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5.2. A (des)construção do currículo

5.2.3. E lectricistas e Serralheiros de m otores

A partir dos m eados da década de 50, com o ocaso da tracção a vapor e o arranque da “dieselização” e da electricidade com o forças m otrizes, ganhou im portância crescente a form ação de operários electricistas, não apenas para serviços gerais, com o já antes acontecia mas, sobretudo, electricistas de motores. A própria serralharia se transfigurou na óptica das novas exigências surgidas com a m odernização das m otorizações. Surgiram assim , ao lado das especialidades geral e afins dos serralheiros, tam bém os serralheiros de motores.

A E scola d e A p ren d izes da CP

Com o nem as oficinas do Entroncam ento nem as de C am panhã estavam ainda apetrechadas para poderem m inistrar esta instrução prática, foram organizados nas oficinas do 3o G rupo O ficinal, no Barreiro, cursos de especialização de electricistas de motores e de serralheiros de m otores, no terceiro ano, destinados a um contingente que integrava os aprendizes m elhor classificados dos três grupos oficinais.

O prim eiro C urso de Form ação de operários Electricistas destinado a aprendizes do 3o ano dos três grupos oficinais teve lugar nas oficinas do B arreiro no ano lectivo de 1958/1959. Ao 3o G rupo O ficinal cum pria tratar do alojam ento dos aprendizes vindos de fora, elaborar o regulam ento respeitante ao internato desses aprendizes, realizar a com pra dos livros necessários e organizar a lista dos instrutores.264 Os Io e 2o grupos oficinais deveriam proceder à selecção dos aprendizes que deveriam frequentar o curso e consultar os pais a fim de obterem o seu acordo à deslocação e "ao desconto de 2$00 diários no salário dos aprendizes."265 A duração prevista era de seis m eses prevendo-se "a conveniência de prolongá-la".

Foram seleccionados para a frequência dez aprendizes do Barreiro e cinco de cada um dos outros grupos oficinais. Os critérios de selecção eram , de entre os voluntários, os que tivessem obtido no 2o ano m elhores classificações nas disciplinas de M atem ática (Á lgebra) e D esenho. Como já se referiu, aos aprendizes de C am panhã e do Entroncam ento era concedido alojam ento em regime de intem ato e abonado subsídio de deslocação para custear parte das despesas de alim entação. O despacho já referido estimava em 14.040S00 os encargos globais com a deslocação dos aprendizes e em 2.000$00 o valor dos m anuais que era necessário adquirir. A inda no m esm o despacho era aprovado o horário sem anal e o prográma do curso.

A direcção do curso ficou a cargo do Engenheiro Chefe do 3o grupo oficinal, as aulas teóricas eram m inistradas pelos dois engenheiros electrotécnicos das oficinas do Barreiro e as aulas práticas po r contramestres, chefes de brigada e operários "escolhidos

264()fício com desp ach o da D irecção G eral datado de 23 de A g o sto de 1958

2 6 5 c o m o a despesa com a d eslocação a custear pela C om panhia excedia em 2$00 o abono diário a que o aprendiz tinha direito, o pai ou tu to r tinha que autorizar o d esconto daquela diferença n o salário do aprendiz.

D e aprendiz a cidadão

dentre os que tenham m ais conhecim ento das diversas especialidades e que revelem qualidades para m inistrar a instrução".

A Escola de A prendizes do Entroncamento seleccionou os seus cinco aprendizes tendo em conta não apenas as m elhores classificações em M atem ática e D esenho mas também o facto de dois dos aprendizes seleccionados já serem possuidores do curso de electricidade da Escola Industrial de Torres N ovas.266 Aliás, por "haver em vista criar um a elite de bons electricistas tanto no que respeita a valor profissional com o m oral" e "pelas razões que facilm ente se deduzem do expediente que envio, fom os de opinião de que o T classificado em D esenho e M atem ática não devia frequentar o curso."267 De resto, outro dos aprendizes seleccionados declinou o convite dizendo não estar interessado. Finalm ente, há que assinalar o extrem o cuidado colocado na regulam entação da estadia dos aprendizes em regim e de internato, nom eadam ente quanto à sua vigilância e controlo. Questões de saúde, saídas e locais de perm anência "durante o tem po que m edeia entre o termo do trabalho diário e a hora de recolher no dorm itório", proibição de tom ar banho no rio e de atravessar a linha em qualquer ponto que não as passagens de nível, são alguns referenciais concretos do dispositivo de controlo que foi estabelecido para os aprendizes em regim e de internato. A partir de 1960/61, além dos electricistas de motores, passaram tam bém a realizar-se nas oficinas do 3o GO, no Barreiro, cursos de especialização de m ecânicos ou serralheiros de motores. As necessidades de qualificação tecnológica im postas pelas novas m otorizações e a incapacidade das oficinas do Entroncam ento em a facultar deram origem à deslocação de cerca de uma centena de aprendizes do 3o ano para as oficinas do Barreiro, ao longo de oito anos, a fim de aí se especializarem em electricistas de

m otores e serralheiros de m otores. v

Para além da m ais valia da formação, a deslocação dos aprendizes revestiu-se também de um carácter pedagógico já que, ao serem escolhidos os m elhores classificados, tal facto acabou por constituir um estím ulo em relação ao

266()fício de 22 de Setembro de 1958

A E scola d e A p ren d izes da CP

aproveitam ento.268 N o fundo, não se tratava apenas de abrir aos aprendizes perspectivas m ais amplas em term os profissionais, a partir das novas form ações recebidas. Tratava-

Aprendizes da Escola do Entroncam ento que frequentaram cursos no Barreiro

E lectricistas de M otores — > i

i Serralheiros de M otores

A no lectivo Início Fim Selec Apr. Início Fim Selec Apr.

1958/1959 [7 /1 0 /5 8 II 13/8/59 115 7 5 t --- 1 ... ! !... 7 ... ■ 1959/1960 13/10/59 2 9 /7/60 5 4 1 1960/196! 1124/9/60 1 R / 8 / 6 1 1 Í T Í Í 4 116/3/61 114/8/61 .115_ . . . .J l . 5 1961/1962 9/10/61 24/8/62 5 5 9/10/61 24/8/62 5 4 , 1962/1963 II 8/10/62 11 1/10/63 il 5 í( 5 >18/10/62 111/10/63 II 5 " i n 1963/1964 20/1/64 19/11/64 15 14 20/1/64 19/11/64 15 15 1 1964/1965 1118/1/65 119/11/65 11 10 119 1118/1/65 !1 9/11/65 ] D Ã 7 1 1 0 1965/1966 11/1/66 1/7/66 21 21 ...

Selec.- S eleccionados A pr.- A provados

se também de prolongar o cam inho que antes os havia trazido das suas aldeias para esta outra aldeia mais urbana que era o Entroncamento. Agora estavam de facto na cidade, na grande cidade e, para m uitos jovens oriundos dos meios rurais, esse era um outro im portante objectivo a atingir. As expectativas de ascensão social não passavam apenas pela escolarização e pela form ação que a escola podia conferir. O êxodo para a cidade, esse movim ento secular de longa duração, constituía, no universo sim bólico do cam ponês, a outra com ponente de uma fuga que não podia deixar de significar libertação e passagem a uma vida melhor.

Em 1963/64, entrou em funcionam ento na escola do Entroncam ento o prim eiro curso de formação de electricistas, que nesse ano absorveu a totalidade dos aprendizes adm itidos. Daí em diante, os aprendizes adm itidos anualm ente eram logo "classificados" nas duas grandes áreas de formação da escola, electricistas e serralheiros. Os critérios de selecção para uma ou outra eram determ inados pela form ação anterior do aprendiz num a escola industrial ou, no caso de não existir, pelo interesse dem onstrado pelo aprendiz.

A criação do curso de electricistas coincidiu com o aum ento do núm ero de aprendizes enviados para o Barreiro a fim de se especializarem nos m otorizados,

268 A inda hoje encontro alguns d esses aprendizes que não escondem um a ponta de org u lh o ao afirm arem que “com o era dos m elhor classificados fui escolhido para ir ao B arreiro fazer o curso de electricista (ou de m ecânico).”

D e a p re n d iz a cidadão

evidenciando-se assim a urgência da sua formação. O incremento das novas form as de tracção e a entrada em funcionam ento das oficinas novas do E ntroncam ento, aliadas à circunstância de que a abertura de um curso de três anos só passados esses três anos com eçará a produzir frutos, explicam aquele aum ento. Aliás, o increm ento da formação sofreu uma aceleração significativa a partir dessa altura, traduzida, não apenas pelo ritm o das adm issões, com o tam bém pela redução dos cursos de três para dois anos a partir de 1966. Era necessário form ar mais gente e em menos tempo.