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CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS TEÓRICOS METODOLÓGICOS PARA A

1.2 O Estado como arena de lutas na configuração do Sistema Universidade Aberta

1.3.2 Visões sobre o problema na ditadura militar

Na década de 1970, a Revista Tecnologia Educacional29 lançou uma edição

especial, a de número 30, de 1979, dedicada a UAB. Tal edição foi alavancada pelas discussões desencadeadas pela experiência da Universidade de Brasília (UnB) que, a

29 A Revista Brasileira de Tecnologia Educacional era chamada de Revista Brasileira de Teleducação até o ano de 1974. Esta é vinculada a Associação Brasileira de Tecnologia Educacional (ABT), criada em 1971. De acordo com Alves (2007), muitas políticas públicas foram debatidas e definidas com a contribuição da ABT.

partir de um convênio firmado com a OU, adquiriu o direito de traduzir para o português os materiais didáticos produzidos por aquela instituição.

Convém assinalar que a presente pesquisa investigou três periódicos, a saber:

Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Educação & Sociedade e Revista Tecnologia Educacional. Está última é a única que apresenta artigos sobre a Universidade Aberta.

Tal tendência se verifica para os anos de 1980, conforme expresso a seguir. Este quadro, porém, é compreensível, pois, como aponta Saviani (2008), deu-se em fins da década de 1970 e início da década de 1980 uma significativa ampliação da produção acadêmico- científica revigorada com a criação da Associação Nacional de Educação (ANDE) (1979), da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa (ANPED) (1977) e do Centro de Estudos Educação e Sociedade (CEDES) (1978).

A seguir, tem-se a apresentação dos artigos encontrados sobre a Universidade Aberta no Brasil. Dos 08 (oito) textos encontrados, especialmente 05 (cinco) foram considerados importantes para o objeto em estudo. Os trabalhos de Macedo (1974), Anderson (1979) e Li e Brostow (1979) foram descartados porque tratavam mais das experiências externas.

Quadro 1: A Universidade Aberta na Revista Brasileira de Tecnologia Educacional (1970-1979).

Autor Título Referência

Luiz Antônio Souza Lima de

Macedo30 “Universidade Aberta” v. 3. n. 4, 1974

Nelly de Camargo31 “Universidade Aberta: uma nova alternativa de ensino” pp.

61-76 v. 3, n. 6-7, 1974

Marco Antônio Rodrigues Dias32

“Há lugar para formas de Universidade Aberta no Brasil”? pp. 14-21 v. 5, n. 14, 1976, pp. 35-41 Miguel A. Escotet33 “Fatores Adversos ao desenvolvimento de uma Universidade Aberta na América Latina” v. 7, n. 25, Nov./dez. 1978, pp. 23-30

João Batista Araújo Oliveira34 “Universidade Aberta: uma solução a procura de um

problema”

v. 8, n. 30, set./out. 1979, pp. 5- 7

30 Participou de cursos na Open University em novembro de 1973. O texto faz parte de um relatório de viagem com considerações sobre a Universidade Aberta inglesa.

31 Professora do Departamento de Comunicações e Arte da Universidade de São Paulo (USP). 32 Decano de Extensão da Universidade de Brasília (UnB) (1972-1976).

33 Professor universitário na Venezuela e Estados Unidos. PhD em Psicologia.

34 Técnico da FINEP e professor da COPPEAD/UFRJ. A matéria foi publicada no Estado de São Paulo, em 28-4-79 e republicada num livro por ele organizado, com a colaboração de Cláudio de Moura e Castro e Roger Boyd Walker, intitulado: Universidade Aberta: uma alternativa de ensino superior. Brasília: Associação dos bibliotecários do Distrito Federal, 1985.

Luiz Victor d`Arinos Silva35 “Sociedade aberta educação de adultos a distância: em busca

do tempo perdido”

v. 8, n. 30, set./out. 1979, pp. 8- 17

Paul S. Anderson36 “Estudos externos na Austrália

e sua aplicabilidade no Brasil v. 8, n. 30, set./out. 1979, pp. 18-23 Shu-Tien Li e Witold Brostow “A universidade mundial aberta: ensino para graduados e

não residentes”

v. 8, n. 30, set./out. 1979, pp. 39-45

Organização: Da autora.

A abordagem sobre a Universidade Aberta no Brasil estava circunscrita a 02 (dois) aspectos, a saber: às formas organizacionais e aos benefícios da incorporação das tecnologias de comunicação na esfera educacional. No espaço por onde o conhecimento circulava, havia um pensamento unânime de que a Universidade Aberta, atrelada à incorporação das tecnologias de comunicação, traria benefícios à esfera educativa (CAMARGO, 1974; DIAS, 1976; ESCOTET, 1978; OLIVEIRA, 1979).

A divergência entre os autores se concentrava na forma como se daria tal experiência no Brasil. As análises, em seu conjunto, se prendiam à exposição das experiências internacionais para destacar possibilidades e limites na aplicação da Universidade Aberta brasileira.

Neste sentido, Dias (1976) externa sua crítica ao transplante do modelo da OU para a realidade local. O mesmo é observado em Escotet (1978), sendo que este generalizava a sua preocupação também para o restante da América Latina. Para aqueles autores, antes da adoção de qualquer modelo de Universidade Aberta, é preciso realizar estudos empíricos para a formação de um planejamento fundamentado, com a inclusão dos possíveis públicos da futura Universidade Aberta.

Para Dias (1976), uma Universidade Aberta deveria nascer para atacar objetivos precisos, como, por exemplo, a formação de professores de primeiro e segundo graus. O ponto de partida seria o atendimento a uma necessidade social e local comprovada. Neste sentido, aquele autor acreditava que um projeto piloto de Universidade Aberta poderia ser válido, pois traria elementos para se avaliar a experiência e, caso fosse bem sucedida, expandi-la para outras regiões brasileiras. Dias defende ainda que a Universidade Aberta deveria ser pública, a fim de evitar a multiplicação de estudos desta natureza em instituições privadas.

35 Participou do primeiro grupo de trabalho implementado pelo Estado para estudar a Universidade Aberta do Brasil em 1973, como representante da Fundação Centro Brasileiro da TV Educativa.

36 Professor do Departamento de História e Geografia da Universidade de Brasília. Americano radicado no Brasil desde 1977.

As questões observadas por Dias (1976) condensam, de certa forma, o caminho trilhado pelo Estado em torno da discussão sobre a Universidade Aberta no Brasil. O que aquele autor, em realidade, estava combatendo era a proposta da UnB, conforme a afirmação que se segue:

[...] no caso específico de uma Universidade Aberta, o Ministério da Educação e Cultura agiu muito bem ao não aceitar as pressões para se criar um sistema à imagem do modelo inglês, que, além de não atender às nossas necessidades, traria consequências funestas para o ensino superior (DIAS, 1976, p. 41).

De acordo com Silva (1979, p. 17) – um dos integrantes da primeira Comissão para se estudar a Universidade Aberta no âmbito do Estado brasileiro, a iniciativa da UnB é pioneira, sobretudo, por tratar-se de uma instituição localizada no coração da República e que, com tal iniciativa, passa a seguinte mensagem para o país:

O Brasil está vivendo em economia de guerra. Por isso mesmo, todos os recursos em todos os setores da economia e da sociedade, deverão ser mobilizados, com economicidade, para a sustentação e o desenvolvimento do país. É mais do que tempo de valorizar-se quem faz sobre quem não faz, e de aproveitar-se o conhecimento e a experiência de quem já fez.

Oliveira (1979), ao estabelecer um diálogo com Dias (1976), acha vã a discussão de que a Universidade Aberta precisa nascer atrelada à resolução de uma necessidade social, porque no Brasil, esta nasceria, necessariamente, para solucionar os problemas na esfera da educação, fazendo-se uso do modo inglês ou não. As premissas da discussão, segundo aquele autor, estão fora do lugar porque a criação de uma eventual Universidade Aberta privilegia a institucionalização de uma única instituição, possivelmente centralizada no MEC e muito inspirada na famosa OU.

Para Oliveira (1979), a ideia de uma regulamentação por parte do MEC para assegurar a qualidade do ensino sem enfaixar as demais iniciativas é um caminho viável para se evitar a padronização e o formalismo. Em suas palavras: “a pluralidade, que seria essencial para ações diferenciadas e para a busca, em certos casos, de níveis de excelência, parece ser condição fundamental para um debate esclarecido” (DIAS, 1979, p. 6).

Neste caso, tem-se a necessidade de se esclarecer o significado de uma Universidade “Aberta”, tal como Escotet (1978) pontua a diferença entre educação aberta

e EaD. Todavia, para Oliveira (1979), a Universidade Aberta é um conceito e não uma instituição. Como defende a pluralidade de iniciativas, aquele autor crê que a centralização é, no Brasil, politicamente inviável e pedagogicamente desaconselhável. Seguindo esta linha de raciocínio, o conceito de abertura à população e de abertura geográfica devem ocupar o papel de destaque nas análises. “Se a opção inicial pela pluralidade de universidades abertas tiver sido tomada, os debates tornam-se mais técnicos, especializados e mesmo objetivos” (DIAS, 1976, p. 6).

Em Escotet (1976), não é possível notar a defesa da pluralidade de Universidades Abertas, mas uma ênfase na importância da adoção de sistemas de educação aberta e a distância no Ensino Superior, seja por meio de programas dentro de instituições tradicionais, seja por meio de projetos orientados unicamente para este tipo de metodologia. Escotet (1976) enfatiza mais os fundamentos da educação aberta e da EaD e a importância do aprofundamento das pesquisas locais na área, para adotar com qualidade uma prática que ‘pode ser revolucionária’.

Na tese de Escotet (1976), a América Latina fez uma tradução livre da “Open

University” sem entrar no mérito do que seria uma Universidade Aberta, ocasionando a

pressa e a rapidez nas ações daqueles países e pouca ênfase na pesquisa e no planejamento.

Oliveira (1979) classifica aquela tradução livre como um exercício fútil de transferência de tecnologias. Aquele autor concorda com a tese de Escotet (1976), todavia, a retoma para defender a importância da livre iniciativa nesta seara.

Em síntese, é possível inferir que os estudos deste período centravam suas análises na diferença conceitual entre Universidade Aberta e EaD, além de oferecerem possibilidades para a implantação da Universidade Aberta brasileira. Tais possibilidades variaram, sobretudo, no que tange ao monopólio público e à pluralidade de iniciativas neste campo. A apreciação que se contrapõe ao monopólio público, em certa medida, se contrapõe ao encaminhamento dado à questão pelo Estado totalitário.

Em meados da década seguinte, é possível observar que tal norte continuará presente nas análises, apesar dos poucos estudos publicados.