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5 DESPERTANDO O DESIGNER PARA A MUDANÇA

5.3 Uma linguagem para a mudança

5.3.2 As relações ensino – aprendizagem no contexto da informática

Parte-se das informações oferecidas por Cruz, Carneiro e Viana (2000) que, ao estudar uma ferramenta computacional auxiliar para o ensino da Genética, investigaram os estilos de aprendizagem em suas cinco dimensões. Os conhecimentos dali extraídos são aproveitados para que se possa fazer uma reflexão sobre o uso do recurso informático na educação para o

design sustentável, considerando-se o perfil do estudante de Desenho Industrial.

A primeira das dimensões de ensino estudadas, diz respeito às formas de um aprendiz receber as informações externas, que se dividem entre visual ou verbal. Aprendizes visuais alcançam maiores resultados a partir de imagens visuais (imagens, gráficos, representações tridimensionais, etc.), sendo o contrário para aprendizes verbais.

Neste aspecto, particularmente os estudantes de design têm uma inclinação para receber bem as informações através do estilo visual. Este fato pode ser observado pelos apontamentos de Gomes “[...] apesar de possuírem grande habilidade para modelagem bi e tridimensional, nem sempre são habilidosos ao modelar idéias verbalmente” (GOMES, 2001, p.41).

Pode-se complementar este pensamento observando que o designer trabalha, boa parte de seu tempo, com a forma, representada através da imagem, seja ela reproduzida em desenhos esquemáticos, desenhos técnicos até as fotografias ou a reprodução tridimensional por meios digitais. Tais modelos demonstram, sua tendência à linguagem visual como forma de expressão e comunicação.

Entretanto, não se pode dizer que se trate de uma lei, pois também acontece de muitos estudantes de design demonstrarem aptidão para equacionar e resolver os problemas de projeto, de forma teórica, ou seja, para receber bem as informações de forma verbal.

No que diz respeito à quantidade de informações – a segunda dimensão dos estilos de aprendizagem – Cruz, Carneiro e Viana (2000) discutem o grande volume de informações que tem invadido o espaço da capacidade do indivíduo para assimilação e retenção dos dados e

informações. Por isso é importante saber como selecionar os conteúdos fundamentais para admissão na “memória de trabalho”. Assim, será necessário compreender os aprendizes nas dimensões sensoriais e intuitivas.

Os aprendizes sensitivos inclinam-se a selecionar o que é visto, ouvido ou tocado. Também gostam de fatos e dados. Já aprendizes intuitivos selecionam informações intuitivas (idéias, memórias e possibilidades) e preferem teorias e modelos.Na resolução de problemas, os sensitivos preferem métodos padrões, têm paciência com trabalho detalhado, enquanto aprendizes intuitivos detestam disciplinas de aplicação repetida de regras e fórmulas (CRUZ; CARNEIRO; VIANA, 2000).

Como Cruz, Carneiro e Viana (2000) ressaltam: como sensitivos, os estudantes não gostam de seguir regras e apreciam quando, nas aulas, um professor recorre à vida real para explicar os temas de suas disciplinas. Como intuitivos não são hábeis em observar detalhes, e acabam cometendo erros básicos em provas e na definição de seus projetos acadêmicos. Não conferem o que fazem, e a maior ênfase é dada às idéias, sendo que os detalhes são deixados de lado.

Gomes observou que o estudante de design “muitas vezes é desleixado e precipitado, mais atento a idéias do que à aparência, e menos preocupado em merecer a aprovação do professor” (2001, p.42). Pode-se entender daí que o estilo intuitivo corresponde à maioria.

Quanto à organização das informações, duas formas são praticáveis: a organização indutiva, que caminha no sentido do específico para o geral; e a dedutiva, que promove a situação inversa. A organização indutiva é a forma natural de aprendizagem humana. Como Cruz, Carneiro e Viana (2000), observam, no caso da Genética, a dedução é o estilo principal de ensino, onde os professores preferem deduzir fórmulas, modelos e teorias.

Os autores do artigo indicam que o ensino dedutivo pode ser mais eficiente e efetivo para uso imediato ou retenção por curto período de tempo. Já o ensino indutivo é o melhor para retenção por longo prazo.

Lévy contribui no entendimento sobre o alcance e a validade do processo de memorização de conteúdos escolares

A memória de curto prazo, ou memória de trabalho, serve-se somente no caso de um estudante que esteja preocupado com sua nota no exame, assim ele irá reler sua lição dez vezes antes de entrar na sala neste dia, e seu problema estará resolvido (LÉVY, 2002, p.78).

O estilo indutivo é o estilo predominante no design, já que ele se fundamenta através de sua práxis, onde o design seria o elo conciliador entre especialistas de diversas áreas. Conforme Bomfim (1997)

O método da prática do design é essencialmente indutivo e experimental. A partir de situações particulares, o designer cria e utiliza procedimentos – métodos de projeto –, que não pertencem exclusivamente à esfera científica e raramente são elaborados com essa finalidade (BOMFIM, 1997, p.33).

Apesar das vantagens de trabalhar com o estilo indutivo, como se vê o design acaba mostrando seu viés negativo, particularmente em sua ciência, onde demanda conhecimentos teóricos, explícitos e sistemáticos para que ultrapasse sua característica de mero transmissor de conhecimentos, ou de um “especialista em generalidades” como denuncia Bomfim (1997, p.39).

Em sua obra, Guillermo (2002) discute os problemas causados ao ensino do Desenho Industrial, pela sua inclinação maior ao desenvolvimento do “fazer” e da “prática” deixando de lado a pesquisa científica. Como enfatiza o autor, mesmo reconhecendo que já existam muitos investigadores nas diversas vertentes do design, esta parcela é ainda pouco representativa, comparativamente às necessidades atuais de conhecimento e pesquisa.

Ainda assim, para a educação, o método indutivo é vantajoso, e atualmente, a educação baseada no modelo dedutivo, da memória de curto prazo, está sendo fortemente combatida pelos pedagogos. Não obstante, o estilo dedutivo encontra repercussão no Desenho Industrial, quando se deseja que um conjunto de informações esteja presente, ao mesmo tempo, contribuindo para a definição de uma proposta projetual. É importante considerar que

um designer é um generalista, e cada projeto de design deve levar em conta um grande número de informações (SCHULMANN, 1994, p.34).

Assim, o designer deve ter o recuo suficiente para integrar um conjunto de dados, a fim de fazer uma síntese que lhe permita propor soluções novas. Reconhecendo que, ao ser resolvido determinado problema, ele irá iniciar um novo projeto que trará novos problemas, muitas vezes completamente diferentes daquele último. Por isso o estilo dedutivo não pode ser desconsiderado.

Ao se discutir a validade de uma ferramenta educacional produzida dentro de uma tecnologia computacional, entende-se que esta deverá oferecer condições que facilitem a retenção das informações necessárias para um aprendiz poder trabalhar equilibradamente com a teoria e a prática. Já, no caso de pesquisas com dados e sistemas referenciais, estes deverão ficar acessíveis em uma rede associativa, sem necessidade de reter quantificações na memória.

Retornando às dimensões de aprendizagem, com relação ao processamento de um conjunto de informações já organizadas, este poderá abranger duas dimensões: a ativa e a reflexiva. Aprendizes ativos tendem a processar as informações enquanto estão fazendo alguma coisa ativa. Eles, geralmente experimentam para, então, compreenderem. Já os aprendizes reflexivos querem primeiro compreender.

Cruz, Carneiro e Viana citam um bom exemplo para caracterizar estes estilos de aprendizagem “os aprendizes ativos quando compram um eletrodoméstico, por exemplo, uma televisão, primeiro testam todos os botões, enquanto aprendizes reflexivos primeiro lêem todo o manual para depois ligarem a TV” (2000, p 7).

Seja qual for o modo de aprendizagem do estudante, conforme Lévy (2001) explica, a interatividade proporcionada pelas TIs podem conduzir o estudante a uma atitude dinâmica, transformando-o num elemento atuante que manipula os recursos na seqüência e velocidade desejados. Esta ação contribui para um aprendizado mais ativo. Uma vez que a interatividade não é linear, o usuário dispõe de flexibilidade para determinar o fluxo de apresentação das

informações não vinculado a uma cadeia seqüencial de conteúdos que foram hierarquicamente construídos.

A última dimensão de estilos de aprendizagem demarca as diferentes velocidades de compreensão do conjunto de informações, ocorrendo de duas maneiras: a compreensão seqüencial e a global. Nesta dimensão algumas características marcantes podem distinguir o estilo de ensino e aprendizagem dos estudantes de Desenho Industrial e dos estudantes de outros cursos, como parece ser o caso da Genética.

Segundo o estudo de Cruz, Carneiro e Viana

Os aprendizes globais, em geral, parecem lentos e podem se dar mal em provas, ficando desencorajados e desistindo se não entenderem em tempo. Estes aprendizes podem resolver um problema verdadeiramente complexo, instantaneamente, e serem incapazes de explicar como o fizeram. Aprendizes seqüenciais são bons em análise e raciocínio convergente. Já os globais são os melhores sintetizadores e os pesquisadores mais criativos. A maior parte dos estudantes, livros-texto, métodos de ensino e professores são seqüenciais, fazendo com que os aprendizes globais sejam, em geral infelizes na escola (CRUZ; CARNEIRO; VIANA, 2000, p.7).

Neste caso pode-se aceitar a opinião de Gomes (2001), que infere “aqueles que se candidatam a uma das profissões do Desenho, só pelo fato de seguirem o chamamento de uma vocação não tradicional, podem ser vistos como detentores de um forte potencial criativo” (2001, p.40).

Sobretudo, pelas características do curso de Desenho Industrial, que valoriza e promove a criatividade, os educandos são estimulados a pensar de forma global, mas, neste caso, os professores devem estar cientes de que o estilo de aprendizagem é uma parte das habilidades do indivíduo, e, portanto, difícil será modificá-la. Assim, a atitude mais correta do educador, ao reconhecer o estudante de design com potencial voltado ao estilo seqüencial, é direcioná-lo para o campo das pesquisas, contribuindo para ampliar esta área de atuação profissional tão desabitada, como já se observou acima, nos estudos de Guillermo (2002).

E, porque o Design Sustentável exige profissionais com competência para lidar com a prática, mas possui também uma extrema necessidade de compreender a teoria, deve-se

reconhecer a importância de preparar uma didática para interagir equilibradamente com os diversos estilos de aprendizagem.

Quer dizer, ao se pensar na organização uma ferramenta educacional, será importante estar atento à proporção harmoniosa dos diferentes estilos:

Visual x verbal Sensorial x intuitivo Indutivo x dedutivo Ativo x reflexivo Global x seqüencial

É neste sentido que se deve ampliar as possibilidades de linguagens, isto é, buscar caminhos para estimular a capacidade do aprendiz para um conhecimento mais completo, de aptidões complementares, relatadas por M. C. Moraes como análise-síntese, concreto- abstrato, intuição-cálculo, compreensão-explicação (1997, p.103).

Se existem diferentes personalidades, é fácil compreender a existência de diferentes formas de aprender, lembrar, compreender algo e resolver determinado problema. Entende-se assim, a necessidade de ampliar as linguagens da educação, para desenvolver os vários potenciais intelectuais. E, como diz M.C. Moraes (1997), é a diversidade de capacidades humanas que, atuando de forma equilibrada, poderá fornecer soluções criativas capazes de colaborar para que se possa criar um futuro diferente, melhor do que o presente.