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A Teologia Feminista: motivações e propostas

A mulher, como sujeito eclesiológico e teológico, cria e fecunda, juntamente com o homem, as diferentes teologias que estabelecem elaboram o diálogo religioso. Uma das grandes missões da Igreja é dar especial privilégio aos pobres, principalmente aqueles que sofrem muitas discriminações sexistas160. A teologia feminista combate este tipo de discriminação, neste caso da mulher. A mulher começa a ter e quer ter mais oportunidades de falar, de expor a suas ideias e, principalmente transmitir a sua relação com Deus, como testemunho para toda a comunidade eclesial161. A marginalização da mulher é de facto um dos problemas de uma sociedade patriarcal, em vários âmbitos sociais. É importante notar que a luta da teologia feminina não gera guerra contra os homens, na intenção de o derrotar, mas sim combater uma ideologia machista. Porque nos marginalizados estão também incluídos homens, bem como mulheres, vitimas de um terceiro mundo162.

156 Virgina Raquel Azcuy, “Iglesia de las mujeres, gracia transformante”, Cuadernos de Teología, nº20 (2001) 115-133.

157 Cf. José Elizondo, “Mujer”, in 10 mujeres escriben Teología, (dir.) Mercedes Navarro (Espanha: Verbo Divino, 2013), 200.

158

Cf. Entrevista a Enzo Biachi “As mulheres devem estar no lugar de decisões na Igreja”, Lurdes Ferreira

(dir.), Jornal Público, 06 de Maio de 2018, 20.

159 Cf. Virgina Raquel Azcuy, “Iglesia de las mujeres, gracia transformante”…, 117.

160 Cf. Margarita Maria Pintos, “Mujeres teólogas: corrientes y acentos de la teologia feminista”, Sal Terrae, 955 (Março 1993): 185-186.

161 Cf. Margarita Maria Pintos, “Mujeres teólogas: corrientes y acentos de la teologia feminista”:188-189. 162 Cf. Teresa Forcades, Teologia Feminista en la Historia (Madrid: Ed. Fragmenta, 2011), 103-108.

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A teologia feminista critica alguns aspectos a nível de hermenêutica: ausência de uma exegese na linguagem bíblica, que englobe homem e mulher; uma cultura bíblica deformada por homens; a interpretação do texto bíblico deve ser apenas uma possibilidade e não algo preciso. A revelação bíblica é muitas vezes condicionada por uma linguagem humana, onde esta é culturalmente limitada. Uma linguagem masculina, androcêntrica e condicionada por uma cultura patriarcal, que não deixa a mulher ter uma maior a participação da mulher na igreja163. A teologia feminista critica certas selecções e tradições do Novo Testamento, porque respondem a certos interesses androcêntricos. Relata também que muitas vezes se produz leituras antifeministas da Biblia, que se tem eternizado como lei sagrada-natural para sustentar a inferioridade da mulher em relação ao homem, bem como a Igreja Católica legitima-se como sendo autoridade bíblica sobre todas as igrejas protestantes. Assim propõem um distanciamento do texto, a fim de encontrar um sentido e intenção universal para todos. Propõem também uma leitura dos textos em favor de todos os marginalizados, bem como fazer uma leitura e exegese bíblica, numa visão feminina164.

A teologia feminista declara que é necessário olhar para uma teologia que também encarna na mulher, na sua experiência com Deus. Sendo o evangelho uma mensagem universal, é necessário que a sua transmissão tenha carácter entre as pessoas, para que ele seja mensagem de igualdade, liberdade e amor, havendo comunhão entre homem e mulher, sem haver papéis de inferioridade e superioridade, mas de igualdade165.

Contudo é necessário esclarecer os argumentos apresentados. Alguns autores falam que a teologia feminista tem na base vários movimentos feministas de esquerda, que pretendem afirmar-se não só na sociedade como também no seio da Igreja. Estes movimentos, dentro da Igreja, salientam que é necessário romper com a Tradição, preocupam-se em construir uma nova teologia, reenvidam que a mulher não deve ser reduzida apenas a um ser reprodutivo e pretendem uma releitura da sagrada escritura com uma visão feminina. Mas bem, a Igreja apesar de ter o dever de ler os sinais dos tempos, nunca vai deixar-se corromper por uma religião secular e social. As posições, que se tornam manchetes de revindicações, de uma nova era, onde se procura uma liberdade sexual, uma igualdade de direitos no qual “tudo tem direito a tudo”, mas que no fim ninguém encontra um sentido para a sua vida, podemos equipar aos tempos em que se prestavam culto aos falsos deuses e ídolos. Os movimentos femininos não atendem às verdadeiras necessidades do ser feminino e do seu papel no meio

163Cf. Neiva Forlin, “Teologia feminista: uma voz que emerge nas margens do discurso teológico hegemónico”, Rever, XI, nº 1 (Jan/Jun 2011): 146-149

164 Cf. Margarita Maria Pintos, “Mujeres teólogas: corrientes y acentos de la teologia feminista”: 191-193 165 Cf. Vanessa Raquel Meira, “Cristianismo e femininos podem coexistir? Lições da primeira onda do feminismo”, Kerygma, Vol. 14, 1 (2019): 6-21.

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do mundo, porque se deixam influenciar por lutas sociais temporárias166. A mulher tem valores mais fortes, é mais que um ser social e não deve ser escrava social. A mulher não pode ser vista como um ser de segunda classe, ela tem a sua identidade. Deus fê-la á imagem e semelhança, tal como homem, portanto, com a ajuda da Igreja, a mulher deve procurar o seu papel eclesial e social. Ela não é auxiliadora, não é inferior, mas cooperadora do projecto de Deus167. A inferioridade da mulher é algo que foi marcado pelo meio social e não pela Sagrada Escritura. No entanto, também é importante destacar que nem toda a história do feminismo foi negativa, porque vários movimentos abriram portas para a liderança feminino dos movimentos, como o caso de outras confissões religiosas, todavia é importante explorar esta situação para marcar uma melhor envolvimento da mulher na Igreja Católica168. A deturpação do ser feminino baseia-se, algumas vezes, pela guerra que os movimentos femininos declaram contra o homem.