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Considerações sobre segurança pública

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5. Apresentação dos Resultados

5.3. Apresentação dos dados e análises da escala Likert

5.3.3. UPP na mídia

5.3.3.1. Considerações sobre segurança pública

De acordo com os dados de nossa pesquisa os moradores da Cidade de Deus parecem estabelecer diferenciação entre segurança pública e o papel da polícia, assim como reconhecem que a atuação policial na favela difere das intervenções em outras localidades. Acreditamos que tais considerações devam-se não só a experiência individual desses sujeitos, mas também a uma resistência à assimilação de um discurso midiático pouco crítico, e muitas vezes parcial no que tange à segurança pública, sobretudo no contexto do Rio de Janeiro.

Cerca de 20% dos sujeitos concordaram que “Segurança Pública e polícia significam a mesma coisa” – apenas 3,8% deles concordaram fortemente com a afirmação. Outra parcela correspondente a 22,9% assinalou não ter opinião, enquanto 37,1% de moradores discordaram da proposição e 16,2% discordaram fortemente.

Ballesteros (2014) sinaliza que, no Brasil, nos últimos anos, o debate em torno do tema segurança foi ampliado, bem como, surgiram propostas, porém, a autora entende que ainda necessitamos avaliar se as proposições se sedimentam como políticas públicas de segurança mais concretas. A autora também acredita que nossa organização social caminha no sentido da fragmentação, bem como, as instituições que compõe o sistema de segurança padecem da descrença em suas ações, ela salienta que isso se traduz em consequências para as políticas de segurança pública.

Outro dado levantado em nosso estudo foi que 30,1% dos moradores da Cidade de Deus concordaram que “a atuação policial na favela é diferente da ação em outras localidades” – já 35,9% concordaram fortemente com isso. Enquanto 18,4% assinalaram não ter opinião. Tivemos a mesma proporção de 7,8% da amostra que discordaram da afirmativa e que discordaram fortemente da mesma.

Pacheco de Oliveira (2014) chama atenção para uma representação negativada e preconceituosa das favelas gerada pela mídia. Noticiadas como locais de ameaça, violência, sem espaço para reconhecer potencialidades, atravessado pelo que o autor chamou de um ―amedrontado racismo‖.

Musumeci et al. (2013) dão relevo há dois modos distintos de intervenção policial nas favelas cariocas. A instalação das UPPs nas áreas de alto interesse econômico, marcando a inauguração de um paradigma novo de atuação policial em regiões populares. Coexistindo

com a sustentação do antigo paradigma de repressão e eventuais incursões, marcadas pela violência de como estas são executadas nas localidades sem a UPP, indicando certa seletividade do programa de pacificação.

Pacheco de Oliveira (2014) também salienta que as favelas ganham destaque midiático ao passo que as situações de violência que afetam tais territórios são lidas como ameaças aos grandes eventos, aos interesses de grupos empresariais e a movimentação pelos espaços urbanos. Como forma de resolução, o Estado lança mão de ações que agenciam um progressivo extermínio de pessoas consideradas ameaçadoras, principalmente se estas são oriundas de grupos minoritários e de classe social desfavorecida.

Vale ressaltar que 24% dos sujeitos concordaram com a afirmação “acredito que deveria ser implantada UPP em localidades com a presença da milícia” – enquanto 26% concordaram fortemente com a afirmação. Tivemos um percentual de 21,2% que assinalaram sem opinião, enquanto que 12,5% discordaram da proposição e 16,3% discordaram fortemente. De acordo com informações da SESEG apenas uma localidade dominada por milícia no Rio de Janeiro foi pacificada.

Outro dado interessante de nossa pesquisa aponta que somente 9,9% dos moradores concordaram que “a UPP é um modelo adequado de política pública de segurança” – e apenas 3% assinalaram concordar fortemente com a proposição. Ao passo que 17,8% deles demarcou não ter opinião, 47,5% discordaram e 21,8% discordaram fortemente da afirmação. Tais informações parecem nos apontar para uma avaliação negativa do projeto UPP, apesar de 7 anos de convivência com a estratégia de segurança, os moradores não respondem positivamente a proposta.

Rodrigues (2014) afirma que há avanços a partir da adoção da UPP como política de segurança, contudo também demarca que há algumas fragilidades. Destaca a ausência de clareza acerca do programa de pacificação, com definição de seus objetivos, conceitos e estratégias. Além de carecer de aparato tecnológico adequado ao monitoramento e avaliação da estratégia. Pontua que as informações em geral são provenientes dos órgãos oficiais, que por vezes são carregadas de imprecisão, um conjunto limitado de normas reguladoras (decretos) e estudos acadêmicos sobre a temática.

Diversos autores indicam que reiterados problemas nas regiões com UPP apontam para dificuldade de conjugar a proposta com a prática diária no território. Há denúncias de abuso de poder, uso arbitrário da força, distanciamento das lideranças locais (Bengochea et al., 2004; Sapori, 2011; Fleury, 2012; Oliveira & Abramovay, 2012; Musumeci et al., 2013; Rodrigues 2014).

Dados de nossa pesquisa apontam que 17,6% dos moradores concordaram que “a implantação de UPPs foi positiva para a cidade do Rio de Janeiro” – apenas 13,7% concordam fortemente com isso. Tivemos 24,5% dos sujeitos que assinalaram sem opinião nesse item, enquanto 23,5% discordaram e 20,6% discordaram fortemente.

Rodrigues (2014) sinaliza que há um discurso que busca dimensionar as prováveis transformações no cenário da segurança pública no Estado por meio da difusão de informações realizados pelos diferentes órgãos do Governo, sobretudo através da divulgação dos decretos normatizadores e através do trabalho da mídia na divulgação de informações referentes à pacificação. Tem sido apontada uma sensível mudança na atuação policial comparada ao histórico de conflitos com o tráfico, sendo substituído por uma política de caráter preventivo, no estabelecimento do diálogo com as organizações comunitárias e no fortalecimento/construção de uma relação de confiança mútua para o estabelecimento da paz nas localidades.

Ballesteros (2014) demarca que diferentes questões contribuem para ampliar os entraves no campo da segurança pública, mas, sobretudo, os lobbies corporativistas e lideranças locais, que influenciam as negociações político-partidárias e os arranjos federativos na área da segurança. A autora compreende que isso representa obstrução para a segurança caminhar no sentido da democratização.

Sapori (2011) enfatiza que as UPPs não podem ser encaradas como único recurso para dar conta das questões de violência urbana, bem como não deveria sofrer desqualificação pelos ocasionais equívocos que comete em certas conjunturas. O autor admite que enquanto política pública esta implica em imperfeições. Aponta que as ações do poder público na realidade social muitas vezes são marcadas por uma diferença entre o que é planejado e o que é passível de ser executado, e as ocorrências não pensadas previamente. O autor acredita que tais pontos precisam ser encarados como possibilidade para revisões e adaptações indispensáveis a proposta, mesmo durante sua execução. Para tal, faz-se necessário uma gestão adequada, subsidiada por ferramentas gerenciais de monitoramento e avaliação, para contribuir para o aprimoramento da UPP.

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