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2. As teorias da ação e do ator

2.1 A teoria da pluralidade do indivíduo

Na sociologia à escala do indivíduo, Lahire (2002) propõe um programa de investigação que possa fornecer ao pesquisador as condições necessárias para um estudo sociológico mais singular do social.

O esboço de uma teoria do ator plural, as reflexões sobre as diferentes formas de reflexividade na ação, sobre a pluralidade das lógicas da ação, sobre as formas de incorporação do social e o lugar da linguagem no estudo da ação, e dos processos de interiorização que propomos, foram elaborados com o cuidado constante de não conservar um único tipo de ação na cabeça e teorizar por generalização abusiva, mas, ao contrário, de fazer variar sistematicamente os casos possíveis, às vezes até os casos limites e quase absurdos, apoiando-nos em pesquisas empíricas diversas (LAHIRE, 2002, p.12).

Quando Lahire trata de seu programa de estudo aborda o eterno dilema da sociologia, que é a relação entre estrutura e indivíduo, mas essas duas perspectivas não são excludentes. O social está no indivíduo e o indivíduo está no social. O ator é plural e único. O programa de pesquisa de Lahire se baseia no pressuposto científico de que o social se fortalece quando é captado na escala individual.

Desde a sua origem, a sociologia tem um entendimento complexo sobre a noção de indivíduo. Para firmar uma fronteira em relação à psicologia, a sociologia deixou para os teóricos da psicologia a análise das realidades individuais. Para os sociólogos do paradigma materialista e culturalista, que são predominantes no atual paradigma dos estudos sociológicos da cultura e da mídia, o social é o coletivo.

Por isso, para compreender as atitudes sociais, o sociólogo realiza uma pesquisa comparando as variações entre sociedades, classes, grupos e categorias. Dificilmente, desloca a sua atenção para as variações inter ou intraindivíduais, como Lahire propõe. Um dos teóricos fundadores da sociologia moderna, Durkheim (2001) defende que o fato social tem “uma existência própria”, independentemente das manifestações individuais.

Quando funda a noção de fato social, Durkheim, para Lahire (2006a), faz um duplo movimento. Primeiro, exclui o indivíduo por considerar que o social (o todo) é mais e não o mesmo do que a soma das partes (dos indivíduos). Depois, personifica a noção de coletivo, transferindo para o todo os atributos antes delegados ao indivíduo, como a consciência. Lahire considera problemático o fato de existir sem perpassar o indivíduo.

Ao contrário, os fatos sociais atravessam sob formas diferentes uma infinidade de casos individuais. Eles não são independentes das formas individuais, mas existem por meio dessas formas individuais que podemos tanto dessingularizar por medidas estatísticas quanto singularizar pelo estudo de caso, pela observação direta de comportamentos etc. (LAHIRE, 2006a, p. 599).

Uma sociologia à escala do indivíduo pergunta como a diversidade das experiências socializadoras, muitas vezes contraditórias, tomam corpo no cidadão, como essas experiências são introjetadas de forma mais ou menos duradouras e como aparecem nos diversos momentos da vida do ator social, determinando as suas características e comportamentos. Lahire concebe a noção de indivíduo não como um ser com características gerais, mas como um ser singular que carrega as marcas impressas pelo mundo social. É nos indivíduos que as marcas do mundo social podem ser identificadas.

Durkheim (2001) coloca o indivíduo fora do interesse do estudo sociológico, baseando-se em realidades macrossociais. Lahire (2006a) alerta, no entanto, que o acesso a essas realidades pressupõe processos de totalização e categorização que tomam como ponto de partida os comportamentos individuais. O indivíduo, assim, é uma forma refletida do social. É singular por razões sociais.

É o interesse sociológico desse tipo de variações que tento mostrar no âmbito de uma sociologia da pluralidade disposicional (a socialização passada é mais ou

menos heterogênea e dá lugar a disposições heterogêneas e às vezes, inclusive, contraditórias) e contextual (os contextos de atualização das disposições são variados). Assim, o ator individual não põe em prática invariavelmente, transcontextualmente, o mesmo sistema de disposições (ou hábitos), mas podemos observar mecanismos mais sutis de vigília/ação ou de inibição/ativação de disposições que supõem, evidentemente, que cada indivíduo seja portador de uma pluralidade de disposições e atravesse uma pluralidade de contextos sociais. O que determina a ativação de tais disposições em tal contexto é então produto da interação entre relações de força interna e externa (LAHIRE, 2006a, p. 617).

Lahire (2002) indica que não tem a pretensão de que os resultados de suas pesquisas se transformem em um sistema conceitual ou modelo interpretativo ou explicativo universal, que possa ser utilizado para resolver os problemas levantados por outros pesquisadores. Deseja, entretanto, contribuir com os trabalhos que abordam as teorias da ação e do ator, que, para Lahire, precisam operar de forma conjunta. Isso porque os indivíduos são internamente diferenciados, sofrendo as influências dos processos de socialização, que são heterogêneos, múltiplos e, muitas vezes, contraditórios.

Na sociologia à escala do indivíduo, o ator não é um átomo, mas um produto complexo dos múltiplos processos socializadores. Os atores são o resultado das diversas experiências. Não é uma unidade elementar da sociologia, mas uma realidade complexa. Por isso, quando se estuda o indivíduo, se estudam cenas e contextos. É a realidade social internalizada, individualizada.

A articulação passado-presente só toma todo o seu sentido quando “passado” (incorporado) e “presente” (contextual) são diferentes, e a articulação torna-se particularmente importante quando os próprios “passado” e “presente” são fundamentalmente plurais e heterogêneos. Se a situação presente não é negligenciável, é, por um lado, porque existe a historicidade que implica que aquilo que foi incorporado não é necessariamente idêntico ou está em relação harmoniosa com o exigido pela situação presente e, por outro lado, porque os envolvidos não são “um”, isto é, não são redutíveis a uma fórmula geradora de suas práticas, a uma lei interna, a um nomos interior (LAHIRE, 2002, p. 48).

A teoria do indivíduo plural defendida por Lahire (2002) tomou como suporte estudos feitos por Pierre Naville, na década de 40, sobre a multiplicidade dos hábitos incorporados interligados aos diferentes universos sociais. A personalidade, para Naville (1942), é o produto dos diversos sistemas de hábitos incorporados nas relações profissionais, conjugais, políticas, entre outras. Naville fez um entrecruzamento entre os sistemas dos hábitos e os domínios das práticas.

Outro autor que também inicia um esboço sobre uma teoria do ator plural é Marcel Proust (1971). Quando analisa a obra literária, mesmo de forma parcial, Proust afirma que o ator revela sua pluralidade quando está “nos domínios de existência nos quais é socialmente

levado a evoluir” (LAHIRE, 2002, p.37). O homem que escreve um livro não é, para Proust, o mesmo homem que age em outras situações. O autor é composto de “várias pessoas superpostas”. Ele analisou a atuação do autor de uma obra no espaço literário e fora dele, delegando, no entanto, a maior parte dessa análise ao domínio literário.

De acordo com Lahire (2002), Proust, entretanto, não aprofundou as diferenças entre o “eu literário” e o “eu exterior”. Seus estudos, contudo, sinalizam para a pluralidade interna dos indivíduos, que são múltiplos nas diferentes situações do mundo social. Às vezes podemos ser estranhos a nós mesmos. É a partir das interpretações dos comportamentos (instâncias e momentos de socialização) que o esquema disposicionalista procura entender como o indivíduo aciona as suas variações que são externalizadas pelas práticas, incorporando estruturas exteriores e externalizando essa interiorização. Essa é a metodologia da sociologia disposicional.

Historicamente, esse ramo da sociologia está inserido no contexto de uma sociologia da educação, no sentido amplo da socialização. Isso acontece porque os pesquisadores que estudam o campo da educação precisam analisar as condições sociais de produção e as disposições de educadores e educandos. Não se pode deduzir uma disposição em função da observação ou registro de um único acontecimento.

É preciso se observar uma série de comportamentos, atitudes e práticas que sejam ou não coerentes. Não se pode falar em disposição sem provar empiricamente que ela existe. A disposição é o produto incorporado de uma socialização passada, mesmo que isso aconteça de forma implícita ou explícita, que é atualizada ou não em função de fatores relacionais e contextuais do presente.

Na etapa empírica de nosso trabalho, estudamos as disposições sociais do indivíduo que age ativamente para exercer práticas jornalísticas, quando colabora com os conglomerados de comunicação e quando cria um canal próprio para divulgar informação. Procuramos compreender se esses esquemas são acionados em um determinado contexto ou se já estão fazendo parte do comportamento geral desse ator e como cada indivíduo analisado na pesquisa aciona o seu esquema disposicional. Por isso, investigamos os contextos nos quais essas disposições são processadas inconscientemente.

Embora a noção de disposição implique uma operação cognitiva que evidencia a coerência de comportamentos, opiniões, práticas diversas e muitas vezes dispersas, não se deve pensar que, obrigatoriamente, a disposição deve ser geral, transcontextual e ativa em todos os momentos da vida dos atores. A busca da coerência deve ser acompanhada de uma preocupação com a delimitação das

classes de contextos, áreas de pertinência e atualização das disposições reconstruídas (LAHIRE, 2004a, p. 26).

Para frisar a importância de se pesquisar a pluralidade das disposições dos indivíduos, Lahire cita, em Cultura dos indivíduos (2006a), um exemplo de um homem de comportamentos culturais contraditórios: Wittgenstein. Por um lado, erudito, burguês e ascético. Por outro, apaixonado por westerns, histórias policiais e feiras livres. Para falar sobre a distinção de si e a luta de si contra si mesmo, Lahire (2006a) recorre a outro teórico importante: o também filósofo Jean-Paul Sartre. A partir das influências diversificadas que recebeu ao longo de sua formação, Sartre interiorizou um esquema de percepção que lastreou a sua formação cultural, acionando esse esquema para identificar as distinções de disposições que existiam entre ele e os outros.

Os indivíduos, geralmente, mostram-se surpresos diante de dissonâncias culturais. Há uma ideia sobre socialização individual que contribui para que o modelo de transferência generalizada prevaleça. Por isso, Lahire propõe o desafio de observar o mundo social na escala do indivíduo, considerando as singularidades de cada um, o que vai contribuir para a construção de uma sociologia do indivíduo.

Nesse contexto, um bom exemplo é o da trajetória de outro dos nossos entrevistados, Carlos do Som. Apesar de a família ter um padrão de vida difícil, os dois irmãos dele sempre tiveram as mesmas oportunidades para estudar e se manter informados. Carlos, porém, mostrou maior interesse em ler e escrever, originando vontade de querer buscar mais informações.

Ao perceber essa competência do filho, a mãe de Carlos levava jornais para ele ler, material que coletava nas casas de família onde trabalhava. Quando não conseguia receber os jornais dos patrões, comprava. Isso ocorreu na fase em que ela era empregada doméstica e ele ainda era criança. Atualmente, ela estuda pedagogia e trabalha como educadora social. O pai é pedreiro. Quando jovem, não teve condições de investir nos estudos, concluindo apenas o ensino fundamental I. Depois, não teve interesse em voltar a estudar. Na adolescência, Carlos começou a fazer oficinas de rádio para aperfeiçoar a habilidade de se comunicar.

Lahire (2006a) nos desafia a analisar a realidade do universo de Carlos de forma diferente. Ao mudar a escala da observação, nos leva a ter uma imagem do mundo social a partir das variações intra e interindividuais e não apenas das variações entre classes, categorias ou gêneros. Lahire não pretende negar todo o avanço sociológico dos modelos do passado, mas propor um olhar mais singular do social.

A pluralidade de disposições e de competências, por um lado, a variação de contextos de sua efetivação, por outro, é que podem explicar sociologicamente a variação de comportamento de um mesmo indivíduo, ou de um mesmo grupo de indivíduos, em função de campos de práticas, de propriedades do contexto de ação ou de circunstâncias mais singulares da prática (LAHIRE, 2006a, p. 18).

As variações individuais podem ser um objeto específico da sociologia porque as realidades individuais estudadas são sociais, uma vez que são socialmente produzidas. As variações individuais de comportamentos têm origens e lógicas sociais. Para Lahire (2004a), o social é encontrado no indivíduo em dois estados: o desdobrado e o dobrado.

A fase desdobrada é mostrada quando refletimos exteriormente o que incorporamos ao longo de nossos processos de socialização, mas sem deixar transparecer as nossas particularidades. É a tentativa, mesmo que de forma inconsciente, de nos enquadrar em padrões gerais para que possamos ser regulares e homogêneos. É como se mostrássemos um papel de presente já usado como novo, que teria sido alisado na intenção de esconder as marcas da utilização anterior. É a tentativa de se ocultar as dobras. De forma inconsciente, na fase desdobrada buscamos nos enquadrar nos modelos socializadores gerais: para não expor as diferenças e as singularidades, ficamos na aparência, alisando a nossa imagem para encobrir as disposições internas que são contrárias ao padrão geral.

A fase dobrada é mostrada quando não ficamos na superfície, mas vamos ao interior do indivíduo para capturar o que ficou retido em sua formação singular. É a fase em que tentamos descobrir as marcas. Se utilizarmos o mesmo exemplo acima, o do papel de presente, a etapa dobrada pode ser comparada com a descoberta da antiga dobra do papel que antes tentamos esconder quando o alisamos. Quando trazemos para o indivíduo, é nessa etapa que se revelam a pluralidade e a diversidade dos processos socializadores. Assim, podemos perceber as heterogeneidades que tentamos inconscientemente ocultar. Por esse ângulo, aprofundam-se as singularidades e realçam-se os aspectos mais particulares.

Podemos utilizar como exemplo as disposições sociais de um indivíduo altamente culto que tentasse esconder o gosto por músicas consideradas populares. Quando olhamos o estado social desdobrado dele, não percebemos essa singularidade que estaria ocultada. Só quando conseguimos enxergar o seu estado social dobrado, podemos ver essa ambivalência em sua disposição social para a escolha do repertório musical. Por esse ângulo, esse indivíduo teria uma característica dissonante do padrão coletivo de sua formação social.

O ator individual é o produto de múltiplas operações de dobramentos (ou de interiorização) e se caracteriza, portanto, pela multiplicidade e pela complexidade dos processos sociais, das dimensões sociais, das lógicas sociais, etc. que interiorizou. (...) O interesse da metáfora da dobra ou dobramento reside no fato de

que leva a pensar que o “dentro” ou o “interior” (o mental, o cognitivo etc.) é apenas um “fora” ou um “exterior” (formas de vidas sociais, instituições, grupos sociais, processos sociais,etc.) dobrado. Nesta imagem, não existe nenhuma saída possível do tecido social (desdobrado ou dobrado); o interior não é outra coisa que o “exterior” amassado ou dobrado e não tem nenhum primado ou anterioridade nem qualquer especificidade irredutível. Para compreender o “interior” só há uma solução: fazer o estudo mais exato, mas circunstanciado e mais sistemático possível do “exterior” (LAHIRE, 2002, p. 198-199).

Em nossa pesquisa, procuramos entender o estado desdobrado para chegar ao estado dobrado e ter acesso às variações disposicionais dos nossos seis indivíduos estudados nesta pesquisa. Assim, pudemos conhecer quais e como cada um deles aciona os seus esquemas disposicionais para querer ser receptor, colaborador e emissor da informação. Queremos buscar as heterogeneidades e as singularidades, como também as homogeneidades, desses cidadãos comuns que agem ativamente entrando e saindo do campo do jornalismo.

Nesse contexto, é quase impossível que, diante da pluralidade de suas experiências, o atorseja homogêneo. Por isso, é necessário estudar, conjuntamente, as experiências passadas e as situações que ocorrem no presente para verificar a pluralidade interna do indivíduo. Nenhum dos dois lados (o dobrado e o desdobrado) pode ser negligenciado.

Como as disposições são complexas e mudam de indivíduo para indivíduo, encontramos as chaves de compreensão que nos ajudaram a elaborar o desenho da configuração descrita a seguir. O programa de Lahire, para uma sociologia à escala do indivíduo, nos serviu de base para que traçássemos esse desenho, que nos levou a ter acesso ao processo das variações das trajetórias de vida dos cidadãos comuns que estudamos.

Configuração disposicional Figura – 1

Atualização

Disposições diacrônicas Fator Disposições diacrônicas e relacional sincrônicas

Indivíduo Processos de Indivíduo Indivíduo socialização

Fator contextual

Inibição

Satisfação ascética e hedonista

Configuração de ação passada Configuração de ação presente

Figura 1 – Configuração dos processos da trajetória de vida do cidadão comum Fonte: Elaboração própria com base em Lahire (2002; 2004a; 2005; 2006a; 2010a; 2010b)

As disposições se revelam pela interpretação dos comportamentos coerentes ou contraditórios do ator estudado. O indivíduo descreve o que faz, os seus pensamentos, as suas disposições sociais, mas, na maioria das vezes, não tem consciência das motivações internas e externas que o levam a agir dessa ou daquela forma. Por isso, devemos ficar atentos aos dois tipos de disposições que podem ser acionados pelo indivíduo: os de variação diacrônica, que levam em conta o trajeto biográfico, e os de variação sincrônica, que levam em conta o contexto (LAHIRE, 2004a).

As disposições também podem se manifestar de forma constituída ou requisitada. As constituídas levam o indivíduo à renúncia de si em função de exigências externas. Nesse caso, há possibilidade de ascetismo por conta de um aspecto racional e até coercitivo. Existe um movimento de quase obrigatoriedade por parte do ator. Já as disposições requisitadas são mais voluntárias e hedonistas, envolvendo afetividade. É como se houvesse uma espécie de autoexigência por parte do indivíduo. Nos dois casos, podem ser influenciadas por variações de disposições dos tipos diacrônicos ou sincrônicos.

Lahire (2006a) alerta que a análise sociológica da sociedade feita de divisões de categorias, grupos ou classes não deixa de representar uma visão política da própria sociedade, o que pode levar os pesquisadores a fazer imagens distorcidas do mundo social. Dessa forma, a complexidade dos indivíduos, ou seja, da sociedade, termina correndo o risco de ser tratada de forma superficial.

Lahire (2006a) lembra que foi nesse contexto que os sociólogos construíram as figuras dos tipos ideais, assim analisavam grupos sociais e categorias. Ele cita como exemplo as imagens formadas de estudantes, divididos, de uma forma geral, em dois grandes grupos: os ascetas, que privilegiam os estudos, e os boêmios, que, do outro lado, preferiam festas e diversões. A maior parte, no entanto, situa-se entre esses dois lados por vivenciar situações mistas, ou seja, são portadores de disposições relativamente contraditórias. A análise, por meio dos tipos ideais, não pode dar conta da pesquisa que visa aprofundar os perfis singulares.

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