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1 DESIGN – ESTADO DA ARTE

1.2 Caminhos para a sustentabilidade

1.2.3 Produção e consumo sustentáveis

Alguns economistas vêm questionando os conceitos tradicionais do crescimento econômico e sublinhando a importância de que se persigam objetivos econômicos que levem plenamente em conta o valor dos recursos naturais. É preciso, no entanto, a sociedade estar ciente das dificuldades que tal empreitada enfrentará.

Como PENNA (1999, p. 49) constatou,

Governantes e economistas em geral aplaudem o aumento do consumo como um indicador da vitalidade de suas economias e da pujança de seus povos; priorizam a ampliação da produção de bens de consumo, sob o argumento da necessidade de se aumentar o Produto Nacional Bruto (PNB), em detrimento de uma política voltada para o verdadeiro bem estar social.

Um erro comum dessas políticas de crescimento econômico é o que estimula o uso de veículos individuais, em prejuízo do transporte de massa. São obvias as conseqüências dessa política: tráfegos cada vez mais lentos e estressantes, poluição atmosférica crescente, local e global, e um sistema de transporte dependente de uma fonte energética não renovável, o petróleo.

Atualmente, existem grandes dificuldades para tomar as medidas necessárias para reduzir este ritmo de consumo. Acaba existindo uma resistência, principalmente dos segmentos sociais mais abastados, em abandonar os estilos de vida já perpetuados em sua cultura. A reação destas camadas de maior poder aquisitivo se dá através da pressão das mídias, que estão em grande sintonia com esta sociedade “ávida pelo consumo”, e da pouca atuação de governantes e parlamentares, que raramente conseguem resistir às pressões ou mesmo não se interessam em lutar contra tais forças.

Por sua vez, a maioria dos formuladores de teorias econômicas tem pouco ou nenhum conhecimento sobre o início e o fim do processo de transformação dos materiais. O foco de seus estudos concentra-se nas características sociais e psicológicas que regem a atividade econômica, sua dinâmica, suas causas e efeitos. Eles desconhecem o processo de formação de materiais primas, desconsideram a diferença entre recursos naturais renováveis e não renováveis e, principalmente, ignoram leis naturais fundamentais para a continuidade das atividades humanas (PENNA, 1999).

A partir daí é possível entender por que o tema da mudança dos padrões de consumo e produção tem atraído a atenção de estudiosos e políticos, mas aparenta ser uma equação sem resultados. Todavia, uma das iniciativas mais marcantes em termos globais com relação a esta problemática, ficou expressa na Agenda 21, que ressalta o uso eficiente dos recursos, coerentemente vinculado com o objetivo de reduzir ao mínimo o esgotamento desses recursos e de reduzir ao máximo a poluição em todos os níveis sociais.

O estímulo com padrões de produção e consumo sustentáveis, estabelecido no capítulo 4 da Agenda 21 abrangem das classes mais abastadas aos mais simplórios segmentos da sociedade, pois, embora em determinadas partes do mundo os padrões de consumo sejam

muito altos, as necessidades básicas do cidadão de uma ampla fração da humanidade não podem ser atendidas. Bradsma e Eppel avaliam esta condição pelo fato de que

[...] a partir de 1950, os 20% mais ricos duplicaram o consumo per capita de energia, carne, madeira, aço e cobre, e quadruplicaram a aquisição de automóveis. Aqueles pertencentes ao grupo dos 20% mais pobres da população mundial subsistem com menos de um (1) dólar por dia, e os 40% mais pobres respondem a pouco mais do que 6,5% da renda gerada no planeta (BRADSMA; EPPEL In: RIBEMBOIM (Org), 1997, p.112).

Neste mesmo capítulo da Agenda 21, pede-se a execução de pesquisas sobre o consumo para expandir e/ou promover bancos de dados sobre a produção e o consumo, além de desenvolver metodologias para analisá-los. Com os resultados se poderá avaliar as conexões entre produção e consumo, meio ambiente, adaptação e inovação tecnológicas, crescimento econômico e desenvolvimento, além de fatores demográficos.

Mas, por ser muito abrangente a questão da mudança dos padrões de consumo, ela é focalizada em diversos outros capítulos da Agenda 21, em especial nos que tratam de energia, transportes e resíduos, bem como naqueles dedicados aos instrumentos econômicos e à transferência de tecnologia. A leitura do capítulo 4 deve ainda, ser associada ao capítulo 5 (Dinâmica e sustentabilidade demográfica).

Entende-se que o capítulo 4, sobre produção e consumo sustentáveis, da Agenda 21 permeia todos os demais, isto é, possui relação com água, energia, uso do solo, espaços urbanos, florestas, poluição, atmosfera, fauna, flora, etc. Além disso, trata da mudança comportamental das pessoas. Mudar o padrão de consumo é, antes de tudo, mudar o próprio comportamento das pessoas (RIBEMBOIM (Org.), 1997). Este tema é de tamanha relevância que a ONU dedicou seu Relatório do Desenvolvimento Humano de 1998 à análise do consumo no mundo.

Aliás, o relatório da ONU de 1998, é apenas mais um dos eventos realizados pela ONU, pois, a partir de 1992, inúmeras foram as iniciativas de caráter nacional, internacional e não governamental, voltadas para a análise e discussão do tema, e foram realizadas com o

apoio e o patrocínio da Comissão das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, organismo incumbido de acompanhar e orientar a implementação da Agenda 21.

Entre estas diversas iniciativas, realizou-se em Brasília, em 1996, um Workshop intitulado “Encontro Brasil-Noruega sobre Produção e Consumo Sustentáveis: Padrões e Políticas”. Este encontro foi coordenado por Aspásia Camargo, então secretária-executiva do Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, e por Oddmund Grahan, embaixador norueguês para o meio ambiente.

Ao final do Encontro, uma, dentre as diversas recomendações expressas, merece destaque neste momento, e que deveria estar aberta ao conhecimento de todos os designers

O novo padrão de consumo que estamos procurando construir une o capitalismo tecnologicamente avançado com a nostalgia das sociedades primitivas, onde o convívio comunitário e em harmonia com a Natureza seria parte integrante da vida das pessoas e principal fonte de lazer e bem-estar dos indivíduos. O consumismo materialista e o individualismo de mercado precisam ceder espaço para uma forma de convivência superior, comunitária e familiar, onde as demandas espirituais, artísticas e culturais ganhem posição preponderante(RIBEMBOIM (Org.) ,1997, p.128).

Não se discute que o desenho industrial seja atualmente uma atividade geradora de necessidades, produtos materiais e estilos de vida. Mas, talvez por isso mesmo, na atual conjuntura, suas criações devem refletir a adequação tanto do ponto de vista ambiental, quanto social e econômico. A responsabilidade sobre a redução de riscos para a natureza passa, assim, a constituir-se numa questão de fundamental importância no desenvolvimento das aptidões do designer.