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4.1 O BRASIL NA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

4.1.4 Garibaldi vs Brasil

Ainda em 2009, a Corte Interamericana também prolatou a sua decisão final acerca do caso Garibaldi Vs. Brasil248, tendo sido esta a quarta situação na qual o estado brasileiro foi réu perante o tribunal americano. A demanda em questão diz respeito à conduta estatal diante do assassinato de Sétimo Garibaldi, que, segundo os peticionários, não teria sido investigado como deveria, o que acabou por constituir violações aos Artigos 8 e 25 da

248 Caso Garibaldi Vs. Brasil. Sentença de 23 de setembro de 2009. Exceções Preliminares, Mérito, Reparações

Convenção Americana de Direitos Humanos.

Em 27 de novembro de 1998, o Sr. Sétimo foi assassinado durante uma operação de desocupação extrajudicial, na Fazenda São Francisco, localizada em Querência do Norte, Paraná. A Fazenda em questão estava ocupada por cerca de 50 famílias integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), quando, de manhã cedo, homens encapuzados e armados chegou ao local ordenando que os assentados deixassem as suas acomodações, se dirigissem ao acampamento central e permanecessem deitados no chão. Ao sair de sua barraca, Sétimo Garibaldi foi ferido com um tiro na coxa esquerda, o que acarretou em seu falecimento em decorrência de uma hemorragia. Ainda na mesma data, foi inaugurado o Inquérito Policial 179/98, destinado à apuração de, entre outros delitos, o homicídio de do Sr. Garibaldi.

Em 12 de maio de 2004, não existia ainda qualquer processo judicial instaurado voltado para o julgamento e penalização dos culpados. Em sentindo oposto, neste mesmo dia, o Ministério Público solicitou o arquivamento do Inquérito, tendo sido o parecer da autoridade ministerial acolhido pela juíza Elizabeth Kather, titular da Vara de Loanda, Paraná, também envolvida com os fatos do caso Escher. A decisão que arquivou o Inquérito foi alvo de Mandado se Segurança, em 16 de setembro de 2004, impetrado por Iracema Garibaldi, viúva de Sétimo, ao qual foi negado provimento pelo Tribunal de Justiça do Paraná, sob a alegação de inexistência de direito líquido e certo. Quase cinco anos mais tarde, em 20 de abril de 2009, o Ministério Público solicitou à Vara de Loanda o desarquivamento do Inquérito, em razão do surgimento de novas provas, sendo estas depoimentos colhidos já durante a instrução do processo internacional no âmbito da Corte. Ainda nesta data, a juíza Carla Melissa Martins Tria, titular à época, acolheu o pedido e determinou o desarquivamento do Inquérito.

O Sistema Interamericano, por sua vez, foi acionado em 6 de maio de 2003, através de petição apresentada por diversas organizações da sociedade civil à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, representando Sétimo Garibaldi e o seus familiares. O Relatório de Mérito n. 13/07, reconhecendo a responsabilidade do Brasil e apresentando recomendações, foi divulgado em 27 de março de 2007 e notificado ao Estado em 24 de maio do mesmo ano. Considerando que suas recomendações não foram implementadas de maneira satisfatória, a CIDH resolveu submeter o caso ao juízo da Corte, referindo-se a demanda à responsabilidade estatal pelo descumprimento de sua obrigação de investigar e punir o homicídio de Sétimo Garibaldi. Considerou-se, ainda, que o caso em questão significaria uma oportunidade relevante para que o tribunal interamericano desenvolvesse a sua jurisprudência

acerca dos deveres de investigação penal dos Estados com relação às execuções extrajudiciais, além do necessário combate à impunidade.

Assim, em 11 de fevereiro de 2008 o Estado e os representantes das vítimas foram notificados acerca da demanda da Comissão, tendo se realizado audiência pública nos dias 29 e 30 de abril de 2009, durante o XXXIX Período Extraordinário de Sessões da Corte. Por fim, em Sentença de Exceções Preliminares, Mérito, Reparações e Custas, prolatada em 23 de setembro de 2009, a Corte rejeitou todas as exceções preliminares apresentadas para, em seguida, reconhecer que o Brasil foi responsável por violar os Artigos 8.1 e 25 da Convenção Americana, em desfavor de Iracema Garibaldi, Darsônia Garibaldi, Vanderlei Garibaldi, Fernando Garibaldi, Itamar Garibaldi, Itacir Garibaldi e Alexandre Garibaldi, familiares de Sétimo.

Em sua fundamentação, a Corte ressaltou que o Estado falhou em diversos momento ao conduzir as investigações relativas à morte violenta do Sr. Garibaldi, como, por exemplo: não recebimento de depoimentos relevante e que, conforme aponta o próprio tribunal, poderiam ser indispensáveis para esclarecer os fatos; inutilização de prova importante para o Inquérito, em razão de manipulação indevida de arma apreendida, por parte de agentes estatais; e, ainda, ausência de cumprimento de diligências ordenadas. Além disso, o Tribunal também considerou que o lapso temporal, superior a cinco anos, transcorrido entre a inauguração do Inquérito e o seu indevido arquivamento ultrapassa aquilo que pode ser entendido enquanto prazo razoável pra que o Estado conclua a devida investigação.

Em matéria de reparações, a Sentença obrigou o Estado a publicar no Diário Oficial, em outro jornal de circulação nacional e, ainda, em jornal de ampla circulação no Paraná, trecho determinado da sentença, além de tornar público, também, em sítios da internet, da União e da Unidade Federativa, a íntegra da sentença, por no mínimo um ano. Ainda, determinou que devem ser conduzidas, de maneira eficaz e em prazo razoável, as investigações e eventuais processos destinados a identificar, julgar e, se for o caso, sancionais, os responsáveis pela morte de Sétimo Garibaldi, além de, também, investigar e possivelmente punir faltas funcionais em que possam ter incorrido funcionários públicos responsáveis pelo Inquérito. Adicionalmente, também impôs que o Brasil deve pagar às alegadas vítimas indenizações a título de danos morais e materiais, além de ressarcir Iracema Garibaldi por custas e gastos.