• Nenhum resultado encontrado

A Topologia de Sistemas Dinˆamicos Discretos Invariantes no Tempo e Completos

Tabela 2.2: FORMAS APRESENTADAS PARA REPRESENTAC¸ ˜AO DE SISTEMAS DINAMICOS.ˆ Peculiaridade da Descric¸˜ao Representac¸ ˜ao Caracterizac¸˜ao

- Σ = (T, W,B) B ⊆ WT

Vari´aveis Latentes Σa = (T, W, A,Ba) Ba ⊆ (W × A)T

Espac¸o de Estados ΣS = (T, W, X,BS) BS ⊆ (W × X)T

Lei de Evoluc¸˜ao Σ∂ = (T, W, X, ∂) ∂ ⊆ X × W × X

um autˆomato essencial permite que sejam determinadas palavras de comprimento arbitr´ario em L, possibilitando a inclus˜ao emBQcompl de sequˆencias bi-infinitas que n˜ao sejam precedidas ou seguidas por sequˆencias infinitas dos s´ımbolos.

Fica clara a excepcionalidade do conceito de completude no contexto de autˆomato. No entanto, isso ´e uma consequˆencia do emprego da teoria de sistema dinˆamico para modelagem da linguagem reconhecida por um autˆomato. Como iniciado na Sec¸˜ao 2.4 e desenvolvido no Cap´ıtulo 3, a aborda- gem reversa (estudar o comportamento de sistemas de eventos discretos atrav´es da teoria de lingua- gens formais) conduz a determinac¸˜ao de propriedades e desenvolvimento de m´etodos relacionados a representac¸˜ao dos sistemas via espac¸o de estados, al´em da determinac¸˜ao de uma estrutura alg´ebrica associada ao comportamento do sistema. Ao considerarmos o estudo de sistemas dinˆamicos de even- tos discretos especificados pelo seu comportamento B (ou seja, sequˆencias bi-infinitas), poderemos focar nossa abordagem em sistemas que possuam propriedades desejadas da dinˆamica para os fins de aplicac¸˜ao almejada. Ao optarmos por essa abordagem, possibilitamos a estudo de diversos “sistemas” de interesse empregando os conceitos da teoria de sistemas dinˆamicos, e.g., contadores, controle de tr´afico, c´odigos convolucionais, processamento digital de sinais, etc.

2.4

A Topologia de Sistemas Dinˆamicos Discretos Invariantes no

Tempo e Completos

O conceito de lei de evoluc¸˜ao introduzido na Sec¸˜ao 2.3 marca uma transic¸˜ao do at´e ent˜ao “est´atico e abstrato” para o “dinˆamico e realiz´avel”. Para tornar essa afirmac¸˜ao compreens´ıvel, comparamos na Tabela 2.2 as diversas definic¸˜oes apresentadas de um sistema dinˆamico. Isso possibilita verificar que enquanto os comportamentosB, Ba eBS descrevem o sistema dinˆamico atrav´es do conceito de subconjunto (est´atico), a lei de evoluc¸˜ao∂ especifica a relac¸˜ao entre “dom´ınio” e “imagem”, ou seja, descreve o sistema atrav´es de sua dinˆamica.

A importˆancia desta constatac¸˜ao ´e ressaltada quando deseja-se: Construir a lei de evoluc¸˜ao que simule um sistema dinˆamico discreto invariante no tempo e representado via espac¸o de estados. Essa

construc¸˜ao pode ser obtida por diversos m´etodos, seja com equac¸˜oes a diferenc¸a, m´aquinas de estado finito, etc. Contudo, independente do m´etodo empregado nesta construc¸˜ao, decorre do Teorema 4 que a representac¸˜ao obtida ´e completa, e portanto, que s´o ser´a fidedigna ao comportamento do sistema simulado se esse tamb´em for completo. Em uma perspectiva pr´atica, a importˆancia desse resultado decorre da identificac¸˜ao das limitac¸˜oes inerentes a qualquer processo de simulac¸˜ao de um sistema dinˆamico discreto (o que inclui aqueles obtidos atrav´es de discretizac¸˜ao), descrita por um conjunto finito de relac¸˜ao (um conjunto finito de equac¸˜oes a diferenc¸a ou por um autˆomato com Q = I = T ), sendo esta limitac¸˜ao a invari´avel completude do sistema obtido. O que inclui, por exemplo, simulac¸˜oes computacionais de sistemas f´ısicos, j´a que os atuais computadores digitais s˜ao m´aquinas de estado finito complexas.

No processo de formalizac¸˜ao deste resultado, consideremos um sistema dinˆamico discreto repre- sentado via espac¸o de estadosΣS = (Z, W, X,BS). Que como observado na Sec¸˜ao 2.3, ´e um sistema invariante no tempo. Ao estabelecermos uma representac¸˜ao para este sistema, poderemos faze-lo atrav´es das formas equivalentes: Equac¸˜ao a diferenc¸a (2.18), ou pela especificac¸˜ao da lei de evoluc¸˜ao induzida, como em (2.9).

f (x(t + L), w(t + L)), (x(t + L− 1), w(t + L − 1)), . . . , (x(t), w(t)) = 0, t ∈ Z (2.18) Em ambos os casos, obteremos como resultado de nossa representac¸˜ao um sistema completo especifi- cado pelo comportamentoBcomplS , j´a que, de acordo com o Teorema 4, o comportamentoBScompl ´e igual ao comportamento ¯BSda lei de evoluc¸˜ao induzida pelo sistemaΣS. Portanto, qualquer representac¸˜ao discreta de nosso sistema ´e necessariamente invariante no tempo e completa.

Em nossa abordagem, consideramos que a ´unica informac¸˜ao inicial ´e um sistemaΣ = (Z, W,B) e que qualquer estrutura adicional ´e obtida pelo processo de modelagem, como a inserc¸˜ao de vari´aveis latentes ou um espac¸o de estados. Na procura por m´etodos que possibilitem a determinac¸˜ao de uma estrutura, particularmente uma que reflita a “mem´oria” do sistema, consideraremos queΣ ´e completo. A forte implicac¸˜ao disso ´e que ao considerarmos uma representac¸˜ao via espac¸o de estadosΣSda qual o comportamentoBS seja formado por todas as sequˆencias(w, x) satisfazendo Pw(w, x) = w, ent˜ao ΣS ´e completa. Como consequˆencia, h´a a possibilidade, como comentado acima, de determinar- mos uma representac¸˜ao paraΣ atrav´es de equac¸˜oes a diferenc¸a ou pela determinac¸˜ao de uma lei de evoluc¸˜ao para o sistema. Antes de prosseguirmos, n´os formalizamos essa implicac¸˜ao na Proposic¸˜ao 5.

Proposic¸˜ao 5. SejaΣ = (Z, W,B) um sistema dinˆamico completo. A representac¸˜ao via espac¸o de

estadosΣS = (Z, W, X,BS) de Σ ´e um sistema dinˆamico completo.

Demonstrac¸˜ao: ComoΣS ´e uma representac¸˜ao deΣ, ent˜ao Pw(BS) = B. Referindo-nos ao conceito de completude, segue queBScompl|[t0,t1]=BS|[t0,t1]para todo−∞ < t0 ≤ t1 <∞. Al´em disso, como

2.4 A Topologia de Sistemas Dinˆamicos Discretos Invariantes no Tempo e Completos 31

Σ ´e completo segue a relac¸˜ao Pw(BcomplS ) =B. Portanto, conclui-se que B compl

S =BS. 

Podemos introduzir ainda mais estrutura `a nossa abordagem se considerarmos o conjuntoW fi- nito. Para efeitos pr´aticos esta considerac¸˜ao n˜ao restringe o escopo de aplicac¸˜oes dos resultados obtidos, j´a que em qualquer simulac¸˜ao digital ou amostragem de um sistema dinˆamico o espac¸o W resultante ´e finito, ou ainda, esta j´a ´e uma propriedade do sistema original. Neste caso, o com- portamento do sistema ´e composto por um conjunto de sequˆencias bi-infinitas em WZ

, o que ser´a representado porw = (wi)i∈Z = . . . w−1w0w1. . ., onde wi∈ W ´e a i-´esima coordenada de w.

A partir das considerac¸˜oes at´e ent˜ao estabelecidas, a saber: sistema dinˆamicos discretos, in- variˆancia no tempo, completude e conjunto W finito. Para facilitar a exposic¸˜ao, restabeleceremos nossa nomenclatura como forma de evitar ambiguidades. Representaremos um sistema dinˆamico dis- creto, completo e invariante no tempoΣ = (Z, W,B) pela dupla (X, σ), ondeX ⊂ WZ

representa o comportamento, ou seja,X=B e σ : WZ

→ WZ

´e uma ac¸˜ao chamada de func¸˜ao deslocamento, que reflete a invariˆancia no tempo deΣ, sendo caracterizada por (2.19).

σ(w)

i = wi+1, para todo w∈ W Z

ei∈ Z. (2.19)

Considerar(X, σ) como um sistema que evolui discretamente, com a sequˆencia em que os eventos ocorrem associada a Z, permite que interpretemos σ como o mapeamento adjacente que provˆe a dinˆamica sobre o conjunto X. Ainda podendo ser vista como o gerador do grupo n| n ∈ Z} que representa a ac¸˜ao transitiva do grupo infinito(Z, +) sobre WZ

.

Ao considerarmosW um conjunto finito, possibilitamos a determinac¸˜ao de uma topologia a WZ decorrente da m´etrica discreta associada aW , especificada em (2.20).

ρ(α, β) =    0 seα = β, 1 seα6= β. (2.20)

Sendo a m´etrica do espac¸o discreto associado ai-´esima coordenada do espac¸o de dimens˜ao infinita WZ

dada por (2.21).

ρi(α, β) =

ρ(α, β)

2|i|−1 . (2.21)

A m´etrica do espac¸o produtoWZ

formado pelos espac¸os discretos associados as suas coordenadas ´e dada em (2.22).

d(x, y) = max

−∞<i<∞ρi(xi, yi), (2.22) o que permite a definic¸˜ao da m´etrica (2.22) pord(x, y) = 2−e(x,y), ondee(x, y) = max{n ≥ 0| xi = yi,−n ≤ i ≤ n}, convencionando-se e(x, y) = ∞ se x = y e e(x, y) = −1 se x0 6= y0. As-

sim, de acordo com a m´etrica (2.22) dois pontos emWZ

s˜ao t˜ao mais pr´oximos quanto mais longa a sequˆencia central (com centro associado `a coordenada 0) na qual coincidem. Munidos com uma m´etrica, podemos considerar uma estrutura onde dispomos de conjuntos abertos e fechados. Consi- derando o espac¸o m´etrico(WZ

, d), n´os demonstramos na Proposic¸˜ao 6 que os conjuntos fechados em (WZ

, d) correspondem exatamente aos sistemas dinˆamicos completos definidos em WZ .

Proposic¸˜ao 6. X ´e um sistema dinˆamico completo emWZ

se, e somente se,X ´e um conjunto fechado no espac¸o m´etrico(WZ

, d).

Demonstrac¸˜ao: Suponha queX ´e um sistema dinˆamico completo em(WZ

, d) e que existe a ∈ WZ satisfazendod(a, X) = 0. Isso implica que a|[t0,t1] ∈ X|[t0,t1], −∞ < t0 ≤ t1 < ∞, decorrendo da

completude deXquea X. Conclu´ımos queX ´e fechado, uma vez queX´e igual ao seu fecho. Do fato de X ser fechado, a equac¸˜ao X = {a ∈ WZ

| d(a,X) = 0} ´e observada. Suponha que w ∈ WZ

satisfazw|[t0,t1] ∈ X|[t0,t1], −∞ < t0 ≤ t1 < ∞. Portanto, existe x ∈ X tal que

w|[−n,n] = x|[−n,n] paran > 0 arbitr´ario, o que implica que d(w,X) = 0. Segue do fechamento deX

quew∈X. 

Agora, temos como descrever um sistema dinˆamico completo em um conjunto finitoW de forma puramente topol´ogica, quando associado ao espac¸o m´etrico(WZ

, d). Fazemos isso na Definic¸˜ao 6, onde d´a-se o nome de sistema simb´olico fechado a tal sistema.

Definic¸ ˜ao 6. Um subconjunto X de um espac¸o m´etrico discreto (WZ

, d) ´e um sistema simb´olico fechado (ssf) seX ´e fechado e invariante por deslocamento, i.e.,σ(X) =X.

Na verdade os ssf s˜ao conhecidos e extensivamente estudados na literatura cient´ıfica, sendo o principal objeto de estudo na teoria de dinˆamica simb´olica, encontrando diversas aplicac¸˜oes tanto em casos de interesse te´orico quanto pr´atico. A novidade aqui decorre de demonstrarmos explicita- mente serem estes os sistemas discretos sobre conjuntos finitos que possibilitam a determinac¸˜ao de representac¸˜oes atrav´es de equac¸˜oes a diferenc¸a e leis de evoluc¸˜ao.

Empregando uma variac¸˜ao do “argumento diagonal de Cantor”, podemos demonstrar que o con- junto WZ

´e compacto. Para isso, consideremos uma sequˆencia {wn} em WZ. De forma indutiva, parak ≥ 1 determina-se uma sequˆencia S1 ⊃ S2 ⊃ S3. . . de subconjuntos infinitos de inteiros po- sitivos, tal que, todos os blocos wm|[−k,k]s˜ao iguais para todo m ∈ Sk. Define-se x como o ponto comx|[−k,k] = wm|[−k,k] para todom ∈ Sk, e de forma indutiva define-semk com o menor inteiro de Sk que excede mk−1. Assim, x ∈ X e a sequˆencia {wmk} converge para x quando k → ∞.

Conclu´ımos que toda sequˆencia em(WZ

, d) possui uma subsequˆencia que converge em (WZ , d), o que o caracteriza como um espac¸o m´etrico compacto. Como um subconjunto fechado de um espac¸o m´etrico compacto ´e compacto, ent˜ao um ssfX´e compacto.

2.4 A Topologia de Sistemas Dinˆamicos Discretos Invariantes no Tempo e Completos 33

2.4.1

Homeomorfismo e codificac¸˜ao

Como caso de estudo na teoria de dinˆamica simb´olica que encontra aplicac¸˜oes no estudo de c´odigos, podemos citar os sistemas dinˆamicos simb´olicos definidos par(M, φ), onde M ´e um espac¸o m´etrico compacto e φ : M → M ´e uma func¸˜ao cont´ınua. Quando φ for um homeomorfismo (uma func¸˜ao cont´ınua, sobrejetiva, injetiva e seu inversoφ−1 ´e cont´ınuo), ent˜ao(M, φ) ´e chamado de um sistema

dinˆamico invers´ıvel. Um exemplo importante de homeomorfismo ´e(X, σ), ondeX ´e um ssf e σ ´e a func¸˜ao deslocamento.

O processo de comparac¸˜ao de sistemas dinˆamicos simb´olicos ´e formalizado pelo conceito de

homomorfismo, sendo este um mapeamentoθ : (M, φ)→ (N, ϕ) cont´ınuo que satisfaz a propriedade comutativaϕ◦ θ = θ ◦ φ, como representado no seguinte diagrama.

M −−−→ Mφ θ   y   yθ N −−−→ ϕ N

Se θ for injetivo e sobrejetivo, como M ´e compacto, ent˜ao o mapeamento θ−1 tamb´em ´e cont´ınuo. Neste caso, θ ´e chamado de conjugado topol´ogico e ´e escrito como θ : (M, ϕ) ∼= (N, φ). Quando h´a um conjugado topol´ogico entre dois sistemas dinˆamicos, estes s˜ao chamados de topologicamente

conjugado.

Consideremos o importante caso quando ϕ e φ s˜ao func¸˜oes deslocamento. Dado os sistemas dinˆamicos fechados(X, σX) e (Y, σY), onde σX, σYs˜ao as func¸˜oes deslocamentos associadas aos con-

juntosWZ eVZ

, respectivamente. ComoWZ

´e compacto eX ´e fechado, ent˜ao θ ´e uniformemente cont´ınua. Consequentemente, h´a um inteirok tal que para todo x X, o elemento (θ(x))0 ´e deter- minado pelo blocox|[−k,k]. Comoθ comuta com a func¸˜ao deslocamento, ent˜ao qualquer s´ımbolo de θ(x) ´e determinado por um bloco de comprimento (2k + 1).

Este resultado apresenta os elementos necess´arios para conectar a teoria de dinˆamica simb´olica `a de codificac¸˜ao. O c´odigo ´e obtido por uma func¸˜ao especial chamada c´odigo de bloco deslizante ou

sbc (do termo em inglˆes sliding block codes). Um sbc φ mapeia sequˆencias . . . x−1x0x1. . . de um

ssfXsobreW em uma sequˆencia . . . y−1y0y1. . . sobre V , de forma definida por um mapeamento de blocosΦ : X|[0,m+n] → V , ou seja, de todos os blocos de comprimento m + n + 1 em sequˆencias deXpara s´ımbolos emV . Assim, dado um sbc φ : X→ VZ

tem-se quey = φ(x) se, e somente se, yi = Φ(xi−m· · · xi+n) = Φ(x|[i−m,i+n]), sendo φ um sbc de mem´oria m e antecipac¸˜ao n induzido por Φ.

(m + n). Portanto, considerando uma sequˆencia de pontos{xk}∞k=1 emX, selimk→∞ d(x, xk) = 0 (i.e., se {xk}∞k=1 converse para x), ent˜ao limn→∞d φ(x), φ(xk)



= limk→∞d(x, xk)· 2m+n = 0. Assim, um sbc ´e uma func¸˜ao cont´ınua. Se agora considerarmos que y = φ(x), ent˜ao φ(σX(x))i = Φ x|[i+1−m,i+1+n] = yi+1 = σY φ(x)



i, portantoφ· σX = σY· φ, implicando que um sbc comuta com a func¸˜ao deslocamento. Dessas observac¸˜oes, podemos concluir que uma func¸˜aoθ : (X, σX) →

(Y, σY) ´e um sbc se, e somente se, θ ´e um homomorfismo. Este resultado conecta os elementos de

teoria de c´odigos `as estruturas topol´ogicas abordadas na teoria de dinˆamica simb´olica.