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Parte I 1 Perceção dos níveis de Conectividade da Web

(2013) LOS MOOCS, SU EVOLUCIÓN Y SU ALTERNATIVA: EL APRENDIZAJE PERSONALIZADO VI Jornadas de Redes de Investigación en Innovación Docente de la UNED Sesión Plenaria “El presente y futuro de

4. Pessoa e Tecnologia

4.1. Em torno da Tecnologia

4.1.1. A Tecnologia como fator de Massificação ou de Individualismo

Com a perceção heideggeriana da distração do cuidado de si mesmo que a instrumentalidade implica, vários são os autores mais recentes que, nesta linha de pensamento, consideram a tecnologia como fonte de despersonalização, individualismo, massificação e alienação.

Paul Virílio define a era da informática como algo perigoso por levar o ser humano à perda da noção da realidade, quebrando distâncias e territorialidades e ainda por proporcionar uma quantidade absurda de informações. Criador do termo ‘dromologia’ – de dromos: velocidade – Virílio pretende circunscrever melhor a intervenção das dimensões espaciais e temporais na cena contemporânea: “Tempo (duração), espaço (extensão), a partir de agora inconcebíveis sem a luz (velocidade- limite), a constante cosmológica da velocidade da luz, contingência filosófica absoluta que sucede depois de Einstein ao carácter absoluto concedido por Newton e por muitos antes dele ao espaço e ao tempo. “ (Virílio, 2000 citado em Andrade, n.d., §24).

Intrinsecamente afetado pela dromologia, Virílio considera que, pelo rompimento da física e da metafísica, a velocidade impõe o problema da temporalidade e da finitude, tornando-se verdadeiramente delicado pois que, quer pela inexistência de espaço quer pela ausência de tempo, apenas resta o aqui e o agora. Esta questão incomodativa relativa à temporalidade coloca vários problemas ao ser humano, até porque a necessidade de um eixo espácio-temporal que não seja etéreo e apenas presente é uma das marcas da finitude humana. É por isso que Virílio considera a técnica como desumanizadora, não porque ela quebre as relações humanas, mas pela asfixia que as novas tecnologias produzem na ‘Aldeia Global’ devido à já referida falta de espaço (e de tempo, também). Enquanto Virílio vê a tecnologia como desumanizante devido ao desaparecimento da matriz espácio-temporal que levanta infinitas questões relativas à temporalidade humana, o polonês Zygmut Baumam, um

dos sociólogos mais respeitados da atualidade, considera que a tecnologia trouxe à ribalta um dos grandes problemas com os quais a humanidade se vai debater: o da perda da universalidade e de todas as fragilidades a que isso conduz.

A fragilidade dos laços humanos derivada da flexibilidade imposta pela vivência em rede (virtual) põe a descoberto a fluidez e fugacidade das relações, dos medos, angústias e preocupações. A atualidade está marcada pela não vinculação a algo que seja universal e imutável, que leva à fragilidade dos vínculos humanos e, ao limite, à inexistência dos mesmos. Esta fragilidade e desvinculação de laços cria no ser humano a furiosa ‘individualização’ mas, curiosamente “(...) os relacionamentos são bênçãos ambíguas” (Bauman, n.d., p. 6) oscilando “(...) entre o sonho e o pesadelo” (Bauman, n.d., p. 6). Os relacionamentos são, na sociedade moderna, o tema mais atual; a modernidade líquida é fértil em relacionamentos em rede (os contactos que cada pessoa tem) os quais carecem de sério compromisso.

A quebra da universalidade - referencial universal - (quase ao jeito kantiano) leva as sociedades atuais a cair no problema da fugacidade das relações. Ao refletir sobre isto, Bauman considera que os relacionamentos atuais são “(...) “relacionamentos de bolso” do tipo de que se “pode dispor quando necessário” e depois tornar a guardar.” (Bauman, n.d., p. 7). Aquilo que resta ao ser humano da sociedade líquida (as sociedades modernas no dizer de Bauman, ou as sociedades contemporâneas, em sentido mais corrente) é a relatividade dos valores em constante mutação devido à sua própria fugacidade, faltando-lhe uma matriz universal onde tais valores estejam ancorados.

Tal como se coloca a fluidez e a fugacidade no relacionamento humano, o mesmo acontece em todos os setores da existência humana. A tecnologia, por dois motivos centrais - 1) pelo facto de a web 2.0 ser uma representação (uma cópia) da sociedade atual; 2) porque a tecnologia está a substituir o ser humano nas mais diversas tarefas -, pode ser vista como a causadora de uma multiplicidade de problemas que assolam a esfera humana. Porém, este estudo questiona se o problema que se levanta relativamente à tecnologia, não existiria sem ela.

Em relação ao primeiro motivo, a resposta será, provavelmente, afirmativa, pois que se a web 2.0 é uma representação ou cópia virtual da sociedade, o problema dos valores que se transfere para o plano da tecnologia já existiria. Anexada ao problema da não universalização em que a sociedade contemporânea caiu - eventualmente devido a uma obrigação socialmente imposta pela sociedade de respeito pela universalidade (dos

valores e dos relacionamentos) - a questão relativa à intencionalidade humana é central. Diz Castells, citando Kranberg, que “a tecnologia não é neutra” (2007, p. 94); por isso, só com a intervenção da intencionalidade humana ela poderá trazer algum problema à esfera da (co)existência. Por outro lado, a propagação dos efeitos relativos às intencionalidades humanas surtem ‘eco’ (são ampliados), o que numa sociedade não virtualizada não existiria (a inexistência da dimensão espácio-temporal junto das redes de serviço social propagam, de forma quase automática, os efeitos de uma intenção humana).

No que diz repeito ao segundo motivo apontado, no paradigma socioeconómico vigente, certamente que a tecnofobia é legítima; porém, não será que o facto de a tecnologia substituir o ser humano nas mais diversas tarefas (rotineiras, aborrecidas e castradoras de criatividade) trará a possibilidade de construção de um novo paradigma (político, social, económico e educacional)?

Ortega y Gasset em A Rebelião das Massas (2003) reflete sobre a transformação social que pretere a qualidade em prol da quantidade. Resultado, não de um processo (ilusório) da crescente americanização da europa (Gasset, 2003, p. 23), mas sim das nivelações que dão origem ao ser humano médio (não sendo o mesmo que classe média) que origina a subversão das massas (Gasset, 2003, p. 24), a tecnologia traz consigo desafios e possibilidades, mas também entorpecimento e medianidade. Por um lado, a medianização é subjugadora do ser humano individual perante as massas; mas, por outro, é potencializadora da ação ou, como afirma o autor: “O ser humano-massa é o ser humano cuja vida carece de projeto e caminha ao acaso. Por isso não constrói nada, ainda que suas possibilidades, seus poderes, sejam enormes.” (Gasset, 2003, p. 33). Este é o ser humano que vive da opinião que gera acerca de tudo, sem atender às verdades do passado ou às perspetivas diferenciadas da sua; é o ser humano que “Quer opinar, mas não quer aceitar as condições e supostos de tudo opinar.” (Gasset, 2003, p. 41).

Esta crise que o ser humano-massa vive é consubstanciada e consubstanciadora de uma civilização, essencialmente técnica, que substitui a cultura até agora triunfante, originando uma “democracia liberal e técnica” (Gasset, 2003, p. 44). Na perspetiva de Gasset, a proliferação do ideal da ‘massa’, ou seja, do ser humano-massa (não sendo esta ideia recíproca da de uma classe social, mas sim de um “(...) modo de ser ser humano que se dá hoje em todas as classes sociais, que por isso mesmo representa o nosso tempo, sobre o qual predomina e impera” (Gasset, 2003, p. 53) deveu-se à técnica

e ao seu desenvolvimento pois que “Não há dúvida de que a técnica – junto com a democracia liberal – engendrou o ser humano-massa no sentido quantitativo desta expressão. (...) (e) também é responsável da existência do ser humano-massa, no sentido qualitativo e pejorativo do termo (Gasset, 2003).

Pelas palavras do filósofo, compreende-se que a técnica e o tecnicismo são visões cegas (especializadas) do mundo, da realidade e da sociedade; elas sabem de si e ignoram o resto. Esta ideia que Gasset transmite é, por um lado, uma crítica à técnica como subvertora de humanidade e uma chamada de atenção para o facto de se estar numa crise de valores cada vez mais agudizada, por outro. Porém, o autor também reconhece a técnica como potenciadora e possibilitadora de (algo). Será apenas potenciadora de uma não visão, de uma cegueira técnica, ou será possibilitadora de algo mais?

Potenciadora, mas não geradora de problemas éticos e ontológicos, a tecnologia permite uma ampliação das repercussões provenientes da intencionalidade humana sendo, neste sentido, fator de potencialização de despersonalização, individualismo, massificação e /ou alienação, quer pela falta de espaço e de tempo como matriz comum ao ser humano, quer pela fluidez das relações e do falatório ou opinologia, bem como de um certo seguidismo que ela provoca. Apesar disso, será que as novas ferramentas disponibilizadas pela tecnologia, e especificamente pela tecnologia semântica, não poderão ser, também, fator de personalização? Não será possível que uma tecnologia mais avançada permita uma maior humanização da Pessoa humana?