• Nenhum resultado encontrado

1 DESIGN – ESTADO DA ARTE

1.3 Desenvolvimento sustentável para o Brasil

1.3.1 Dificuldades políticas para um Brasil sustentável

A Rio +10 foi concluída com a sensação de que o chamado desenvolvimento sustentável seria uma tarefa grande e cara demais, pelo menos para o estágio atual do progresso humano. Os países industrializados não se propuseram bancar os projetos de longo alcance e os países pobres, nem que o quisessem, teriam como fazê-lo.

Neste contexto a Cúpula de Johannesburgo teve poucos compromissos concretizados. Das suas cinco prioridades (água e saneamento, energia, saúde, agricultura e biodiversidade), os alvos e as datas foram garantidos em dois: saneamento (meta de reduzir pela metade o número de pessoas sem acesso a ele até 2015) e biodiversidade (com metas para reduzir extinções e recuperar estoques de peixe).

Para a delegação brasileira, foi especialmente frustrante a rejeição da sua proposta de estabelecer a meta de 10% de energia renovável nas matrizes energéticas de todos os países do mundo até 2010. Paralelamente, a União Européia propôs 15% até 2010, mas com os países industrializados aumentando somente 2% nesse período. A média atual de uso de energia renovável nesses países é de 5,6% (PEREIRA JR., 2002).

Apesar de todo o esforço brasileiro nas reuniões da conferência, PereiraJr. esclarece que essa rejeição era previsível, pois tinha a oposição dos países produtores de petróleo (com exceção da Venezuela), preocupados em não perder mercado para outras fontes de energia, como a de biomassa, geotermal, eólica, solar e de marés. Essa oposição vigorava até mesmo dentro do G-777, grupo dos países em desenvolvimento do qual o Brasil é membro (PEREIRA JR., 2002, p.3).

7 G-77 é um grupo de países em desenvolvimento (hoje com 132 membros) que se estabeleceu no âmbito da

Segundo Pereira Jr. (2002), como as resoluções na cúpula foram tomadas por consenso, a posição contrária ao estabelecimento de metas funcionou como um veto à proposta brasileira. E segue

Contra a iniciativa do Brasil, além dos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), declararam-se Japão, Austrália, Índia, China e Estados Unidos (EUA), produtor e maior consumidor de combustíveis fósseis. Estavam explicitamente a favor os 33 países da América Latina e Caribe, os do Leste Europeu, os 15 da União Européia e mais Suíça e Noruega, sem contar países da África e os 40 insulares. Se a proposta fosse posta em votação, teria sido aprovada.” (PEREIRA JR., 2002, p.3).

Por fim, a proposta brasileira, transformou-se em um texto dedicado a incentivar os países a aumentar substancialmente a fatia da energia renovável na matriz energética do mundo. Conforme avalia Pereira Jr, a iniciativa brasileira tem o mérito de trazer o assunto a debate. Ficou decidido que a ONU acompanharia periodicamente o progresso na aplicação das energias renováveis, contribuindo para tornar o tema permanente.

A proposta brasileira mostrou que o País estabeleceu um compromisso com as gerações futuras ao abordar o tema energia renovável. É o que comprova também a atuação do Brasil no tema biodiversidade, em que o País tem a maior reserva mundial. Diante dessas posições, o secretário-geral das Nações Unidas, Koffi Annan, afirmou que os temas biodiversidade e energia renovável não teriam avançado na Cúpula Mundial sem a liderança brasileira (ANGELO, 2002, p. A16).

Como resultados concretos para o País, durante a Rio+10, Brasil e Alemanha assinaram acordo para concessão de subsídios por aquele país à produção de carros a álcool no Brasil. Pelo acordo, a Alemanha irá subsidiar a fabricação de carros a álcool no Brasil, adquirindo, com isto, créditos dentro das metas de redução da emissão de carbono.

os países desenvolvidos para que beneficiassem os primos mais pobres por meio do estabelecimento de relações comerciais “preferenciais e diferenciadas”.

Ainda durante a cúpula de Johannesburgo, o governo brasileiro, o Fundo Global Ambiental (GEF), o Banco Mundial e a organização não-governamental Fundo Mundial para a Natureza (WWF) assinaram um projeto inédito, que deve triplicar a área conservada da floresta amazônica brasileira. A área preservada será de 500 milhões de hectares8 que incluirão 23 ecossistemas com vários tipos de recursos naturais.

Além disso, o Brasil, ainda antes da reunião de Johannesburgo, lançou a sua própria Agenda 21 - com diretrizes da sociedade brasileira para a inclusão da sustentabilidade no processo de desenvolvimento do país. Cabe mencionar, que, um fator diferencial da Agenda Brasileira em relação às demais experiências no mundo é a opção pela inclusão das Agendas Locais. Num país de dimensões continentais e de múltiplas diferenças, a criação das Agendas Locais foi visto como condição indispensável para o êxito do programa.

No plano econômico do desenvolvimento sustentável, Hazel Henderson9 (2003) tem uma visão mais otimista sobre o que o Brasil pode esperar neste novo século. A autora destaca que o Brasil será reconhecido como um dos países mais ricos do mundo quando se puder implementar um novo Sistema de Contas Nacionais10. A pesquisadora salienta que, com todos “[...]os ativos ecológicos sem preço – mananciais das florestas e bacias hidrográficas, recursos da biodiversidade para uso farmacêutico, ativos energéticos das marés e dos ventos e suas enormes taxas de insolação –, ficará evidente que o Brasil é um dos gigantes da energia mundial [...]” (HENDERSON, 2003, p.46).

Nesta perspectiva, todos os países em desenvolvimento estarão em posição de negociação muito mais forte, frente-a-frente com os países industriais da OECD (HENDERSON, 2003, p.47).

8 O equivalente a duas vezes o tamanho da Grã-Bretanha.

9 Hazel Henderson é consultora de Desenvolvimento Sustentável, e, entre outras atividades de grande porte nesta

área, ela participa do conselho do Worldwatch Institute e ajudou a criar os “Indicadores da Qualidade de Vida Calvert-Henderson”. Foi assessora da National Science Foundation e do US Office os Technology Assessment de 1974 até 1980. Para maiores detalhes, consultar no site

< http://www.hazelhenderson.com>

10 Sistema Nacional de Contabilidade Ambiental e Econômica Integrada , conforme a Agenda 21 em seu capítulo

Encontra-se aí, uma profunda reflexão sobre o imperativo de compatibilizar desenvolvimento com preservação ambiental, mostrando-se inadiável para o Brasil. A transferência de tecnologias novas e menos poluentes poderá constituir-se numa das chaves para garantir o desenvolvimento ecologicamente sustentável neste país, mas também em outros países em desenvolvimento. Como Batista (1994) orienta, nesse terreno, mais do que em qualquer outro, é que se torna indispensável promover ativamente a importação das novas tecnologias, em favor do desenvolvimento sustentável.

Segundo Batista (1994, p.131-132), uma política de desenvolvimento econômico socialmente justo e economicamente sustentável deveria basear-se em:

a. Profunda reorientação dos investimentos públicos na infraestrutura de transportes e de energia do país, privilegiando as formas de energia menos poluentes e mais eficazes em bases termodinâmicas e os meios de transporte de massa e, entre estes, os mais eficientes em termos de dispêndio de energia e de ocupação de ruas e estradas;

b. política tributária e de tarifas de energia que incentivem o consumo mais racional de energia tanto na área industrial quanto na agrícola, e bem assim o uso mais eficaz da infraestrutura de transportes; c. prioridades na política de estímulo à pesquisa tecnológica, aos trabalhos no campo do desenvolvimento

de materiais e de processos produtivos poupadores de energia e de matérias-primas;

d. recuperação da qualidade do ar e das águas comprometidas por modelo de desenvolvimento ecologicamente inadequado.

Todavia, tanto pela precariedade do debate público sobre a questão ambiental, quanto pela força dos interesses que predominam na apropriação da natureza, o Brasil mostra-se não dispor de mecanismos eficazes para tratar dos assuntos ligados ao desenvolvimento sustentável.

Não é um tema, entretanto, que se possa deixar apenas à responsabilidade ou ao arbítrio do Estado. Ou seja, o planejamento e regulação que o desenvolvimento ecologicamente sustentável requer, precisa ser feito com plena participação da sociedade de forma mais democrática e descentralizada possível.