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A Sustentabilidade de um Destino e sua Importância para o Turismo de Eventos

Capítulo 5 – O Planejamento e as Vantagens Competitivas para o Turismo de Eventos

5.1 A Sustentabilidade de um Destino e sua Importância para o Turismo de Eventos

Segundo Pires e Raab (2004), o turismo sustentável é uma área emergente do turismo que tem se destacado tanto no âmbito da oferta através de investimentos por parte dos governos, como no âmbito da demanda, por parte dos turistas, refletindo desse modo, o interesse das sociedades por questões ambientais, em diferentes níveis.

A Organização Mundial de Turismo (OMT), A World Travel Organization (WTO) e a World Travel Tourism Council (WTTC), entre outras organizações mundiais, estão desenvolvendo políticas, códigos e diretrizes relativos à conservação e proteção dos recursos naturais e culturais.

Segundo Herculano (1992), no início da década de 1980, a ONU retomou o debate das questões ambientais. Indicada pela entidade, a primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, chefiou a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, para estudar o assunto. O documento final desses estudos chamou-se Nosso Futuro Comum ou Relatório Brundtland. Apresentado em 1987, propôs o desenvolvimento sustentável, que é “aquele que atende às necessidades do

presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas necessidades”.

Esse documento teve três vertentes principais: crescimento econômico, eqüidade social e equilíbrio ecológico, induzindo um espírito de responsabilidade

comum como processo de mudança no qual a exploração de recursos naturais, os investimentos financeiros e as rotas de desenvolvimento tecnológico deverão adquirir sentidos harmoniosos.

O desenvolvimento sustentado, segundo a EMBRATUR (1998), é aquele que responde às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de ter condições de responder às suas necessidades.

O interesse pelo turismo sustentável coincide com a preocupação mundial em favor da preservação do ambiente, sem no entanto prescindir do atendimento à equação de equilíbrio entre a rendibilidade, a satisfação das necessidades do turista, enquanto consumidor, e da própria conservação do meio ambiente.

A figura sete retrata as principais diretrizes indicadas por Petrocchi (2001) no que diz respeito a sustentabilidade do destino turístico:

a) Preservação do meio ambiente – Essa preocupação é visível nos dias atuais, em quase todos os países, embora muito ainda se necessite fazer. A exemplo do Brasil que possui oito mil quilómetros de litoral e uma natureza exuberante em ecossistemas como o da Amazônia e do Pantanal, entre vários outros, o meio ambiente é um atrativo turístico expressivo. Neste país hoje existe uma legislação específica para o meio ambiente, e o administrador do turismo deve estar atento à preservação do mesmo, visto que é fundamental para o desenvolvimento das atividades turísticas.

b) Preservação e recuperação do meio urbano, que é um dos grandes desafios a ser enfrentado por todos os países. A velocidade da urbanização em um país pobre traz o crescimento desordenado de suas cidades, baixa qualidade habitacional, carências generalizadas em infraestrutura, falta de segurança pública, serviços deficientes, entre outros males. Tudo isso afetando de forma negativa o turismo, pois rebaixam ainda mais a qualidade de vida no local.

Dentro dessa falta de planejamento urbano, os potenciais turísticos quase sempre sofrem sérias agressões. Favelas surgem à beira-mar, em locais que poderiam ser geradores de emprego e renda; pontes são construídas em locais inadequados, não havendo atividades turísticas como circulação de barcos e veleiros destinados a passeios, loteamentos e outras atividades especulativas da expansão imobiliária cerceiam de forma irremediável o turismo em algumas regiões do Brasil. Desta forma, qualquer trabalho em prol do turismo inicia-se pela recomposição, mínima que seja, do meio urbano e suas estruturas.

c) Formação Profissional. É imprescindível prestarem-se serviços correctos ao visitante, com cortesia e profissionalismo, o que não é possível sem um programa de formação profissional. É comum os pequenos empresários não atentarem à importância do cliente e se não forem corretamente treinados para atendê-lo, há riscos de frustrar o atendimento e, assim, proporcionar aos clientes uma avaliação negativa, que se propagará e passará a representar uma ameaça a todo o sistema.

d) Sensibilização e conscientização da população para a importância do turismo. Este é, provavelmente, um dos pontos de fracasso do turismo brasileiro, uma vez que o país recebe apenas 0,3% do mercado internacional. A população, salvo exceções de algumas localidades do país, ainda não se apercebeu da importância do turismo. O turismo depende diretamente da população, seja no aspecto da hospitalidade, seja no aspecto dos investimentos necessários, devendo este assunto ser tratado como prioridade nacional.

Figura 7 – As Bases do Turismo Sustentável

Fonte: Petrocchi (2001)

A resposta atual para o problema da degradação ambiental, causada pelo modelo econômico descontrolado, até hoje adaptado, é o chamado desenvolvimento sustentável. O mesmo visa o bem-estar das populações por tempo ilimitado e leva à reflexão sobre padrões atuais de consumo e utilização dos recursos, renováveis e não renováveis. Dentro desta visão de sustentabilidade deve-se levar em consideração as cinco dimensões da sustentabilidade (Sachs, 1994):

a) Sustentabilidade social – capaz de promover melhor distribuição de renda; b) Sustentabilidade econômica – a capacidade de alocação e gestão

c) Sustentabilidade ecológica – a priorização de recursos ou produtos renováveis, abundantes e ambientalmente inofensivos, tecnologias limpas, definição de regras para a protecção do meio ambiente natural;

d) Sustentabilidade espacial – capaz de promover o equilíbrio entre os meios urbano e rural e a adequada distribuição territorial de assentamentos urbanos;

e) Sustentabilidade cultural – com a utilização dos conhecimentos das comunidades tradicionais nos meios de produção, o respeito pela identidade cultural e a valorização da memória regional.

Analisando os efeitos do processo de desenvolvimento turístico sustentável sobre as destinações, Acerenza (2002, p. 45) afirma que ”O desenvolvimento do

turismo gera toda uma série de efeitos sobre o meio ambiente dentro do qual se desenvolve. Precisamente, esses efeitos deram origem ao lucro dos diferentes países para o fomento de seu desenvolvimento, podendo manifestar-se tanto sobre a economia nacional, quanto sobre a sociedade e sua cultura, ou sobre o meio ambiente natural onde tal atividade é exercida”.

Os gestores que direta ou indiretamente lidam com um destino turístico devem ter em mente que a sustentabilidade, no seu sentido mais amplo, é um modelo de desenvolvimento perfeito que, mesmo sendo difícil de ser alcançado, deve ser incluído como estratégia a ser perseguida dentro do destino que deseja se desenvolver através por exemplo do Turismo de Eventos, visto que na maioria das vezes, demanda um público de bom nível de escolaridade e de conscientização pertinente às questões de sustentabilidade.

Neste contexto de comunidade local faz-se necessário um estudo que indique as melhores estratégias a serem utilizadas para que essa comunidade se envolva com o turismo.

É reconhecido que os benefícios econômicos do turismo são substanciais. Também é reconhecido que pode haver impactos negativos, tanto econômicos quanto sociais, para essas comunidades. Segundo Hiller (1995), nem todos os moradores da comunidade são afetados da mesma forma pelo turismo, havendo uma grande gama de reações ao turismo, na medida do efeito em que cada um pode vir a ser atingido.

Segundo Doxey (1975), à medida que o volume de turistas aumenta, as comunidades hospedeiras podem alcançar um ponto de saturação onde a irritação aumenta. Nesse ponto de saturação passa-se da fase de euforia para fase de apatia, da fase de apatia para a fase da irritação e desta fase para o antagonismo, causando assim um rompimento em uma das bases da sustentabilidade do turismo que é a

conscientização e o envolvimento dessa comunidade, necessitando assim de um planejamento estratégico que contenha medidas para neutralizar esse problema.

O desenvolvimento sustentável de um destino turístico passa pelo processo de identificação da situação atual assim como identificação e clarificação dos produtos, planos e investimentos para realização das ações sob a égide de um plano estratégico. Assim, tem-se o exemplo da Ilhas Baleares (Middleton e Clarke, 2002).

As Ilhas Baleares possuem vantagens naturais do clima, cenário, praias e áreas internas que atraem visitantes estrangeiros em números cada vez maiores há 50 anos. Ainda segundo Middleton e Clarke (2002), As ilhas tiveram sorte e azar em simultâneo, pois o período de maior crescimento (de 1 milhão em 1965 para aproximadamente 7 milhões em 1987) ocorreu em uma época anterior ao planejamento efetivo e antes do reconhecimento da questão da sustentabilidade.

Sorte, referente ao crescimento econômico, que revolucionou a renda e os benefícios associados aos residentes, bem à frente de grande parte da Espanha. Mas azar, no sentido em que os desenvolvimentos não planejados trouxeram a exploração das construções, das práticas de agricultura e desenvolvimento de uma grande despreocupação geral com a qualidade ambiental que danifica tantas zonas costeiras em áreas atraentes do turismo no Mediterrâneo e em outros lugares.

No início do século XXI, o objetivo primordial passou a ser o turismo sustentável, sendo a competitividade uma exigência primordial. Estes objetivos foram elaborados para desenvolver estratégias executadas em longo prazo nas formas de desenvolvimento do turismo sustentável que mantém e otimiza a economia, a qualidade de vida dos residentes das Ilhas Baleares e seu meio ambiente.

Inserir o turismo sustentável deve ser atingido, de acordo com Middleton e Clarke (2002), através de uma combinação das influências dos planejamentos, do Marketing e de controles nas mãos dos setores públicos e privados, suportados por um grande programa de investimento e comprometimento com capacitação e educação.

Como reportam Middleton e Clarke (2002), as ilhas Maiorca, Menorca, Ibiza e Formentera, receberam em 2005 um total de 11.626.188 turistas, 91.750 dos quais portugueses. Segundo o Diretor Geral de Promoção Turística do Governo das Ilhas Baleares Eduardo Gamero, querem aumentar ainda mais o número de visitantes naquelas ilhas, principalmente na época baixa, afirmam os autores.

Embora o turismo, nesse arquipélago seja uma atividade crescente, a preocupação da sustentabilidade está se acentuando: cerca de 75% dessas áreas encontram-se protegidas por lei para conservação natural. Buscando a sustentabilidade das Ilhas Baleares foram necessários grandes investimentos dos

setores públicos e privados. Segundo ainda Middleton e Clarke (2002) foram investidos na ordem de um bilhão e meio de dólares em pouco mais de uma década nesse arquipélago, distribuídos conforme itens abaixo:

1) Como ocorrido em 1989-1997, um investimento na ordem dos vinte milhões de dólares para implementação do “Plano de Saneamento Global” e construção de fábricas de tratamento de esgoto para evitar que o esgoto fosse despejado no mar sem ser tratado. Como resultado, passou a haver mais de 50 bandeiras azuis nas praias das Ilhas Baleares nos anos 90. 2) 10 Milhões de dólares foram investidos no “Plano de embelezamento dos

Resorts de Turismo” incluindo passeios à beira-mar, demolições de unidades obsoletas e sem estética e novos esquemas de iluminação, executados de 1990 a 1994.

3) Desde 1990, foram investidos 800 milhões pelo setor privado mediante o “Plano de Modernização da Acomodação de Hotéis”, impostos a todas as unidades construídas antes de 1984. Segundo esse plano, todos os hotéis são inspeccionados e devem atender aos padrões modernos de qualidade. A aprovação de novas camas está relacionada à remoção das camas fora do padrão aceitável.

4) Em 1995, o “Plano de Qualidade da Oferta Turística” das Ilhas Baleares foca e integra programas de qualidade para o turismo na ilha, além de favorecer os cursos de planejamento do turismo, educação e treinamento.

5) A partir de 1996, foi implantada a “Lei sobre a Modernização da Oferta Turística Complementar”, englobando o setor de alimentação (cafés, bares e restaurantes), envolvendo cerca de 20 milhões de dólares em 1999.

6) No período de 1992 a 1999, foi implantado o “Plano Futuro” do Governo espanhol enquadrando as ilhas nos planos de desenvolvimento da qualidade de “Excelência e Dinamismo” e gerou outros 20 milhões de dólares. Foi sob esse plano que o município de Calvia se tornou o projeto- piloto e demoliu cinco de seus antigos hotéis à beira-mar, substituindo-os por áreas de paisagens.

7) Desde 1997 até os dias atuais, o “Pla Mirral” (Plano Espelho), destinado a restaurar as qualidades da arquitetura das cidades que fazem parte das Ilhas Baleares. Durante dois anos (1998-2000), cerca de 280 milhões de dólares foram investidos.

8) Também no ano de 1997, foi implantado um programa voluntário ECOTUR, aprovado pelo governo das Ilhas Baleares, com o objetivo de coordenar e

regulamentar a premiação de “amigos do meio ambiente” para os fornecedores do turismo, incluindo pequenas empresas.

9) O “Plano D” foi lançado em 1997 com a cooperação das Câmaras de Comércio locais, elaborado com o objetivo de estimular o turismo fora de temporada.