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A Unidade de Polícia Pacificadora na mídia

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2. Segurança Pública e Favela

2.1. Panorama sobre segurança pública

2.1.7. A Unidade de Polícia Pacificadora (UPP): política de segurança pública

2.1.7.4. A Unidade de Polícia Pacificadora na mídia

Desde a implementação da primeira Unidade de Polícia Pacificadora, no ano de 2008, a mídia vem acompanhando cada etapa do projeto de pacificação. As primeiras notícias foram sempre, de um modo geral, a favor da iniciativa, posicionamentos que a reconheciam como estratégia importante para a resolução do problema da violência no Estado do Rio de Janeiro. Diferentes reportagens foram produzidas seja pelas emissoras de televisão, o rádio ou revistas impressas e online, alardeavam a aceitação da população a nova intervenção do Estado.

Nos noticiários televisivos fomos tomando conhecimento sobre as ações e mudanças nos territórios pacificados, o papel da polícia nessa nova conjuntura. Artigo de Aurílio

Nascimento de dezembro de 2009 no jornal EXTRA9 interroga se a UPP é a solução e a admite como marco para a transformação do sofrimento da população das comunidades pacificadas.

Na página oficial UPPRJ, há um trabalho consistente de divulgação das UPPs como promotora de diferentes intervenções nos espaços pacificados. Divulgam todos os tipos de ações, desde aulas esportivas ministradas pelos agentes, passando por eventos comunitários nos quais os policiais colaboram, veicula uma imagem positiva das unidades, contribuindo para a divulgação de uma imagem de sucesso do projeto de pacificação.

Ainda na página UPPRJ10, há uma sessão ―na mídia‖, que reúne diferentes notícias veiculadas na mídia em geral sobre o trabalho das UPPs. Vale destacar que o conjunto de reportagens selecionado pelo site dão relevo a manchetes de ações bem sucedidas ou que reforçam a amplitude do trabalho da UPP nas diferentes localidades pacificadas.

De acordo com o site de notícias Rioonwatch11, as UPPs inicialmente foram consideradas exitosas, ―mais humanitárias e sem forças policiais corruptas‖. A retomada das regiões antes dominadas pelo crime organizado, causando impacto na organização do tráfico de drogas, circulação de armas e vendas de drogas. Situação que colaborou para a especulação imobiliária nas localidades em torno das áreas pacificadas.

A página acima citada enfatiza que a realidade da pacificação também contribuiu para fomentar o surgimento de seguimentos de mercado, antes não possíveis nestes territórios, como o turismo. O site ainda destaca que as primeiras favelas pacificadas ―foram

acompanhadas de um forte impulso publicitário, com inaugurações muito difundidas [...] na mídia não houve (ou quase) nenhuma informação negativa‖.

Artigo de André Naddeo na Folha de São Paulo12 publicado em janeiro de 2016 traz destaque a fala do então governador do Rio, a época da inauguração da primeira UPP que teria afirmado o fim do tráfico no morro Santa Marta com a pacificação. Naddeo (2016) destaca que com o passar dos anos o tráfico encontrou outros meios para continuar seu comando.

Castro (2015) aponta que a lógica da pacificação enquanto política de segurança contribuiu para suprimir o discurso corrente das instituições de segurança sobre a guerra ao tráfico. O autor destaca que após o surgimento das primeiras UPPs há uma mudança no 9 http://extra.globo.com/casos-de-policia/aurilio-nascimento/upp-a-solucao-386934.html 10 http://www.upprj.com/index.php/midia 11 http://rioonwatch.org.br/?p=13373 12 http://m.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/01/1725285-upp-modelo-em-morro-do-rio-trouxe-paz-mas-trafico- se-mantem.shtml

discurso midiático, contudo entende que continua a lidar com a problemática da segurança pública de modo superficial. Critica que não há nenhum tipo de contraponto que leve em conta as regiões pacificadas, localizadas em áreas de interesse econômico, próximos aos lugares importantes para a realização dos eventos Copa do Mundo e Olimpíadas. Castro compartilha sua hipótese sobre os motivos de tais posicionamentos:

[...] é que os meios de comunicação hegemônicos, enquanto intelectuais orgânicos das classes mais abastadas, justificam formas específicas de gestão estatal dos territórios populares do Rio de Janeiro e representam a favela como um outro, um território e uma forma de vida que não teria lugar no conjunto da cidade. Esse posicionamento naturaliza essa visão de mundo não apenas para os não moradores dos espaços populares, mas também para eles – os próprios moradores – que vivem à margem da cidade enquanto território da violência e de uma sociabilidade avessa às normas e valores hegemônicos (Castro, 2015, p. 204).

O estudo realizado por Castro (2015), no qual analisou editoriais, sobretudo do jornal O Globo, aponta que as manchetes e matérias publicadas após um ano da instalação da primeira UPP no morro Santa Marta avaliavam positivamente o projeto de pacificação, reconheciam e exaltavam a iniciativa governamental nos territórios de favelas.

O autor também destaca pesquisa divulgada pelo O Globo em fevereiro de 2009, na qual os dados relativos à aprovação dos moradores à UPP são altos, cerca de 93%. Enumera uma série de outras manchetes elogiosas ao projeto. Demarca que a difusão da ideia de pacificação pelo Estado e pelas mídias ―é uma forma de vincular a sensação de que todos os

cidadãos têm direito à cidadania‖ (Castro, 2015).

Após 8 anos do projeto de pacificação, muitas coisas mudaram. Atualmente, acompanhamos uma modificação no discurso midiático sobre as UPPs. Notícias recentes apontam o desgaste do processo de pacificação, alguns apontam para a falência das UPPs. A repercussão do caso Amarildo e uma série de outros problemas envolvendo as unidades de polícia pacificadora contribuíram para essa transformação.

Publicação da revista Forum13, em artigo de fevereiro de 2014, elenca cinco motivos que levaram à falência da UPP. Elencam que a atuação da polícia de proximidade, com uma relação mais próxima à comunidade não foram alcançados plenamente. Posturas habituais como invasão de casas, abuso de poder continuaram a se perpetuar. Outra dificuldade seria a expansão do projeto a todas as favelas. Demarca que a escolha das regiões pacificadas

13

http://www.revistaforum.com.br/2014/02/12/upp-os-cinco-motivos-que-levaram-a-falencia-o-maior-projeto- do-governo-cabral/

orientadas por conta dos megaeventos, vinculada a interesses políticos e econômicos e não voltadas ao bem estar da população. O braço social, que daria conta das problemáticas sociais nos locais pacificados, a UPP social, não se consolidou. E por último apontam a insuficiência do projeto sobre as regiões dominadas por milícias, atualmente somente uma localidade foi pacificada.

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