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Dados e Metodologia de Análise

3.1 – M ÉTODOS E T ÉCNICAS DE I NVESTIGAÇÃO

A geração de ciência exige a aplicação de um método que garanta a exactidão dos conhecimentos, isto é, que garanta a aplicação correcta do denominado método científico.

O método científico, segundo Barañano (2004), é um instrumento para o estudo da realidade, formado por um conjunto de procedimentos, através dos quais os problemas científicos são formulados e as hipóteses examinadas. Assim, este método é uma orientação que facilita ao investigador o planeamento da sua investigação, a formulação de hipóteses, a realização de experiências e a interpretação dos seus resultados.

Por vezes, os termos métodos e técnicas são utilizados como sinónimos, mas a verdade é que são conceitos bem diferentes. Enquanto os métodos se definem como o conjunto de etapas necessárias para alcançar um determinado fim, as técnicas são as formas de levar a cabo algum tipo de actividade, por outras palavras, são um conjunto de instrumentos quer de recolha quer do tratamento de dados da investigação consideradas úteis para o estudo.

3.1.1 – Sobre o método

A metodologia de trabalho é definida de modo a dar resposta às questões e hipóteses do estudo e aos objectivos propostos. Assim, na primeira fase desta investigação procedemos ao levantamento bibliográfico sobre o tema e ao estudo da informação obtida através da análise de vários estudos, tanto de cariz teórico, como empírico, sobre o fenómeno da inovação nas empresas industriais e também sobre o seu efeito no desempenho económico- financeiro destas unidades empresariais (Capítulo II).

Um trabalho prévio indispensável nesta fase de pesquisa bibliográfica é, sem dúvida, o levantamento de trabalhos existentes sobre os determinantes e os padrões de inovação na indústria portuguesa. É nossa convicção que o conhecimento do tema permanece limitado e que existe a consciência de que, em regra, a inovação não é encarada como um factor relevante do posicionamento competitivo das empresas portuguesas. Apesar de tudo, nos últimos anos surgiram vários trabalhos procurando fornecer um quadro mais preciso das atitudes empresariais face à inovação e das relações entre as características da gestão e o comportamento inovador das empresas. Tais trabalhos, de entre os quais se destacam o inquérito à inovação na indústria portuguesa, efectuado pelo CISEP/GEPIE para o então Gabinete de Planeamento do Ministério da Indústria e Tecnologia em 1989/90 (CISEP/GEPIE, 1991), o inquérito do Sistema de Observação de Tecnologia e Inovação na Indústria Portuguesa (SOTIP) iniciado pelo CISEP/ISEG em 1997/98 (CISEP/ISEG, 2000) e os inquéritos comunitários sobre inovação (Community Innovation Surveys), componente portuguesa, em 1991/1992 (CIS1), 1995/1997 (CIS2) e 1998/2000 (CIS3), fornecem um bom ponto de partida para a nossa investigação. No entanto, não nos limitámos à análise de estudos nacionais (como podemos verificar através da leitura do Capítulo II), uma vez que não encontrámos, em qualquer um deles, uma análise semelhante à que queremos desenvolver.

Uma vez realizada a pesquisa bibliográfica, e com base na informação obtida, seguiu-se um período em que se procedeu ao aprofundamento dos principais conceitos e das relações que se estabelecem entre eles, desenvolvendo-se assim uma base teórica e um modelo de teórico de investigação na qual se apoia todo o trabalho de investigação (parte final do Capítulo II).

Na fase seguinte definiram-se os objectivos que se pretendem alcançar e formulámos as questões e hipóteses a investigar (secções 3.1.2 e 3.1.3 deste Capítulo). Dados os objectivos perseguidos, colocou-se o problema da obtenção de dados e da escolha do método

mais adequado para a sua recolha. Tomando conhecimento da existência de dados secundários no âmbito da inovação nas empresas industriais portuguesas - recolhidos através do Segundo Inquérito às Actividades de Inovação - e de dados económico-financeiros - recolhidos pelo Banco de Portugal -, verificámos que a informação disponibilizada por estes dados se adequava às necessidades e exigências requeridas por esta investigação, pelo que a seleccionámos e recolhemos. Uma vez obtidos os dados, efectuou-se depois o seu tratamento informático e estatístico.

A última etapa da investigação consistiu na interpretação e redacção dos resultados obtidos, bem como na apresentação das principais conclusões.

A Figura 3.1, retrata o esquema geral de metodologia de investigação deste estudo.

Figura 3.1 - Metodologia de investigação

Pretende-se, desta forma, que a natureza da pesquisa em causa se evidencie exploratória, descritiva e prescritiva. Exploratória, no sentido de que tem a função de trazer novos conhecimento acerca da relação inovação / desempenho económico-financeiro da indústria portuguesa. Descritiva, porque tem a função de descrever as possíveis determinantes de inovação que têm impacto positivo no desempenho económico-financeiro da empresa. Prescritiva porque se pretende contribuir, desta forma, para uma melhor compreensão e actuação sobre do processo de inovação e da relação entre inovação e o desempenho económico-financeiro da empresa.

Escolha do tema Enquadramento do problema Revisão da literatura Objectivos da investigação Formulação das hipóteses e do modelo Construção do painel de empresas Investigação quantitativa Análise de dados Resultados, interpretações e recomendações

3.1.2 – Objectivos: geral e específicos

O objectivo geral da presente investigação consiste em analisar o impacto da inovação no desenvolvimento dos indicadores de desempenho económico-financeiro ao longo do período 1995-2001, como já foi referido na introdução a esta dissertação.

Relembremos os objectivos específicos desta investigação:

• Identificação dos determinantes de cada uma das fases do processo de inovação; • Averiguação da existência, ou não, de feedback entre as diferentes fases do

processo de inovação;

• Identificação dos determinantes de inovação no desempenho económico- financeiro das empresas ao longo do período em análise.

Deste modo pretende-se estudar o impacto (no curto, médio e longo prazos) da inovação (produto e/ou processo) no desempenho económico-financeiro das empresas industriais portuguesas.

3.1.3 – Questões e hipóteses de investigação

Parece-nos ainda importante, nesta fase, clarificar a ideia de que uma hipótese susceptível de ser testada estatisticamente deve ser formalizada como a afirmação de uma relação objectiva (ou ausência desta) entre duas ou mais variáveis. Ou seja, em terminologia estatística o tipo de questões que se colocam na investigação é formulado sobre a forma de hipóteses referentes ao valor (ou valores) do parâmetro ou parâmetros (hipótese nula) e referentes à alternativa (hipótese alternativa) caso se rejeite a primeira hipótese. Sabemos que a maior parte dos estudos que se fazem não têm por objectivo testar uma hipótese assim definida, mas sim um conceito mais vasto sobre o fenómeno em estudo. É esta a circunstância que nos leva, por vezes, a falar em hipótese ou hipóteses gerais e hipóteses específicas. Qualquer afirmação contém em si própria a possibilidade da sua negação (inferência imediata), daí que normalmente se formule a hipótese nula, geralmente representada por H0, para a afirmação, e a sua negação, a hipótese alternativa, também

Tendo em atenção o que acabamos de referir, sobre a formulação das hipóteses a serem testadas, conjuntamente com a revisão da literatura e o modelo de investigação proposto, formularam-se duas questões principais e uma suplementar que pretendemos ver respondidas e outras duas hipóteses que iremos testar ao longo do nosso trabalho de investigação.

Um facto importante acerca das dinâmicas do crescimento das empresas é que as empresas apresentam diferenças de desempenho (Dosi et al., 1995). Estas diferenças (ou assimetrias) são o resultado de diferenças significativas nos custos, na produtividade (Nelson & Winter, 1982; Baily & Chakrabarty, 1985), na rendibilidade (Mueller, 1990; Geroski et al., 1993a,b) e na produção inovadora (Griliches, 1986; Patel & Pavitt, 1991). No seguimento desta reflexão surge a primeira questão, que pretendemos ver esclarecida:

Apresentam as empresas inovadoras do painel em estudo um melhor desempenho económico- financeiro do que as não inovadoras? Investigações anteriores confirmam que algumas empresas, aquelas que são capazes de usar a inovação para melhorar os seus processos ou diferenciar os seus produtos e serviços, têm um melhor desempenho do que as suas concorrentes que não fazem uso da inovação (ver, por exemplo, Geroski, 1990; Geroski et al., 1993; Husso et al., 1996; Klomp & van Leewen, 1999; Kleinknecht & Oostendorp, 2002; Kemp et al., 2003). No seguimento da primeira questão, e tendo em atenção o modelo de investigação proposto, coloca-se uma outra: Estarão as diferenças registadas no desempenho económico-financeiro das empresas industriais inovadoras portuguesas relacionadas com: (1) os inputs de inovação; (2) os outputs de inovação e (3) o desempenho económico-financeiro?

Há vários factores que podem contribuir para que os resultados esperados, que consistem num melhor desempenho dos indicadores económico-financeiro das empresas inovadoras, possam não se verificar. Parte desses factores estão relacionados com problemas de mensuração de variáveis, tanto de desempenho económico-financeiro como de inovação25. Mas, mesmo no caso em que os indicadores não são afectados por problemas de mensuração, pode acontecer não se provar que as empresas inovadoras têm, simplesmente, um melhor desempenho do que as não inovadoras. Um argumento para apoiar esta afirmação pode ser obtido recorrendo à distinção de Lazonick (1994) entre as estratégias de investimento inovadoras e as adaptativas. Este autor sugere que é necessário separar as

diversas variáveis de desempenho económico-financeiro, pois pode suceder que haja empresas inovadoras com melhor desempenho do que as não inovadoras em certas variáveis, mas não necessariamente em todas elas.

Estas reflexões sugerem que há uma questão em aberto: as empresas inovadoras são mais rentáveis a curto prazo do que as não inovadoras? E a longo prazo? Lazonick (1994) sugere, também, que as empresas inovadoras devem registar taxas de crescimento mais elevadas do que as não inovadoras, mas talvez com maior variação (positiva ou negativa) nos resultados, dados os riscos das estratégias inovadoras. Consequentemente, surge a pergunta: os sete anos (1995-2001) que os dados disponíveis cobrem, constituirão um período suficientemente longo para se conseguir comprovar as relações em causa?

Como foi já apontado resumidamente, o desempenho das empresas envolve não só as questões da rendibilidade e do crescimento, mas também da sua própria sobrevivência. O ideal é que a questão do desempenho seja abordada através de uma investigação dos processos de nascimento, crescimento, transformação e morte das empresas. Mesmo que não se investigue a questão da sobrevivência de modo aprofundado como parte de tais processos, pode abordar-se a questão da sobrevivência dum modo mais limitado. Por exemplo, em 2001, 5,4% das empresas tinham saído do painel em estudo, porque já não existiam como unidades estatísticas. Assim, podemos examinar a relação entre a inovação e a

probabilidade de sobrevivência no painel em estudo, como uma questão suplementar de

investigação.

Dado o facto de ser nossa convicção que a inovação é essencial à sobrevivência e ao crescimento das empresas, a hipótese inicial é que a probabilidade de sobrevivência seja mais alta entre as empresas inovadoras do que entre as não inovadoras.

Comparando as empresas que ainda se mantêm no painel em estudo no ano de 2001 com as empresas que saíram do painel nesse mesmo ano, dois tipos de questões se podem levantar. Uma delas é comparar estes dois grupos de empresas em termos de desempenho económico até 2000, assumindo que as não sobreviventes no painel são, predominantemente, falências comerciais. Outra é investigar se há qualquer relação entre a inovação e a probabilidade de não sobreviverem no painel em estudo. A interpretação dos resultados da última análise dependerá então dos resultados da primeira. Se acontecer, por exemplo, que as empresas que deixam de existir como entidades empresariais no painel em estudo em 2001 apresentem um desempenho inferior até 2000, relativamente aquelas que ainda sobrevivem

no painel em estudo no ano 2001, então este facto parece ser consistente com a assunção de que as empresas que não sobrevivem no painel são predominantemente falências comerciais. Esta será uma questão suplementar a analisar no final da nossa análise empírica.

Apesar do risco e da incerteza, a inovação, quando bem sucedida, pode produzir um impacto relevante nos resultados económicos das empresas. Nayak (1991) ilustrou essa possibilidade ao referir a importância da inovação de produto para o crescimento dos lucros das empresas, mostrando que a gestão da carteira de produtos é fundamental para a competitividade da empresa. Geroski et al. (1993a,b) sugerem que há diferenças genéricas entre as empresas inovadoras e as não inovadoras, dado que a inovação é um processo dinâmico de acumulação das capacidades internas que cria um efeito específico na empresa, afectando a evolução da empresa e o seu desempenho no tempo. Estes autores consideram a inovação como um choque que tem um impacto que pode ser grande ou pequeno, permanente ou transitório, sobre a rendibilidade da empresa. Estudos empíricos recentes (ver, por exemplo, Klomp & van Leeuwen, 1999; Kemp et al., 2003), abordados no Ponto 2.4 – Determinantes do Processo de Inovação (Capítulo II), estudam precisamente a relação entre a inovação e o desempenho económico-financeiro da empresa.

As reflexões que acabamos de proferir justificam, em certa medida, as hipóteses que formulamos para o estudo em causa:

H0(1): A inovação tem impacto positivo no desempenho económico-financeiro das empresas industriais portuguesas, num determinado momento (1997) e vice-versa, ou seja, existem relações de feedback entre as diferentes fases do processo de inovação (desempenho, output e input)

H0(2): As variáveis de inovação têm impacto nas variáveis do desempenho económico-