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3. DESENVOLVIMENTO TEÓRICO

3.3 T EORIA INSTITUCIONAL

3.3.2 A teoria institucional no estudo das organizações

O ponto central da perspectiva institucional baseia-se na busca de legitimidade pela organização, seja de forma explícita e intencional, seja através de adaptações passivas ou pouco evidentes. Essa busca pela legitimidade leva a práticas isomórficas, pelo qual organizações são estimuladas, por razões diversas, a se tornarem semelhantes, em estruturas, processos e crenças, a outras organizações que compartilham contextos ambientais similares, definidos como ambientes institucionais.

Meyer e Rowan (1977) propõem que estruturas racionalizadas formais podem surgir a partir de dois contextos. O primeiro é representado pelas estruturas de controle e coordenação de atividades que permitem a uma organização obter uma eficiência relativa superior, e portanto uma vantagem competitiva sobre seus concorrentes. O segundo molda-se por uma teia de relacionamentos e interações sociais e representa um contexto altamente institucionalizado. Ressaltam, contudo, que não há tipos puros ou extremos, mas antes um continuum ao longo do qual as organizações se situam, variando de organizações de produção, fortemente pressionadas por controle de resultados, a organizações institucionalizadas onde o sucesso depende mais da confiança e estabilidade, adquirida justamente pelo isomorfismo a regras e padrões institucionalizados.

Essa abordagem traz portanto, uma nova dimensão à perspectiva contingencial, ao reconhecer as influências do ambiente sobre as estruturas e práticas da organização, reposicionando o próprio conceito de ambiente. Este passa a incorporar os valores predominantes em um contexto, a cultura e a estrutura social.

As pressões institucionais e os processos de isomorfismo não podem, contudo, ser considerados em planos diversos. Scott (2001) categoriza a aplicação da teoria institucional em seis níveis, de acordo com o foco de análise utilizado: sistema global, sociedade, campo organizacional, população organizacional, organização e subsistema organizacional. Destes, o conceito de campo organizacional (organizational field), é o mais significativo para a teoria institucional. Compreende um conjunto de organizações que constituem uma área reconhecida de vida institucional (DIMAGGIO e POWELL, 1983, p.148), tais como fornecedores, consumidores, agências regulatórias e outras organizações que produzam serviços ou produtos semelhantes.

Em seu estudo clássico sobre o processo de isomorfismo organizacional, DiMaggio e Powell (1983) exploram esse conceito de campo organizacional, de grande importância no movimento neo-institucional, cuja estruturação afirmam ocorrer em quatro momentos. Inicialmente, aumentam o número de interações entre as organizações em um determinado setor ou campo; surgem estruturas organizacionais de dominação e padrões de coalizão; a seguir, aumenta a quantidade de informação que as organizações precisam deter; finalmente, surge a consciência mútua entre essas organizações que estão atuando em um empreendimento comum. Uma vez configurado e institucionalizado o campo organizacional,

fortalece-se o processo de isomorfismo, pelo qual as organizações nesse campo tornam-se cada vez mais semelhantes.

A estruturação de um campo organizacional pode ser avaliada, segundo Scott (2001, p.202) ao longo de 8 dimensões:

• Centralização do funding, que se refere ao grau de concentração dos recursos financeiros pelos atores no campo;

• Unidade de governança, ou grau de congruência das estruturas de governança na jurisdição e consistência do sistema legal enunciado e praticado;

• Interação do modo de governança público-privado, que é o grau em que autoridades públicas e privadas exercem controle sobre o campo;

• Isomorfismo estrutural, ou extensão na qual os atores organizacionais no campo se conformam a arquétipos específicos ou modelos estruturais;

• Coerência das fronteiras organizacionais, ou grau de uniformidade das formas organizacionais encontradas no campo, segundo fronteiras bem delimitadas;

• Consenso em lógicas institucionais, ou graus de adesão dos atores a crenças comuns e receitas para condução das atividades no campo;

• Relacionamento organizacional, ou grau de conexão formal ou informal entre um grande número de atores organizacionais no campo;

• Clareza das fronteiras do campo; ou grau de insularidade e separação dos atores e estruturas em um campo de outros campos vizinhos.

Essa idéia de campo compreende tanto a importância de conectividade quanto de equivalência estrutural (DIMAGGIO e POWELL, 1983, p.148). Conectividade significa uma ligação entre organizações que podem incluir contratos formais, participação de pessoas em ações conjuntas, tais como organizações profissionais ou sindicatos, ou informais, tais como fluxo de pessoas. Equivalência estrutural se refere a um posicionamento similar em uma estrutura de relacionamentos, como por exemplo quando duas organizações tem relações como o mesmo tipo de organização.

Para Meyer e Rowan (1977) é a característica relacional, baseada na predominância no atendimento à eficiência e às regras de mercado, ou aos aspectos institucionais, que irá determinar a firmeza do alinhamento entre estrutura e atividades. Organizações cujos resultados são mais facilmente avaliados tendem a fortalecer a utilidade e disseminar a prática

de instrumentos de coordenação e controle. Organizações institucionalizadas, ao contrário, tendem a considerar de modo formal esses instrumentos, utilizando-os mais com significado simbólico do que para introduzir mudanças nas atividades ou na aplicação de punições.

Nessa linha, a teoria institucional propõe que o ambiente de atuação organizacional (organizational field) pode ser dividido em técnico e institucional.

No ambiente técnico predominam as regras de mercado e os resultados das organizações são facilmente comparados e avaliados. As organizações são modeladas seguindo um processo de isomorfismo competitivo ou competição por recursos escassos, sendo portanto mais usual em ambientes de competição livre e aberta (ORRÙ, BIGGART e HAMILTON, 1991).

No ambiente institucional, o resultado da atuação organizacional não pode ser avaliado apenas por sua produção (output), mas principalmente pelo atendimento a um conjunto de expectativas mais gerais de seus stakeholders. A legitimidade, no cumprimento de regras, normas, leis, práticas profissionais correntes e conformidade às expectativas dos stakeholders, principalmente quanto a um comportamento esperado, torna-se mais importante que critérios associados à própria eficiência dos processos. As organizações neste ambiente são modeladas segundo uma pressão social, resultando em um isomorfismo institucional em resposta a forças regulatórias e normativas similares, ou copiando estruturas adotadas por organizações bem sucedidas quanto atuando em condições de incerteza.

Essas formas são adotadas por prescrição de patrocinadores, tais como agências de fomento, ou porque determinada forma se tornou prática aceita no setor. Esse ambiente é mais usual em organizações que buscam poder político ou legitimidade institucional (ORRÙ, BIGGART e HAMILTON, 1991), e tipicamente são avaliadas mais pela propriedade de sua forma que pelos seus resultados.

Powell (1991, p. 184) adverte, contudo, que considerar setores como técnico ou institucional pode gerar problemas. Critica sua proposta anterior (DiMAGGIO e POWELL, 1983) de modelo em duas fases, na qual argumenta que campos organizacionais têm ciclo de vida característicos, alternando períodos iniciais onde dominam propriedades de eficiência com períodos de maturidade, nos quais o isomorfismo institucional governa a sobrevivência. Dessa forma, a adoção pioneira de uma inovação poderia ser prevista em termos das necessidades técnicas dos potenciais usuários, mas uma vez atingidos certos níveis de

institucionalização sua adoção provê mais legitimidade que melhora no desempenho. Contrapõe que isso implica aceitar que a conformidade a pressões institucionais é relativamente fácil e sem custos, que ao considerar a solução técnica como escolha natural erroneamente ignora o processo de rejeição a possíveis técnicas alternativas, e que o critério para escolher uma boa solução técnica é sempre sujeito a disputa. Afirma ainda que esse modelo obscurece o processo completo de suporte institucional pelo qual algumas inovações são definidas como úteis e encontram larga aceitação.

Meyer e Rowan (1977) em uma aproximação inicial à idéia de ambiente técnico e institucional, concebem um continuum sobre o qual as organizações podem ser ordenadas segundo sua variável crítica para sucesso. Em um extremo, estariam as organizações denominadas de produção, sujeitas a fortes pressões por controle sobre sua produção, e cujo sucesso depende da gestão de uma rede de relacionamentos. No extremo oposto, encontram- se as organizações institucionalizadas, cujo sucesso depende da confiança e estabilidade alcançada pelo isomorfismo às regras institucionais.

Embora considerado como assumindo uma visão passiva da organização frente a seu ambiente, principalmente pela pouca preocupação com os processos de mudança, ou mesmo de institucionalização (SLACK e HININGS, 1994), a teoria institucional, mais especificamente a vertente neo-institucional, afirma a capacidade das organizações de adotarem estratégias para moldarem seu contexto de atuação. Conforme Meyer e Rowan (1977, p. 348), muitas organizações buscam, junto às autoridades coletivas, obter privilégios e institucionalizar seus objetivos e estruturas nas regras estabelecidas. Esse processo ocorre pela pressão que organizações mais poderosas exercem no sentido de modelar estruturas e relacionamentos de outras organizações, transformar seus objetivos e procedimentos como regras institucionais socialmente aceitas.