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1 DESIGN – ESTADO DA ARTE

1.3 Desenvolvimento sustentável para o Brasil

1.3.3 A responsabilidade sócio-ambiental das empresas

Na opinião de Hazel Henderson, o negócio socialmente responsável está bem organizado no Brasil. Ela destaca a liderança do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, fundado por Oded Grajew, e com diversos grupos participantes, entre eles, o Instituto de Desenvolvimento Gerencial e de Liderança Amana-Key de Desenvolvimento & Educação de São Paulo; o SEBRAE, que dá apoio ao desenvolvimento local e comunitário; entre outros (HENDERSON, 2003).

Esta predisposição do empresariado e suas instituições representativas, em desenvolver alternativas para incorporar preceitos de responsabilidade social e ambiental nas empresas, deveu-se, em parte, porque a idéia de conservação deixou de se opor indiscriminadamente a de crescimento, mas também porque se expandiram os negócios ambientais nos países desenvolvidos.

Para acompanhar este processo, em 2002 o BNDES iniciava um trabalho de contabilidade ambiental, contribuindo assim para a disponibilização de instrumentos de informação adequados à gestão sustentável. Neste mesmo ano, a FIESP lançava a bolsa de resíduos, fomentando a indústria da reciclagem.

Na obra Meio Ambiente Brasil: avanços e obstáculos pós-Rio-92 (CAMARGO, A.; CAPOBIANCO, J. P.; OLIVEIRA, J.A.P.(Orgs.), 2002), o Instituto Ethos assegura que, mesmo considerando as graves limitações da economia brasileira, algumas empresas estão realizando trabalhos de seriedade indiscutível, com melhorias significativas de desempenho ambiental, tanto em processos produtivos, quanto no próprio produto.

Por outro lado, outras empresas estão procurando atingir melhor desempenho por uma necessidade expressa pelos seus clientes. Outras, ainda, por trabalharem com alimentos e cosméticos, de forte penetração popular, onde o desgaste da marca representaria fortes perdas. (MOURA, 2002)

Um bom exemplo é o caso da rede de perfumaria e cosméticos O Boticário, que reciclou, em 2002, 754 toneladas de papel e papelão em sua fábrica, localizada no município de São José dos Pinhais, no Paraná. O trabalho, que abrange também reciclagem de plástico e vidro, faz parte das iniciativas da empresa para contribuir com a preservação da natureza. Desde 1998, todo o papel reciclado transforma-se em cadernos, que são distribuídos para escolas públicas, num trabalho coordenado pela Fundação O Boticário de Proteção à Natureza (O BOTICÁRIO transforma papel reciclado em cadernos, 2003).

Um reflexo positivo dessas ações é que, uma empresa que tenha uma administração preocupada com a variável ambiental e um sistema gerencial estruturado para administrar o seu bom desempenho, está bastante próxima de obter uma certificação que assegure que ela cumpre uma norma ambiental, por exemplo, a norma ISO 14.001.

Segundo Camargo, Capobianco e Oliveira (Org.), em 2002 havia no Brasil mais de 350 empresas que possuíam a certificação ISO 14001. Porém, no artigo “Notícias do comitê brasileiro de gestão ambiental” da Revista Meio Ambiente Industrial (set./out. 2002, p.76),

são citados números relativos aos estudos realizados pela CNI, que indicam um volume maior, onde o aumento de unidades industriais com certificações ISO 14001 passou de 100, em 2000, para 610, em 2002.

Estes números parecem indicar que seguir os padrões mínimos expressos na legislação não é mais considerado suficiente para manter vantagens competitivas, sobretudo no mercado de exportação, onde clientes de países desenvolvidos e com poder de compra já expressam preocupações ambientais, como requisitos essenciais na escolha do produto.

As certificações mostram, também, que o mercado está traçando um plano de metas, visando o atendimento de todos os compromissos ambientais a que se propôs, e que são vistoriados por auditorias periódicas. Parece um primeiro passo para a evolução da sua responsabilidade ambiental e social. Uma outra vantagem apresentada pela certificação é o efeito multiplicador, uma vez que todos os colaboradores são treinados e, conseqüentemente, levam essa conscientização ambiental para suas residências e círculos de amizade. Isto inclui os fornecedores que são influenciados direta e indiretamente.

Muitas empresas, filiais de multinacionais, estão seguindo diretrizes vindas do exterior para que se adeqüem a padrões corporativos de preservação como é o caso da JOHNSON &

JOHNSON, sediada em São José dos Campos, que investiu mais de seis (6) milhões de

dólares no programa “Pollution Prevention Goals”, estabelecido pela matriz. No ano 2000, a empresa obteve certificação ISO 14001, após um trabalho de preparação que durou 18 meses. A empresa deu especial atenção à conscientização e treinamento de seus funcionários, sobre a importância do desenvolvimento sustentável (MOURA, 2002, p.43).

Também estão multiplicando-se as organizações de empresários, ligadas ao desenvolvimento sustentável, tanto em nível internacional (como o Conselho Mundial Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável), quanto nacional (como os departamentos de meio ambiente e responsabilidade social das federações estaduais, sindicatos e CNI).

[...], as indústrias químicas do Canadá propuseram o “Responsable Care”, que são os princípios de atuação responsável, aos quais a maioria das indústrias químicas dos países mais

desenvolvidos aderiu, inclusive no Brasil, coordenado pela ABIQUIM – Associação Brasileira da Indústria Química e Produtos Derivados (MOURA, 2002, p.25).

No entanto, esta evolução no comportamento das empresas não é homogênea. Enquanto existem grupos empresariais que avançaram em relação ao gerenciamento de seus impactos socioambientais, muitas empresas mal perceberam a importância desta questão. O tema parece ter avançado principalmente nas grandes empresas exportadoras, mais sujeitas ao controle dos órgãos ambientais, e menos nas pequenas empresas.

Conforme estudo de Moura (2002, p.40), é possível, classificar a situação das empresas brasileiras, em quatro categorias:

a. As que nada fazem com relação ao meio ambiente, já que suas atividades geram poucos impactos;

b. As que pouco atuam, apesar de gerarem impactos, limitando-se a tentar cumprir os padrões mínimos da legislação;

c. As que procuram ter uma atuação mais significativa, possuindo uma

área dedicada a tratar das questões ambientais da empresa e seguem, quase sempre, os padrões corporativos;

d. As que estão procurando obter certificação, segundo normas ambientais, para o seu Sistema de Gestão Ambiental (BS 7750 e ISO 14001).

Entretanto, independentemente dos certificados, as empresas precisam buscar novas estratégias para obter melhorias de desempenho ambiental sem esquecer a sua função social, pois além de atender à vontade dos seus clientes, este fator melhora os relacionamentos com os órgãos ambientais de controle, as ONGs e com a sociedade de uma forma geral.

Nesta linha de pensamento, cita-se a Mercedes-Benz, que tem trabalhado com a fibra de coco no recheio dos estofamentos, em para-sóis e encostos de cabeça dos seus modelos

Classe A e dos caminhões comerciais da multinacional Daimler-Chrysler produzidos no

Brasil. Isso foi possível em função dos incentivos financeiros da empresa para o projeto “Poema – Programa Pobreza e Meio Ambiente na Amazônia” e a conseqüente criação da empresa Poematec, que reúne cooperativas na área de fibras naturais. Mais de 5.200 pessoas se beneficiam das cooperativas que fabricam produtos de fibras (GERHARDT, 2002, p.8).

A 3M e a empresa brasileira Suzano, lançaram a versão ecológica do bloquinho de lembretes post-it, que utiliza material reciclado, sendo 25% deste papel, coletado nas ruas. A empresa brasileira fez parceria com uma cooperativa de catadores de papel que garante a matéria-prima, além de gerar renda para várias famílias e ainda contribuir com a Fundação Ecofuturo. Segundo a empresa, o novo post-it reciclado possui a mesma qualidade do tradicional, porém o preço é 5% mais baixo. Outro produto feito a partir de material reciclado, é o papel Reciclato, que, pelo que se sabe, está sendo vendido apenas para o mercado gráfico (GERHARDT, 2002, p.8).

Estas iniciativas, entretanto, estão acontecendo, em sua maioria, com as grandes empresas, e as multinacionais, que possuem condições de investir com retornos mais lentos. Mas, para o caso das pequenas e médias empresas, as condições têm se mostrado ainda inadequadas. É neste segmento que muitas transformações poderão ocorrer contando com as habilidades do designer. Ele pode identificar oportunidades e abrir caminhos para criação de novos produtos conservando e recuperando as qualidades das matérias primas, valorizando novas tecnologias, aproveitando o valor da mão de obra local, enfim, enfrentando os desafios da sustentabilidade.

Com relação à adequação da Legislação Ambiental, muitas dificuldades partem dos pequenos produtores e empresários, que lutam pela sobrevivência em situações adversas e nem possuem condições para implementar normas que exigem altos investimentos. Para isso o CNI está disponibilizando um site12 com diversos documentos contendo material informativo sobre Práticas Sustentáveis; Declaração dos Princípios da Indústria para o Desenvolvimento Sustentável; projetos para reduzir desperdícios, ISO 14000, Gestão Ambiental, entre outros produtos.

Com estes documentos, a entidade pretende cooperar com o exercício da responsabilidade social e ambiental atribuída aos empresários e suas instituições representativas pela Agenda 21, além de traçar um panorama da situação industrial brasileira, sua capacidade de inovação e de participação no mercado global de forma sustentável (INDÚSTRIA SUSTENTÁVEL, 2003).

O maior desafio do desenvolvimento ambiental é levar em conta a diversidade de situações que as empresas enfrentam, em função do tipo de atividade que exercem e do tipo de impacto que produzem. Por isso a sustentabilidade exige uma dimensão comunicativa, possibilitada pela rede de organizações não-governamentais e pela mídia, que contribuem para disseminar as novas práticas da sustentabilidade. Espera-se, portanto, que o designer esteja integrado com esta rede, e assim poder interagir em toda a complexidade inerente ao desenvolvimento sustentável.