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O desafio de estabelecer uma agenda para a segurança pública

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2. Segurança Pública e Favela

2.1. Panorama sobre segurança pública

2.1.5 O desafio de estabelecer uma agenda para a segurança pública

Soares (2007) buscou pontuar algumas tentativas de formulação de políticas na área de segurança a nível nacional, delineando os atravessamentos políticos em torno das diferentes empreitadas. O autor pontua que a dificuldade em avaliar as políticas públicas na área de segurança e a atuação policial não diz respeito somente à realidade brasileira, mas, é algo que ocorre igualmente em outros países.

Para clarificar seu posicionamento, ele explica que é possível adotar determinada política, considerada razoável para contornar determinado problema, e ainda assim, os indicadores podem sinalizar um aumento significativo destes mesmos problemas. Enquanto a adoção de outra estratégia, encarada como não muito adequada, pode gerar resultados positivos. O autor esclarece que por traz dessa problemática coexistem inúmeros fatores que podem concorrer para seu acontecimento, contudo não os discutiremos, pois acreditamos que entrar nessa discussão nos desviaria do foco principal do capítulo.

Soares (2007) indica que entre os anos de 2000 e 2007, durante o governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) foi iniciado um plano nacional de segurança pública. De acordo com ele, a execução do plano foi precipitada devido ao episódio que ficou conhecido como ―o

ônibus 1744‖, ocorrido no Rio de Janeiro, o qual foi veiculado pela mídia nacional em tempo real. Resultou numa definição da agenda nacional para a segurança pública que o autor denominou como uma ―listagem assistemática de intenções heterogêneas‖ (Soares, 2007, p.83), pois fornecia diretrizes importantes, mas não estabelecia parâmetros adequados para sua execução:

Faltava àquele documento a vertebração de uma política, o que exigiria a identificação de prioridades, uma escala de relevâncias, a identificação de um conjunto de pontos nevrálgicos condicionantes dos processos mais significativos, de tal maneira que mudanças incrementais e articuladas ou simultâneas e abruptas pudessem alterar os aspectos-chave, promovendo condições adequadas às transformações estratégicas, orientadas para metas claramente descritas. [...] O documento apresentado à nação como um plano não atendia aos requisitos mínimos que o tornassem digno daquela designação (Soares, 2007, p.83).

Contudo, o autor supracitado reconhece que mesmo com limitações o plano trazia algumas formulações interessantes como a ideia de prevenção da violência, a partir da qual resultou o Plano de Integração e Acompanhamento dos Programas Sociais de Prevenção da Violência (Piaps). O Piaps tinha como premissa o fortalecimento de projetos sociais a nível federal, estadual ou municipal, cujas temáticas incidissem sobre a violência. Embora a ideia representasse uma boa perspectiva os obstáculos eram inúmeros para sua real efetivação devido a dificuldade de estabelecer uma política intersetorial no Brasil.

Soares (2007) informa ainda que no governo FHC foi criado o Fundo Nacional de Segurança Pública, cujo objetivo seria fomentar políticas públicas no âmbito da segurança adequada a realidade nacional. O fundo acabou não atingindo seu objetivo e serviu para atender necessidades pontuais como compra de viaturas e armas, não representando de fato nenhum tipo de modificação na estrutura das políticas no setor. O autor admite que, embora tenha havido dificuldades para o Governo, este conseguiu atribuir a segurança a devida importância, contudo a inovação das questões não significou a criação das condições necessárias para sua execução:

[...] conferiu à questão da segurança um status político superior, reconhecendo sua importância, a gravidade da situação e a necessidade de que o governo federal assuma responsabilidades nessa matéria; e firmou compromisso político com a agenda dos direitos humanos, mais especificamente, na área da Segurança Pública, com uma pauta virtuosa (prevenção; integração intersetorial e intergovernamental; valorização da experiência local; qualificação policial; estímulo ao policiamento

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De acordo com o site de notícias Folha Online em julho de 2000, na Zona Sul do Rio de Janeiro, ocorreu o sequestro de um ônibus da linha 174, no qual cerca de dez pessoas foram feitas reféns. Após um longo período de negociações, um policial disparou contra o sequestrador, contudo, o disparo resultou no ferimento da refém, que também levou tiros do sequestrador e morreu a caminho do hospital. Além disso, após as investigações concluíram que o sequestrador foi morto por asfixia dentro do carro da polícia militar.

comunitário; apoio ao programa de proteção às testemunhas e à criação de ouvidorias) (Soares, 2007, p.85).

Soares (2007) enfatiza ainda que decisões importantes na área de segurança pública já haviam sido tomadas antes do primeiro governo FHC, como a criação da secretaria nacional de Direitos Humanos e a formulação do primeiro plano nacional de Direitos Humanos.

Soares (2007) em acordo com outros autores (Paschoal, 2002; Freire, 2009; Oliveira & Abramovay, 2012; Godinho, 2013) reforça a precariedade das políticas de segurança pública brasileira, avaliando-as como dispersas e pouco eficientes para lidar com a problemática da violência e avanço da criminalidade. Reconhece que a falta de uma política nacional sistêmica, com objetivos claros e bem sistematizados concorre para ações pulverizadas pelos diferentes entes federativos (União, Estados e Municípios), que acabam em intervenções pouco eficazes ou resolutivas, e salienta que na primeira gestão do governo Lula foi elaborado um Plano Nacional de Segurança Pública tendo contribuído para sua construção diferentes atores sociais.

Soares (2007) destaca que foi um plano audacioso que conseguiu a adesão dos diferentes governadores. As propostas do plano foram construídas a partir de uma visão sistêmica que favorecia lidar com diferentes questões no campo da segurança pública, tendo como foco a reforma estrutural das polícias, do sistema penitenciário e o desenvolvimento de políticas preventivas e intersetoriais. Contudo, o presidente acabou optando por não executá- lo integralmente devido aos riscos políticos que tal ação envolveria.

No ano de 2007, no segundo mandato de governo Lula, foi lançado na esfera federal o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci).

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