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3.4 A EXECUÇÃO DE SENTENÇAS NO SISTEMA INTERAMERICANO

3.4.1 A supervisão do cumprimento das sentenças

O procedimento de supervisão de cumprimento de sentença encontra os seus fundamentos e sua base normativa no Artigo 69 do Regulamento da Corte Interamericana200. Assim, conforme estabelece o regulamento, a supervisão se dará por meio da apresentação de relatórios por parte do Estado, devendo as vítimas ou seus representantes realizar as suas

198 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Las Cláusulas Pétreas De La Protección Internacional Del Ser

Humano: El Acceso Directo De Los Individuos A La Justicia A Nivel Internacional Y La Intangibilidad De La Jurisdicción Obligatoria De Los Tribunales Internacionales De Derechos Humanos. Disponível em: <http://biblio.juridicas.unam.mx/libros/5/2454/4.pdf>. Acesso em: 20 set. 2017. P. 61.

ANDRADE, Isabela Piacentini de. A execução das sentenças da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Revista Brasileira de Direito Internacional, Curitiba, v. 3, n. 3, p.147-162, jan./jun. de 2006. P. 154.

200CORTE IDH. Regulamento da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Nov. 2009. Disponível em:

observações pertinentes ao relatório estatal. Em seguida, a Comissão fará as suas próprias considerações ao que fora declarado pelo Estado e pelas vítimas, podendo a Corte, ainda, solicitar dados que considere relevantes a outras fontes de informações. Além disso, caso entenda por conveniente, o tribunal poderá convocar audiências voltadas para a supervisão do cumprimento. Obtidas as informações necessárias, a Corte Interamericana emitirá resoluções, as quais expressarão os pontos das sentenças que foram cumpridos e quais não foram. Tendo sido identificados os aspectos que estão pendentes de cumprimento, a Corte indicará as medidas necessárias para que seja alcançado o cumprimento integral. Cabe ressaltar que, enquanto não se considere que a sentença foi integralmente cumprida, o procedimento de supervisão permanecerá aberto, podendo o tribunal repetir os procedimentos de pedido de informações e expedição de resoluções quantas vezes considerar necessários. Até o presente momento, a Corte emitiu 479 resoluções relativas ao cumprimento de suas sentenças201.

Conforme se observa, o poder da Corte de supervisionar o cumprimento de suas decisões foi atribuído pelo seu Regulamento, que é redigido pelo próprio tribunal, não sendo esta competência diretamente derivada da Convenção Americana de Direitos Humanos. No sentido de dirimir qualquer controvérsia acerca da sua atividade quanto à supervisão de cumprimento, o tribunal afirmou, em decisão icônica relativa a matéria no caso Baena Ricardo e outros vs. Panamá202, que a atividade jurisdicional corresponde ao dever de administrar a justiça, não se limitando apenas à declaração de direito. Para além disso, existe o dever de tornar efetivo o que fora declarado, através da supervisão do cumprimento dos julgados.

Portanto, é preciso que sejam estabelecidos e postos em prática mecanismos dedicados a concretizar com êxito este dever de supervisionar. Sustentar que, no caso do sistema interamericano, a atividade jurisdicional não engloba, também, a tarefa de supervisão de cumprimento é equivalente a dizer que as sentenças da Corte Interamericana são meramente declarativas, no sentido de que não criam obrigações, e não efetivas. Neste sentido, o devido cumprimento das reparações determinadas pelo Tribunal em suas decisões corresponde à materialização da justiça para o caso concreto. Ressalta a Corte, ainda, que a efetividade das sentenças depende de sua execução e que, por fim, o processo deve visar a materialização dos direitos reconhecidos em decisão judicial mediante a aplicação idônea do que fora pronunciado.

201 CORTE IDH. Supervisión de Cumplimiento de Sentencia. Disponível em: <http://bit.ly/2C1M57T>.

Acesso em: 10 nov. 2017.

202 Caso Baena Ricardo y otros Vs. Panamá. Sentencia de 28 de noviembre de 2003. Competencia. Série C, n.

Ainda, além do procedimento estabelecido pelo Regulamento do Tribunal, o Artigo 65 da Convenção Americana e o Artigo 30 do Estatuto da Corte preveem, enquanto um mecanismo que também pode ser considerado de supervisão de cumprimento, a submissão de relatórios à Assembleia Geral da OEA acerca do status de cumprimento da sentenças da Corte. Assim, neste documento que deve ser encaminhado à Assembleia Geral após cada período ordinário de sessões, devem estar presentes, sobretudo, informações acerca dos casos nos quais os Estados estejam em situação de inadimplência e, também, as recomendações da Corte acerca da demandas em questão. Este mecanismo possui natureza política e não jurídica, ao contrário da supervisão realizada no âmbito do próprio tribunal.

Segundo Valerio Mazzuoli, a submissão de tais relatórios tem demonstrado ser uma medida falha e ineficiente203, tendo em vista a conduta geralmente inerte do próprio órgão responsável, o qual é composto por todos os Estados membros da OEA, de maneira que são os próprios países infratores e inadimplentes e seus pares os responsáveis por avaliar os relatórios recebidos e recomendar as devidas sanções. Nos casos hondurenhos Velasquez Rodriguez e Godínez Cruz, mesmo após indicativo de que Honduras estava inadimplente em suas obrigações, o órgão máximo da OEA permaneceu estático em sua conduta204. Caso o Estado não dê o devido cumprimento às determinações prolatadas em sentença, a Assembleia Geral possui o dever de não apenas aprovar o relatório recebido, mas, também indicar as devidas sanções destinadas a coagir o país em questão para dar cumprimento às recomendações que ali tenham sido feitas205. Agindo em sentido contrário – ou, simplesmente, não agindo de maneira alguma – a Assembleia Geral estará descumprindo um papel que lhe foi delegado pelo próprio Sistema Interamericano e, ainda, estará falhando em contribuir com um dos principais propósitos da OEA, que é o de promover e proteger os Direitos Humanos no continente americano.