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O Plano Delors para a união económica e monetária

Capitulo II O processo de integração económica e monetária na UE

3.6. O Plano Delors para a união económica e monetária

O Relatório Delors apresentado em Abril de 1989 virá a recomendar a realização da união económica e monetária através de uma abordagem gradual, desenvolvida em três “fases discretas, mas evolutivas”92. A primeira fase deveria decorrer no âmbito do quadro institucional saído do Acto Único e teria como objectivo uma maior convergência no desempenho económico dos Estados-membros através do reforço da coordenação da política económica e monetária no contexto da Comunidade. Ao nível da política económica as medidas a tomar seriam orientadas para a conclusão do mercado interno e para a redução das disparidades existentes nas políticas económicas de cada um dos Estados-membros. Para se alcançar este objectivo central eram propostas três linhas estratégicas de actuação93: i) a remoção das barreiras físicas técnicas e fiscais à conclusão do mercado interno complementada com o reforço da

89 Cf. “Conclusões da Presidência do Conselho reunido em Hannover em 27 e 28 de Junho”. In “Boletim

CE 6-1988”, pag. 166, publicado em Parlamento Europeu – Op. Cit., p.171 90 Cf. idem

91 Cf. Ibidem

92 Cf. Committee for the Study of Economic and Monetary Union - Report on Economic and Monetary

Union in the European Community. Chapter III, Section 1, nº 41.[Consultado em: 2010.04.17]. Disponivel.em:

http://ec.europa.eu/economy_finance/emu_history/documentation/chapter13/19890412en235repeconomm etary_a.pdf

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política da concorrência destinada a uma maior perfeição dos mecanismos de mercado; ii) a reforma dos fundos estruturais por forma a que se constituíssem como instrumentos ao serviço da politica Comunitária e para a promoção do desenvolvimento regional, contribuindo ao mesmo tempo para a convergência económica e iii) o reforço da cooperação ao nível das politicas macroeconómicas destacando-se o papel do Comité dos Governadores dos Bancos Centrais nacionais94 na produção de recomendações e do Conselho de Ministros da Economia e Finanças – Conselho ECOFIN - enquanto principal responsável pela coordenação da politica económica na Comunidade.

Ao nível da política monetária era proposto a remoção dos obstáculos à integração financeira e a intensificação da cooperação e da coordenação dos Estados- membros nesta área, com alargamento da autonomia dos Bancos Centrais nacionais. Também a este nível eram propostas quatro linhas estratégicas de actuação95: i) aprovação e execução das medidas necessárias à criação de uma área financeira única, onde a liberalização dos instrumentos monetários e financeiros e a integração dos mercados bancários e financeiros fosse implementada; ii) a inclusão no MTC do SME de todas as moedas dos Estados-membros; iii) a remoção dos impedimentos ao uso privado do ECU e iv) reforço do papel do Comité dos Governadores dos Bancos Centrais na gestão, cooperação e coordenação da politica monetária, em especial no que concerne ao SME.

A segunda fase deveria decorrer como etapa de transição para a fase final. Seriam estabelecidos os órgãos e a estrutura organizacional da união económica e monetária, nomeadamente o Sistema Europeu de Bancos Centrais (SEBC) que teria como principal objectivo preparar e acompanhar o inicio do processo de transferência de competências dos Bancos Centrais Nacionais para a esfera Comunitária, no que concerne à política monetária, bem como assegurar as condições de convergência e cooperação para a formulação e implementação de uma política monetária comum96.

94 O Comité de Governadores dos Bancos Centrais dos Estados-membros da CEE foi constituído em 1964 como complemento ao Comité Monetário instituído com o Tratado CEE. Com atribuições limitadas na sua fase inicial, viria no entanto ao longo do processo de integração monetária a ganhar importância e a assumir um papel central na cooperação monetária entre os bancos centrais dos Estados-membros. Cf. Scheller, Hanspete Scheller, Hanspeter K. – Op. Cit., p. 17

95 Cf. Committee for the Study of Economic and Monetary Union - Report on Economic and Monetary

Union in the European Community. Op. Cit. Chapter III, Section 3, nºs. 51- 54 96 Cf. Idem, Section 4

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A terceira fase seria caracterizada pela fixação irrevogável das taxas de câmbio e pela transferência efectiva da gestão da politica monetária para o SEBC que assumiria em pleno as suas responsabilidades de formulação e implementação da politica monetária e cambial na Comunidade. Seria igualmente assegurado a implementação das medidas de natureza técnica e regulamentar para a transição para a moeda única europeia, que seria implementada de facto nesta terceira fase97. Para a passagem da primeira fase às fases seguintes seria necessário proceder a alterações no quadro institucional da Comunidade, tornando-se imperativo a revisão do Tratado CEE de forma a acomodar as novas instituições Comunitárias, responsáveis pela futura condução centralizada da política monetária.

Apresentado ao Conselho Europeu de Madrid, reunido a 26 e 27 de Junho de 1989, o Relatório Delors viria a ser considerado como tendo cumprido “plenamente o

mandato conferido em Hannover”, tendo sido igualmente considerado pelo Conselho que a realização da união económica e monetária deveria considerar em paralelo os aspectos económicos e monetários, no respeito pelo princípio da subsidiariedade, e atender à especificidade do contexto económico de cada Estado-membro98. É também no Conselho de Madrid que é decidido que a primeira etapa da realização da união económica e monetária teria inicio em 1 de Julho de 1990, sendo solicitado às instâncias competentes99 o desenvolvimento dos trabalhos preparatórios para a realização de uma conferência intergovernamental tendo como objectivo a definição do calendário com as etapas seguintes da união económica e monetária.

Em cumprimento desta deliberação foi criado um grupo de trabalho presidido por Elisabeth Guigou, que veio a dar origem ao Relatório Guigou apresentado ao Conselho Europeu de Estrasburgo em Dezembro de 1989. Acolhendo as recomendações do Relatório Guigou, o Conselho decide convocar a CIG antes do final de 1990, com o propósito de elaborar uma alteração ao Tratado CEE de forma a serem definidas e calendarizadas as fases finais da união económica e monetária100.

97 Cf. Ibidem, Section 5

98 Cf. “Conclusões da Presidência do Conselho reunido em Madrid a 26 e 27 de Junho”. In “Boletim CE

6-1989”, pag. 8, publicado em Parlamento Europeu – Op. Cit., p.175

99 Conselho Economia e Finanças e Assuntos Gerais, Comissão, Comité dos Governadores dos Bancos Centrais e Comité Monetário. Cf. idem

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O Conselho Europeu de Dublin, reunido em Junho de 1990, viria a reiterar que a primeira fase da união económica e monetária teria inicio em 1 de Julho de 1990 e que deveria ser utilizada para garantir a convergência no desempenho económico, para se alcançar uma maior coesão entre os Estados-membros e para uma maior utilização do ECU, condições consideradas essenciais para a passagem às fases seguintes da união económica e monetária. Foram igualmente analisados pelo Conselho os trabalhos de preparação para a CIG decidida em Madrid em Junho de 1989, estabelecendo-se o seu inicio para Dezembro de 1990, devendo estar concluída antes do final de 1992101.

A CIG sobre a união económica e monetária deveria decorrer em paralelo com a CIG convocada também em Dublin sobre a união política europeia na sequência das transformações políticas ocorridas na Europa central e oriental decorrentes do fim da Guerra Fria e da queda do muro de Berlim. A 15 de Dezembro de 1990 têm inicio em Roma as CIG´s sobre a união económica e monetária e a união política.

No Conselho Europeu do Luxemburgo reunido em 28 e 29 de Junho de 1991 são apreciados os projectos de Tratado resultantes dos trabalhos das CIG´s sendo deliberado pela sua continuidade e estabelecido que a decisão final sobre o texto do Tratado sobre a união económica e monetária e a união politica seria tomada no Conselho Europeu de Maastricht para que os resultados das CIG´s pudessem ser ratificados pelos Estados- membros durante o ano de 1992102. No que concerne à união económica e monetária foi reconhecido que a CIG com o seu projecto de tratado e de estatutos do SEBC revelou uma ampla concordância relativamente aos elementos fundamentais da união económica e monetária sublinhando-se a necessidade de até à conclusão da primeira fase se realizarem progressos sólidos na convergência económica e monetária, em especial no que respeita à estabilidade dos preços e finanças públicas103.