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Enquadramento Teórico: Inovação e Desempenho Económico-Financeiro

2.3 I NOVAÇÃO E R ENDIBILIDADE

A inovação pode ser vista como um investimento feito na antecipação de lucros. Em geral, os decisores numa empresa farão o investimento se a taxa de retorno interna esperada for maior do que a taxa de juro do mercado. O rendimento proveniente da relação entre a inovação e a rendibilidade está relacionado com a política de concorrência e com questões acerca do capital humano e provisão de conhecimentos, sendo do maior interesse para os gestores e investidores.

A observação de que algumas empresas registam uma relativa rendibilidade elevada durante períodos de tempo prolongados tem despertado curiosidade em muitos gestores e investigadores (Porter, 1985; Varadarajan & Ramanujam, 1986; Jacobson, 1988; Hunt & Morgan, 1995).

De acordo com as teorias da organização industrial, a rendibilidade é um fenómeno transitório e não persistente devido à elevada concorrência, ou seja, a imitação criativa pode conduzir a lucros anormalmente elevados; no entanto, estes só se registam até ao momento em que outros concorrentes entram no mercado (Jacobson, 1988; Mueller, 1977, 1986 e Rumelt, 1987, 1991). Apesar desta realidade, observam-se exemplos de níveis persistentes de rendibilidade em algumas empresas. A pesquisa empírica levada a cabo pelos economistas da organização industrial demonstra que, embora as empresas com lucros anormais desapareçam, frequentemente, com o tempo, verificam-se, contudo, excepções que estão documentadas (Mueller, 1986, 1990; Jacobson, 1988; Hunt & Morgan, 1995). Tendo em consideração estas observações, a tarefa dos investigadores é a de desenvolverem um

21 Para uma boa revisão e crítica, do ponto de vista académico: sobre a gestão da inovação ver, entre outros,

Van de Ven et al. (1989) e Ettlie (1999); como o processo de inovação deve ser gerido ver, por exemplo, King (1992), Pisano (1996), Trott (1998), Brockhoff et al. (1999). Os estudos de caso fornecem, também, uma boa óptica segundo a qual este processo pode ser visto, como, por exemplo, Kanter (1997), Leifer et al. (2000).

quadro conceptual que explique: (a) a tendência para as empresas atingirem uma rendibilidade elevada que, subsequentemente, retrocede para níveis mais normais, assim como (b) os factores ao nível da empresa que contribuem para a variação na persistência dos lucros.

De um modo crescente, a lógica Schumpeteriana (Schumpeter, 1934, 1942) está a ser invocada, a nível académico, para tentar explicar a rendibilidade persistente de algumas empresas (Mueller, 1990; Jacobson, 1992). De acordo com Schumpeter, a inovação pode tornar transitórios, embora não necessariamente persistentes, os lucros acima do normal. Veja-se o processo de destruição criadora contínua: a inovação gera monopólio, o monopólio origina lucros, os lucros atraem imitadores até um estado de normalidade de retornos e, consequentemente, uma repetição do ciclo. Se a lógica Schumpeteriana for aplicada directamente ao nível da empresa, então é natural considerar os factores que fazem abrandar a taxa da imitação como as causas do nível de persistência de lucros da empresa.

Uma das finalidades deste ponto é refinar e ampliar a explicação Schumpeteriana do nível de persistência de lucros da empresa de dois modos. Primeiro, reconhecer explicitamente os dois processos dinâmicos que Schumpeter aponta: (1) a inovação, que tende a gerar rendibilidade elevada, e (2) a imitação, que tende a encaminhar lucros elevados para níveis mais normais. Em segundo lugar, deve-se reconhecer que estes dois processos operam ao sub-nível de empresa. Os produtos (e não as empresas) são objectos de inovação e subsequente imitação durante o processo de destruição criadora de Schumpeter. E mais, as inovações múltiplas podem ser introduzidas dentro da mesma empresa.

Este último facto autoriza que se conceba as empresas como carteiras de produtos em evolução em que os novos produtos são introduzidos e, subsequentemente, imitados pela concorrência, em diferentes momentos. Compreendendo a rendibilidade persistente, então, torna-se necessário entender como o desenvolvimento da carteira dos produtos da empresa afecta a dinâmica da sua rendibilidade em geral. A perspectiva de séries de inovações e de multiprodutos leva a que se use de cuidado na avaliação das implicações ao nível da empresa das inovações de Schumpeter e das dinâmicas da imitação. É razoável esperar rendibilidade persistente ao nível da empresa, apesar da intensa imitação da concorrência, naqueles casos em que uma empresa gera, com sucesso, uma cadeia de inovações rentáveis. Uma vez esta possibilidade reconhecida, surgem duas explicações para a rendibilidade persistente ao nível da empresa.

Uma primeira explicação é o monopólio, que, normalmente, domina o pensamento económico de organização industrial, e sugere que a rendibilidade elevada persistente se regista em empresas que resistem, com sucesso, à imitação da concorrência que, doutro modo, destrói gradualmente os lucros elevados. Como referem Scherer & Ross (1990:442), uma “teoria dinâmica adequadamente formulada indica que se deve esperar ver retornos de empresas especialmente lucrativas declinarem a não ser que as barreiras à entrada sejam suficientemente altas”. A segunda explicação é baseada na inovação e sugere que a imitação pela concorrência pode ser suficientemente intensa para fazer com que lucros elevados estejam associados a fenómenos transitórios de inovação. Contudo, as empresas variam na sua propensão para gerar correntes de inovações valiosas com o tempo, e as inovações valiosas geradas pela empresa numa base mais regular podem ser a mostra de persistente rendibilidade. Note-se que, embora estas duas explicações sejam analiticamente distintas, podem operar em conjunto na prática: uma empresa pode ter, persistentemente, lucros elevados tanto porque inova, como porque está, de alguma forma, protegida da concorrência.

Este ponto é estruturado como se segue: a próxima secção faz uma breve abordagem do efeito dos fluxos financeiros na inovação, seguida por uma secção que descreve como uma análise coerente da dinâmica de lucros a nível de empresa deve reconhecer que as empresas possuem carteiras de produtos em evolução. A secção seguinte resume, brevemente, o estudo existente da rendibilidade persistente. Este sumário é seguido por uma discussão das dinâmicas concorrenciais de Schumpeter e por uma formulação de um quadro Schumpeteriano sobre o nível de rendibilidade persistente da empresa.

2.3.1 - O efeito dos fluxos financeiros na inovação

O debate acerca do efeito da procura na inovação é familiar para a maior parte dos investigadores. O papel das finanças é, contudo, mais controverso e alimenta directamente os debates da política pública acerca de como melhor apoiar a actividade inovadora. O financiamento interno é menos dispendioso para a empresa do que o financiamento externo, por várias razões, entre elas, as elevadas taxas de empréstimo.Tendo em consideração estes argumentos, então o fluxo financeiro pode afectar o investimento em inovação, particularmente em empresas financeiramente constrangidas (isto é, aquelas que recorrem com frequência a financiamento externo), ou em empresas com projectos de investimento

muito ambiciosos. Estes projectos estão associados a investimentos intangíveis e/ou particularmente arriscados, como aqueles ligados a novos produtos ou processos de inovação. Assim, o fluxo financeiro parece, à priori, ser um factor determinante da calendarização da actividade inovadora, merecendo uma exploração mais alargada.

Neste sentido, Geroski et al. (2002) propõem-se explorar as determinantes da actividade inovadora, concentrando-se na procura de padrões sistemáticos de variação entre medidas de produção inovadora, fluxo financeiro e outros factores. Fazem-no construindo um modelo dinâmico de três equações, relacionando informações sobre: principais inovações, patentes e fluxo financeiro. Os autores colocam as seguintes hipóteses de estudo: (1) as patentes são a ‘causa’ das inovações (mas não o inverso); (2) a produção das inovações (output) é mais sensível às pressões da procura e menos sensível às pressões de fornecimentos (tal como os custos de I&D) do que as patentes e, finalmente, (3) enquanto as inovações e patentes geram fluxo financeiro, o fluxo financeiro não tem efeito de curto ou de longo prazo sobre os números das inovações ou patentes produzidas e apenas um efeito modesto sobre a calendarização da produção das novas inovações. Os autores utilizam a base de dados da Science Policy Research Unit (SPRU), do Reino Unido e a base de dados de patentes US Patent Office, entre 1972 e 1982. O objectivo principal desse projecto foi tentar contabilizar a natureza episódica e idiossincrática da variação na produção inovadora das empresas, concentrando-se, em particular, sobre o relacionamento entre produção inovadora (output) e fluxo financeiro. Os resultados são relativamente fáceis de condensar:

Geroski et al. (2002) descobrem uma aparente relação causal que vai das patentes à actividade inovadora, mas não do output das principais inovações às patentes. As patentes parecem ser mais sensíveis a factores da área dos fornecimentos (como investimento em I&D), enquanto as inovações reagem mais às variações na procura. Ambas as variáveis têm efeitos significativos sobre o fluxo financeiro, mas nenhuma é afectada pelas variações deste. No caso das inovações, o efeito (modesto) do fluxo financeiro é a alteração da calendarização muito mais do que o número total das inovações produzidas. Para as patentes, efeitos positivos significativos registam-se, apenas, após um intervalo de dois períodos (se existente). Finalmente, as empresas mais pequenas da amostra estudada parecem ser algo mais sensíveis ao fluxo financeiro do que as grandes empresas. Para as empresas mais pequenas, a conclusão é que são relativamente mais sensíveis a flutuações da procura do que

as empresas maiores, dado estarem, muitas vezes, mais constrangidas financeiramente do que estas.

Geroski et al. (2002) terminam as conclusões do estudo afirmando que a verdadeira explicação da natureza episódica da produção das inovações pelas empresas deve ser encontrada no seio do processo de inovação e não fora da empresa, em mercados de produtos e de capitais.

2.3.2 - A persistência nas actividades inovadoras e na rendibilidade

Será que as empresas sistematicamente inovadoras e que gozam de lucros acima da média têm maiores probabilidades de vencer no mercado do que as empresas que são inovadoras ocasionais? A finalidade desta secção é averiguar se há uma relação entre os lucros da empresa e a persistência das actividades inovadoras.

Um facto importante acerca das dinâmicas do crescimento das empresas é o de que as empresas apresentam diferenças de desempenho (Dosi et al., 1995). Estas diferenças (ou assimetrias) são o resultado de diferenciais significativos nos custos e produtividade (Nelson & Winter, 1982; Baily & Chakrabarty, 1985), na rendibilidade (Mueller, 1990; Geroski et al., 1993a,b) e na produção inovadora (Griliches, 1986; Patel & Pavitt, 1991). Particularmente intrigante é a persistência destas assimetrias que, por sua vez, envolvem questões interessantes, tais como Quais são os seus recursos? Por que é que as interacções concorrenciais não as fazem desaparecer? e, também, Quais as consequências para as dinâmicas industriais?

Recentemente, a atenção tem sido, devotada à persistência nas actividades inovadoras. A existência de persistência nas actividades inovadoras é particularmente relevante a fim de discriminar entre diferentes padrões de mudanças tecnológicas (isto é, mudanças tecnológicas como um processo de destruição criadora versus acumulação criativa) e entre padrões de crescimento das empresas. Estudos empíricos recentes têm mostrado que as actividades inovadoras são persistentes a nível de empresa (Cefis, 1996; Malerba et al., 1997), ou que há, pelo menos, um grupo de grandes inovadoras (empresas que registam mais de 5 patentes em cada ano) que são muito persistentes (Geroski et al., 1997).

Um esforço substancial de investigação tem sido dedicado ao exame da persistência de lucros. A literatura recente tem colocado a seguinte questão: Será que as taxas de lucro industrial eventualmente convergem para uma taxa comum? Vários estudos empíricos têm mostrado que as empresas mostram diferentes rendibilidades persistentes (Mueller, 1990; Geroski & Jacquemin, 1988; Droucopoulos & Lianos, 1993), indicando que os lucros não parecem convergir para uma taxa de retorno comum.

A finalidade da análise sobre persistência nas distribuições conjuntas de patentes e lucros (ver, Geroski et al., 1993a,b) é a de fornecer evidência empírica quanto à relação entre os lucros e a inovação. Os lucros são geralmente modelados como uma função de inovações anteriores (ver, por exemplo Geroski et al., 1993a,b) considerando a inovação como um choque, o qual tem um impacto (grande ou pequeno, permanente ou transitório) sobre a rendibilidade da empresa. Investigando uma possível relação entre a persistência nos lucros e a persistência na inovação, Cefis (1999) sugere que a ligação que necessita de ser estudada é entre a persistência nos lucros como uma função da persistência nas inovações. Isto é, a atenção deve ser dirigida tanto para os lucros como para a inovação como processo, neste último caso, como um processo cumulativo.

Cefis (1999) utiliza dados em painel com 82 fábricas do Reino Unido observadas continuamente durante um período de 1978 a 1991. As 82 fábricas constituem uma sub- amostra de uma amostragem aleatória de 600 empresas do Reino Unido que registaram patentes (no European Patent Office) pelo menos uma vez no período de 1978 a 1991. A rendibilidade da empresa é medida pelos lucros operativos, enquanto que o número de patentes registadas por cada empresa foi usado como indicador de actividades inovadoras levadas a cabo no seio da empresa.

Cefis (1999) implementou uma visão não paramétrica (como em Quah, 1993) baseada na modelação directa das dinâmicas da distribuição seccional cruzada evolutiva, baseada nos chamados campos aleatórios.

As conclusões do estudo de Cefis (1999), referem que a análise da persistência é, primeiramente, levada a cabo sobre a distribuição de patentes e distribuição de lucros separadamente. A estimada probabilidade de transição sobre dados de patentes mostra que há uma elevada persistência nas actividades inovadoras que se reduz ligeiramente à medida que o período de transição cresce. A análise das distribuições conjuntas dá um quadro muito similar: há uma alta persistência numa posição relativa da empresa no que toca aos lucros e à

inovação considerados simultaneamente. Isto é, as empresas que são sistematicamente inovadoras e conseguem lucros acima da média têm uma alta probabilidade de manter a inovação e conseguir lucros acima da média, assim como as empresas que são ocasionalmente inovadoras e conseguem lucros abaixo da média têm uma alta probabilidade de se manterem nessa situação.

A modificação de um aspecto característico duma empresa (ou, por outras palavras, a mudança nas capacidades tecnológica e organizacional) é um processo muito gradual: somente a longo prazo podemos observar mobilidade em ambas as dimensões.

A alta persistência que caracteriza a rendibilidade da empresa não é influenciada pelas características inovadoras da empresa. Contudo, a probabilidade de conseguir lucros acima da média, a longo prazo, é mais alta se uma empresa começa como inovadora sistemática do que como inovadora ocasional.

2.3.3 - Pesquisa sobre a rendibilidade persistente

Numa tentativa de desenvolver um quadro conceptual que explique a tendência das empresas em alcançarem lucros relativamente elevados, os quais, consequentemente, decrescem para níveis mais normais, bem como os factores a nível empresarial que contribuem para a inovação, segue-se uma breve descrição dos estudos efectuados, com referência aos seus autores.

A investigação empírica inicial sobre a questão da rendibilidade persistente foi conduzida ao nível da economia industrial (ver, Brozen, 1970; Qualls, 1974; Mueller, 1977). Os primeiros estudos utilizam a análise seccional cruzada; no entanto, esta metodologia apresenta várias desvantagens (Geroski, 1990), nomeadamente (a) os resultados da análise podem fornecer indicadores tendenciosos de verdadeiras relações de desequilíbrio; (b) não são fornecidas as penetrações para os processos dinâmicos que caracterizam a concorrência económica; e (c) a metodologia responde, apenas, a questões acerca da existência de lucros acima do normal e não à extensão da persistência no tempo.

O trabalho de Geroski (1990) insere-se numa óptica muito próxima dos estudos que examinam as dinâmicas da rendibilidade ao nível da empresa. Mueller (1977) analisa o comportamento dinâmico da taxa de retorno do activo para 472 empresas, cobrindo um período de 24 anos. Além de encontrar evidências da erosão de lucros, observa tendência das

empresas com rendibilidade elevada reterem as suas posições lucrativas acima do normal por períodos de tempo prolongados. Posteriormente, Mueller (1986) examinou a taxa de retorno do activo para um período de 22 anos para empresas americanas que estavam entre as 1000 maiores, tanto em 1950, como em 1972, concluindo que não se verificavam níveis de lucros acima do normal para todo o período em análise, apenas em alguns anos.

Os resultados destes dois estudos representam um processo dinâmico competitivo das empresas, no que respeita aos lucros acima do normal que aparecem e desaparecem com alguma regularidade. Contudo, não é incomum que alguns lucros acima do normal persistam por algum tempo, se não, indefinidamente.

Seguindo Mueller (1977, 1986), outros investigadores voltaram a sua atenção para a questão da rendibilidade persistente, cada um usando diferentes métodos e amostras. Por exemplo, Cubbin & Geroski (1987) utilizam um projecto de estudo mais complexo nas suas investigações sobre a dinâmica do nível de rendibilidade de empresas numa amostragem de 217 grandes empresas do Reino Unido para o período 1951-1977. Os autores concluíram que, embora as forças dinâmicas conduzam os retornos para níveis normais, “houve empresas na amostragem cujos lucros persistentemente excediam 'o normal' por longos períodos de tempo” (Cubbin & Geroski, 1987:436).

Por sua vez, Jacobson (1988) examina as propriedades auto regressivas das séries temporais de rendibilidade usando duas bases de dados separadas, uma ao nível da empresa e outra ao nível da unidade de negócios. Em cada caso, os resultados sugerem que os lucros anormais eventualmente convergem a longo prazo para um nível comum. A taxa de convergência não é comum entre as empresas, sendo, contudo, influenciada por vários factores. O estudo de Jacobson (1988) adianta exemplos de factores que influenciam o processo de convergência dos lucros anormais: a quota de mercado da empresa, a dimensão e a intensidade da sua expansão no mercado.

Outros investigadores, ainda, comparam as dinâmicas dos níveis de rendibilidade da empresa através de diferentes países (ver Mueller, 1990). Odagiri & Yamawaki (1986) e Yamawaki (1989), por exemplo, comparam as dinâmicas da rendibilidade apresentadas pelas empresas japonesas e americanas. Geroski & Jacquemin (1988) comparam as empresas francesas, alemãs e inglesas para avaliar as diferenças inter-países nas dinâmicas da rendibilidade observadas. Finalmente, Schohl (1990) analisa a dinâmica da rendibilidade demonstrada por uma amostragem de empresas alemãs.

É difícil retirar uma conclusão consistente de um tal leque diversificado de estudos empíricos. Contudo, como resultado dos estudos acima descritos, sugere-se que os lucros elevados a nível empresarial desaparecem com o tempo, apontando também para empresas capazes de resistirem, com sucesso à erosão das suas posições de lucros elevados durante longos períodos de tempo, não pondo em causa a eficiência de tais empresas numa perspectiva económica. Estas empresas excepcionais são as que estimulam o interesse em compreender as causas deste persistente nível de rendibilidade.

Note-se que várias investigações sobre a rendibilidade persistente se basearam exclusivamente em explicações do tipo monopólio da persistência dos níveis de lucros. Na verdade, a filosofia-padrão empírica do problema é estimar o modelo auto-regressivo de rendibilidade (Mueller, 1986; Odagiri & Yamawaki, 1986; Levy, 1987; Geroski & Jacquemin, 1988; Jacobson, 1988; Yamawaki, 1989; Schohl, 1990).

O estímulo para esta investigação deriva de um desejo de compreender as dinâmicas da rendibilidade a nível de empresa. É, por isso, necessário uma deslocação da análise seccional cruzada na direcção de um método que preserve o comportamento inter-temporal dos lucros da empresa. Tal movimento ocorreu no seio da literatura sobre economia na organização industrial, pressionado por investigadores interessados na questão da persistência da rendibilidade. Finalmente, é a avaliação de um modelo de lucros auto- regressivos que serve de base na aproximação empírica (embora na forma reduzida de um modelo dinâmico mais complexo) e consiste nas seguintes variáveis:

πit = α + β*πit-1 + εit (2.1)

onde πit é um indicador de lucros empresariais anormais, β um indicador da taxa à

qual lucros anormais transitórios convergem para níveis normais (quanto mais altos, mais contínuos são estes lucros), e α e β, em conjunto, descrevem o caminho dinâmico seguido por πit (estimativas elevadas de α e β são consideradas impedimentos evidentes para a

entrada concorrencial). Em regra, quanto mais alto o β, mais persistentes são os resultados de lucros anormais transitórios. Se o longo prazo é considerado o ponto em que as mudanças de período a período na rendibilidade cessam, então uma estimativa da taxa de retorno de longo prazo (πit) pode ser obtida colocando πit igual a (πit-1)(ver Schohl, 1990), produzindo

de retornos extra normais, mesmo a longo prazo. Como explica Geroski (1990), estes modelos são representações, de forma reduzida, de um modelo dinâmico mais complexo no qual lucros elevados atraem entradas de concorrentes, que, subsequentemente, baixam a rendibilidade. Assim, as conclusões empíricas que indicam um elevado grau de persistência são interpretadas como evidência de impedimentos para entradas concorrenciais.

Na equação (2.1), α e β, em conjunto, descrevem as dinâmicas dos lucros da empresa. A estimativa β (o parâmetro persistente) indica a taxa na qual os lucros anormais convergem a níveis de longo prazo. Tal como a Figura 2.5 mostra, o percurso da convergência de lucro depende criticamente do alcance em que o valor estimado de β cai.