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CAPÍTULO 3 – A POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA, NA

3.4 A reconstrução por meio das fontes movimento da ideia de Universidade Aberta:

3.4.2 A Secretaria de Educação a Distância – SEED/MEC

Um pouco mais de um mês após a criação da Coordenação de educação a distância, o novo presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso, por meio da Medida Provisória no. 886, de 30 de janeiro de 1995,110 modificou a estrutura administrativa da

Presidência da República e dos Ministérios. A educação a distância passa a fazer parte da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, na chamada Subsecretaria de Programas de Educação a Distância111.

Um ano e três meses após, o Presidente modifica novamente o lugar da educação a distância na arquitetura administrativa do Estado brasileiro e cria, por meio do Decreto

110 Diário Oficial da União, Brasília, DF, 31 jan. 1995. Seção I, p. 1.301.

111 O primeiro Subsecretário de Programas de Educação Distância da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República é o sociólogo Pedro Paulo Poppovic, om larga experiência no mercado editorial privado. Portaria de nomeação disponível em no Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 jan. 1995. Seção 2, p. 461.

no 1.917, de 27 de maio de 1996, a Secretaria de Educação a Distância, diretamente

subordinada ao Ministro da Educação. Neste marco, a educação a distância deixa de ser subsecretaria e passa a gozar de igual status jurídico das demais Secretarias ligadas à educação, como por exemplo, a Secretaria de Educação Superior. Três meses mais tarde, o Regimento Interno da SEED é aprovado pelo Ministro Paulo Renato. O Art. 1º, nos termos abaixo, formula as oito finalidades da Secretaria:

I. Planejar, orientar, coordenar e supervisionar o processo de formulação e implantação da política de educação a distância;

II. articular-se com os demais membros órgãos do Ministério, as Secretarias de Educação dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal, as redes de telecomunicações públicas e privadas, e com as associações de classe, para o aperfeiçoamento do processo de educação a distância;

III. planejar, coordenar e supervisionar a execução de programas de capacitação, orientação e apoio a professores na área de educação a distância.

IV. apoiar a adoção de tecnologias educacionais e pedagógicas que auxiliem a aprendizagem no sistema de educação a distância;

V. promover estudos para identificação das necessidades educacionais, visando o desenvolvimento da produção e disseminação de programas de educação a distância;

VI. planejar, implementar e avaliar programas de educação nos Estados, Municípios e no Distrito Federal, em articulação com as Secretarias de Educação Distância das Unidades da Federação e com a rede de telecomunicações;

VII. promover cooperação técnica e financeira entre União, Estados, Municípios, organismos nacionais, estrangeiros e internacionais para o desenvolvimento de programas a distância;

VIII. otimizar a infraestrutura tecnológica dos meios de comunicação, visando a melhoria do ensino (DOU, 30 ago. 1996, p. 16.947).

A Seed foi criada, portanto, no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso e teve como primeiro secretário Silvio Poppovic. A subsecretaria de programas especiais de educação a distância foi extinta. Criou-se o lócus específico e com dotação orçamentária própria para planejar, implementar, promover, coordenar, apoiar, articular e avaliar programas de educação a distância.

O primeiro Plano Plurianual (PPA) da gestão de FHC, para o triênio de 1996/1999, chamado de “Brasil em Ação” condensa as diretrizes, os objetivos e as metas da administração pública federal. Segundo o documento, três preocupações orientaram as ações governamentais: “[...] a Construção de um Estado Moderno e Eficiente; a Redução dos Desequilíbrios Espaciais e Sociais do País e a Modernização Produtiva da Economia Brasileira” (Brasil, 1996, p. 8).

As diretrizes para a educação estão inseridas na última ação mencionada, que é a modernização produtiva da economia brasileira, cuja ênfase está na educação básica, na modernização e ampliação da infraestrutura e no aumento da participação do setor privado para o desenvolvimento do país.

No PPA, a educação a distância aparece como um dos 42 projetos prioritários, com verba prevista de R$ 76,2 milhões de reais. Os projetos vinculados à educação a distância são: “a implantação de laboratórios de informática nas escolas públicas de 1º e 2º graus e garantia da socialização do saber, através da tele-educação” (BRASIL, 1996, p. 28).

Identifica-se que a instituição da Secretaria da Educação a Distância, bem como os programas alavancados inicialmente por ela, tinha, como diretrizes centrais, a capacitação em serviço do professor da educação básica e a informatização das escolas de primeiro e de segundo graus, com vistas a cumprir os compromissos assumidos no Plano Decenal. A educação superior, nesse momento, não é a tônica das finalidades da SEED/MEC.

No discurso de apresentação do Plano Plurianual para o triênio de 1996/1999, o Presidente Fernando Henrique, ao referir-se às metas para a área de educação, enfatizou que existia na proposta do governo uma série de programas, como a TV Escola, que funcionariam 24 horas por dia. Em suas palavras: “45 mil escolas estão recebendo, este ano, aparelhos de televisão e antenas de televisão para treinar professores. [...] Enfim há um conjunto de programas na educação com o mesmo propósito” (BRASIL, 1995, p. 284).

O carro-chefe da Secretaria de Educação a distância foi a TV Escola e posteriormente o Programa Nacional de Tecnologia Educacional (Proinfo), lançado oficialmente no dia 10 de abril de 1997. Segundo Preti (2005), a Secretaria não assumiu uma política para a EaD e atuou, sim, na implantação e apoio de projetos específicos para atender demandas tópicas, como por exemplo, o Programa de Formação de Professores em Exercício (PROFORMAÇÃO), o Um Salto para o Futuro e o Telecurso 2000. Todavia, constatamos que o fato da SEED/MEC estimular programas específicos na área da EaD e fomentar os mecanismos regulatórios da modalidade evidenciam uma posição política que reflete o projeto de desenvolvimento elaborado por FHC. Ao elevar a Subsecretaria de educação a distância à condição de Secretaria, com raios de ações específicos, o Estado injetou recursos na EaD e promoveu sua difusão, ainda que em programas tópicos e emergenciais.

Em 25 Março de 1997112, é criada uma Comissão Especial junto à Secretaria de

Educação a Distância para atender quatro necessidades: a primeira trata-se da regulamentação da educação a distância no país; a segunda refere-se à valorização da educação a distância, na implantação de uma nova cultura educacional; a terceira diz respeito à avaliação da educação a distância desenvolvida no país e a quarta (e última) refere-se à implantação de uma política nacional de educação a distância que atenda às exigências do desenvolvimento e aos anseios da sociedade (DOU, 26 mar. 1997).

Em decorrência dos trabalhos da comissão especial, foram criados os seguintes Atos normativos:

Quadro 19: Atos Normativos sobre a educação a distância.

Atos Normativos Sobre o que dispõe Alterações

Decreto nº 2.494, 10 de

fevereiro de 1998 Regulamenta, artigos, o artigo 80 da LDB. em 13 Portaria nº 301, de 7 de abril

de 1998 Regula o credenciamento e a oferta de cursos de graduação a distância Decreto nº 2.561, de 27 de

abril de 1998 Altera a redação dos Arts. 11 e 12 do Decreto nº 2.494, de 10 de dezembro de 1998

Este Decreto retifica os artigos 11 e 12 do Decreto anterior. O artigo 11 passa a especificar que cabe ao Ministério da Educação e Cultura o credenciamento das instituições vinculadas ao sistema federal, das instituições de educação profissional em nível tecnológico e de ensino superior dos demais sistemas. O art. 12 especifica que os demais sistemas de ensino promoverão o credenciamento das instituições que ofertam educação de jovens e adultos,

112 A Comissão especial foi criada pela Portaria, no. 467, de 25 de março de 1997, publicada no Diário

Oficial da União, Brasília, DF, 26 mar. 1997. Seção 2, p. 2001-2002. A Comissão Especial foi integrada

pelos seguintes participantes: 1) Pedro Paulo Poppovic; 2) Mindê Badauy de Menezes; 3) Carmen Moreira de Castro Neves; 4) Maria Ester de Carvalho – como representantes da Secretaria de Educação a Distância; 5) Eda Coutinho Barbosa Machado, especialista em educação a distância; 6) Luiz Roberto Liza Curi, representante da Secretaria de Educação Superior (SESU/MEC); 7) Sueli Teixeira Melo, representante da Secretaria de Educação Fundamental (SEF/MEC); 8) Ruy Berger, representante da Secretaria de Educação Média e Tecnológica (SEMTEC/MEC); 9) Solange Maria de Fátima Gomes Paiva Castro, representante do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP/MEC); 10) Marcos Formiga, representante da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED); 11) João Cláudio Todorov, representante do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB); 12) Roberto da Costa Salvador, representante da Associação Brasileira de Tecnologia Educacional (ABT) e 13) Paulo F. Ribeiro, representante da Fundação Roquette-Pinto, sob a presidência do primeiro.

ensino médio e educação profissional de nível técnico. Padrões de qualidade para a

educação a distância Apontam os requisitos considerados necessários para o credenciamento das instituições na oferta de EaD

Organização: Da autora.

Observa-se que foram criados os instrumentos infralegais dedicados ao credenciamento das instituições, de diferentes níveis e modalidades de ensino, junto ao MEC, para a oferta da educação a distância. Em outras palavras, a Comissão Especial designada para atender quatro necessidades específicas atendeu a que dizia respeito à regulamentação do artigo 80, da Lei nº 9.394/96. Instaurou-se o painel normativo geral dos requisitos e orientações que permitiram a introdução legalizada da educação a distância em nível superior.

Neste mesmo período, a Secretaria de Educação a Distância criou os Padrões de Qualidade para a educação superior a distância e estes passaram a exercer um papel indutor no processo de credenciamento e autorização de instituições para a oferta da EaD no país.

Deste modo, o Ministério da Educação e do Desporto, em setembro do mesmo ano113, constitui nova Comissão, por meio da Portaria nº 467 de 1997, com a intenção de

oferecer à SEED/MEC subsídios para a formulação de uma política nacional para a educação a distância. De acordo com a justificativa oficial, a Comissão anterior concentrou, os seus esforços na regulamentação do artigo 80, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Neste momento, segundo ainda o documento oficial, importava estabelecer uma política nacional de EaD inclusive para integrar o Plano Nacional de Educação.

113 A portaria de 10 de setembro de 1997 foi publicada no Diário Oficial da União, Brasília, DF, no dia 12 set. 1997. Seção II, p. 6.967. A Comissão foi integrada pelos seguintes integrantes: 1. Pedro Paulo Poppovic; 2. Mindé Badauy de Menezes; 3. Carmem Moreira de Castro Neves (representantes da Secretaria de Educação a Distância); 4. Eda Coutinho Barbosa Machado de Sousa, especialista em educação a distância; 5. Luiz Roberto Liza Curi, representante da Secretaria de Educação Superior; 6. Sueli Teixeira de Melo, representante da Secretaria de Educação Fundamental; 7. Jucelia Friaça Teixeira, representante da Secretaria de Educação Média e Tecnológica; 8. Maria Eleusa Montenegro, representante do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais; 9. Manuel Marcos Formiga, representante da Associação Brasileira de Educação a Distância; 10. João Cláudio Todorov, representante do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras; 11. Roberto da Costa Salvador, representante da Associação Brasileira de Tecnologia Educacional e 12. Márcia Costa Rodrigues Leite, representante da Fundação Roquette Pinto, sob a presidência do primeiro. Observa-se que houve apenas quatro modificações em relação aos integrantes que compuseram a Comissão Especial nº 467, de 25 de março de 1997. Sai uma representante da SEED/MEC: Maria Ester de Carvalho, a representante da Secretaria de Educação Média e Tecnológica passa a ser Jucelia Friaça Teixeira, a representante do INEP passa a ser Maria Eleusa Montenegro e, por fim, a representante da Fundação Roquette Pinto passa a ser Márcia Costa Rodrigues Leite.

Na última mensagem encaminhada ao Congresso Nacional, Fernando Henrique Cardoso reiterou, no item dedicado à educação, a importância da TV Escola do Proinfo. Em relação à TV Escola, declarou que o programa, cujo foco é a formação, o aperfeiçoamento e a valorização do magistério, tem como objetivo “[...] disseminar de forma rápida, ampla e democrática” programas que desenvolvam o compartilhamento de informações, por meio de um canal exclusivo dedicado à educação. Ao passo que o Proinfo estimula a inserção de novas linguagens nas escolas e aumenta o potencial de interatividade da TV Escola (CARDOSO, 1998, p.3).

Fernando Henrique Cardoso inicia e termina, portanto, o seu primeiro mandato colocando em relevo dois programas executados, por meio da Secretaria de Educação a Distância. Há menção explícita à urgência da formação dos professores e à rapidez com que a tecnologia fomenta esta mesma formação. Além disso, explicita-se a necessidade de prover as escolas com infraestrutura tecnológica para melhor ampliar a inserção de novas linguagens midiáticas no cotidiano escolar.