• Nenhum resultado encontrado

Outras abordagens teóricas quanto ao crescimento da firma

2.2 Os fundamentos teóricos do crescimento da firma

2.2.2 Outras abordagens teóricas quanto ao crescimento da firma

Na visão microeconômica mais pura, o ajuste de tamanho poderia ser pensado como uma forma de ajuste da função de produção em busca do ponto ótimo, levando em conta o formato genérico de curvas de custo do tipo “U” e as curvas de demanda. Esta abordagem teórica, muito útil para entender outros fenômenos econômicos, não tem sido prática para entender o fenômeno de crescimento das firmas reais e nem capaz de formular hipóteses testáveis e valiosas para explicar as distribuições de tamanhos e das taxas de crescimento (SINGH; WHITTINGTON, 1975; SIMON; BONINI, 1958). Uma das dificuldades iniciais é o próprio conceito de firma na microeconomia quando comparado às firmas reais. A firma, para os economistas, é definida por um conjunto de funções de oferta e demanda (PENROSE, 1985, p. 6), enquanto que a firma real é uma entidade muito mais complexa, individual, um conjunto de recursos produtivos humanos e não-humanos sob uma coordenação administrativa com o objetivo de produzir e vender bens ou serviços para obter lucro (PENROSE, 1959). Enquanto a abordagem econômica mais pura se preocupa com a resposta desta firma a perturbações externas, a análise do crescimento tem que estudar o interior da firma. Poucos economistas julgam necessário questionar o que acontece no interior da firma – na verdade, sua “firma” não tem interior (RICHARDSON, 2002).

Mesmo que fosse possível tratar as firmas como a abstração econômica, a escala ótima para o ponto de custo mínimo da curva não é necessariamente a mesma para todas as firmas mesmo que pertencendo a um mesmo ramo de negócios (SIMON; BONINI, 1958, p. 607). A complexidade dos mecanismos que influenciam a curva de custos também ilustra a dificuldade de usar esta abordagem para explicar e prever o crescimento como fica evidenciado, por exemplo, no capítulo 4 de Scherer e Ross (1990, p. 97 – 140). Além disso, as firmas não estão em equilíbrio na vida real e a taxa de crescimento seria uma condição dinâmica resultante de um movimento em

direção a este equilíbrio dependente, portanto, das causas do desequilíbrio e da velocidade de ajuste assumida (SINGH; WHITTINGTON, 1975). Como colocaram Simon e Bonini (1958): “All these factors make static cost theory both irrelevant for understanding the size distributions of firms in the real world and empirically vacuous.” (SIMON; BONINI, 1958, p.608).

Uma segunda possível explicação para o crescimento, ainda baseada na visão econômica tradicional seria a busca de poder de mercado e os decorrentes ganhos de monopólio, como colocado por Coase (1937). Chandler (1990, p. 17,18) via o crescimento como uma forma da empresa manter sua dominância apesar das mudanças nos mercados e tecnologias e efeitos macroeconômicos como as guerras e crises. As economias de escala e escopo, bem como as reduções nos custos de transação seriam as justificativas econômicas do crescimento. As economias de escala são aquelas decorrentes do aumento de tamanho de uma unidade operacional ou da distribuição de um único produto específico. As economias de escopo são aquelas derivadas da produção ou distribuição conjunta de mais de um produto e processo. Também são chamadas de economias de produção ou distribuição conjunta. Ramos de negócios onde os processos de inovação promoveram um maior impacto das economias de escala e escopo foram os ramos onde se observou o aparecimento das grandes empresas e ramos de negócios onde estas economias não foram tão relevantes como vestuário, têxtil, fibras naturais, móveis, houve uma menor incidência do aparecimento de grandes empresas (CHANDLER, 1990, p. 21-22). Isto indicaria uma influência significativa do fator ramo de negócios na composição da variância do crescimento.

O conceito de custos de transação poderia ser uma outra explicação inicial para o crescimento da firma. A firma tenderia a expandir-se até que os custos de organizar uma transação dentro da firma tornassem-se iguais aos custos de organizar a mesma transação por meio de uma troca no mercado aberto, ou iguais aos custos de organizar esta transação em outra firma (COASE, 1937, p. 395).

O paralelo entre a abordagem original de Coase (1937) e o de Penrose (1959) quanto ao crescimento da firma só foi desenvolvido mais recentemente. Pitelis e Pseiridis (1999) argumentaram que as visões da firma através da teoria de custos de

transação e de recursos eram complementares e ambas necessárias para a compreensão da verdadeira natureza da firma e entendimento do processo de expansão da mesma. A mesma idéia foi defendida por Grant (2002) que justificou o período de intensa diversificação das empresas no período pós-guerra por uma redução dos custos de organização interna, enquanto que os custos de transação se mantiveram relativamente estacionários. Esta situação tornou mais atrativo para as empresas incorporarem atividades horizontal e verticalmente. Um fenômeno reverso de redução dos custos de transação nas últimas duas décadas do século XX, devido à globalização e fluxo de informações, seria a causa econômica dos processos de focalização, downsizing e redução de escopo das empresas de forma geral. O mesmo autor ainda argumentou que esta visão econômica pura não deveria ser tomada de forma isolada e necessitaria ser integrada com uma visão baseada em competências e recursos.

Ravix (2002) fez uma comparação entre a abordagem de Coase (1937) e a de Penrose (1959). Embora ambos se preocupassem com a firma real, eles a viam desde perspectivas diferentes. Coase (1937) analisou a firma pelo “lado maior do telescópio”, partindo do sistema econômico para olhar a firma como um componente do mesmo. Ele não estava interessado na natureza da firma, mas sim em sua função. Penrose (1959) olhou a firma pelo “lado menor do telescópio”, o seu ponto de partida não foi o sistema econômico, mas sim a natureza da firma em si mesmo.

O foco de Coase (1937) não foi o crescimento em si, mas sim o tamanho. Existiria um tamanho ótimo para cada firma em cada ambiente, determinado por este equilíbrio de custos. Crescimento é um processo, tamanho um estado. Embora a teoria de custos de transação (WILLIAMSON, 1975, 1985) possa responder exatamente a questão de tamanho da firma, ela não consegue lidar com o crescimento da firma (RAVIX, 2002).

A abordagem de custos de transação implicaria, na investigação desta pesquisa, em uma maior influência do ambiente externo já que os custos de transação são também determinados por fatores externos à firma e ligados ao ambiente institucional onde ela opera.

Uma outra corrente teórica refere-se ao ciclo de vida da indústria na qual está inserida a firma. Neste caso o foco é externo à firma. Esta linha ganhou força e renovação nos anos 90 com os trabalhos de Steven Keppler e seus co-autores (KEPPLER; GRADY, 1990; KEPPLER, 96; KEPPLER; SIMMONS, 2000). Esta abordagem baseou-se em um padrão da evolução das indústrias segundo três estágios principais (WALKER, 2004, p. 65-84):

Crescimento – é o início de todos os setores industriais, que tem origem em uma inovação que consegue oferecer um valor superior ao cliente. Este valor é, por vezes, dependente de complementos. Um exemplo são os computadores pessoais que passaram a ser o substituto natural das máquinas de escrever e terminais. O desenvolvimento real da indústria dependeu, contudo, do desenvolvimento de produtos complementares como software, sistemas operacionais e vários dispositivos de hardware. Durante este estágio, os participantes apresentam grandes diferenças em recursos e competências refletindo diferentes percepções e apostas no que os consumidores finais valorizam. Há muita experimentação e pouca previsibilidade. É um jogo sem regras.

Shakeout – é o estágio onde a taxa de entrada cai e a de saída aumenta. Há uma grande redução no número de firmas atuantes no setor. Este fenômeno é causado por uma ou mais firmas alcançar um nível de produtividade inalcançável pelas demais. Ele pode estar associado à maturidade do ciclo de vida do produto ou e emergência de um padrão dominante. O foco da inovação muda do produto para o processo. A duração e a gravidade do shakeout apresentam grande variabilidade.

Maturidade – as taxas de entradas e saídas do setor convergem e há uma estabilização do número de participantes. Quatro fatores caracterizam esta fase: uma redução na taxa de crescimento do mercado como um todo; uma maior experiência do comprador; uma concentração da participação de mercado entre firmas grandes e relativamente similares; a persistência de mercados de nicho.

Peng e Heath (1996) discutiram a influência do ambiente institucional no crescimento das empresas em economias planejadas. Os autores argumentaram que as forças institucionais únicas, existentes nestes ambientes, dificultavam o crescimento das empresas tanto por processos endógenos como pela via de fusões e aquisições. As empresas acabavam tentando contornar esta dificuldade agrupando recursos e coordenando atividades da rede de negócios da qual faziam parte, evitando desta forma as dificuldades de transferência de controle acionário. Estas proposições justificariam um significativo efeito país, que poderia ser mais intenso no caso de economias menos desenvolvidas ou em transição.