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O Cluster como Componente de Competitividade de um Destino

Capítulo 5 – O Planejamento e as Vantagens Competitivas para o Turismo de Eventos

5.3 O Cluster como Componente de Competitividade de um Destino

Um cluster pode ser definido como “um conjunto de empresas e entidades que

interagem, gerando e capturando sinergias, com potencial de atingir crescimento competitivo contínuo superior ao de uma simples aglomeração económica”, (Porter,

1999, p.211).

Ao agrupar empresas, fornecedores, setores relacionados, prestadoras de serviços e instituições, as iniciativas e investimentos do governo resolvem problemas comuns a muitas empresas, setores e localidades sem ameaçar a competição. Focando nos clusters, haverá um estímulo ao desenvolvimento de bens públicos, infra- estruturas, com significativo impacto sobre muitos negócios inter conectados.

É atribuído um papel de destaque aos clusters, no sentido de serem concentrações geográficas de empresas interrelacionadas. Sua prevalência nas economias, em vez de empresas e setores isolados, proporciona importantes insights sobre a natureza da competição e o papel da localização na vantagem competitiva.

Os clusters possuem a perspectiva de criar novas visões para a região, beneficiando o ambiente de negócios da localidade como um todo. A remoção das ameaças e os obstáculos ao crescimento e à melhoria dos clusters existentes e emergentes são prioritários para se estabelecer uma nova forma de desenvolvimento sócio-econômico de uma região, proporcionando assim a melhoria do padrão de vida da comunidade.

Porter (1999, p. 104) defende que “a formação de clusters de turismo nos

países em desenvolvimento pode contribuir tanto para melhorar a infraestrutura de cidades afastadas como para distribuir a atividade económica”.

Guitierrez e Borba (1993) afirmam que não existem países competitivos, todavia países com indústrias ou setores competitivos. Assim, a Grécia não compete com a Espanha, e ambos os países não competem com a Itália. A verdadeira competição se estabelece entre Atenas (Grécia) e Madrid (Espanha) e ambas competem com Roma (Itália). As ilhas de Maiorca, na Espanha, competem com Santorini e Rhodes, na Grécia e Capri, na Itália.

Um exemplo real disso é o fato de as brochuras das operadoras turísticas oferecerem clusters e não países, apesar de virem ordenados por países.

Beni (2001) afirma que o trabalho de marketing desenvolvido por alguns países, empreendendo seus esforços mercadológicos voltados para os clusters, através da promoção e divulgação dos destinos turísticos formadores daquele clusters. O turismo pode ter uma diversidade de possibilidades competitivas, contudo na maioria dos casos, os produtos turísticos de um país estão concentrados em regiões

geográficas muito específicas, onde se desenvolvem as atividades que constituem o produto a ser desenvolvido. Por isso, enfocar o cluster, na indústria do turismo é natural, partindo-se do pressuposto que qualquer núcleo turístico caracteriza-se pela existência de atrativos naturais ou culturais, de empresas voltadas à captação de visitantes, reunidos em determinada área geográfica.

A competitividade se produz em âmbitos locais e clusters, segundo Porter (1999). Em virtude disso, os responsáveis pela política de um país ou de uma destinação turística devem levar em conta que cada negócio turístico é diferente e cada um possui uma vantagem competitiva diferente, com diferentes regras e diretrizes e que cada um se defronta com competidores diferentes.

Um cluster se diferencia e leva vantagem competitiva quando já possui uma identificação ou marca, possuindo assim uma diferenciação. Ele possui êxito quando consegue criar um entorno favorável para a competitividade e esse entorno modela-se segundo a Teoria do Diamante da Competitividade (Porter, 1999). Nessa teoria, o

cluster se constitui em um sistema interdependente, no qual cada um dos

componentes influi sobre os outros.

Figura 10 – Sistema Completo do Diamante da Competitividade

Fonte: Porter (1999)

A figura 10 demonstra as relações que Porter (1999) estabelece entre os determinantes da vantagem nacional configurando um modelo que se tornou comumente conhecido como “diamante competitivo”. São duas as variáveis que

podem influenciar o sistema nacional de forma relevante e afetando os determinantes da vantagem competitiva. Tratam-se do “acaso” – acontecimentos fora do controle das empresas (invenções puras, descobertas em tecnologia básicas, guerras, acontecimentos políticos externos, grandes mudanças na demanda do mercado externo, entre outros) e do “Governo” – que através das políticas diversas pode atuar para melhorar ou piorar a vantagem nacional.

Faz-se necessário conhecer cada um dos componentes do Sistema Diamante Competitivo em uma localidade ou região (Porter, 1999):

a) Condição de fatores de produção. Analisar quais são os fatores-chave na criação da vantagem competitiva do cluster, enfocando seus recursos humanos (número, capacitação, qualidade e custo), recursos físicos (tipologia, qualidade, quantidade, nível de hierarquia, acessibilidade e custo dos recursos susceptíveis à exploração turística), recursos de conhecimento (universidades, institutos, escolas, fundações, capazes de prover o cluster de conhecimentos científicos, técnicos e de mercado); recursos de capital (formas e capital disponíveis para o financiamento do setor) e infraestrutura básica e de apoio ao turismo (transporte, comunicação, saneamento, energia, serviços e equipamentos, entre outros).

b) Condições de demanda. Analisar quais são as condições de demanda, em termos da caracterização de suas necessidades, motivações, volume e tendências de crescimento, grau de segmentação, hábitos e tendências e grau de experiência e sofisticação da demanda, em relação à natureza do mercado local.

c) Fornecedores e indústrias relacionadas. Analisar a presença no cluster ou região, de fornecedores e outras empresas relacionadas com a cadeia de valores. A existência de matéria-prima para os setores hoteleiros, de alimentação e entretenimento, rede de capacitação de mão-de-obra, especialistas no setor turístico, quantidade e qualidade de oferta complementar, disponibilidade de serviços de manutenção e assistência técnica entre outros.

d) Estratégias, estruturas e rivalidade das empresas. Analisar o grau de consolidação das empresas turísticas que formam o cluster, as barreiras de entrada e saída das diferentes atividades do turismo, a regulamentação da atividade, a concentração e a integração das empresas, a organização, administração e natureza da rivalidade entre os players.

Porter (1999) afirma que os clusters, conjuntamente com o modelo do diamante da competitividade, contribuem para um efetivo processo de desenvolvimento regional e criação de riqueza na economia, tornando a competição mais concreta e operacional.

Na Holanda, por exemplo, o desenvolvimento dos clusters é prioritário nas políticas governamentais. Vários estudos têm apresentado a relevância dos clusters turísticos para os países em desenvolvimento e comuns em um grande número de países. Isso indica que os clusters têm contribuído para que os pequenos destinos turísticos diferenciados e competitivos superem barreiras para o crescimento e possam atingir novos mercados em âmbito nacional e internacional.

O grande número de ligações dos membros de um cluster faz com que o todo seja maior do que a simples soma das partes, dentro da teoria de Ansoff (1977). Baseada nesta informação, pode se afirmar que um cluster turístico típico, pode proporcionar a satisfação do turista não apenas considerando a atração primária do local, mas também da qualidade e eficiência de empresas correlatas – hotéis, restaurantes, centros de arte, artesanato e compras, meios de acesso, transporte e comunicação.

Como exemplo, relata-se a formalização do cluster Costa dos Coqueiros-

Bahia (2007). O qual é composto pelos seguintes destinos: Lauro de Freitas,

Camaçarí, Mata de São João, Entre Rios, Esplanada, Conde e Jandaíra. Os objetivos específicos do cluster da Costa dos Coqueiros (2007) são:

a) Desenvolver e monitorar a implementação do novo posicionamento estratégico na Região Turística da Costa dos Coqueiros, bem como a sua integração e potencialização.

b) Promover o turismo sustentável em suas quatro dimensões: ambiental, cultural, social e econômica;

c) Mapear o interrelacionamento entre Governo e a iniciativa privada (a) propondo iniciativas, políticas públicas e mecanismos que potencializem as ações integradas e (b) aprimorando o nível de cooperação e o intercâmbio de melhores práticas;

d) Incentivar a iniciativa privada e a livre concorrência, obedecendo a padrões de conduta e ética de negócios que contribuam para um clima de melhor bem-estar social e desenvolvimento econômico;

A formalização do cluster na Costa dos Coqueiros deu-se através da institucionalização do cluster; Assembléia geral da fundação; Registro em cartório e Secretaria da Receita Federal do Brasil e Qualificação no Ministério da Justiça. Foi constiuído um Fórum permanente do cluster através de entrevistas com agentes da iniciativa privada e poder público; levantamento de dados; visão compartilhada de futuro; workshop, planejamento estratégico; implementação e gestão de projetos.

Foram detectados como maior desafio desse cluster os seguintes itens: infraestruturas (estradas, sinalização, telecomunicação, urbanização); meio ambiente (diagnóstico, ocupação ordenada, agenda 21); Marketing (promoção, divulgação, eventos e vendas); Produtividade (incremento dos negócios, competitividade e tecnologia) e gestão (qualificação de pessoal, atração de investimentos e monitoramento).

Como resultados programados espera-se: a implementação de um fórum permanente; visão compartilhada do futuro da Costa dos Coqueiros; planejamento estratégico para a região; promoção da parceria público-privado, além da conscientização da comunidade em relação ao desenvolvimento sustentável.

Segue alguns dos projetos e programas que estão sendo fomentados fruto do

Cluster Costa dos Coqueiros. O Cluster não é órgão executor. Ele articula, mobiliza,

pesquisas, capta recursos, dentre outras atividades que garantam o desenvolvimento de atividades totalmente sustentáveis no destino turístico.

PROJETO 1 – Segurança Solidária

Criação do Batalhão PM da Costa dos Coqueiros em parceria com a comunidade e empresários.

PROJETO 2 – Agência Patra de apoio ao trabalhador autônomo

Instalação de um agência Patra, programa estadual de apoio ao trabalhador autônomo, em Imbassaí, com apoio da Setras - Secretaria do Trabalho, Ação Social e Esporte da Bahia, da Prefeitura do municipal de Mata de São João e do Sindicato de Hotéis de Mata de São João. Uma rede de capacitação será formada por SEBRAE, Instituto de Hospitalidade, Senac e Coelba, visando a qualificação e treinamento dos trabalhadores cadastrados.

PROJETO 3 – Rede de Negócios da Costa dos Coqueiros

Padronização na compra, melhoria da logística, criação de centro distribuidor, entre outras atividades.

PROJETO 4 – "Aprender e Compreender - Turismo e Cidadania"

PROJETO 5 – Sensibilização de gestores municipais

Sensibilizar os municípios integrantes sobre a importância do Cluster no desenvolvimento turístico da região, fortalecendo os vínculos entre as localidades e gerando uma maior sinergia em busca do turismo sustentável.

PROJETO 6 – Atlas de Desenvolvimento Humano

Atlas municipal do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Sistema que reúne e dispõe de todos os dados do município.

PROJETO 7 – Banco de Dados da Costa dos Coqueiros

Reúne dados gerais da região como um todo, assim como dos municípios separadamente.

PROJETO 8 – Rede Costa dos Coqueiros

Plano de comunicação para a região, incluindo TV, rádio, hot-site, newsletters e outros.

PROJETO 9 – Resgate Cultural - A História de Garcia D’ávila

Processo de resgate cultural, reunindo dados de pesquisas científicas e informações coloquiais de nativos que detêm o conhecimento popular, sobre a vida e história da família Garcia D´ávila. Serão criadas atividades educacionais, recreativas, artísticas e culturais no Parque Garcia D´Ávila, e em uma primeira etapa serão editadas publicações didáticas para alunos até a 5ª série.

PROJETO 10 – Feira de Artesanato da Costa dos Coqueiros

Capítulo 6 – Metodologia

A metodologia possui um caráter de primordial importância em um trabalho científico: transforma-se em bússola para os pesquisadores, inseridos em um mapa cheio de caminhos por descobrir.

O processo de investigação assenta-se basicamente na busca e na pesquisa. Na pesquisa do saber e do conhecimento, na busca de uma verdade oculta ou, até então, não desbravada.

Segundo Rejowski (1996, p. 13) “As pesquisas concluídas geram informações

que, veiculadas através dos meios de comunicação, geram novas pesquisas. Estas, uma vez concluídas, iniciam novamente o ciclo, tornando-o contínuo”.

Inicia-se, na maioria das vezes, uma investigação com um cenário que é quase sempre o mesmo, sabe-se vagamente o que se quer, entretanto não se tem a certeza dos mecanismos para abordar a questão. Por vezes, também fica-se surpreendido com a informação recolhida, com os contornos que os dados revelam e com os resultados atingidos.

A metodologia constitui um componente importante da reflexão do pesquisador, pelo valor intrínseco que assume na investigação, pela linha orientadora, e pelo equilíbrio que nos obriga a seguir e pela organização que incute e promove no tratamento e análise de fontes e dados disponibilizados.

Metodologia, segundo Capomar (1991) assume grande relevância nas pesquisas, uma vez que sem ela os resultados das investigações seriam de difícil aceitação. Este método é a forma encontrada pela sociedade para legitimar um conhecimento adquirido empiricamente, ou seja, quando um conhecimento é obtido pelo método científico, qualquer pesquisador que repita a investigação nas mesmas circunstâncias obterá o mesmo resultado, desde que os mesmos cuidados sejam observados.

Ciente da grande importância do aspecto metodológico, foi desenvolvida uma metodologia que se alicerçou nos suportes oferecidos pelas aulas do mestrado, nas indicações do orientador e na experiência da autora deste trabalho, com dez anos de atuação como organizadora de eventos na cidade de João Pessoa. Esta formatação prévia culminou com os caminhos que foram seguidos nesta pesquisa, que serão posteriormente identificados.