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4. PRODUÇÕES DISCENTES

4.3 A segunda produção do grupo controle

A segunda produção do grupo controle caracterizou-se pela manutenção do estatuto misto do tipo de discurso. Isso se deve à necessidade de expor, argumentar, comentar, propor reflexão em função do tema proposto – originário de fato ou acontecimento que provocou o início de uma conversa entre agente produtor e leitor ou destinatário presumido. Além da intenção comunicativa e necessidade de

apresentar informações dependentes de sua visão subjetiva, de sua implicação com o dito e de uma necessidade de aproximação com o interlocutor/leitor, o aluno ainda considerou as características do suporte em que é veiculado o texto.

O raciocínio construído teve, portanto, que se espelhar no projeto e no processo empreendido: dada a situação de produção e suas implicações, o aluno reflete em sua produção a conjunção dos tipos de discursos. O projeto discursivo dos alunos manteve-se fiel à situação de produção, não revelando alterações significativas no conjunto. Há, porém, alterações que se devem à releitura dos textos e observação de alguns aspectos ortográficos que foram desconsiderados no primeiro texto e se tornaram relevantes na retomada do texto, além de outras mudanças .

O grupo controle deixou de realizar algumas atividades, especificamente aquelas que se referem aos seguintes temas das aulas:

• Aula 7 - Parágrafo explicativo e argumentativo (produção realizada somente com a 8.ª M - grupo experimental).

• Aula 13- re-escrita - produção realizada no laboratório de informática apenas com o grupo experimental 8.ª M.

A não realização dessas atividades não chegou a comprometer o conjunto das produções. Talvez, elas pudessem ter servido à reorganização dos textos que foram descartados – textos que apresentaram tipos de discurso não previstos por Bronckart – como os poemas produzidos pelos alunos que apresentam o cotidiano, a linguagem, o diálogo com o leitor, nos quais predominam aspectos e recursos expressivos próprios do poema, da poesia, ou seja, ficaram fora do que foi proposto inicialmente.

Para ilustrar as produções discentes, foram selecionadas 6 amostras de textos de cada classe que, no conjunto, refletem o processo construído nas aulas. A seguir, apresentam-se os quadros das características desses textos que permitem visualizar as operações realizadas pelos alunos na segunda versão.

O quadro da segunda produção (re-escrita) que se encontra a seguir, ilustra os seguintes aspectos:

Grupo controle 8.ª L - segunda versão

Aluno Mundo Tipo de discurso

Nar

rar Ex por Implica Do Autôno mo Interativo Teórico Narrar Relato interativo Misto- Teórico interativo Outro F.P.R G.V. L. C.C.D.S. A.M.M. Quadro 6

No quadro 6, observa-se a presença dos elementos constitutivos da crônica construídos a partir dos pressupostos teóricos tratados no capítulo referente à caracterização do gênero e do capítulo referente ao conceito de dialogismo e interação.

O quadro permite, portanto, visualizar esquematicamente como se procedeu ao levantamento dos dados que estão relacionados às características da crônica descritas por esta pesquisadora e aquelas que foram acrescentadas por meio desta pesquisa.

Os textos produzidos pelos alunos apresentam, predominantemente – dadas as operações constitutivas dos mundos discursivos:

• relação com o mundo do expor implicado: conjunção do conteúdo temático e o mundo ordinário em que se desenvolve a ação de linguagem de mostrar, persuadir, criticar, explicar ou denunciar, realizadas tendo em vista o leitor da revista e a intenção do produtor do texto. Com exceção de uma das alunas que optou pelo relato interativo e produziu um texto que se diferenciou quanto à forma de organização do mundo discursivo e tipo de discurso. Essa mudança pode ter ocorrido devido ao contato da aluna com as últimas crônicas (aquelas que apresentaram presença da ironia, de pitadas de humor, criticidade em alto grau). O texto produzido pela aluna apresentou características semelhantes.

De modo geral, a situação e o contexto de produção a que os alunos foram expostos, foram determinantes para a produção dos textos. Por isso, a organização dos textos manteve alguns parâmetros que foram decisivos na produção da crônica. Sobressaíram-se alguns elementos e esses foram considerados em relação ao tipo de discurso, tipo de sequência e os elementos constitutivos da heterogeneidade textual como a língua, a linguagem e estilo, designados por Bronckart (1999) como

tipos de discurso. Há, portanto, por parte dos alunos uma decisão consciente sobre a organização de seu mundo discursivo.

Esse processo foi aliado ao quadro de acompanhamento, construído para que os alunos pudessem se orientar sobre quais aspectos seriam relevantes durante a produção da segunda versão. Um outro aspecto relevante para a produção dessa versão foi a leitura e apreciação dos textos pelos colegas de sala: cada aluno lia seu texto e os outros comentavam. A segunda versão foi realizada a partir das sugestões dadas pelos colegas e pelo próprio controle do aluno sobre seu texto. Não houve, porém, por parte da maioria dos alunos, alterações quanto aos mundos discursivos criados.

4.3.1 Análise das crônicas do grupo controle - 8ª. L

É preciso esclarecer inicialmente que o grupo controle é composto por alunos da 8ª. L, classe que apresenta algumas diferenças em relação à 8ª. M. Dentre as diferenças, as positivas e as negativas:

• os alunos são criativos;

• muitos apresentam problemas na expressão escrita: concordância, pontuação, acentuação;

• é uma sala bastante agitada, com problemas de disciplina;

• as aulas de língua portuguesa ocorrem sempre nos últimos horários, 5ª e 6ª aulas, 3 vezes por semana;

• há um número maior de meninos;

• alguns alunos têm certa facilidade para se apropriar de conceitos e atrapalham outros que não têm a mesma facilidade.

A organização dos módulos apresentou algumas diferenças com relação a outra sala, pois houve um menor. Assim nesta sala, não foi possível aplicar todas as atividades de modo completo, houve atividades em classe e, outras parcialmente em casa, devido a feriados e eventos da escola que não permitiram que as aulas transcorressem da mesma forma que na 8ª. M (grupo experimental).

4.3.2 Critérios para a re-escrita do texto

Antes da re-escrita, os textos foram lidos e comentados pelos alunos e pela professora. Houve consenso entre os comentários feitos pelos alunos e pela professora. É importante esclarecer que a orientação dada aos alunos, para a re- escrita ressaltou a necessidade de :

• revisão dos aspectos que os alunos considerassem relevantes para a configuração e caracterização de seus textos como pertencentes ao gênero crônica. • recomposição da imagem da cidade, levando em consideração o fato de todos são moradores, de modo a reavaliar seus sentimentos e vículos com ela;

• avaliação do veículo que seus textos teriam como suporte: a revista; • revisão dos conectores que foram excessivamente repetidos.

Para a re-escrita, os alunos poderiam usar o quadro de características da crônica.