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3.5 O caso do Bruxo do Guaragi

3.5.2 A valoração da morte no Diário dos Campos

A cobertura do Diário dos Campos sobre a sequência de mortes registradas no Guaragi, distrito de Ponta Grossa, começa já no dia seguinte à localização do primeiro corpo. No início da cobertura, o jornal formata o acontecimento morte com alto valor noticioso e dedica uma manchete com foto no dia 9 de outubro de 1999. A edição do DC apresenta como manchete: “Criança é achada morta no Roxo Roiz”. No subtítulo o jornal informa: “Corpo do garoto estava enterrado ao lado de uma galinha preta, em um matagal, às margens da linha férrea”.

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Na primeira informação publicada sobre o caso, o Diário dos Campos apresenta elementos que marcariam a tônica do noticiário sobre a série de assassinatos. Com a manchete ocupando parte considerável da primeira dobra do jornal, o DC usa a localização de Roxo Roiz, região do Guaragi, na construção textual. A notícia ressalta que uma criança morta foi encontrada já em uma cova ao lado de uma galinha preta e em um matagal – nesse caso, a construção de sentido é clara, ressaltando o caráter ‘duvidoso’ da morte e do ambiente em que o corpo foi localizado.

Imagem 15 – Capa do Diário dos Campos do dia 9 de outubro de 1999

Fonte: Arquivo pessoal

A notícia publicada na capa do DC ressalta que o corpo do garoto foi encontrado quando um casal de irmãos procurava os pais, também desaparecidos – nesse caso, os jovens buscavam pelo casal que também seria encontrado morto. A seleção do acontecimento morte recorre ao drama e a quesitos que remetem a aspectos misteriosos para apresentar o fato como notícia e a foto que acompanha a manchete ajuda a compor a narrativa linguística e imagética (SILVA e VOGEL, 2012) sobre o acontecimento morte – a imagem mostra um bombeiro usando máscara e cilindro de oxigênio durante o resgate.

Essa é a única notícia da editoria de Polícia na capa da edição do Diário dos

Campos. Na página interna a informação tem espaço de destaque na página e recebe como

título “Encontro de cadáver gera suspeitas”. A informação tem como valor-notícia o suspense e o drama e apresenta a possível identificação da vítima: Daniel Rodrigues Vaz. O ‘olho’

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publicado ao lado da notícia informa: “Ao lado do corpo foi encontrada galinha preta morta” [sic].

Com enfoque em aspectos como a galinha preta morta ao lado do corpo, o matagal em que o cadáver foi encontrado e outras questões que geram suspense em torno do caso, o

DC inicia a cobertura tendo como alvo o caráter único do acontecimento: o corpo de uma

criança foi encontrado em uma cova rasa. Elementos como a galinha e as descrições do local do crime compõe o contexto de dúvida e tensão em que a notícia é exposta e, inclusive, ganham mais destaque do que a própria morte.

A primeira notícia publicada pelo jornal também expõe a identidade de Valdemar Santos como suspeito do crime – a identificação correta de Osmir, conhecido posteriormente como “bruxo”, só seria divulgada pelas autoridades no momento da prisão. A notícia informa também que Valdemar (nome real Osmir) havia sido ouvido pelas autoridades durante as investigações do sumiço do casal, iniciadas no mês anterior. A reportagem informa:

A filha Lisiane aposta no envolvimento de Santos [Osmir, o “bruxo] no desaparecimento [do casal de agricultores] e na morte da criança encontrada, apoiada principalmente no fato dos móveis terem sido encontrados na residência de Santos. “As informações dele sempre foram desencontradas”, relata Lisiane. (DA SILVA, Maria Gizele. Encontro de cadáver gera suspeitas. Diário dos Campos, Ponta Grossa, 9 de outubro de 1999, p. 10a)

A cobertura do caso continua no dia seguinte com uma nova manchete, desta vez sem foto. No dia 10 de outubro, edição dominical, o Diário dos Campos publica: “Novas mortes reforçam tese de ritual”. No subtítulo da manchete o DC informa: “Outros dois corpos foram encontrados a poucos metros de onde foi achado o cadáver de uma criança na sexta- feira”.

A manchete divide a primeira dobra da capa com uma foto-legenda sobre a movimentação comercial durante o dia das crianças. No texto, o jornal informa sobre a expectativa de vendas nas lojas e contribui para enquadrar o acontecimento morte registrado no Guaragi. Por mais impactante e chocante que as mortes em “possíveis rituais” sejam, o DC segue fornecendo informações sobre outros acontecimentos que compõe a lógica de fatos diários da vida cotidiana.

Com a ritualização do acontecimento morte em andamento no discurso noticioso, o

Diário dos Campos aposta no caráter numérico das mortes (“outros dois corpos”) para afirmar

que o caso é fruto de um ritual – por mais inexplicáveis que as mortes sejam até o momento, o jornal apresenta a hipótese da prática de um ritual satânico para reforçar o caráter dramático e

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até mesmo sobrenatural dos óbitos. Osmir já é classificado como o principal suspeito do crime e é dado como foragido.

Até esse momento da cobertura também nota-se nas páginas do Diário dos Campos o que Pierre Nora (1979) chama de “sede dos mídias por acontecimentos”. Mesmo que a sequência de acontecimentos morte tivesse motivação desconhecida, o discurso noticioso proposto pelo DC apresenta hipóteses sobre o fato com o intuito de criar sentido definitivo no que Elton Antunes (2007) chama de apologia ao instante e ao imediatismo.

O texto que acompanha a manchete da edição de 10 de outubro de 1999 informa sobre a localização dos corpos do casal Claudio e Erotildes Kovalkevski, desaparecidos desde 11 de setembro daquele ano. A chamada ressalta ainda que os cadáveres foram encontrados pelos filhos do casal em uma cova nas proximidades da residência que os agricultores moravam. O DC informa ainda que a polícia encontrou junto com pertences de Osmir copos com sangue e “indícios de rituais satânicos”.

Mesmo sem especificar o que seriam os “indícios” de um ritual de satanismo, o

Diário dos Campos aposta no caráter sobrenatural do acontecimento morte para dedicar alto

valor noticioso ao fato – essa é a única notícia a ser suítada em duas manchetes seguidas no jornal durante o período analisado. Na página de Polícia, a informação sobre a localização dos corpos é o ‘abre’ da editoria.

Com o título “Família encontra corpos no Guaragi”, o DC menciona, pela primeira vez com destaque, a localização geográfica do acontecimento. A linha de apoio informa: “Corpos dos pais desaparecidos foram encontrados próximos à casa do principal suspeito” – a casa de Osmir, nesse caso, é uma estação ferroviária abandonada. A reportagem é ilustrada por duas imagens: a primeira, vertical, mostra bombeiros desenterrando os corpos de uma cova com a casa dos agricultores ao fundo e a segunda imagem, uma foto horizontal, exibe um copo supostamente cheio de sangue. A segunda foto tem como legenda: “[Osmir] Santos armazenava sangue em oferenda a supostos rituais”.

Mesmo sem que as autoridades encontrassem Osmir, o “bruxo”, a cobertura do

Diário dos Campos apresentava a série de acontecimentos morte como fruto de um ritual

satânico e o suspeito como responsável pela prática. Enquanto na capa do DC enfoca o acontecimento, a partir da possibilidade de um ritual macabro, na reportagem que abre a página interna, o acontecimento é destacado pelo fato de os filhos terem localizado os corpos dos pais – o paradoxo e o drama envolto no acontecimento morte ficam evidentes (ANTUNES, 2012).

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Na mesma página em que o Diário dos Campos publica a reportagem sobre as mortes no Guaragi, o jornal também exibe uma notícia secundária sobre o acontecimento morte. Com o título de “Cai índice de violência em setembro”, a informação é ilustrada por um infográfico que mostra as estatísticas de ocorrências atendidas pelo Batalhão da Polícia Militar – a informação parece um contrassenso no contexto de medo, pavor e satanismo exposto pelo discurso noticioso do DC ao noticiar as mortes no Guaragi na mesma edição.

Imagem 16 – Página da editoria de Polícia do DC do dia 10 de outubro de 1999

Fonte: Do autor

A cobertura do caso continua na edição de terça e quarta-feira (12 e 13 de outubro) – o Diário dos Campos, assim como os outros jornais, circulavam em uma edição para os dois dias da semana diante do feriado. A morte segue tendo alto valor noticioso na cobertura apresentada pelo jornal com a manchete: “Mortalidade infantil assusta na região”. A notícia diz respeito aos índices de mortalidade de Irati, cidade vizinha de Ponta Grossa.

Também na edição de 12 e 13 de outubro, o Diário dos Campos dá continuidade a cobertura sobre o caso em análise. Com uma chamada sem foto na capa, o DC publica: “PM descobre quarto cadáver em Roxo Roiz”. No texto que acompanha a chamada, o jornal informa:

Mais uma pessoa foi encontrada morta na manhã de domingo na região do Guaragi. Ao lado do corpo de Júnior Aparecido de Souza, 16 anos, estava um bilhete endereçado ao delegado Noel Muchinski Mota. O assassino informava que havia feito “Justiça com as próprias mãos”. Júnior era primo de Valdemar dos Santos, principal suspeito da morte de uma criança e de um casal na localidade de Roxo

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Roiz. Esse é o quarto cadáver encontrado na região em três dias. (PM descobre quarto cadáver no Roxo Roiz. Diário dos Campos, Ponta Grossa, 12 e 13 de outubro de 1999, p. 1)

Na chamada de capa do DC o caso ganha mais um elemento dramático: ao lado de um novo cadáver, a polícia encontra um bilhete endereçado ao delegado responsável pelas investigações. No discurso apresentado na capa, o jornal também ressalta que com a localização do corpo do adolescente de 16 anos de idade já eram, ao todo, quatro cadáveres encontrados na região em apenas três dias – nesse caso a morte “nova”, aparece “de novo” no que Tavares (2012) chama de ritualização da morte violenta nas páginas dos jornais.

Na editoria Policial a notícia sobre a série de mortes no Guaragi é a principal informação da página. Com o título “Mais uma morte levanta suspeitas”, o Diário dos

Campos ressalta a preocupação causada pela continuidade de mortes (“Mais uma morte”) em

uma região interiorana da cidade. No subtítulo o jornal informa: “Quarto corpo foi encontrado na manhã de domingo e sugeria ser o do autor do crime” [sic].

No subtítulo, o DC menciona o bilhete deixado ao lado do corpo e informa, de maneira subentendida, que o conteúdo do bilhete deixaria a entender que o adolescente morto seria o responsável pelos outros três assassinatos. A reportagem é ilustrada por duas imagens: a primeira mostra o cadáver, já coberto, em meio a uma plantação de eucalipto, local em que o corpo foi localizado, e a segunda foto traz o detalhe das penas de galinhas que comprovariam a prática de rituais satânicos.

A reportagem do Diário dos Campos tem como enfoque a busca das autoridades por Valdemar dos Santos (Osmir, o “bruxo”). A localização do quarto corpo é apenas o gancho para que o jornal relate a busca pelo suspeito, informando ainda que as autoridades teriam certeza de que Valdemar era responsável pela série de assassinatos e o bilhete encontrado ao lado da quarta vítima, nesse sentido, seria uma tentativa de despistar os investigadores.

Em uma matéria secundária, publicada ao lado direito da reportagem principal, o DC informa: “‘Pode ser um psicopata’, diz advogado criminalista”. A notícia tem como único entrevistado o advogado Edson Stadler, “pesquisador do satanismo há quase um ano”. Stadler afirma que a principal possibilidade era que Valdemar fosse um psicopata e apresenta explicações técnicas sobre a prática do satanismo.

O texto publicado pelo DC ressalta que o advogado trabalhou em um caso semelhante em Guaratuba, litoral do Paraná, reforçando o caráter de especialista de Edson para apresentar considerações sobre os assassinatos no Guaragi. No final da notícia, o Diário

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dos Campos informa: “O advogado teme pela segurança do município. ‘A situação é de risco’, resume”.

Mais uma vez a necessidade dos mídias, nesse caso do Diário dos Campos, por acontecimentos para serem discutidos e contextualizados no discurso noticioso fica evidente (NORA, 1979). O próprio Pierre Nora (1979) lembra que o ideário popular, via cobertura noticiosa, reproduziu nos fatos cotidianos que impulsionam a cobertura noticiosa o melodrama, o medo e o mistério que juntos compõe as características próprias do que o autor considera como acontecimento moderno.

Mesmo que na capa o acontecimento tenha perdido espaço, deixando de ser manchete da edição, o caso segue tendo alto valor-noticioso para o DC. Nesse caso, o acontecimento morte é tematizado por aquilo que foge à naturalidade do mundo (TAVARES, 2012) e que oscila entre o previsível e o imprevisível. A série de mortes no Guaragi passa ser enquadrada pelo jornal como um fato chocante que mobiliza explicações fora do campo racional, evidenciando a ritualização das mortes no discurso jornalístico mas também dando pistas de uma abordagem que valoriza os aspectos psicológicos do fato em questão.

Paulo Bernardo Vaz (2012) lembra que a morte é o único acontecimento de que podemos ter conhecimento apenas diante da experiência do outro. O autor defende que a cobertura jornalística, como nesse caso o noticiário do DC, oferece aspectos que fazem com que o leitor identifique na morte violenta um acontecimento que o assusta em sua vida ordinária em um retrato de mundo que fala da morte violenta com grande frequência.

No quarto dia de cobertura do Diário dos Campos, o acontecimento morte perde valor noticioso e dessa vez aparece na capa apenas em uma chamada título, no quadrante inferior esquerdo. Com o título “‘Bruxo’ pode estar na região”, o DC dá continuidade ao noticiário sobre o caso na edição de 14 de outubro de 1999 e adota, pela primeira vez, o codinome bruxo ao se referir sobre as mortes no Guaragi – o uso da expressão “bruxo” deixa claro o tom sobrenatural adotado pelo DC na cobertura.

Na página interna a notícia sobre o caso é a principal informação da editoria e a reportagem recebe como título “Foragido pode estar em subestação”. A notícia é ilustrada por uma imagem do delegado responsável pelas investigações falando ao celular e, na linha-fina, o DC informa: “Policiais rastreiam linha-férrea em direção a Teixeira Soares em busca de ‘Bruxo de Guaragi’”[sic].

Sem nenhum ‘novo’ acontecimento morte para impulsionar a cobertura, a reportagem do Diário dos Campos tem como foco a busca empreendida por policiais a partir de informações anônimas de que o suspeito continuaria na região. A localização de Santos (o

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primeiro nome do “bruxo” não é citado na notícia) é tida como fundamental para solução da série de assassinatos.

O jornal apresenta informações sobre o passado do suspeito, numa inversão do conceito de Antunes (2012) de atributos do morto – nesse caso não são os atributos do morto que fazem do acontecimento notícia, mas sim os atributos e características do suspeito pelas mortes reforçam o valor noticioso do acontecimento. O discurso do DC expõe passagens do passado de Osmir como possíveis explicações para o ocorrido no Guaragi – tal estratégia iria se intensificar nos dias seguintes.

A reportagem publicada no dia 14 de outubro de 1999 informa que o “bruxo” era um andarilho que tinha como origem a cidade de Aquidauana, em Mato Grosso do Sul. Logo abaixo da notícia principal o DC publica uma informação secundária com o título: “Andarilhos praticam furtos na região”. A informação tem como fontes moradores do Guaragi que relatam crimes constantemente praticados por andarilhos e é ilustrada pelo retrato de um dos agricultores – o entrevistado afirma estranheza com os assassinatos em um local tido como “tranquilo”.

A ligação semântica entre as notícias é clara: após entrevistar moradores da região em que os assassinatos foram registrados e apresentar informações sobre o passado do “bruxo”, o DC dá voz a agricultores que também reclamam de uma série de furtos e outros delitos. A legenda da imagem que ilustra a notícia deixa clara à ligação contextual: “Morador teme pela segurança na localidade após série de mortes”.

Além de ser explicada por aspectos que fogem da ordem ordinária e racional, a série de mortes no Guaragi passa a também dialogar com problemas da vida cotidiana. O noticiário começa a exibir o que Silva e Vogel (2012) chamam de “ligações com a realidade ordinária” e, para além de ser explicada pelo que foge da lógica racional, a série de mortes é contextualizada a partir das problemáticas mais próximas.

O noticiário sobre o caso do “Bruxo” do Guaragi segue na edição de 15 de outubro de 1999. Em uma chamada com foto que ocupa parte considerável do quadrante superior da primeira página, o Diário dos Campos informa: “Bruxo” admite 10 homicídios. A notícia relata a prisão de Osmir (identificado corretamente pela primeira vez) e exibe o suspeito acompanhado de dois policiais.

O texto que acompanha a chamada na capa do Diário dos Campos afirma que ao ser preso, Osmir confessou outros cinco assassinatos cometidos em São Paulo. A chamada também relata a localização de mais um corpo no Guaragi. O DC ainda informa que “apesar das evidências”, Osmir negava o envolvimento com rituais satânicos, aspectos amplamente

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utilizados pelo jornal até aquele momento da cobertura – o “bruxo” foi “capturado” ao lado de uma jovem de 17 anos, grávida, que seria sua “companheira” e de outro primo, esse com 15 anos.

Imagem 17 – Chamada de capa do Diário dos Campos no dia 15 de outubro de 1999

Imagem: Do autor

Na página interna o foco da reportagem também é a confissão de Osmir e a notícia tem como título: “Andarilho confessa 10 homicídios”. A informação é ilustrada por uma imagem de Osmir e ao fundo aparecem os emblemas da Polícia Civil. A linha-fina que acompanha a reportagem informa: “Ex-interno da Febem matou casal no Roxo Roiz para vingar dívida e diz que vai pagar por crimes”.

O discurso noticioso deixa clara a construção textual em torno do suspeito. Ao contrário de outros casos em que são os atributos do morto (ANTUNES, 2012) que agem como valor noticioso para fazer do acontecimento morte uma notícia, nesse caso são os atributos do acusado que fazem do fato parte do noticiário, inclusive, com destaque no retrato de mundo apresentado pelo Diário dos Campos – ao citar que Osmir é ex-detento da Febem (Fundação para o Bem Estar do Menor) em São Paulo, o jornal sugere a relação entre o passado do “bruxo” e os crimes que teriam sido cometidos por ele.

A notícia tem como enfoque os atributos da vida pregressa de Osmir – o texto parece explicar a série de assassinatos tendo como base o passado do suspeito. A inversão do conceito de Antunes (2012) exibe uma tentativa de explicar, através da trajetória de vida do “bruxo”, a série de acontecimentos – o passado é exposto como elemento explicativo após o próprio Osmir negar a prática de satanismo.

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A reportagem publicada pelo DC no dia 15 de outubro ressalta aspectos banais e macabros do acontecimento morte – as informações teriam sido obtidas em uma entrevista coletiva concedida pelo próprio Osmir. O ‘olho’ da notícia expõe uma fala do “bruxo”: “Se eu sentisse prazer em matar eu cobraria por isso”. A declaração de Osmir teria sido dada quando os jornalistas questionaram o suspeito sobre a motivação dos crimes.

Em um box da reportagem, publicado do lado direito da página, o DC reforça a utilização de aspectos do passado de Osmir como explicativos da série de mortes. O ‘box’ tem como título “Trajetória do criminoso é averiguada” e apresenta como gancho a localização da quinta vítima, identificada como Paulo Merehet, garoto também ex-interno de um orfanato na região.

O ‘box’ também traz declarações de Osmir sobre os crimes que ele teria realizado em Sorocaba e ressalta as explicações apresentadas pelo suspeito. Além disso, o texto relata o “bruxo” como figura central da cobertura ao apresentar opiniões do suspeito sobre assuntos diversos, entre eles a “existência de Deus e do diabo”, a “condição política do Brasil” e a “fé no futuro”.

A cobertura passa a exibir Osmir como um personagem central do acontecimento. Primeiro contextualizado pelo caráter sobrenatural que cercavam os óbitos, depois apresentado diante de explicações baseadas no passado do “bruxo”, o acontecimento morte começa a apresentar o próprio personagem como aspecto central. Esse processo é considerado por Alsina (2009) uma das possibilidades diante da construção cultural do acontecimento na