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P. Ofic Ofic M édia

5.2.5. A ssiduidade, controle e disciplina

Q uando a Escola de A prendizes se transferiu para o edifício da Escola Cam ões ficou relativam ente distante das oficinas onde os aprendizes recebiam instrução prática. A lém disso, ao contrário das instalações anteriores, perfeitam ente integradas no parque oficinal, a Escola Cam ões estava situada à entrada do bairro, ju n to à estrada nacional 10 que liga o Entroncam ento a T orres Novas.

Se o território ferroviário tem uma especificidade própria, tal com o por exem plo 0 m ilitar, quase poderíam os dizer uma identidade, a Escola de A prendizes situava-se

A V I S O NO. i* e

i?icíua a v i s a d ü c UoíIcjo oa A p r e n â iz e u d ^ u t a K u c o la qu© fcdm a u l a o p r á t l c a o tm c O f l o i ç a s f quo a p a r t i r d c t a d s v e a g n o t u r 15 ' o ln a to fe j, qirv.ido m u ito .- n o çorc.-uveo * n tr© a q u f l s s d o i s l o c a i u » ■ X n fo n a a -u « cAnfia q j a c a s e t e a j » v a i f ic a r* u b u o iu c o ja c n u o

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agora claram ente fora desse espaço de identificação. Daí a necessidade de instituir m ecanism os especiais de controle dos alunos. O m ais im portante dizia respeito às deslocações entre a escola e as oficinas, sendo por isso frequentes as ordens de serviço, quer aos alunos, quer aos instrutores, estipulando tem pos regulam entares para a referida deslocação e apontando duras reprim endas para aqueles que prevaricassem , nom eadam ente para os instrutores que deixassem de com unicar as ausências injustificadas ou os atrasos dos aprendizes.

Este im portante dispositivo de controle m aterializava-se nas folhas de ponto dos instrutores, que serviam naturalm ente para descrever o "andam ento das m atérias e dos trabalhos" e tam bém para registar a presença ou ausência dos aprendizes, devendo ser rubricadas diariam ente pelo chefe do grupo oficinal.

D e a p re n d iz a cidadão

Todas as saídas ou ausências eram escrupulosam ente controladas. D esde a sua fundação que o G rupo D esportivo dos Ferroviários do Entroncam ento recrutava o escol dos seus praticantes, quer entre o pessoal da oficina, quer na própria Escola de Aprendizes. A uns e a ou tros eram concedidas dispensas especiais para se poderem deslocar aos treinos desportivos. Contudo, no caso concreto da Escola, esta dispensa era rigorosam ente controlada através de uma lista de autorizados e do registo no ponto dos contramestres.

O s dispositivos de controle instituíam uma form a de quadriculam ento que tinha po r objectivo a constante visibilidade dos aprendizes na Escola. P o r isso a assiduidade dos aprendizes era rigorosam ente registada em docum entos próprios que pontualm ente serviam para determ inar a classificação dos aprendizes neste parâm etro. Contudo, a análise de alguns dados disponíveis perm ite inferir que nem esse controle apertado desm otivava a falta de assiduidade dos aprendizes. N as pautas consultadas, são raros os aprendizes que na avaliação apresentam nota quatro na assiduidade e frequentes os que apresentam nota zero. Ao contrário do com portam ento, em que surge com frequência a nota máxima, a falta de assiduidade dos aprendizes deve ter sido um quebra cabeças constante para a gestão da escola. As “faltas ao serviço” (sic) eram registadas po r meios dias ou dias inteiros, com o licença sem vencimento, po r doença estranha, po r doença ao serviço, por falta de m udança de chapa e por suspensão ou multa. O quadro que se segue sintetiza os coeficientes de desconto na assiduidade, a partir do índice 4 que era o valor da classificação atribuída.

D ete rm in a ç ã o da cla ssifica ç ã o no p a râ m etro d a a ssid u id a d e

Natureza da faha / por dia

Doença ao serviço Doença estranha Licença sem vencimento

Falta ao serviço sem justificação

C oeficiente 0,01 0,03 0,04 0,1 5

d e desconto

Aplicando estes critérios, se um aprendiz ao longo do ano lectivo tivesse faltado dez dias por doença justificada e faltado outro dia qualquer sem justificação, o desconto era de 0,25, saldando-se a classificação na assiduidade em 3,75.

A E scola de A p re n d ize s da CP

Para se ter uma ideia m ais precisa da assiduidade dos aprendizes, apresenta-se aleatoriam ente o ano lectivo de 1968/69 com o cálculo da classificação m édia neste parâm etro em cada um a das turm as. A turm a A do Io A no de electricistas era com posta por trinta e dois alunos e teve na assiduidade uma classificação m édia de 3,03. A turm a B do Io Ano de serralheiros, era constituída por trinta e um alunos e obteve uma classificação m édia na assiduidade de 2,79. A turm a A do 2o Ano de electricistas era com posta por vinte e oito alunos e obteve a média de 2,33 valores. Finalm ente a turm a B do 2o A no de serralheiros obteve uma m édia de 3,27 valores. A largando o espectro a outros anos, encontram os valores que indiciam , num a duração m ais longa, uma tendência para o decréscim o das classificações na assiduidade, com o se pode observar no quadro: Assiduidade média, 1945/46 - 1974/75 A ssid u id a d e m é d ia p 9445/46 j p 9 4 8 / 4 9 j 1956/57 1960/61 ! i 1965/66 11970/71 j 1974/75 1° A no 3,72 3,54 3,71 3,18 2,00 2,37 2o A no 1 3.54 11 3,37 j . . . 3,51 ! 2.72 1 2.01 II 2.90 3o A no 3,27 2,85 3,56 3,67

Q ue efeitos práticos poderia ter uma assiduidade reduzida na classificação final do aprendiz? A parentem ente eram lim itados, dado que a média m ínim a de 5,5 valores na aptidão profissional, som ada a cinco ou seis valores no com portam ento, perfaziam a classificação m ínim a de dez para ter aproveitam ento, mesmo com zero na assiduidade. C ontudo, ao faltar com frequência, o aprendiz estava a privar-se das aprendizagens que lhe perm itiriam obter classificações positivas, quer nas disciplinas teóricas, quer nas práticas. A confirm ar esta asserção está o facto de, na maioria dos casos, os aprendizes com zero na assiduidade terem ficado reprovados por não terem obtido 5,5 na aptidão profissional.

Q uanto ao com portam ento, a partir do valor máximo de seis, eram descontadas com um valor as repreensões registadas e os dias de suspensão com dois valores e meio por dia. A m udança de chapa constituía outro im portante dispositivo de controle e a sua falta era penalizada no com portam ento com o desconto de 0,1 valores. C om o já foi

D e a p ren d iz a cida d ã o

referido, os aprendizes eram, em geral, rapazes bem comportados. A classificação que predom ina neste parâm etro é o nível seis.

A disciplina na escola era rigorosa.271 O objectivo era form ar operários disciplinados e obedientes e para esse fim se conjugavam diversos factores, desde a figura austera do contram estre José G onçalves, director da escola, que durante cerca de duas décadas geriu com mão im placável o dia a dia dos aprendizes,272 passando pelos restantes professores e instrutores tam bém naturalm ente imbuídos desse m esm o espírito de rigor e de ordem . Um dos episódios m ais frenéticos dessa intransigência ou rigor disciplinar terá m esm o dado origem à exoneração do cargo de director da escola daquele que ainda hoje é recordado com o uma das suas referências. D eterm inada classe estava em trabalho de "oficinas, após o alm oço, por um período de quatro horas, quando três aprendizes repetidam ente reiteraram ao contram estre a urgência de ir à casa de banho para satisfação de necessidades inadiáveis. Reiteradam ente tam bém lhes retorquiu o instrutor que as houvessem satisfeito no intervalo da hora do alm oço e que só após o toque de saída tal necessidade poderia ser satisfeita.

A situação agudizou-se quando os aprendizes em questão se atreveram a satisfazer o que necessitavam , ali mesm o, utilizando sacos de plástico que escorreram para o chão. À saída, tem endo as esperadas represálias disciplinares e as respectivas repercussões fam iliares - dado que qualquer ocorrência de natureza disciplinar devia ser de im ediato com unicada aos pais ou tutores -, resolveram pegar na trouxa e abalar em direcção à fronteira. Um deles tinha fam iliares em França e era esse o destino dos três. Foram apanhados pela guarda civil, já para lá de Badajoz, e entregues à polícia portuguesa que os m eteu no com boio a cam inho do Entroncamento. U m deles ainda por lá perm aneceu uns dias a contas com um interrogatório da PIDE, não fosse haver mais qualquer coisa para lá da fuga de uns rapazes de uma escola. O regresso dos aprendizes à escola coincidiu com o regresso do contram estre à oficina.

271 Na amostra do questionário, 34% dos inquiridos consideraram que era uma escola dem asiado rigorosa para os jovens de entào e 20% consideraram que os professores eram autoritários. (Anexo 18)

A E scola d e A p ren d izes da C P

N a docum entação da Escola de A prendizes existe reduzida docum entação relativa a actos de indisciplina. Há referências não explícitas, adivinhadas a propósito da classificação que im plicava uma fatia relativa ao com portam ento do aprendiz, com o já se viu, em que se constata a dim inuição da classificação nesse parâm etro m as não se explicita o facto que lhe deu origem. Por uma vez, aparece de corpo inteiro o inquérito sobre um a falsificação de assinatura do médico do Posto de Saúde em que estiveram im plicados vários aprendizes. Mais uma vez, era um problem a de assiduidade. Para faltarem às aulas e poderem justificar as faltas, apresentaram justificativos falsos. A m aioria dos prevaricadores foi exem plarm ente punida com a dem issão.

C aso disciplinar também único, mas provavelm ente apenas por ter sido noticiado, é o de um aprendiz que ousou participar disciplinarm ente de um instrutor da Escola de A prendizes por m otivo de agressão. O aprendiz pretendia que o facto fosse reconhecido com o acidente em serviço, o que lhe foi negado. N um a escola e num a sociedade onde a obediência e a hierarquia eram valores inquestionáveis, não se esperaria o inverso. Contudo, a curto prazo, o instrutor regressou à oficina.

N ão existindo nenhum docum ento que o m encione, registe-se, por últim o, um facto de natureza disciplinar muito singular: na Escola de A prendizes da Escola Cam ões, m antivera-se o gosto pelo jardim e pela horta, m encionados nas intenções da m em ória descritiva e que já haviam feito os desvelos dos professores da escola primária. O chefe de brigada Bagina M iranda, coordenador da escola, costum ava prem iar com um as horas de agradável trabalho na horta aqueles alunos que obtinham boas classificações e eram os prim eiros a entregar correctam ente executados os seus exercícios oficinais. Paradoxalm ente ou não, os aprendizes disputavam aqueles m om entos fora das rotinas da prática oficinal e ainda hoje a iniciativa é recordada com encómios.

D e a p re n d iz a cidadão

5.3. O currículo oculto