• Nenhum resultado encontrado

A Serpente Monetária, o FECOM e a crise Comunitária da década de

Capitulo II O processo de integração económica e monetária na UE

3.3. A Serpente Monetária, o FECOM e a crise Comunitária da década de

Na prossecução da decisão do Conselho de 22 de Março de 1971 e em cumprimento do Plano Werner é celebrado em Abril de 1972 um acordo entre os Bancos Centrais dos seis Estados-membros da Comunidade - Acordo de Basileia – que estabelece pela primeira vez no contexto Comunitário uma gestão conjunta das moedas europeias ao criar o mecanismo que ficaria conhecido como serpente monetária com o objectivo da auto-limitação das margens de flutuação entre as moedas Comunitárias a um máximo de 2,25% relativamente à sua paridade, ficando a flutuação conjunta das moedas comunitárias relativamente ao dólar EUA limitada a um máximo de 4,5%. A moeda Americana servia assim como um túnel onde as moedas Europeias no seu conjunto poderiam flutuar entre uma base e um tecto com um desvio máximo de 4,5%, num mecanismo que ficaria conhecido como a serpente no túnel70.

Na sequência da Cimeira de Paris, realizada a 20 Outubro de 1972, os Chefes de Estado e de Governo reiteraram a vontade de “realizarem de uma forma irreversível a

união económica e monetária”71, tendo daí resultado a criação em Abril de 1973 do Fundo Europeu de Cooperação Monetária (FECOM) que viria a constituir-se como o embrião da futura organização de Bancos Centrais na Comunidade visando assegurar a coordenação da política monetária dos Estados-membros promovendo a redução

69 Cf. “Execução do Plano Werner , de realização, por etapas, da UEM: Decidida pela resolução do Conselho e dos Representantes dos Governos dos Estados-membros, de 22 de Março de 1971”, in JOCE

C 28/71, pág. 1, publicado em Parlamento Europeu – Op. Cit., p.73 70 Mendonça, António - Op. Cit., p. 104

71 Cf. “Reunião em Paris, em 20 de Outubro de 1972”, in “Recueil des documents institutionnels de la

Communaité de 1950-1982” Parlement européen, Commission institutionnelle, Luxemburgo, pag. 205, publicado em Parlamento Europeu – Op. Cit., p.77

35

progressiva das margens de flutuação entre as moedas nacionais, a coordenação das intervenções nos mercados cambiais e a gestão dos pagamentos e reservas cambiais.

Se no inicio de 1970 se assistia a um empenhamento activo no projecto de construção de uma união económica e monetária no contexto das Comunidades Europeias, até ao final da década esse ímpeto irá sofrer várias contrariedades. Á crise monetária internacional resultante do colapso do sistema de Bretton Woods associa-se a crise económica mundial provocada pelo primeiro choque petrolífero ocorrido em Outubro de 1973 que origina uma forte subida dos preços das matérias-primas e o desequilíbrio da balança de pagamentos em vários países da Comunidade. Em simultâneo algumas das moedas Europeias mais frágeis são sujeitas a fortes ataques especulativos e não conseguem manter-se na serpente monetária que acaba por conhecer entradas e saídas de moedas nacionais e ajustamentos nas paridades entre elas, acabando mesmo com o mecanismo de flutuação conjunto face ao dólar EUA72.

Este período de forte instabilidade vai conduzir os estados Europeus a prosseguirem políticas económicas e monetárias divergentes e focalizadas nas economias nacionais e na defesa do pleno-emprego, contrárias aos princípios de cooperação e de coordenação próprios de uma união económica e monetária que se procurava implementar. Esta tendência só viria a ser interrompida em Outubro de 1977 na sequência da intervenção do então Presidente da Comissão, Roy Jenkins, que convoca para um novo enfoque na integração monetária como condição indispensável para a recuperação económica da Europa e para o combate aos problemas do desemprego, da inflação e do financiamento internacional.

A defesa da união monetária por Roy Jenkins, num contexto de profunda crise económica e institucional, persegue igualmente um propósito político que se torna claro quando afirma que “dar uma dimensão Europeia à política monetária, representará, no

plano político, um passo tão importante para os dirigentes Europeus da geração actual,

como aquele conseguido pela geração anterior com a criação da Comunidade”73.

72 O que na prática correspondeu ao fim das paridades fixas tendo como referência o dólar EUA, facto que veio a ter um efeito positivo ao contribuir para o estabelecimento de uma individualidade monetária Europeia autónoma relativamente ao SMI. Cf. Mendonça, António – Op. Cit., p. 105

73 Cf. Jenkins, Roy “União Monetária: “Argumentação : Conferência do Presidente da Comissão, Roy Jenkins, em 27 de Outubro de 1977”, in Bulletin CE 10-1977, pág. 6, publicado em Parlamento Europeu –

36

O relançamento do objectivo da união económica e monetária virá a ser acolhido na Conferência de Copenhaga de 7 de Abril de 1978 onde a França e a Alemanha introduzem a ideia de criar um sistema monetário europeu. Esta ideia veio a ter sequência com a apresentação de um plano conjunto do Presidente da Comissão, Roy Jenkins, e do Chanceler Alemão Helmut Schmidt, com o apoio explicito do Presidente Francês Valéry Giscard d´ Estaing, para a criação de uma zona de estabilidade monetária através de um sistema monetário Europeu cuja estrutura foi apresentada nas conclusões da Presidência do Conselho Europeu de Bremen de 6 e 7 de Julho de 197874. Dando sequência às orientações do Conselho Europeu de Bremen foram constituídos comités técnicos especializados com o objectivo de definir as condições em que o sistema monetário Europeu poderia funcionar, tendo os resultados obtidos sido apresentados pela Comissão ao Conselho. O Conselho Europeu reunido em Bruxelas a 5 de Dezembro de 1978 viria a decidir pela instauração de um Sistema Monetário Europeu (SME) que viria a entrar em funcionamento a 13 de Março 197975.