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Dados e Metodologia de Análise

H 0 (1f) : O indicador do crescimento das vendas é influenciado pelo output e por outras variáveis de desempenho.

D. A unidade de análise passa a ser a empresa.

O CIS recolhe um conjunto de dados orientados para três fases do processo de inovação, com a distinção entre o input (por exemplo, investimento em I&D), a transformação da inovação (por exemplo, cooperação, subsídios, estratégia) e o output de inovação (por exemplo, novos produtos e processos), de acordo com a abordagem de processo (A) (Klomp, 2001).

Outro aspecto da nova metodologia do CIS é a complexa modelização dos sistemas de inovação (B). A abordagem sistémica explora a complexidade das relações existentes no processo de inovação (ver 2.1.2.2 - Abordagem sistémica da inovação, Capítulo II) Um aspecto problemático final na modelação das relações num processo inovador é que as causalidades não são claras, tal como com o problema da galinha e do ovo: qual foi o primeiro? O modelo de ligação em cadeia de Kline & Rosenberg (1986) pode ser usado para

31 Informação sobre os resultados disponível em http://www.cordis.lu/innovation-smes/src/staconf5.htm. 32 Para um estudo minucioso sobre as diferentes experiências portuguesas levadas a cabo com inquéritos à

apreciar as relações de retorno (feedback) e as causalidades não especificadas (Klomp & van Leeuwen, 1999). A elaboração e a aplicação da abordagem do processo e a abordagem sistémica, em conjunto, tornaram possível uma visão mais indutiva em relação ao processo inovador e à sua relação com o desempenho económico-financeiro da empresa.

Novas tentativas para apreciar os indicadores de inovação (C) têm sido testadas, especialmente nas investigações CIS33. Antes do lançamento do CIS3, surgiram vários estudos que avaliavam as limitações da metodologia do CIS2 (Richiardi, 2000; STEP-S.A.S, 2000; Wengel et al., 2000)34.

A vantagem principal do CIS é que os dados estão disponíveis ao nível da empresa, pois esta é a unidade de observação (D). Os dados CIS são dados directos, ou seja, informação directa da empresa. Este inquérito ao possibilitar a agregação das actividades nas indústrias e nos países, permite a comparação internacional se a amostragem for efectuada adequadamente. Outra das suas vantagens é que toda a actividade inovadora está incluída, seja ela um sucesso ou um insucesso. Conforme apontado antes, as falências não estão excluídas do processo inovador, e as empresas sem actividade inovadora estão incluídas de modo a permitir comparações entre empresas activas e inactivas em termos de inovação.

É importante referir que os resultados do CIS começaram a fazer parte dos instrumentos utilizados para avaliar e conceber políticas públicas de inovação (Conceição & Ávila, 2001), especialmente no âmbito da Comissão Europeia (ver Cowan & van de Paal, 2000; Comissão Europeia, 2000).

Conceição & Ávila (2001) salientam a forma como o CIS se tem vindo a impor como o padrão no âmbito de iniciativas de grande escala, a nível nacional e transnacional, para medição quantitativa da inovação. Os autores referem como exemplos as aplicações da metodologia CIS a países da Europa Central e de Leste (Radosevic, 1999), no Brasil (Quadros et al., 2001), da América Latina em geral35 e do Canadá (Hamdani, 2000), e a

influência que tem tido nos Estados Unidos (Hansen, 1999). Muzart (1999) descreve

33 Ver, por exemplo, Smith & Sandven (1998); Arundel et al. (1998); Tomlinson (2000); STEP – S.A.S

(2000) e Sirilli (2003).

34 Para uma lista de autores mais detalhada consultar http://www.cordis.lu/eims/src/stud.htm e para uma

informação mais detalhada consultar http://www.cordis.lu/itt/itt-en/01-2/innov01.htm

35 Symposium on the Measurement of Industrial Innovation in Latin America, no contexto da Fouth

International Conference on Policy and Innovation, 28-31 Agosto de 2000, Curitiba, Brasil. Informação disponível em http://in3.dem.ist.utl.pt/curitiba2000/default.htm.

experiências nacionais no lançamento de inquéritos à inovação, estabelecendo comparações com o padrão CIS na Austrália, Coreia do Sul, México, Suíça e Turquia.

No entanto, embora a difusão do padrão CIS em pouco mais de dez anos seja uma testemunha do sucesso da iniciativa da OCDE e da Comissão Europeia, tal como referem Conceição & Ávila (2001,) há o risco de se aceitar de forma pouco cautelosa e pouco crítica tanto a metodologia como os resultados do CIS. Tanto Smith (2000) como Sirilli (2000) insistem em chamar a atenção para as limitações dos inquéritos à inovação em geral e do CIS em particular. Das limitações importantes do CIS, que podem estender-se a qualquer tentativa de caracterização quantitativa da inovação, Arundel et al. (1998) destacam:

• A ausência de indicadores quantitativos para importantes actividades de inovação, como sejam os fluxos de conhecimento;

• A dificuldade em separar a inovação que resulta da adopção de tecnologias com origem fora da empresa inovadora que resulta do esforço criativo da empresa; • A falta de dados sobre empresas que não inovam;

• O facto das perguntas dos questionários serem feitas com muita generalidade, e por isso, de serem incapazes de dar resposta a questões específicas que muitas vezes interessam no domínio das políticas públicas;

• A dificuldade de caracterizar a complexidade de empresas de grande dimensão e com actividades diversificadas.

Estas limitações decorrem, em parte, das exigências do actual entendimento do processo de inovação e das crescentes solicitações de informação sobre inovação por parte dos decisores públicos e de empresas.

3.1.4.2 – Indicadores de desempenho económico-financeiro das empresas

Para termos em conta a relação bidireccional entre a inovação e os resultados económico-financeiros da empresa é vital perceber como é que estes são entendidos e quantificados. A fonte dos dados contabilísticos foi o Banco de Portugal, que forneceu elementos da indústria transformadora e extractiva, por empresa, para o período 1995-2001. Dada a disponibilidade limitada de dados, uma vez que não foi facultada a informação

referente à contabilidade analítica, os valores dos indicadores económico-financeiros utilizados provieram da contabilidade financeira (ou geral). Nesta secção apresentam-se os indicadores utilizados e discute-se a sua interpretação.

Geralmente, as contas da contabilidade financeira são ‘construídas’ para outros fins que não a obtenção de medidas de desempenho económico-financeiro para uso estatístico, com a função de base tributária sendo um dos mais importantes. Certamente, que a maior parte das empresas controla o seu desempenho mais detalhadamente através da sua contabilidade interna (contabilidade analítica); contudo, tais informações não estão disponíveis. Assim, optámos por usar indicadores de lucros simples. Este mesmo procedimento foi adoptado nalguns estudos semelhantes realizados na Noruega (Nås & Leppälahti, 1997; Sandven, 2000) e na Holanda (Kemp et al., 2003).

O primeiro indicador que utilizamos é o rácio do retorno operacional (RRO), definido como o quociente entre o lucro operacional e os recursos totais. Este indicador reflecte o desempenho da produção ordinária nas empresas, independentemente de como os resultados são distribuídos entre dividendos, lucros retidos, ou outras despesas como itens financeiros. Pode-se dizer que está relacionado com aspectos tecnológicos das operações. Contudo, devemos salientar que há elementos, tanto em contas de custos como em contas de proveitos, que não estão incluídos neste indicador. Elementos esses que fazem parte, necessariamente, de quaisquer operações duma empresa. Entre eles temos os dividendos liquidados a accionistas (sócios), um custo que a empresa suporta a fim de pagar pelo capital investido, o pagamento para o capital investido, outros investimentos por empréstimos, e ainda a depreciação ou custo de desgaste ou uso de maquinaria e dos edifícios. O último custo é difícil de estimar razão pela qual, na prática, se calcula com base em regras administrativas que podem ser uma vantagem ou desvantagem para as empresas, mas que raramente estão próximas da realidade económica da ‘verdadeira’ depreciação. Do lado dos rendimentos há também proveitos líquidos de aplicações financeiras, ou rendimentos da venda ou aluguer de parte da empresa ou de sua propriedade. Em resultado disto, as empresas com um lucro operativo positivo podem registar um resultado sujeito a impostos negativo ou consideravelmente mais baixo, ou vice-versa.

Outra forma de comparar resultados entre as empresas é relacionar os lucros (antes de impostos) com os recursos totais envolvidos na produção, por outras palavras, com o valor do capital envolvido nas empresas. Tal medida é o segundo indicador para a rendibilidade utilizado nesta investigação: o retorno sobre o investimento (ROI).

Embora as duas medidas de rendibilidade possam indicar níveis de desempenho diferentes para as empresas individualmente, em geral, ambas estão altamente correlacionadas entre si e mostram um padrão de desenvolvimento semelhante para grupos de empresas, a ajuizar pelo que é dito na maior parte das análises efectuadas. Este facto é interpretado como um sinal de robustez nos dados e fortalece a confiança nos resultados.

O terceiro indicador de desempenho incluso é o crescimento das vendas ao longo do período 1995-2001, crescimento este que é mensurado através do cálculo do quociente das vendas do ano sobre as vendas do ano base, neste caso 1995. Expandir a quota de mercado como um meio de aumentar os lucros é, habitualmente, a meta das empresas. Em especial, para empresas mais pequenas e recentemente estabelecidas, aumentar a quota de mercado pode ser a prioridade e não os lucros de curto prazo. Tendo em atenção que os dados das quotas de mercado não estão disponíveis, utilizámos simplesmente o crescimento das vendas totais como indicador.

O quarto e último indicador de desempenho utilizada nesta investigação é o crescimento dos recursos ou do activo total, indicador este que reflecte o aumento ou a diminuição do investimento interno da empresa. Este indicador é medido pelo quociente entre os recursos do ano e os recursos do ano base, neste caso 1995.

Antes da apresentação da análise empírica, devem ser consideradas algumas diferenças sistemáticas entre as empresas que podem afectar os resultados. As mais importantes são talvez as diversas oportunidades tecnológicas entre as diferentes indústrias (ver Coombs, 1988). Nalgumas indústrias, como a farmacêutica e a dos computadores, há mudanças tecnológicas rápidas parcialmente baseadas em conhecimentos científicos novos que permitem novas soluções a serem aplicadas na inovação. Noutras indústrias, muitas delas maduras e estáveis, a tecnologia tem um carácter mais permanente e o potencial para melhoramentos é mais limitado. Isto afecta certamente quer o nível de investimento na actividade inovadora, quer a percentagem de novos produtos nas vendas, quer o crescimento das vendas, quer ainda a rendibilidade da empresa. De facto, não é garantido que os lucros sejam mais elevados entre as indústrias inovadoras, até porque estas têm que reinvestir percentagens elevadas dos seus excedentes na busca de melhores soluções. Mesmo entre as indústrias mais dinâmicas há diferenças importantes. Comparando computadores e produtos farmacêuticos verificamos que os últimos podem gastar até 10 ou 15 anos no desenvolvimento de medicamentos de nova geração, enquanto que os computadores são substituídos por modelos novos, em períodos de tempo cada vez mais reduzidos. Assim, os

intervalos entre os investimentos inovadores e os resultados obtidos nas contas do balanço são diferentes, pelo que deve esperar-se diferenças no perfil da rendibilidade, e dever-se-ia fazer um controlo por indústrias sempre que possível. Controlo este que é difícil porque o número de observações disponíveis torna esta opção impossível em muitos casos. Para controlar o efeito da indústria dividimos o nosso painel de empresas por níveis de intensidade tecnológica, de acordo com a classificação da OCDE (1997), e sempre que possível, analisamos se existem diferenças entre os grupos.

Para apreciar os efeitos da inovação torna-se necessário dispor de séries longas de dados que, por sua vez, levam muitos anos a recolher. Além disso, um intervalo de tempo longo faz com que seja difícil estabelecer uma relação clara de causalidade entre a acção inicial e os resultados subsequentes, uma vez que pode haver outros factores adicionais que se envolvem na relação em análise. A inovação para muitas empresas é uma actividade mais ou menos permanente e mesmo que só se registem investimentos inovadores num dado ano, esta observação pode ser um indicador razoável do nível geral de tal actividade durante um período de tempo mais longo. Assim, deve ser possível distinguir entre empresas inovadoras e empresas não inovadoras e entre empresas com diferentes tipos de inovação, para verificar qual o seu desempenho económico-financeiro, mesmo que as séries temporais sejam de amplitude reduzida, como é o caso desta investigação.

3.1.5 - Construção do painel de empresas

O painel em estudo teve como base os dados sobre inovação recolhidos pelo CIS2, da indústria transformadora portuguesa, referentes ao período (1995-1997). Para estudar a relação entre a actividade inovadora, a rendibilidade e outras medidas do desempenho da empresa acrescentámos, aos dados sobre inovação, informação contabilística recolhida no Banco de Portugal. Para analisar o impacto da inovação no desenvolvimento dos indicadores de desempenho económico-financeiro ao longo do período 1995-2001, construímos um painel em que as mesmas empresas são seguidas durante todo este período, como explicaremos em seguida.

Assim, podemos dizer que a base de dados do painel de empresas em estudo integra os dados estatísticos recolhidos pelo CIS2 e fornecidos pelo OCT. Como os dados não estão relacionados com o nome de empresa, devido ao sigilo estatístico, a única forma de conseguir estabelecer uma ligação válida entre estes dados e os provenientes das contas

financeiras, é, em nosso entender, através da definição de três variáveis comuns e com valores iguais nas duas bases de dados para o ano de 1997: o código da actividade económica (CAE), o número de empregados e o volume de vendas. Estas variáveis foram cruzadas, e sempre que uma empresa apresentava exactamente os mesmos valores nas duas bases de dados, era incluída no painel. Como cada empresa, na base de dados contabilísticos, tinha o mesmo número de entrada, por CAE, depois de identificada para 1997, era fácil identificar os dados contabilísticos dessas empresas nos restantes anos em análise e acrescentá-los ao painel. No final, o painel em estudo, contém 573 empresas.

No entanto, deve ter-se em atenção que um problema bem conhecido com dados cronológicos/seccionais, como é o caso deste painel de empresas, é a redução do número de unidades estatísticas iniciais. A estrutura da economia ou das empresas individuais não é estática, pois nascem novas empresas, outras entram em processos de falência e, como resultado da reorganização das actividades, pode inclusivamente haver separações e/ou fusões. Por isso, ao longo do processo de construção do painel, algumas unidades estatísticas saíram do painel. Este facto pode causar problemas para a análise, dado que as ‘saídas’ podem representar fracassos (empresas que entraram em falência) ou sucessos (situação em que a empresa foi adquirida por outra). Pela importância da questão, estudaremos a relação entre a inovação e a sobrevivência das empresas no painel em estudo como questão suplementar de investigação, tal como já foi referido. De acordo com Struijs & Willeboordse (1995) um modo de classificar as possíveis mudanças, é o que se apresenta no Quadro 3.1. Quadro 3.1 - A empresa como unidade estatística, classificação de mudança

Tipo de mudança

Identidade da Unidade Retida 1. Nenhuma mudança ou alteração menor nas características Sim

2. Existência 2.1 Nascimento

2.2 Morte Não Não

3. Mudança estrutural 3.1 Concentração

3.1.1 Fusão com outra

3.1.2 Aquisição de nova parte Sim

Não 3.2 Divisão

3.2.1 Desintegração

3.2.2 Separação duma parte Sim Não

3.1.6 – Registo e verificação dos dados

Após recolher os dados secundários, junto das instituições suas detentoras, procedeu- se ao registo dos mesmos o que implicou algum trabalho prévio que, no nosso caso, consistiu em estabelecer a forma como esses dados seriam sistematizados numa tabela. Assim, racionalmente podemos conceber a organização dos dados, por nós recolhidos, através do estabelecimento de uma matriz com i linhas e j colunas, em que i=1,2,...,n (número de indivíduos da população) e j=1,2,...,p (número de variáveis em estudo). Verifica-se que a maior parte do software estatístico, como é o caso do Statistical Package for Social Sciences (SPSS) ou do Statistics Data Analysis (STATA), por nós utilizados, obriga a que os indivíduos (casos) sejam considerados em linha e as variáveis em coluna.

Após inserir os dados no computador numa matriz do tipo acima definido, procedeu- se à sua verificação exaustiva, para acautelar eventuais erros cometidos no processo de registo informático e as possíveis correlações existentes entre variáveis.