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A sociabilidade da aprendizagem: uma nova forma de conceber educação

No documento Romero José de Melo Ribeiro (páginas 186-190)

7 DIALOGANDO COM OS ACHADOS DA PESQUISA

QUADRO ORIENTADOR DO CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

7.3.3 A sociabilidade da aprendizagem: uma nova forma de conceber educação

O estudo da prática pedagógica aplicada pelo programa de alfabetização prisional MOVA-BRASIL em Igarassu, ou seja, a constância das relações entre seus educandos e a educadora que provocam e favorecem a aprendizagem, revela o chamamento e a incorporação da realidade de cada educando na construção do conhecimento. Nessa sociabilidade de conhecimentos prévios e informais observa-se a oportunidade de ponto de partida para formal do conhecimento e da efetivação da aprendizagem.

Como já mencionamos no item 3.3.1 deste capítulo o MOVA-BRASIL desperta o interesse da população carcerária de alfabetizandos em personalizar a prática pedagógica e da aprendizagem de acordo com a cultura e a realidade de cada ambiente. É justamente neste contexto de incentivo das interações e socializações apresentadas nos debates, exposições e falas dos educandos que se alinham na

proposta de alfabetização prisional. Nesse momento são aplicadas as questões relevantes das socializações nas áreas de conhecimento para a efetivação da aprendizagem na alfabetização prisional.

Portanto, a questão da sociabilidade do conhecimento e da aprendizagem desenvolvidos no programa de alfabetização prisional MOVA-BRASIL se estabelece em três momentos. Inicialmente temos a conjunção estimulada pela prática pedagógica das vivências prévias de cada educando que encontra dentro do grupo, através da socialização, a devida valorização da sua história de vida individual. Posteriormente aparecem as experiências confluentes, ou seja, aquelas que são comuns da comunidade de alfabetizandos do cárcere e que inquietam a todos com dúvidas, questionamentos, anseios, perspectivas, problematizações e necessidades. Essas particularidades da cultura típica do encarceramento são socializadas coletivamente como forma de enriquecimento conjunto das informações que revelam o verdadeiro estado da privação de liberdade.

E depois das socializações introdutórias serem aplicadas às práticas pedagógicas de alfabetização teremos a conscientização da utilização prática do conhecimento construído, adquirido e muitas vezes reconstruídos na melhoria da comunidade prisional. Aí, se insere um novo momento de socialização com enriquecimento de ideias, ponderações, argumentações e sugestões para proposições comuns ao grupo. Nesse estágio já se verifica um nível mais amadurecido de imposição, colocação e argumentação de pontos de vista e encaminhamentos para resoluções de problemas. Nessa alteração da perspectiva de aprendizagem os educandos da turma de alfabetização prisional apresentaram maior dinamismo nas interações em sala de aula por tratarem de temas relevantes as suas realidades e o nível de aprendizagem foi significativamente positivo. Comprovando, desta forma, a percepção de uma nova visão de conhecimento ao provocar e facilitar a aprendizagem entre os presos. Logo, a forma como esses reeducandos constroem, adquirem e refletem sobre o conhecimento tornou-se prazerosa. Algo, até então, nunca visto em outras modalidades da educação prisional de Pernambuco, sempre pautadas em paradigmas retrógrados ao desenvolvimento da aprendizagem.

Ainda sobre a aceitação dessa nova alternativa à organização tradicional dos ambientes de ensino evidenciou-se que mesmo diante de limitações expostas pelo meio carcerário é possível concretizar uma prática pedagógica com modelos radicalmente diferentes, porém modelados ao perfil da comunidade carcerária. No conjunto da abordagem apresentada pelo programa de alfabetização prisional MOVA-BRASIL a educadora argumenta que os educandos mostraram-se assíduos as aulas que lhes trouxera uma metodologia de aprendizagem significativa, na qual esses educandos conseguem superar as restrições que lhes são impostas pela privação de liberdade.

Entretanto, elencamos afirmações propositivas daqueles que foram os verdadeiros construtores do conhecimento; educadora e educandos. Foram respostas que mostraram a verdadeira dimensão do modelo de alfabetização prisional aplicada pelo MOVA-BRASIL em suas vidas. Mostrando, assim, que os educandos aprenderam o sentido da educação pelo livre pensamento, pela reflexão das ações e pela transformação de vidas. Demonstrações que reafirmar o poder da educação libertadora.

Logo, no quadro a seguir apresentaremos alguns dos relatos descritos pelos sujeitos responsáveis pela construção do conhecimento acerca do programa de alfabetização prisional MOVA-BRASIL. Para melhor entendimento do quadro de “RELATOS DOS SUJEITOS DA APRENDIZAGEM” cada personagem será identificado da seguinte forma: Pesq. Part. - (Pesquisador Participante), Prof. – (Professora), Educ. - (Educandos), Turma – (Toda Turma).

QUADRO 15: Quadro de “RELATOS DOS SUJEITOS DA APRENDIZAGEM” da turma de alfabetização do Presídio de Igarassu.

Pesq. Part. – O que é mais importante para vocês no programa MOVA-BRASIL? E-1 Essa é a única turma onde a gente pode falar dos problemas do presídio.

E-2 As aulas são de acordo com o que a gente precisa.

E-3 Poder lembrar e falar da minha vida na quando eu era livre.

E-4 Todo dia a aula faz parte da nossa história.

E-5 Com as aulas do MOVA eu vou poder ser outra pessoa na rua.

E-6 Aqui a gente aprende que a palavra é a melhor arma do cidadão.

E-7 Aprender a ler escrever e aprender sobre os meus direitos como preso.

E-8 Para saber se meu advogado está trabalhando correto.

E-9 Fica mais fácil aprender assim; falando da nossa vida.

E-11 Assim é melhor estudar. A gente fala da vida e depois faz os exercícios.

E-12 Antes não conseguia ler e escrever, agora fica melhor aprender.

E-13 Toda atividade é tudo que eu precisava para não ter sido preso.

E-14 Com o que aprendi vou arrumar um emprego quando sair daqui.

E-15 Com as aulas já consigo ensinar aos outros presos.

E-16 Antes não conseguia aprender, com o MOVA agora já sei ler e escrever.

E-17 A professora se importa com história da gente.

E-18 Aqui a gente faz comparação da nossa vida antes e depois da prisão.

E-19 Na turma a gente pode mudar nossa vida.

E-20 Os alunos podem participar e diz o que quer aprender. Assim é melhor.

E-21 Posso sair do pavilhão e falar da profissão que eu aprendi na rua.

E-22 Os presos conseguem aprender e se interessam mais pelo estudo.

E-23 Porque tenho incentivo para continuar estudando. Não paro mais.

E-24 Vou sair da prisão sabendo ler e escrever.

E-25 Aqui a gente não fica calado um olhando para o outro.

Prof. A forma como devemos construir o conhecimento com os reeducandos e facilitar a aprendizagem deles.

Ao longo da exposição das falas dos educandos é possível dimensionar a importância do programa de alfabetização prisional MOVA-BRASIL como sistema propulsor da interação e participação desses educandos no processo de construção do conhecimento e facilitação da aprendizagem. Logo, quando tratamos da realidade do educando, neste programa, nos referimos a incorporação de sua existência no processo de aprendizagem, enquanto ser social atuante nas transformações da sua comunidade.

Com isso, a aquisição de novos saberes pela população carcerária de alfabetizandos representa a desagregação do sentimento de incapacidade dos educandos que desconheciam as letras e se viam duplamente excluídos; da sociedade e da educação. Mostrando-se, assim, o MOVA-BRASIL como instrumento de superação e alternativa ao retrógrado sistema educacional e facilitador da aprendizagem; bem como instrumento de libertação.

Contudo, as descrições e análise das observações conduzem a percepção da aceitação e preferência por um modelo de aprendizagem que estimula a compreensão crítica reflexiva do que está sendo aprendido. Revelando, assim, uma ruptura com práticas desgastadas e ineficientes e possibilitando uma visão ampla para o conhecimento do programa de alfabetização prisional MOVA-BRASIL, como também para as conclusões seguintes.

CONCLUSÃO – Alfabetização prisional MOVA-BRASIL: instrumento

No documento Romero José de Melo Ribeiro (páginas 186-190)

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