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1 REVISÃO DA LITERATURA

1.3 Pressupostos sobre fonologia: a sílaba

1.3.3 A sílaba em inglês

[-soante], exceto /S/

BISOL (1999:720)

Essa condição negativa proíbe a ocorrência de obstruintes (exceto /S/) e permite a ocorrência de glides (pai), líquidas (par) e nasais (sem) na coda. Essa condição, no entanto,

não dá conta de casos como graus, que apresentam duas posições na coda.

BISOL (1999) postula, pois, a existência de apenas uma posição C na coda do template canônico (CCVC). Segundo a autora, a presença do segundo C em sílabas como VCC (austríaco)10, CCVCC (graus) etc. corresponde sempre a um /S/ que é adjungido por

meio de uma regra adicional, denominada Regra de Adjunção de /S/ (RAS), que determina: “Acrescente /S/ à rima bem formada.” (BISOL, 1999:704). A RAS e a Condição da Coda juntas, portanto, dão conta das possibilidades restritas de segmentos admitidos na coda de sílabas do PB. Segmentos que não respeitam essas condições podem ser ‘salvos’ através de reparos silábicos, como é o caso atestado em vocábulos com epêntese vocálica (cf. 1.3.4).

1.3.3 A sílaba em inglês

A sílaba da língua inglesa apresenta estrutura razoavelmente diferente daquela que atestamos para a língua portuguesa. Uma das principais diferenças que entre as sílabas dessas duas línguas, como veremos nos próximos parágrafos, está no fato de que determinados clusters consonantais são admitidos no onset ou na coda da sílaba em inglês, mas não são admitidos nessas posições na sílaba em português. Devido a esse tipo de diferença, os falantes nativos de PB podem fazer uso da epêntese na interlíngua para desfazer esses clusters consonantais que ocorrem em determinadas posições na sílaba da LE, mas que não ocorrem nessas mesmas posições na sílaba da L1.

Uma sílaba em inglês pode admitir até seis segmentos. Apresentamos em [14], com base na adaptação do levantamento feito por PEREYRON (2008:31), os padrões silábicos que existem na língua inglesa.

[14] V ‘a’ [ ] CV ‘to’ [tu] CCV ‘tree’ [tri:] VC ‘at’ [ t] CVC ‘cat’ [k t] CCVC ‘black’ [bl k] CCCVC ‘stress’ [stres] VCC ‘apt’ [ pt] CVCC ‘cast’ [k st] CCVCC ‘plant’ [pl nt] CCCVCC ‘springs’ [spr z] VCCC ‘angst’ [ st] CVCCC ‘text’ [tekst] CCVCCC ‘sphinx’ [sf ks] CCCVCCC ‘strenghts’ [stre s] VCCCC ‘angsts’ [a sts] CVCCCC ‘texts’ [teksts] Adaptado de PEREYRON (2008:31)

O trabalho de SELKIRK (1982) apresenta a sílaba em inglês sob a forma de uma estrutura arbórea que contempla os padrões silábicos apresentados em [14], bem como apresenta as restrições (filtros) que existem sobre os tipos de segmento que são admitidos em cada posição da sílaba. Essa estrutura arbórea, que já foi apresentada em [4], é aqui retomada.

[4] σ Legenda: A: ataque sil: silábico

(A) R R: rima son: sonorante

-sil (+son) Nu (Co) Nu: núcleo cons: consonantal +sil (+son) +cons (-son) Co: coda ( ): opcional

Adaptado de SELKIRK (1982:344)

De acordo com o estudo de SELKIRK (1982), o ataque da sílaba em inglês, quando for simples (i.é, não ramificado), pode ser preenchido por qualquer consoante atestada nesse idioma, exceto [ ] e [ ]. Quando o onset apresentar dois segmentos, o primeiro é sempre [-silábico], podendo ser tanto uma consoante oclusiva ([kl p] clip) quanto uma fricativa

desvozeada ([ ri:] three).

O segundo segmento de um onset com dois elementos deve ser um segmento sonorante (não obstruinte). Há, no entanto, algumas restrições sobre a ocorrência desses

segmentos sonorantes na segunda posição de onset. Uma delas é a de que o segmento sonorante [j] não é permitido nessa posição. Outra restrição é a de que [w] não ocorre após consoantes labiais, tampouco após o cluster [st]. No que concerne às líquidas, o segmento [r] nunca ocorre após [s] ou [h], enquanto [l] nunca ocorre depois de [t], [d], [ ], [h] de [sk]. Há, ainda, a restrição de que os segmentos nasais [m] e [n] devam ser sempre antecedidos por [s], como atestam os exemplos smart e snack.

SELKIRK (1982) dá atenção especial para os ataques silábicos formados por três consoantes (como [str] em street), que apresentam sempre [s] na primeira posição. Note-se

inicialmente que, na representação arbórea proposta pela autora (cf. [4]), a presença de três segmentos no ataque nem chega a ser ilustrada.

A autora (op. cit.) propõe a existência de um template auxiliar que dê conta dos casos em que [s] antecede duas consoantes em ataque de sílaba. A representação desse template auxiliar está expressa em [15].

[15] -son +cons +syll s +cons -syll -son SELKIRK (1982:347)

SELKIRK (1982) propõe a existência desse template auxiliar sob o argumento de que, nos clusters /sC/ (que podem ocorrer tanto no ataque quanto na coda de sílaba, como mostram os exemplos stress e angsts em [14]), a sibilante [s] forma com a consoante obstruinte

seguinte uma obstruinte única. A partir disso, a autora conclui que essa sibilante não deva corresponder a um terceiro elemento em posição de ataque silábico (o que justifica a representação de ataque com apenas dois elementos em [4]).

O núcleo da sílaba em inglês, segundo SELKIRK (1982), é formado por até dois elementos. Quando é preenchido por só um elemento, este pode ser uma vogal (pass) ou uma

elementos, podem ocorrer nele ditongos (como [e ] em say) ou vogais longas (como [i:] em

beat). Existem ainda casos restritos em que [r], [l] e /N/ podem figurar na segunda posição do

núcleo silábico.

Na posição de coda da sílaba em inglês, existem, segundo SELKIRK (1982), até duas posições que podem ser preenchidas. A consoante [s] que aparece em encontros /sC/ na coda deve ser contada juntamente com a C seguinte para efeitos de contagem de posição das posições (i.é, /sC/ ocupa apenas uma posição das duas posições disponíveis na coda em inglês).11

Quando a coda em inglês é preenchida por uma consoante apenas, tal consoante pode ser uma líquida (car), uma nasal (sin) ou uma obstruinte (cat). Quando ela é preenchida por

duas consoantes, as restrições sobre os tipos de consoante admitidos na primeira e na segunda posição são maiores.

Na primeira posição de uma coda com dois elementos, não são atestadas as consoantes [b], [ ], [v], [ ] e [ ], tampouco as africadas [t ] e [d ]. Na segunda posição, a consoante atestada é sempre uma obstruinte (como [t] best ou [ ] oath).

Como podemos perceber através da descrição das observações feitas por SELKIRK (1982) a respeito da sílaba em inglês, nesse idioma, admite-se a ocorrência de consoantes obstruintes na posição de coda. São exemplos disso as consoantes [ ] e [t] que ocorrem em mag.net. Essa parece ser uma realidade diferente da constatada para o português (cf. 1.3.2), já

que, nesse idioma, as obstruintes (à exceção das sibilantes) não são admitidas na coda silábica. Como veremos na próxima seção, palavras que apresentam obstruintes em posição de coda tendem a ser ressilabadas pelos falantes nativos de PB através de epêntese. A epêntese, nesse sentido, atua como uma estratégia de reparo a uma sílaba malformada.