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4.1 C ARACTERIZAÇÃO G ERAL DAS E MPRESAS QUE I NTEGRAM O P AINEL

Inovação e Desempenho da Empresa: Ensaio para a Indústria Transformadora

4.1 C ARACTERIZAÇÃO G ERAL DAS E MPRESAS QUE I NTEGRAM O P AINEL

Neste ponto faremos uma breve caracterização do painel em estudo, apreciando as empresas inovadoras e as não inovadoras de acordo com o tipo de inovação realizada pelas empresas, com a dimensão das empresas e com o nível de intensidade tecnológica das empresas.

O CIS2 regista 820 observações para a indústria transformadora (CAE 15-37). Destas, 247 não entram no painel em estudo devido ao desajustamento entre os dados sobre inovação provenientes do CIS2 e os dados contabilísticos da empresa correspondentes (em 1997), provenientes do Banco de Portugal. Os anos 1995, 1996 e 1997-2001 são então acrescentados, como referido na secção 3.1.5 - Construção do painel de empresas (Capítulo III). O painel final em estudo é constituído por 573 empresas, ou seja 70% das observações do CIS2.

A intensidade de empresas inovadoras num sector da economia é mensurada através da determinação da percentagem de empresas que introduziram no mercado produtos e/ou processos novos ou significativamente melhorados, num determinado período (no caso desta investigação diz respeito ao período 1995-1997).

Começamos por uma análise das observações do painel tendo em atenção a variável dicotómica da inovação empresas inovadoras/não inovadoras. Esta variável resulta das seguintes questões do CIS2: (1) durante o período de 1995-1997, a sua empresa introduziu no mercado algum produto tecnologicamente novo ou melhorado e (2) durante o período de 1995-1997, a sua empresa introduziu algum processo tecnologicamente novo ou melhorado. Assim, a variável tem o valor ‘1’ se introduziu algum produto e/ou processo tecnologicamente novo ou melhorado e ‘0’ se não introduziu qualquer produto ou processo tecnologicamente novo ou melhorado.

De acordo com a Figura 4.1, verifica-se que dos dados do painel em estudo há 36,5% das empresas que são inovadoras. Os resultados do CIS2 apenas registam 25,8% (Conceição & Ávila, 2001), o que significa que a maioria das empresas que saíram do painel durante a sua construção (247), eram empresas classificadas como não inovadoras nos resultados do CIS2. Este facto, mostra que a percentagem de empresas inovadoras em estudo está mais próxima da média europeia registada no mesmo período (49%) e que o recente resultado do

CIS3 (1998-2000) mostra que Portugal se está a aproximar mais dessa média europeia: 42,4% das empresas da indústria transformadora são inovadoras no referido painel.

Para apreciar a distribuição das empresas segundo a dimensão, seguimos a metodologia utilizada no CIS3 (Bóia, 2003), metodologia que utiliza três categorias: pequenas empresas (que têm até 49 empregados), médias empresas (que possuem entre 50 e 249 empregados) e grandes empresas (constituídas por mais de 250 empregados). Contudo, os resultados do CIS2 apresentam cinco categorias de dimensão da empresa (ver Conceição & Ávila, 2001). Decidiu-se reduzir de cinco para três categorias de dimensão da empresa depois de verificarmos que as cinco categorias não nos permitiam introduzir a variável dimensão em tratamentos econométricos dado o reduzido número de observações nalgumas categorias. Os dados do painel em estudo mostram que 28,6% são pequenas empresas, 37,5% são de média dimensão e 33,9% são de grande dimensão.

Uma análise mais rigorosa por dimensão de empresas, mostra que são as grandes empresas que mais contribuem para a percentagem total de empresas inovadoras na indústria transformadora em Portugal, tal como se vê na Figura 4.1

0% 20% 40% 60% 80% 100% 0-49 50-249 >250 Todas

Dimensão, segundo número de empregados

Empresas inovadoras Empresas não inovadoras

Figura 4.1 – Empresas inovadoras/não inovadoras, segundo a dimensão

A análise da performance das empresas inovadoras do painel em estudo, atendendo à distribuição por tipo de inovação mostra que 15,3% das empresas inovam através da introdução de novos produtos, 22,5% através da introdução processos inovadores e 62,2% através de ambos os tipos de inovação.

Analisando a Figura 4.2, observamos que as empresas de todas as dimensões apresentam uma percentagem de inovação de produto e processo (ambos os tipos de inovação) mais elevada do que a percentagem de inovação de um só tipo de inovação: produto ou processo. Dimensão 0-49 Inovação de produto e de processo 41% Inovação de processo 33% Inovação de produto 26% Dimensão 50-249 Inovação de produto e de processo 64% Inovação de produto 9% Inovação de processo 27% Dimensão >250 Inovação de produto e de processo 70% Inovação de produto 16% Inovação de processo 14%

Figura 4.2 - Empresas do painel classificadas segundo a dimensão e o tipo de inovação

Verifica-se, ainda, que são as médias e grandes empresas que mais aliam estes dois tipos de inovação, ou seja, estas empresas introduzem, simultaneamente ou consequentemente, inovação de produto e de processo. De facto, existe uma grande interdependência entre estes dois tipos de inovação: uma inovação de produto frequentemente exige novos processos de produção e novos equipamentos; por sua vez, novos processos de produção também conduzem, muitas vezes, a produtos novos ou melhorados. Por outro lado, uma inovação de produto para um fabricante de bens de equipamento aparece como uma inovação de processo para os seus clientes (ver, entre outros, Abernathy & Utterback, 1988; OCDE, 1992, 1997).

Analisando agora sector a sector da indústria transformadora, verificamos que os sectores que mais contribuem para a inovação são: o da borracha e madeiras plásticas, com 76,9% de empresas inovadoras; o dos equipamentos eléctricos e de óptica, com 73,7% das empresas a introduzir algum tipo de inovação; o da química, com 66,7% e o das máquinas e equipamentos registando 60,9% de empresas inovadoras. Estes quatro sectores constituem um grupo de empresas com uma percentagem de inovadoras acima dos 50%. Em contrapartida, os sectores designados de tradicionais são os que apresentam menores percentagens de empresas inovadoras: o couro e produtos de couro (13,2%); madeiras, a cortiça e suas obras (26,3%); as outras indústrias transformadoras (27,6%); os têxteis e vestuário (29,4%); e os minerais não metálicos (29,8%). Este grupo de empresas apenas contém uma percentagem de inovadoras abaixo dos 30%. Estas conclusões podem visualizar-se na Figura 4.3.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

% de empresas

Couro e produtos de couro Madeira, cortiça e suas obras Outras indústrias transformadoras Têsteis e vestuário Minerais não metálicos Metalúrgica de base e produtos metálicos Material de transporte Electricidade, gáz e água Alimentar, bebidas e tabaco Papel, pasta e cartão e edição e impressão Máquinas e equipamentos Química Equipamento eléctrico e de óptica Borracha e madeiras plásticas

Empresas inovadoras Empresas não inovadoras

Figura 4.3 - Empresas do painel classificadas por indústria e inovação

Como se pode observar na Figura 4.3, a análise por sector não pode ser realizada por CAE de 2 dígitos, uma vez que existe um número muito reduzido de observações nalguns sectores, assim algumas classes industriais foram agrupadas. De qualquer forma, estas classes industriais registam um pequeno número de observações, uma vez que o painel em estudo apenas contém 209 empresas classificadas como inovadoras, que distribuídas pelas 14

classes industriais apresentadas na Figura 4.3, não permite que a variável categórica indústria (contendo as 14 categorias industriais referidas) seja significativa ou que dela se consiga retirar algumas conclusões quanto ao seu impacto medido através de alguns tratamentos estatísticos e econométricos realizados ao longo deste estudo. Para ultrapassar a questão optámos por substituição a variável indústria pela variável intensidade tecnológica, nos tratamentos de dados em que achamos relevante a sua contribuição.

A variável intensidade tecnológica está dividida em quatro níveis: alta, média/alta, média/baixa e baixa. Esta divisão, feita de acordo com a sugerida pela OCDE (1997), é utilizada em diversos estudos, nomeadamente nos resultados do CIS2 e CIS3. Os dois primeiros níveis de intensidade tecnológica foram agregados num só nível (alta e média/alta), devido à falta de observações no nível de intensidade tecnológica alta, aliás à semelhança do que se verifica na apresentação dos dados do CIS2 e do CIS3.

A Figura 4.4, mostra que as empresas com um nível de intensidade tecnológica alta e média/alta são as mais inovadoras pois 59,1% delas são inovadoras. Em contrapartida, apenas 29,2% das empresas com um nível de intensidade tecnológica baixa realizaram algum tipo de inovação.

0% 20% 40% 60% 80% 100% Intensidade tecnológica alta e média alta Intensidade tecnológica média/baixa Intensidade tecnológica baixa

Empresas inovadoras Empresas não inovadoras

Figura 4.4 - Empresas do painel classificadas segundo o nível de intensidade tecnológica

Analisando os níveis de intensidade tecnológica atendendo ao tipo de inovação realizada pelas respectivas empresas, verificamos, através da observação da Figura 4.5, que as empresas com intensidade tecnológica alta e média / alta são as que apresentam uma percentagem mais elevada de inovação de produtos (25,6%) e de inovação de processo

(32,6%). Para este resultado muito contribuem a indústria química (em termos de inovação de produtos) e a indústria de equipamentos eléctricos e óptica (em termos de inovação de processos).

As empresas com um nível de intensidade tecnológica média/baixa e baixa registam uma percentagem mais elevada de ambos os tipos de inovação, ou seja, a inovação de produto é precedida de uma inovação de processo ou vice-versa.

0% 20% 40% 60% 80% Intensidade tecnológica alta e média alta

Intensidade tecnológica média/baixa

Intensidade tecnológica baixa

Inovação de produto Inovação de processo Inovação de produto e de processo

Figura 4.5 - Empresas do painel classificadas de acordo com o nível de intensidade tecnológica e tipo de inovação

Depois desta breve caracterização do painel em estudo, passemos agora à verificação das duas primeiras questões desta investigação, no ponto seguinte.