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Contributos do Ensino das Ciências da Natureza para as Crianças do 1º CEB 1 Desenvolvimento de Competências

Capítulo XII – Conclusões e Implicações do Estudo

ALUNOS DO 1º CEB

4. Contributos do Ensino das Ciências da Natureza para as Crianças do 1º CEB 1 Desenvolvimento de Competências

A realização de actividades experimentais científicas nos primeiros anos de escolaridade das crianças, faz desenvolver atitudes positivas face à ciência como actividade humana, em vez de reacções uniformes às imagens populares de ciência. As atitudes face à ciência são

desenvolvidas nos anos pré-secundário, mais cedo do que outros assuntos escolares, e as crianças precisam de experimentar a actividade em ciência por elas próprias num tempo em que as atitudes estão a ser formadas, o que pode vir a ter influência para o resto das suas vidas

(Harlen, 2000a, pág. 2).

Segundo a autora anterior são vários os objectivos da educação em ciências para as crianças do 1ºCEB:

 ajudar as crianças a construir meios eficazes e úteis de fazer com que faça sentido os aspectos

científicos do seu meio ambiente;

 desenvolver meios eficazes de aprendizagem através da investigação;

 compreender a natureza das actividades científicas, os seus aspectos positivos e as suas limitações.

(Harlen, 2000a, pág.6)

4.2. Interdisciplinaridade e Desenvolvimento do Vocabulário

Muitos professores do 1º CEB sugerem que não aplicam o ensino das ciências nas suas aulas, por falta de tempo, uma vez que se o fizessem não teriam tempo para cumprirem o programa. Ora, isso faz crer que disciplinas como a Matemática e o Português ficam prejudicadas por causa da implementação das Ciências da Natureza na sala de aula. Hoje, são vários os resultados da investigação que contradizem estas argumentações (Harlen, 1998; Sá 1994b). Pelo contrário, essas disciplinas só ficam a lucrar quando se utilizam como instrumentos de outras áreas curriculares. Os alunos compreendem muito melhor os números, as ordens de grandeza, e os processos de medição, quando os aplicam a problemas reais que ocorrem, por exemplo, nas actividades em ciências. Por outro lado, nas actividades em ciências, as crianças são impulsionadas a falar, a descrever, a interpretar o que observam e fazem os seus registos escritos, procurando palavras novas, uma vez que o vocabulário a que estavam habituadas se tornou insuficiente para as novas situações com as quais se confrontam. (Harlen, 1983). Esta autora, refere ainda, que se reconhecem grandemente as relações existentes entre desenvolvimento científico e matemático, afirmando ainda que se verifica também que uma das contribuições mais significativa das ciências é a sua incidência no desenvolvimento da linguagem das crianças.

Também os alunos futuro-professores argumentam frequentemente que o problema de não estarem seguros para leccionarem actividades de ciências, reside na ausência de vocabulário para exprimirem o que pretendem durante uma aula de Ciências da Natureza. A este propósito é de salientar o que foi dito por uma aluna/estagiária do Curso de Professores do 1º C E B. Ela afirmou que os alunos do 4º ano do 1º CEB, pertencentes à escola onde estava a estagiar, utilizavam um vocabulário muito semelhante ao dela (estagiária) ou mesmo superior. É pois, de salientar que estes alunos desde muito cedo tiveram uma professora do 1º CEB que implementava nas suas aulas muitas actividades no âmbito das Ciências das Natureza.

4.3. Desenvolvimento das Qualidades Pessoais

De entre as qualidades pessoais que qualificam uma atitude científica destacam-se segundo Sá (1994b) as seguintes:

1. Curiosidade (quando ao alunos questionam, querendo saber mais);

2. Perseverança (quando tentam por outras vias solucionar um problema, quando não são bem sucedidos);

3. Respeito pela evidência (abertura de espírito, desejando o confronto das suas ideias com a evidência);

4. Flexibilidade (quando há disponibilidade para reconsiderar os seus pontos de vista e admitir novas ideias como tentativas);

5. Reflexão crítica (quando apreciam criticamente os resultados, disponibilizando-se para rever métodos);

6. Cooperação (quando os alunos aceitam as regras de conduta e funções específicas no trabalho de grupo).

No entanto, estas atitudes que as actividades em ciências ajudam a desenvolver são mais do que tudo, qualidades pessoais desejáveis para qualquer cidadão, podendo mesmo proporcionar o desenvolvimento da conduta moral e cívica.

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4.4. Alfabetização Científica e Educação para a Cidadania

Hoje em dia é comum aceitar que o processo de educação científica das pessoas e das sociedades constitui uma das primeiras medidas para que os cidadãos possam participar activamente no levantamento e resolução dos problemas e necessidades sociais, algo que é sem

democráticas (Cañal, 2000, pág. 46). Do mesmo modo, cada vez mais se reconhece a importância

especial que tem o processo de alfabetização científica nas primeiras etapas escolares (1º ciclo e subsequentes anos escolares). É essencial que as crianças estejam em contacto com alguns elementos básicos de uma cultura dita científica, desde os primeiros anos de escolaridade, para que deste modo, estes se possam reflectir na construção dos primeiros esquemas de compreensão e actuação das crianças sobre o seu meio natural e social.

Cañal (2000, pág. 48) refere mesmo que: a alfabetização científica, deve ver-se nas etapas

escolares básicas, como uma componente educativa primordial, bem como outras, e dirigida, em última instância, a formar cidadãos cientificamente cultos, ou seja, que façam um uso adequado de determinados conceitos, procedimentos e atitudes para compreenderem o mundo natural e social e para interaccionar-se e desenvolver-se satisfatoriamente no mesmo.

Mas não se pode falar de alfabetização científica descorando um aspecto importante que lhe está intimamente interligado – a educação para a cidadania. É pois, necessário que a população tenha uns níveis mínimos de conhecimentos científicos para poder participar democraticamente na sociedade, ou seja, para poder exercer uma cidadania responsável. Em suma, é necessária uma alfabetização científica para se obter uma educação para a cidadania, o que significa que a população é capaz de compreender, interpretar e actuar sobre a sociedade (Martin-Díaz, 2002).

Os professores têm ainda uma responsabilidade acrescida no ensino das ciências: Para

além de ensinar a própria ciência, o seu fazer-se e o seu corpo de conhecimento, é preciso ajudar a integrar a ciência nas nossas crenças e convicções sob pena de aquela não fazer parte do nosso viver, das nossas lutas, da nossa participação política e cívica (..) (Valente, 2001).

Que melhor faixa etária, que a das crianças do 1º CEB, para iniciar esta alfabetização científica e consequentemente esta educação para a cidadania através do ensino das ciências?

4.5. Motivação

Um outro contributo do ensino das Ciências na Escola Primária é perceber que alunos que habitualmente eram "apagados", se revelam vivos, comunicativos e motivados para as actividades em ciências. Mais uma vez se revela importante um acontecimento que se deu durante uma sessão de actividades em ciências em que se pretendia separar diferentes misturas de substâncias, com alunos do 4º ano do 1º CEB. Foi compensador, quando se reparou que aluno de 10 anos com paralisia cerebral, tinha ficado muito contente pois tinha conseguido separar com a ajuda de um

íman, uma mistura de pregos e areia. Este facto pode levar a afirmar-se que o ensino das ciências na primária oferece também benefícios a crianças com problemas desta ordem.

Tal como sugere Harlen (1998), o conteúdo das actividades a serem leccionadas no 1º CEB, deve proporcionar o interesse e a motivação para que as crianças participem numa actividade que implique um desafio para as suas ideias, fazendo-as evoluir.