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Capítulo XII – Conclusões e Implicações do Estudo

ALUNOS DO 1º CEB

1. Justificação das Opções Metodológicas

1.1. A Selecção da Metodologia Qualitativa

Fazer investigação no campo da Educação, até à relativamente pouco tempo, significava usar quase exclusivamente o modelo ou paradigma racionalista-quantitativo. Segundo Serrano (1994a) este modelo baseou-se na teoria positivista do conhecimento que se iniciou no século XIX e princípios do século XX, com autores como Comte e Durkheim. Este paradigma impôs-se como método científico das Ciências da Natureza e mais tarde chegou à Educação. Ainda segundo esta autora, o método quantitativo privilegia a busca de um conhecimento sistemático, comprovável e comparável, medível e replicável; a busca da eficácia e o incrementar do corpus de conhecimento; um modelo hipotético dedutivo; uma realidade que é observável, medível e quantificável e parte de uma amostra significativa para generalizar os resultados.

Mais tarde, surgiu como alternativa ao paradigma racionalista o modelo naturalista ou qualitativo, cujas características mais importantes são a teoria constituir uma reflexão na e desde a praxis; tentar compreender a realidade; descrever o facto no qual se desenvolve o acontecimento; aprofundar os diferentes motivos dos factos e, o indivíduo ser um sujeito interactivo, comunicativo, que comparte significados (Serrano, 1994a).

Os pressupostos principais deste estudo identificam-se mais com as características do método qualitativo. Desta forma e à luz destes pressupostos adoptou-se uma metodologia qualitativa.

Para a realização do trabalho de campo desta investigação, teve-se por base algumas das perguntas qualitativas formuladas por Erickson (1986, pág. 200): O que é que está a suceder,

especificamente, na acção social que tem lugar neste contexto em particular? Que significam estas acções para os actores que participam nelas, no momento que tiveram lugar? Estas

perguntas foram utilizadas em investigações denominadas de formas distintas: interpretativas (Erickson, 1986 e Wolcott, 1990), naturalistas (Lincoln e Guba, 1985), fenomenológicas (Wilson, 1997), entre outras. Estes descritores enfatizam os significados que os sujeitos da investigação atribuem às suas acções, o contexto em estudo, a relação entre o investigador e os sujeitos que estão a ser estudados, os métodos para a recolha de dados, os tipos de evidências apresentadas como apoio às afirmações realizadas, e os métodos e a importância da análise utilizada. Segundo LeCompte, (1995), estas denominações são mais exactas e precisas que o termo qualitativo, que simplesmente sugere que os investigadores qualitativos não quantificam, medem, ou contam os seus dados, o que realmente não é o caso.

Segundo Bogdan e Biklen (1994, pág. 63) é possível a utilização conjunta das abordagens

qualitativas e quantitativas. Existem estudos que integram componentes qualitativos e quantitativos. Ainda que seja possível, e nalguns casos desejável, utilizar as duas abordagens conjuntamente, tentar conduzir um estudo quantitativo sofisticado ao mesmo tempo que um estudo qualitativo aprofundado pode causar grandes problemas. Existem autores que defendem

o emprego em conjunto e eficaz dos métodos quantitativos e qualitativos, dos quais se pode destacar Cook e Reichardt (1986). Neste estudo não se pôs de lado a ideia de quantificar alguns dados. No entanto, o principal objectivo desta investigação situa-se na descrição, interpretação e análise dos dados que foram recolhidos ao longo do estudo.

A escolha predominante de uma metodologia em detrimento de outra deve-se fundamentalmente às características da investigação que se vai efectuar. Assim, para escolher um determinado tipo de metodologia deve-se ter em consideração os seguintes critérios: objectivos/problemas da investigação; orientação do investigador; natureza das variáveis e nível de controlo. Quanto aos objectivos, a escolha recai sobre um estudo descritivo e interpretativo. Erickson, no seu capítulo Metodos cualitativos de investigación sobre la enseñanza, do livro de Wittrock (1986), engloba, na expressão investigação interpretativa, um conjunto de abordagens diversas, nomeadamente: etnografia, observação participante, estudo de casos, interaccionismo simbólico, fenomenológica, construtivista ou, muito simplesmente, abordagem qualitativa. Ainda

segundo este autor, a investigação de campo observacional, participativa e interpretativa, além

do seu interesse central pela mente e pelo significado subjectivo, ocupa-se da relação entre as perspectivas de significado dos actores e as circunstâncias ecológicas de acção em que estes se encontram (Erickson, 1986, pág. 216).

Uma vez que o que se pretende é descrever o fenómeno tal como realmente é, esta investigação pretende ser também uma investigação orientada a decisões, ou seja, não interessa contribuir para a construção de uma teoria científica, mas interessa sim a solução de problemas concretos. Pode dizer-se ainda, que este estudo é descritivo, no que respeita à manipulação das variáveis e nível de controlo. Assim, não se pretende manipular nenhuma variável, mas sim observar e descrever os fenómenos.

Segundo LeCompte (1995), a investigação qualitativa define-se como sendo uma categoria de desenhos de investigação de onde se extraem descrições a partir de observações que adoptam a forma de entrevistas, narrações, notas de campo, gravações, transcrições de cassetes de áudio e de vídeo, registos escritos de todo o tipo, fotografias, filmes e artefactos. Já segundo Bogdan e Biklen (1994) a investigação qualitativa apresenta ainda, as seguintes características:

1. A fonte directa de dados é o ambiente natural, sendo o investigador o instrumento principal.

2. É descritiva (os dados recolhidos, são em forma de imagens e palavras, não em forma de números). Os dados incluem, transcrições de entrevistas, notas de campo, fotografias, documentos pessoais, documentos oficiais, etc.

3. O investigador preocupa-se mais com processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos.

4. O investigador tende a analisar os seus dados de forma indutiva. Não recolhe dados ou provas com o objectivo de confirmar ou infirmar hipóteses construídas previamente; ao invés disso, as abstracções são construídas à medida que os dados particulares que foram recolhidos se vão agrupando.

5. O investigador preocupa-se com o significado e com as perspectivas de todos os participantes.

De acordo com estas características, e com os pressupostos anteriormente descritos, surgiu assim, como adequada, uma opção metodológica qualitativa.