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A visão baseada em recursos da estratégia

2.1 Vantagem competitiva e a visão baseada em recursos da estratégia

2.1.2 A visão baseada em recursos da estratégia

Embora a visão baseada em recursos da estratégia seja um desenvolvimento relativamente recente, concentrado nos últimos 15 ou 20 anos, e tenha se tornado a abordagem dominante em gestão estratégica contemporânea (FOSS, 2002), suas origens primárias podem ser encontradas em abordagens muito mais antigas e clássicas tanto em sociologia como em economia. É a abordagem da visão baseada em recursos da estratégia que deu um formalismo maior ao conceito de vantagem competitiva.

Barney e Arikan (2001) identificaram pelo menos quatro origens teóricas que podem ser consideradas como precursoras da visão baseada em recursos: 1) a abordagem das competências distintivas (SELZNICK, 1957); 2) a abordagem econômica de Ricardo (1817); 3) o trabalho de Penrose (1959) sobre o crescimento da firma; e 4) o questionamento das iniciativas antitruste na economia americana.

O conceito de competência distintiva e sua relação com a estratégia da firma apareceram nos primeiros livros de estratégia como Learned et al. (1969) e Ansoff (1965). Hitt e Ireland (1985) deram um desenvolvimento mais moderno ao conceito. A verdadeira origem, contudo, pode ser identificada na obra de Selznick (1957), “Leadership in Administration”. Esse último autor foi um dos primeiros estudiosos a reconhecer que a habilidade gerencial era uma das muitas competências distintivas que uma empresa podia possuir. Com o conceito de líder institucional, Selznick (1957) identificou um papel da liderança que vai muito além da simples capacidade

administrativa e a capacidade de tomar melhores decisões. A liderança institucional cria e define uma razão de ser da organização, um propósito, cria uma visão. Os líderes institucionais também organizam e estruturam uma firma de modo a refletir este propósito e esta visão. A combinação da visão e da estrutura auxilia a definir a competência distintiva da empresa, ou aquelas atividades que ela consegue desempenhar melhor do que a maioria dos concorrentes. Selznick, contudo, não analisou as implicações desta competência distintiva na performance, nem desenvolveu outras formas de diferenciação e fonte de vantagem em desempenho das firmas.

O trabalho de Ricardo (1817) influenciou a economia de forma geral, mas é provavelmente a primeira abordagem que atribui diferenças em desempenho a diferenças nos recursos utilizados pelas firmas. Sua abordagem fixou-se nas conseqüências econômicas dos recursos naturais e suas características de originais, não-aumentáveis e indestrutíveis. As diferenças em fertilidade da terra foram os exemplos mais clássicos. Aqueles que possuíssem terras mais férteis teriam uma renda adicional em relação aos que possuíssem terras menos férteis, justamente devido a esta diferença em produtividade ou custos. Estas são as rendas ricardianas. Para atender a demanda de determinado produto, inicialmente as terras mais férteis seriam usadas, mas devido a sua oferta relativamente rara, se a demanda assim o exigir, outras terras com menor fertilidade passariam a ser utilizadas. O mecanismo de mercado exigiria que a última fração de terra (de menor fertilidade) alocada tivesse um preço igual ao custo marginal ou esta fração de terra não teria motivo para ser alocada para a produção. A este preço, contudo a terra mais fértil teria um lucro maior, devido ao seu custo mais baixo. Este argumento está ilustrado no Gráfico 1, onde a área indicada por uma cor mais escura, no gráfico da firma de baixo custo, corresponde às rendas ricardianas.

Gráfico 1 - Rendas ricardianas decorrentes de um recurso que oferece menor custo Fonte: PETERAF, 1993.

A economia normalmente assume de forma implícita que relativamente poucos fatores de produção têm oferta inelástica. Se o preço for convidativo, maior quantidade do fator será ofertada. A colocação da RBV é que justamente os numerosos recursos usados pelas empresas são inelásticos por natureza e podem ser a origem de rendas. A RBV desenvolve a questão de como estes recursos são gerados ou adquiridos. Dierickx e Cool (1989) apresentaram em um texto clássico um processo de criação destes recursos não comercializáveis que podiam ser concebidos como estoques desenvolvidos, ou perdidos, ao longo do tempo. Barney (1986a) discutiu o custo de aquisição dos recursos e colocou que se o comprador tivesse que pagar o valor pleno do recurso, ele não teria lucro econômico já que desembolsaria todo o valor presente do benefício na aquisição do recurso. O ganho justamente residiria nas imperfeições do mercado de fatores e na incerteza. Estes pontos não foram desenvolvidos na abordagem de Ricardo (1817).

Edith Tilton Penrose é freqüentemente referenciada como uma das originadoras da corrente estratégica atualmente conhecida como RBV, devido a sua obra clássica – “The Theory of the Growth of the Firm” (PENROSE, 1959). Nesta obra, Penrose definiu a firma como um conjunto de recursos sob coordenação administrativa. Estes recursos rendem serviços que são a força motriz da firma e o crescimento é um dos resultados derivados deste processo. A ligação de Penrose (1959) com a visão baseada em recursos é a sua concepção do que consiste a firma e seu modo de operação. Cockburn, Henderson e Stern (2000) usaram o termo “referência canônica” para descrever o impacto de Penrose (1959) na área. Embora Edith Penrose seja considerada pela maioria dos autores de estratégia como uma quase

fundadora da RBV (WERNERFELT, 1984; BARNEY, 1991; CONNER, 1991; GRANT, 1991; MAHONEY; PANDIAN, 1992; PETERAF, 1993; WILLIAMS, 1994) há, contudo, quem discorde. Foss (2002) argumentou fortemente que a influência real de Penrose (1959) na RBV é praticamente inexistente. Penrose preocupava-se com o fenômeno de desequilíbrio e crescimento, ao passo que a RBV, da forma como se desenvolveu até hoje, tenta explicar rendas acima da norma em uma situação de equilíbrio. Para Penrose (1959) a variável dependente mais relevante era o crescimento e não o lucro. Rugman e Verbeke (2002) argumentaram de forma similar, mas reconheceram a contribuição de Penrose (1959) para o conceito de firma e o fato de seu trabalho ter inspirado muitas das questões de pesquisa no campo da visão de recursos da estratégia (KOR; MAHONEY, 2000).

A quarta origem da RBV decorre do estudo na área de regulação antitruste nos Estados Unidos. No início da década de 70 começou um questionamento à abordagem econômica tradicional para este problema (o modelo SCP – Estrutura – Conduta – Performance). Demsetz (1973) publicou um influente artigo argumentando que a estrutura do ramo de negócios não era o único determinante da performance da firma e que o fato de uma firma ter lucros excelentes não podia ser tomado como indicativo de que esta firma estivesse empregando práticas anticompetitivas. Demsetz (1973) antecipou elementos da lógica da RBV e, curiosamente, colocou o crescimento como um resultado paralelo ou alternativo ao desempenho econômico puro:

Superior performance can be attributed to the combination of great uncertainty plus luck or atypical insight by the management of the firm... Even though the profits that arise from a firm’s activities may be eroded by competitive imitation, since information is costly to obtain and techniques are difficult to duplicate, the firm may enjoy growth and a superior rate of return for some time… (DEMSETZ, 1973, p. XX, grifo nosso).

Estas quatro influências comentadas (competências distintivas, rendas ricardianas, Penrose e o questionamento à política antitruste americana), levaram ao desenvolvimento do ramo teórico em estratégia, hoje conhecido como a visão baseada em recursos ou RBV. Durante a década de 80, três artigos praticamente lançaram a idéia da visão baseada em recursos que foi amplamente desenvolvida nos anos que se seguiram. O artigo mais referido como a origem da linha é o de

Wernerfelt (1984). Neste artigo o autor pretendeu oferecer uma visão alternativa com a intenção de complementar a teoria de Porter (1980), que defendia a idéia da definição de uma posição de mercado de um produto de uma firma como centrais para uma estratégia empresarial. Uma firma tem um portfólio de produtos e suas posições de mercado, que reflete um portfólio de recursos que a firma detém. A competição podia ser vista tanto pela análise das posições de mercado como pela análise dos recursos.

Quase simultaneamente ao artigo de Wernerfelt (1984), Rumelt (1984) publicou um trabalho em um livro de textos discutidos em uma conferência de estratégia. Neste artigo, Rumelt (1984) propôs elementos de uma teoria da firma pela perspectiva de estratégia. A firma era novamente vista como um conjunto de recursos. Segundo o autor, a heterogeneidade intra-ramo de negócios era natural.

Firms in the same industry compete with substantially different bundles of resources using disparate approaches. These firms differ because of different histories of strategic choice and performance and because managements appear to seek asymmetric competitive positions. (RUMELT, 1984, p. 132).

Esta heterogeneidade não era um dado exógeno do mundo físico, mas tinha origens endógenas às próprias firmas, tendo como causa fundamental a incerteza presente nas decisões estratégicas. No modelo de competição de Rumelt (1984) a situação de equilíbrio era caracterizada pelo fato de novos entrantes não poderem ter uma expectativa de lucro maior do que o da firma média, dadas às condições de incerteza presentes. Neste ponto de equilíbrio, as firmas participantes teriam desempenhos diferentes e mesmo a firma média teria um lucro econômico positivo. As incertezas ex-ante da utilidade de determinados recursos podiam transformar-se em fontes de rendas permanentes ex-post através dos mecanismos de isolamento que impediam que as firmas se tornassem iguais. Eram as mudanças exógenas como mudanças na tecnologia, nos preços relativos, nas preferências do consumidor, na estrutura legal e institucional, novas descobertas e invenções que criavam oportunidades para determinados recursos tornarem-se mais valiosos e poderem ser a fonte de rendas superiores para as firmas. A atividade empreendedora era a causadora de várias destas mudanças. Os mecanismos de

isolamento tornavam estas rendas mais ou menos sustentáveis. “There cannot be a simple algorithm for creating wealth” (RUMELT, 1984, p. 142).

Um terceiro trabalho que pode ser considerado um dos fundadores da RBV é o de Barney (1986a). Em seu texto Barney (1986a) levou a discussão para o mercado de fatores estratégicos complementando e ampliando os dois outros textos já citados. Um retorno à lógica de Porter (1980) é fundamental para entender a argumentação de Barney (1986a).

O desenvolvimento da escola de posicionamento estratégico liderada por Porter (1980) vinha enfatizando o fato de observar-se uma clara correlação entre mercados imperfeitos de produtos e firmas com rentabilidade superior. A lógica do autor foi então criar ou modificar estas imperfeições nos mercados de produtos para atingir desempenho superior. Esta é a implicação gerencial do trabalho de Porter (1980). Um exemplo seria: se barreiras de entrada criam uma imperfeição de mercado que causa desempenho superior, a firma deveria concentrar-se em criar estas barreiras de entrada.

Barney (1986a) atacou a centralidade desta posição, argumentando que a questão fundamental não é a imperfeição no mercado de produtos, mas sim a imperfeição no mercado de fatores estratégicos. Se, no exemplo acima colocado, o mercado de fatores estratégicos necessário para a criação de barreiras de entrada fosse um mercado perfeito, o custo de criar a barreira seria igual ao valor presente de todas as rendas derivadas dela e, portanto, a firma que tentasse este caminho não teria rentabilidade superior à norma. A questão fundamental não era se a barreira de entrada está correlacionada a rendimentos superiores, mas sim qual seria o custo de criar estas barreiras versus o valor que seria gerado por elas. Em outras palavras, era a imperfeição nos mercados de fatores que contava.

Sendo este o caso, uma firma buscando desempenho superior, deveria olhar para este mercado de fatores prioritariamente. A análise do ramo de negócios tinha pouco a oferecer para este fim. Ela estava disponível a todos. É difícil esperar que esta análise possa criar uma visão do futuro mais precisa para uma firma do que para as demais que a possibilitasse adquirir os recursos necessários a custos menores.

Esperar isto era confiar na existência de “rules for riches”. A análise das habilidades e capacidades internas da firma, contudo, podia evidenciar recursos que a firma já possuía (não precisava adquirir a preço de mercado pagando todo o benefício no custo de aquisição) e podia explorar. Nesta análise, além disso, a firma teria um grau de incerteza menor do que as demais já que estaria analisando sua própria realidade, muitas vezes, apenas imperfeitamente disponível aos demais (BARNEY, 1986a).

Barney (1986a) desenvolveu o argumento demonstrando que as imperfeições no mercado de fatores estratégicos só podiam ter dois tipos de origens. Primeiramente, elas podiam decorrer de diferenças em percepções de expectativa de valor futuro dos recursos (algumas firmas conseguiam ter uma “visão” mais precisa sobre a competição no futuro). Estas firmas não necessitariam pagar o valor total do recurso, pois este não era reconhecido pelo mercado. O segundo tipo, seguindo também um raciocínio já antecipado por Demsetz (1973) podia ser atribuído à sorte. Neste caso as firmas adquiriam os recursos e estes inesperadamente passavam a ter um valor muito maior não previsto por ninguém. Barney (1986a) mostrou que vários outros tipos de imperfeições, aparentemente diferentes, podiam ser reduzidas a estes casos básicos.

Estes três textos (WERNERFELT, 1984; RUMELT, 1984; BARNEY, 1986a) podem ser considerados como o arcabouço conceitual básico da RBV. Todos viam a firma como um conjunto de recursos. Os textos de Rumelt (1984) e Wernerfelt (1984) focaram a heterogeneidade dos recursos como a causa fundamental da heterogeneidade observada na performance. Eles começaram a construção do que se poderia chamar de uma teoria de vantagem competitiva. A dimensão crescimento não estava ausente conceitualmente. Já o texto de Barney (1986a) tratou dos processos de aquisição e desenvolvimento dos recursos, seus custos de aquisição versus os benefícios de desempenho que podem ser obtidos deles. Neste sentido, o texto foi o início da construção de uma teoria de rendas econômicas.

Em 1989, surgiu um outro texto importante (DIERICKX; COOL, 1989) que ampliou a questão da criação e desenvolvimento dos recursos. Este texto foi um desenvolvimento natural do trabalho de Barney (1986a). Um dos primeiros aspectos

desenvolvidos no texto foi que os mercados de fatores estratégicos, mais que imperfeitos são incompletos. Uma grande quantidade de fatores não podia, simplesmente, ser adquirida. Este mercado simplesmente não existia. Muitos dos recursos tinham que ser desenvolvidos internamente. Um exemplo disto era a reputação corporativa: onde seria possível comprá-la? Outros exemplos podiam ser a lealdade ou confiança. Estes fatores simplesmente não eram negociáveis.

Enquanto o trabalho de Barney (1986a) considerava que existia um mercado de fatores, mas imperfeito, Dierickx e Cool (1989) desenvolveram uma estrutura de análise para os fatores que não eram negociáveis, para os quais não existiam mercados, mas estes fatores eram acumuláveis internamente nas empresas. Este tipo de ativos era o resultado da acumulação ao longo de um período de tempo. Os autores usaram a metáfora de uma banheira onde o conteúdo de água era o ativo acumulado resultante dos fluxos de entrada e saída ao longo do tempo. Um exemplo seria o know-how de uma empresa resultante de seus processos de pesquisa e desenvolvimento. O estoque acumulado de know-how que seria o recurso a ser usado poderia ser representado pelo conteúdo de água da banheira. O fluxo de entrada seria o investimento em pesquisa e desenvolvimento a cada ano composto com sua eficiência. O fluxo de saída seria decorrente dos processos naturais de obsolescência do conhecimento tecnológico e evolução da tecnologia aberta. Esta metáfora da banheira evidenciava que enquanto os fluxos podem ser ajustados de forma quase instantânea, mas o estoque, que era na verdade o recurso, não podia.

Como já havia apontado Barney (1986a), os ativos estratégicos mais importantes eram aqueles já possuídos pela firma. Dierickx e Cool (1989) acrescentaram a isto que estes ativos estratégicos mais relevantes eram, em geral, não negociáveis, não imitáveis e não substituíveis. A dificuldade de imitação decorria da combinação e interação de algumas características típicas destes ativos acumuláveis.

Em especial, Dierickx e Cool (1989) desenvolveram os conceitos de deseconomias de compressão de tempo, eficiências de massa dos ativos, interconexão entre diferentes ativos acumulados, erosão dos ativos, e ambigüidade causal como mecanismos que dificultavam a imitação. As deseconomias de compressão de tempo referiam-se ao fato que muitos destes ativos demandavam tempo para serem

construídos e a tentativa de construção dos mesmos em tempos mais curtos ou era impossível ou provocava custos adicionais mais altos. A tentativa de criação de uma reputação ou marca forte em um curto espaço de tempo é um exemplo. As eficiências de massa relacionavam-se ao fato que, em algumas situações, a posse de um estoque elevado de um ativo, criava por si só, condições mais favoráveis para o crescimento posterior do mesmo. Um exemplo poderia ser uma firma com elevado conhecimento tecnológico e know-how derivado de elevados fluxos de pesquisa e desenvolvimento ao longo do tempo. Esta firma, pelo fato de possuir este estoque, podia estar em melhores condições de encontrar a próxima descoberta relevante em termos tecnológicos. A interconexão entre os ativos ocorria quando o aumento de estoque de um determinado ativo dependia do estoque de outros ativos relacionados ou complementares. A erosão era um fenômeno natural dos estoques de ativos. Ela podia ter uma velocidade maior ou menor dependendo de cada caso e tipos de estoques de ativos com maior velocidade de erosão eram menos úteis para diferenciar as firmas já que o efeito do tempo tendia a igualar as situações das duas firmas. Mesmo neste caso, a empresa com maior estoque dos ativos teria um custo de manutenção (o fluxo necessário para manter o nível de estoque) menor e, portanto, uma vantagem. A ambigüidade causal referia-se à falta de domínio sobre o processo de acumulação.

Em alguns casos, não era possível identificar nem controlar os fatores que influiam no processo de acumulação, mesmo para as empresas que possuíam estes estoques (NELSON; WINTER, 1982). O processo podia também ter uma natureza estocástica, como no caso de pesquisa e desenvolvimento em busca de novas drogas na indústria farmacêutica. Nestes casos os processos podiam aumentar a probabilidade de aumento do estoque, mas retinham esta natureza estocástica, contribuindo para a situação de ambigüidade causal.

Outros trabalhos contribuíram ao desenvolvimento da RBV ainda em sua fase inicial. Barney (1986b) desenvolveu a idéia de como a cultura de uma firma poderia ser a fonte de uma vantagem competitiva sustentável dentro da visão baseada em recursos da estratégia. Nesse artigo, Barney referiu-se sempre de forma rigorosa a apenas uma rentabilidade superior sustentada. O crescimento da firma, porém, não apareceu como um possível resultado para Barney.

Conner (1991), por outro lado, comparou a abordagem da RBV a várias tradições microeconômicas. O tema tamanho da firma ou crescimento foi também abandonado sem uma discussão mais profunda e apenas referido como a busca para o tamanho ótimo pela curva de custos (CONNER, 1991, p. 124). O Quadro 1 apresenta as similaridades e diferenças entre as várias escolas de pensamento que precederam a RBV segundo Conner (1991).

Quadro 1 - Comparação entre escolas predecessoras da RBV Fonte: CONNER, 1991, p. 133.

Em 1992, Mahoney e Pandian publicaram um artigo integrador revisando vários aspectos da RBV até então. Na verdade, o texto, em forma preliminar, estava disponível como mimeo desde 1990 e influenciou vários outros artigos, inclusive alguns já mencionados. Neste texto, os autores procuraram estabelecer ligações da então emergente RBV com outras áreas da estratégia desenvolvendo que a visão baseada em recursos oferecia uma estrutura de diálogo entre as várias áreas de estratégia e economia. O tema crescimento foi central no artigo. A visão baseada em recursos da estratégia poderia oferecer tanto oportunidades de definir os limites do crescimento como a motivação e a direção deste (MAHONEY; PANDIAN, 1992, p. 365-366). Toda a área de diversificação em estratégia estaria ligada à RBV.

Barney (1991) publicou um texto influente propondo uma definição ampla de vantagem competitiva fundamentada na visão baseada em recursos:

[...] a firm is said to have a sustained competitive advantage when it is implementing a value creating strategy not simultaneously being implemented by any current or potential competitors and when these other firms are unable to duplicate the benefits of this strategy. (BARNEY, 1991, p. 102).

Nesta definição, o crescimento não estava excluído de ser considerado um resultado ou uma evidência de vantagem competitiva. Uma estratégia para ser considerada uma vantagem competitiva devia criar valor para a firma e não poder ser necessariamente implementada por outras firmas competidoras. O crescimento da firma, então, podia ser considerado como uma forma de criação de valor. Na seqüência do mesmo trabalho, Barney (1991) explorou as características dos recursos que poderiam ser a fonte de vantagem competitiva: serem valiosos, raros, apenas imperfeitamente imitáveis e não passíveis de serem substituídos por outros