Documentos constantes no Processo de Impeachment

Fonte: Autoria própria

Como podemos observar no Quadro 9, a Denúncia por crime de responsabilidade contra a ex-presidenta da República é o primeiro documento constante do seu processo de impeachment. No entanto, não identificamos na Lei 1.079 os elementos essenciais para a

26 Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2016/08/22/veja-os-principais-documentos-do-

processo-de-impeachment-de-dilma-rousseff. Acesso em: 11 dez. 2017. Documentos

Denúncia Roteiro do julgamento Parecer pela admissibilidade Resposta da Defesa à Acusação

Laudo pericial da junta designada pela CEI2016 Laudo da assistente pericial da acusação Laudo dos assistentes periciais da defesa

Alegações finais dos denunciantes Alegações finais da acusada

Relatório final da CEI2016 Voto em separado Libelo Acusatório Contrariedade ao libelo

Discurso de defesa de Dilma no Plenário Sentença de Impeachment Notas taquigráficas da sessão

composição desse gênero jurídico. Dessa forma, recorremos ao CPP que, em seu art. 41, descreve os requisitos essenciais que devem compor o gênero em destaque. Esses elementos nos ajudam a descrever a estrutura composicional do texto que estamos analisando e que se subdivide em dez partes, como veremos na Figura 11, a seguir.

Figura 11 – Elementos constitutivos da Denúncia no pedido de impeachment de Dilma Rousseff

Fonte: Adaptado de Rodrigues (2016, p. 63) Epígrafe

Identidade dos requerentes

Introdução/Requerimento

Motivação da denúncia

Classificação jurídica dos fatos

Petição

Encerramento da denúncia

Local e data

Denunciantes

Nos textos jurídicos, as epígrafes são utilizadas geralmente para esclarecer os propósitos ou o resumo do assunto a ser abordado no documento.

Síntese/Conclusão do documento.

Identificação dos requerentes ou autores da denúncia.

Relato ou narrativa dos fatos delituosos. Encontra-se subdividida no texto em: fatos; dos crimes de responsabilidade; da responsabilidade da denunciada.

Pedido/solicitação para aplicação da Lei/condenação.

Fundamentos da acusação, conforme os artigos constitucionais, da Lei 1.079/50, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados e requerimento.

Denúncia da Presidente da República pelos crimes de responsabilidade cometidos na Administração Pública.

Registro do local e data em que o documento foi oficializado.

Nome dos denunciantes e seus respectivos cargos ou posição funcional.

Vocativo/Destinatário Indicar para qual autoridade a denúncia deve ser endereçada.

Consideramos que a apresentação e a caracterização que fizemos do texto da Denúncia, constante do processo do impeachment de Dilma Rousseff, foram necessárias porque nos levaram a conhecer de forma mais sistemática o gênero jurídico que compõe o nosso corpus. Nos próximos subitens, iremos apresentar como coletamos as amostras para as análises, bem como os procedimentos metodológicos adotados nesta pesquisa.

4.3 COLETA, TRATAMENTO E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Conforme anunciamos, nossa pesquisa tem como objetivo geral o estudo das representações discursivas de Dilma Rousseff construídas no texto da Denúncia. O processo do impeachment foi amplamente divulgado na mídia nacional e internacional, portanto, os documentos constantes do referido processo são de domínio público. Nesse contexto, a coleta do nosso corpus deu-se por meio eletrônico.

A Denúncia, documento que inaugura o processo de impeachment de Dilma Rousseff, possui 65 (sessenta e cinco) laudas. Inicialmente, fez-se necessária uma revisão bibliográfica dos pressupostos teóricos que embasam a representação discursiva, nosso objeto teórico. Além disso, para melhor compreender e fundamentar o gênero jurídico Denúncia, recorremos à doutrina jurídica, às leis e a pesquisas sobre o assunto. Após essa primeira etapa, nosso corpus recebeu o seguinte tratamento metodológico:

a) a coleta e a seleção do corpus foram feitas no site do Senado Federal27;

b) a transcrição do texto foi feita dividindo-o em enunciados (E1, E2, ...), de modo a sinalizar os exemplos utilizados na pesquisa, para facilitar a compreensão e a explicação das amostras analisadas. Vale salientar que, pela robustez do documento, trouxemos para nossas análises um recorte de 74 enunciados que, do nosso ponto de vista, tinham mais elementos para investigação e descrição do fenômeno da Rd; c) nos excertos selecionados, mantivemos todas as marcas tipográficas presentes no texto

original, tais como, as aspas, itálico, maiúscula, sublinhado, negrito e outras;

d) de acordo com os objetivos da pesquisa, no texto da Denúncia, optamos, em sua grande parte, pelos enunciados que fazem parte da seção “Dos Fatos”, pois ali encontramos mais elementos que possibilitam um estudo aprofundado das representações discursivas do objeto de discurso em investigação;

27 VIEIRA, Anderson. Senado recebe documento da acusação com pedido de condenação de Dilma Rousseff.

Senado Notícias. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2016/08/10/senado-recebe- documento-da-acusacao-com-pedido-de-condenacao-de-dilma-rousseff. Acesso em: 3 jan. 2018.

e) em relação ao terceiro objetivo, que é o de examinar como se configuram as Rd nas sequências descritiva, narrativa e argumentativa, decidimos por construir no Quadro 10 a chave de leitura para a identificação dos enunciados no corpus em análise, de acordo com a sequência textual analisada;

Quadro 10 – Legenda utilizada para a marcação das sequências descritiva, narrativa e argumentativa

Chave de cores Sequência textual Exemplos do corpus Amarela Descritiva

[E11] Essa notitia criminis demonstra que a Presidente, que sempre se apresentou como valorosa economista, pessoalmente responsável pelas finanças públicas, deixou de contabilizar empréstimos tomados de Instituições Financeiras públicas (Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil), contrariando, a um só tempo, a proibição de fazer referidos empréstimos e o dever de transparência quanto à situação financeira do país.

Verde Narrativa

[E4] HÉLIO PEREIRA BICUDO, brasileiro, casado, Procurador de Justiça Aposentado, [...]; MIGUEL REALE JÚNIOR, brasileiro, casado, advogado, [...]; e JANAINA CONCEIÇÃO PASCHOAL, brasileira, casada, advogada, [...], o advogado FLÁVIO HENRIQUE

COSTA PEREIRA, vêm apresentar DENÚNCIA em face da Presidente da República, Sra. DILMA VANA ROUSSEFF, haja vista a prática de crime de responsabilidade, conforme as razões de fato e direito a seguir descritas, requerendo seja decretada a perda de seu cargo, bem como a inabilitação para exercer função pública, pelo prazo de oito anos.

Azul Argumentativa

[E30] Ora, se a Presidente era (e é) indissociável de Lula, muito provavelmente, sabia que ele estava viajando o mundo por conta da Construtora Odebrecht, que coincidentemente sagrou-se vencedora para realizar muitas obras públicas, no Brasil e no exterior! Aliás, não se podem desconsiderar as fortes acusações feitas pelos empresários gaúchos, Auro e Caio Gorentzvaig, no sentido de que Dilma teria sido imposta a Lula por referido grupo empresarial.

Fonte: Autoria própria

f) conforme apontamos inicialmente, a Denúncia de Dilma Rousseff é um texto que foi apresentado pelos advogados Hélio Bicudo, Janaína Paschoal, Miguel Reale Júnior e Flávio Henrique Costa Pereira. Dessa forma, temos quatro produtores ou enunciadores. Apesar da quantidade de enunciadores para um único texto, decidimos utilizar nas análises a terminologia no singular “enunciador”.

Após o tratamento das amostras, utilizamos os seguintes procedimentos metodológicos:

a) apresentação do estabelecimento do texto da Denúncia constante do processo de impeachment de Dilma Rousseff;

c) descrição da estrutura composicional das sequências descritiva, narrativa e argumentativa;

d) levantamento das marcas linguísticas que constroem as representações discursivas focalizadas a fim de dar prosseguimento à análise dos enunciados. A partir disso, identificamos as categorias empíricas que são geradas na denúncia, tais como: “Presidente”, “Dilma”, “Governo Federal”, “Governante máxima”, “denunciada”, entre outras. Essas categorias foram agrupadas em blocos ou eixos temáticos, de