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Os componentes da variância da taxa de crescimento da firma

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Academic year: 2017

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LUIZ ARTUR LEDUR BRITO

OS COMPONENTES DA VARIÂNCIA DA TAXA DE CRESCIMENTO DA FIRMA

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LUIZ ARTUR LEDUR BRITO

OS COMPONENTES DA VARIÂNCIA DA TAXA DE CRESCIMENTO DA FIRMA

Tese apresentada a Escola de

Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, como requisito para a obtenção do título de Doutor em Administração de Empresas.

Campo de conhecimento: Estratégia empresarial

Orientador: Prof. Dr. Flávio Carvalho de Vasconcelos

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LUIZ ARTUR LEDUR BRITO

OS COMPONENTES DA VARIÂNCIA DA TAXA DE CRESCIMENTO DA FIRMA

Tese apresentada a Escola de

Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, como requisito para a obtenção do título de Doutor em Administração de Empresas.

Campo de conhecimento: Estratégia empresarial Data de aprovação ____/_____/_______ Banca examinadora

Prof. Dr. Flávio Carvalho de Vasconcelos (Orientador)

FGV-EAESP

Prof. Dr. Abraham Laredo Sicsú FGV-EAESP

Prof. Dr. Fábio Luiz Mariotto FGV-EAESP

Prof. Dr. Adalberto Américo Fishmann Universidade Estadual de São Paulo

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Dedico este trabalho a minha querida esposa, Eliane, fonte continuada de amor, apoio, motivação e inspiração.

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Agradeço ao Flávio, orientador e amigo, pelo direcionamento, ao Élvio pela ajuda com o tratamento dos dados, à Karina pela ajuda nas análises e, em especial, à Eliane pelos comentários, discussões e

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“A poet once said, ‘The whole universe is in

a glass of wine’. We will probably never

know in what sense he meant that, for poets

do not write to be understood. But it is true

that if we look at the glass of wine closely

enough we see the entire universe. […] If

our small minds, for some convenience,

divide this glass of wine, this universe into

parts – physics, biology, geology,

astronomy, psychology, and so on –

remember that nature does not know it! So

let’s put all back together, not forgetting

ultimately what it is for. Let it give us one

more final pleasure: drink it and forget it all!

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RESUMO

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de infraestrutura do país, como educação, transporte, saúde, possam ter maior eficácia em promover o crescimento das empresas através do efeito país. Além da contribuição principal o estudo permitiu várias conclusões secundárias sobre o a variabilidade das taxas de crescimento das empresas.

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ABSTRACT

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address country infrastructure, like health, education, transport may be more effective than industry oriented policies due to the higher relevance of country effects in relation to industry effects in most cases. Besides its main contribution, the study also explored several other aspects about growth rates and their variability allowing several secondary conclusions.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Esquemas

Esquema 1 - Um modelo de análise da vantagem competitiva ...46 Esquema 2 - Uma estrutura prática de análise baseada na visão de recursos ...50

Gráficos

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Gráfico 15 - A dispersão combinada do crescimento da receita composto em três anos (CRESC3) e do retorno sobre ativos (ROA) ...193 Gráfico 16 - Diagrama de dispersão da taxa anual de crescimento da receita e ROA. ...228 Gráfico 17 - Diagrama de dispersão da taxa anual de crescimento da receita e EBITM...229 Gráfico 18 - Diagrama de dispersão da taxa composta em dois anos de crescimento da receita e ROA...230 Gráfico 19 - Diagrama de dispersão da taxa composta em dois anos de crescimento da receita e EBITM...231 Gráfico 20 - Diagrama de dispersão da taxa composta em três anos de crescimento da receita e EBITM...232 Gráfico 21 - Diagrama de dispersão da taxa anual de crescimento dos ativos totais e ROA...233 Gráfico 22 - Diagrama de dispersão da taxa anual de crescimento dos ativos totais e EBITM...234 Gráfico 23 - Diagrama de dispersão da taxa composta em dois anos de crescimento dos ativos totais e ROA...235 Gráfico 24 - Diagrama de dispersão da taxa composta em dois anos de crescimento dos ativos totais e EBITM. ...236 Gráfico 25 - Diagrama de dispersão da taxa composta em três anos de crescimento dos ativos totais e ROA...237 Gráfico 26 - Diagrama de dispersão da taxa composta em três anos de crescimento dos ativos totais e EBITM. ...238

Quadros

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LISTA DE TABELAS

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SUMÁRIO

1 Introdução ...24

2 Referencial teórico ...29

2.1 Vantagem competitiva e a visão baseada em recursos da estratégia...30

2.1.1 A evolução histórica da noção de vantagem competitiva ...30

2.1.2 A visão baseada em recursos da estratégia ...34

2.1.3 O esquecimento e o resgate do crescimento como dimensão da vantagem competitiva ...56

2.2 Os fundamentos teóricos do crescimento da firma ...59

2.2.1 A contribuição teórica de Penrose ao crescimento da firma...60

2.2.2 Outras abordagens teóricas quanto ao crescimento da firma ...67

2.3 As análises empíricas sobre o crescimento da firma em economia ...71

2.3.1 Os trabalhos preliminares discutindo a Lei de Gibrat ...74

2.3.2 A literatura mais recente ...79

2.3.3 Um resumo dos achados dos trabalhos econométricos sobre o crescimento da firma e as implicações para esta pesquisa ...85

2.4 Estudos anteriores sobre componentes de variância da performance em estratégia ...86

3 A questão de pesquisa e os objetivos ...98

4 Dados e método...100

4.1 O tipo de pesquisa ...100

4.2 A fonte dos dados ...101

4.3 O construto crescimento da empresa e sua operacionalização ...102

4.4 O construto rentabilidade e sua operacionalização ...108

4.5 O método de análise...109

4.6 O procedimento de análise...114

5 Resultados e discussão ...117

5.1 As distribuições das taxas de crescimento e dos índices de rentabilidade 117 5.2 A relação entre a taxa de crescimento e tamanho...123

5.3 A composição da variância das taxas de crescimento ...128

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5.3.2 A composição da variância da taxa de crescimento das empresas da divisão A – agricultura, produtos florestais e pesca ...138 5.3.3 A composição da variância da taxa de crescimento das empresas da divisão B – mineração...141 5.3.4 A composição da variância da taxa de crescimento das empresas da divisão C – construção...144 5.3.5 A composição da variância da taxa de crescimento das empresas da divisão E – transporte, comunicação, serviços de eletricidade, gás e

saneamento ...148 5.3.6 A composição da variância da taxa de crescimento das empresas das divisões F e G – vendas por atacado e varejo ...151 5.3.7 A composição da variância da taxa de crescimento das empresas da divisão I – serviços...155 5.3.8 A composição da variância das taxas de crescimento – uma

comparação entre as divisões do SIC3 ...158 5.4 A composição da variância dos índices de rentabilidade ...161

5.4.1 Composição da variância dos índices de rentabilidade das empresas da divisão D - manufatura...165 5.4.2 A composição da variância dos índices de rentabilidade das empresas da divisão A – agricultura, produtos florestais e pesca ...167 5.4.3 A composição da variância dos índices de rentabilidade das empresas da divisão B – mineração...168 5.4.4 A composição da variância dos índices de rentabilidade das empresas da divisão C – construção...170 5.4.5 A composição da variância dos índices de rentabilidade das empresas da divisão E – transporte, comunicação, serviços de eletricidade, gás e

saneamento ...172 5.4.6 A composição da variância dos índices de rentabilidade das empresas das divisões F e G – vendas por atacado e varejo ...174 5.4.7 A composição da variância dos índices de rentabilidade das empresas da divisão I – serviços...176 5.4.8 A composição da variância dos índices de rentabilidade – uma

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1 Introdução

Barney (2002, p. 7) propôs uma definição de estratégia como sendo uma teoria de como competir com sucesso. Quando uma empresa atinge muito sucesso pode-se dizer que esta empresa tem uma vantagem competitiva em relação às demais. A questão que permanece é como definir o sucesso e, por conseqüência, a vantagem competitiva. O desenvolvimento teórico da visão baseada em recursos da estratégia (resource-based view, ou RBV) oferece um arcabouço teórico para a questão da vantagem competitiva ao propor uma conceituação de firma como um conjunto de recursos e a vantagem competitiva como uma resultante do uso destes recursos superiores (WERNERFELT, 1984; BARNEY, 1991, 2001).

Embora os trabalhos iniciais que deram origem a visão baseada em recursos (PENROSE, 1959; DEMSETZ, 1973; WERNERFELT, 1984) e ao conceito de vantagem competitiva estivessem muito ligados ao crescimento da firma como uma das evidências de sucesso, o desenvolvimento teórico posterior acabou por focar exclusivamente a rentabilidade, esquecendo a dimensão crescimento. O conceito de vantagem competitiva ficou muito influenciado pela visão econômica e a sua evidência empírica focada em rendas acima da norma (BARNEY, 1991, 2002, p. 25-73; PETERAF, 1993). Um dos pontos teóricos centrais desta tese é que o crescimento deve também ser visto como uma evidência de vantagem competitiva.

Enquanto que a abordagem econômica tradicional assume que as firmas são iguais ou apresentam pequenas diferenças e o foco maior de estudo é o mercado ou o resultado da ação conjunta das empresas, a estratégia foca-se no estudo da individualidade das empresas, na explicação de porque uma empresa difere da outra, na explicação da variabilidade (RUMELT; SCHENDEL; TEECE, 1991). O que está por trás desta variabilidade? Que grupos de fatores influem mais e menos nesta variabilidade? Este é o tema mais amplo desta pesquisa.

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MAKINO, ISOBE, CHAN, 2004) que responde a este tipo de pergunta. Trata-se de uma série de trabalhos que usou a técnica de componentes de variância para associar a dispersão dos resultados financeiros a grupos de fatores como efeitos comuns ao ramo de negócios ao qual a empresa pertence, efeitos comuns ao ano o em que se está analisando os resultados, efeitos comuns ao país no qual a empresa opera ou efeitos específicos à empresa em questão. Estes estudos indicaram ser esta última categoria de efeitos (a firma individual) a mais importante, respondendo por 40 a 50% da variância total observada na rentabilidade. Isto indica que teorias, como a visão baseada em recursos da estratégia, têm maior relevância na explicação da rentabilidade do que teorias que enfatizam aspectos ambientais e setoriais.

A rentabilidade não é, contudo, como já colocou-se anteriormente, o único objetivo das empresas. A questão de como tratar os objetivos da empresa é central para toda a área de administração. Jensen (2001) defendeu que esta questão deveria ser respondida com a maximização de uma única função: o valor de mercado da empresa. Se este fosse o objetivo principal de todas as empresas, o bem-estar da sociedade como um todo também seria maximizado. Esta posição é oposta a abordagens mais populares como o “Balanced Scorecard” (KAPLAN; NORTON, 1986) derivadas de um corpo teórico maior, o “stakeholder theory” (DONALDSON; PRESTON, 1995) que postulou a medição do sucesso considerando múltiplas dimensões, relativas aos interesses dos vários stakeholders envolvidos.

O crescimento da empresa, em qualquer uma das duas abordagens, é parte integrante do sucesso. Mesmo no caso da abordagem de Jensen (2001), ele influencia o valor de mercado da empresa já que os lucros futuros são afetados pelo crescimento ou não-crescimento.

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Inicialmente o crescimento pode ser visto como uma forma de aumento dos lucros futuros e, portanto, do valor presente líquido do lucro de períodos futuros da organização. No curto prazo, o crescimento requer que lucros sejam retidos para reinvestimento em vez de serem distribuídos como dividendos. Os gerentes teriam mais a ganhar com a retenção dos lucros e o crescimento, já que desta forma conseguiriam mais prestígio, satisfação pessoal, maiores responsabilidades e conseqüentes maiores salários além de maior escopo para desenvolvimento de suas ambições e habilidades. Muitos proprietários de empresas teriam, contudo, comportamento semelhante, identificando-se com suas firmas, vendo-as como suas criações pessoais e motivo de orgulho (PENROSE, 1959). O crescimento acaba sendo a meta dominante na organização empreendedora. O psicólogo David McClelland1 (1961 apud MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000) justificou isto pela motivação básica do empreendedor que é a necessidade de realização. As metas da organização, seriam uma extensão das metas do próprio empreendedor e, o crescimento é uma realização tangível de realização (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000, p. 106).

Assim como ocorre no caso da rentabilidade, as empresas apresentam uma grande dispersão de taxas de crescimento. Não se conhece a estrutura desta variabilidade. Esta variabilidade nas taxas de crescimento não foi estudada com a mesma abordagem de componentes de variância usada para a rentabilidade. Na área de economia, existe um conjunto de trabalhos derivados de verificações e contestações à lei de Gibrat (1931) que oferecem algumas perspectivas desta variabilidade. O foco, contudo, é o estudo das implicações das premissas de crescimento da firma na estrutura do mercado e não propriamente o estudo da variabilidade da taxa de crescimento das firmas individuais. Esta pesquisa pretendeu justamente cobrir esta lacuna e comparar as duas estruturas de variabilidade complementando a visão puramente financeira com outra dimensão relevante de desempenho: o crescimento.

O conhecimento desta estrutura de variabilidade permite por em perspectiva e comparar a influência dos diferentes fatores que podem provocar esta variabilidade. Estes fatores são estudados mais detalhadamente por diferentes correntes teóricas,

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assim o resultado deste estudo permite identificar as teorias com maiores chances de explicação relevante do fenômeno de crescimento da firma.

Os resultados indicaram uma estrutura de variabilidade com algumas similaridades e algumas diferenças em relação estrutura de variabilidade da rentabilidade. O primeiro aspecto foi que parece haver maior incerteza na variabilidade das taxas de crescimento anuais em relação à variabilidade observada nos índices de rentabilidade. Cerca de 70% da variância da taxa anual de crescimento não pôde ser atribuída a nenhum dos fatores estudados, sendo provavelmente causada por fatores aleatórios. No caso da variância de rentabilidade, pôde-se explicar por volta de 50% da variância total. Esta maior incerteza na taxa anual pode ser uma fonte de questionamento da propriedade de gerentes priorizarem o crescimento como objetivo de suas iniciativas em detrimento eventual da rentabilidade. Eles talvez estejam trocando o “mais certo” pelo “mais duvidoso”, pelo menos a curto prazo (GEROSKI, MACHIN, WALTERS, 1997). Quando se analisou, contudo a taxa de crescimento composta em dois ou três anos, um percentual maior da variância conseguiu ser explicado chegando a números comparáveis ao da rentabilidade, indicando que esta variabilidade anual foi fortemente atenuada quando se comparou um período um pouco mais longo e que tem maior relevância e significado gerencial. O segundo aspecto é a predominância do efeito firma individual na explicação da variância. Isto indica que a variabilidade entre firmas é mais importante do que a variabilidade entre ramos de negócios ou países. Fatores individuais, idiossincráticos à firma devem ser os maiores responsáveis pelo crescimento ou não-crescimento. A visão baseada em recursos da estratégia é, portanto, uma abordagem teórica adequada para o estudo do crescimento. Esta constatação também justifica a abordagem de ver-se o crescimento como uma dimensão da vantagem competitiva. A vantagem competitiva é algo inerente à empresa individual e não comum a todas as empresas em um setor ou país. Efeitos ano e país também se mostraram relevantes, mas o efeito ramo de negócios foi bastante pequeno.

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2 Referencial

teórico

Este capítulo está organizado em quatro partes, cobrindo aspectos de estratégia e economia relacionados ao tema crescimento da firma. Na primeira parte do capítulo, apresenta-se uma revisão da literatura de vantagem competitiva, em especial a visão baseada em recursos da estratégia (Resource-based view - RBV). Nesta revisão evidencia-se que o tema crescimento da firma, presente nos estágios iniciais da RBV, é quase ignorado na conceituação atual de vantagem competitiva. A proposta teórica desta tese traz uma contribuição inovadora ao questionar este ponto. A rentabilidade não é a única evidência de um desempenho superior ou de sucesso. O crescimento da firma pode ser visto como um resultado complementar e alternativo à realização de lucro econômico. Crescer pode representar uma opção e um caminho para lucros futuros maiores. A noção de vantagem competitiva deveria contemplar esta dimensão de desempenho ou sucesso. A análise da composição da variância das taxas de crescimento é uma forma de iniciar este processo.

Na segunda parte do capítulo, analisa-se as contribuições teóricas ao crescimento da firma em si, usando como eixo central a obra de Penrose (1959) e contrapondo a esta outras abordagens, principalmente em economia, que também se preocuparam com uma teoria do crescimento da firma. Enquanto que a obra de Penrose (1959) justifica teoricamente uma forte existência de um efeito empresa individual, as demais abordagens são justificativas teóricas da existência de efeitos ligados a aspectos externos à firma.

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Finalmente, na última parte do capítulo apresenta-se uma revisão dos estudos de componentes de variância da rentabilidade, uma linha de pesquisa tradicional e ativa atualmente em estratégia, na qual a proposta deste trabalho se inspirou. Ela fornece a base de comparação para a composição da variância dos índices de rentabilidade da amostra estudada e para a composição da própria variância das taxas de crescimento.

2.1

Vantagem competitiva e a visão baseada em recursos da estratégia

A estratégia como disciplina independente é um campo teórico relativamente recente. Ela deriva de duas influências mais relevantes: economia e teoria das organizações e tem o seu maior desenvolvimento durante a segunda metade do século XX (RUMELT; SCHENDEL; TEECE, 1994). A noção de vantagem competitiva é ainda mais recente e coincide temporalmente com o desenvolvimento da visão baseada em recursos que dá a esta noção de vantagem competitiva um tratamento mais formal. A próxima subseção apresenta uma revisão da evolução histórica da noção de vantagem competitiva. É possível evidenciar nas páginas que seguem, que a quase ausência da perspectiva de crescimento, tanto na visão baseada em recursos, quanto nos estudos que dão um tratamento mais formal ao construto vantagem competitiva. Uma crítica a esta perspectiva estática dos recursos e suas implicações no desempenho conclui esta seção evidenciando as vantagens de considerar-se o também o crescimento como uma das evidências de sucesso ou como resultado da vantagem competitiva.

2.1.1 A evolução histórica da noção de vantagem competitiva

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concorrentes e de ajustar a oferta em função dessa antecipação. Por exemplo, quando a General Motors, na década de 1920, percebeu a demanda potencial no mercado norte-americano para meios de transporte pessoais mais luxuosos, isso lhe permitiu obter uma importante vantagem em relação à Ford (líder na produção de veículos de baixo custo com seu modelo T), invertendo a situação competitiva das duas empresas (SLOAN, 1964). Um outro exemplo clássico foi o reconhecimento rápido da Sears, em sua fase inicial de desenvolvimento, da transição das compras para os subúrbios. Isto permitiu a Sears distanciar-se de sua concorrente, a Montgomery Ward (CHANDLER, 1962). Esta visão de vantagem competitiva tem uma relação com o crescimento, na medida em que o acerto do composto produto-mercado é uma condição básica para o crescimento.

Há semelhanças entre essa concepção de vantagem competitiva como antecipação de oportunidades e a definição que lhe é dada hoje, uma abordagem muito mais próxima do que é chamado na literatura de “vantagens de pioneiro” ou “first-mover advantages”, e que tem um papel secundário no arcabouço geral do planejamento estratégico racional. No trabalho posterior de Ansoff (1979), a expressão “vantagem competitiva” desapareceu por completo.

A estratégia, em seu período inicial, estava focada na função de planejar e mobilizar a empresa para seu processo de execução. Andrews (1971) definiu as quatro funções da estratégia corporativa como: 1) a definição dos objetivos estratégicos, já que apenas a dimensão financeira, como a maximização do lucro, seria inadequada; 2) o planejamento do futuro mais distante que seria necessário para empreendimentos de ciclo mais longo; 3) a capacidade de influenciar o ambiente além de simplesmente responder às suas mudanças; e 4) a criação de objetivos visíveis que mobilizassem e inspirassem a cooperação e o esforço organizacional. A conquista e a manutenção de vantagem competitiva simplesmente não apareciam nos textos mais clássicos de estratégia empresarial, ao contrário do que vai acontecer, com grande freqüência, nos textos contemporâneos.

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experimentavam um mal-estar com a crescente competição de indústrias estrangeiras, em especial japonesas, que competiam em bases diferentes, com grande sucesso em muitas áreas. Alguns analistas atribuíram esse sucesso ao fato de os japoneses darem um valor estratégico diferente às operações (HAYES; WHEELWRIGHT, 1984; WHEELWRIGHT, 1981). O resultado desse aumento de competição foi a intensificação da preocupação da indústria norte-americana com o foco competitivo, muito mais do que costumava fazer antes. Não fica absolutamente claro qual conseqüência da competição estaria sendo usada para avaliar o sucesso ou o insucesso dos participantes. No caso da disputa entre a indústria americana e a japonesa, contudo, o ganho de mercado e conseqüente crescimento das empresas japonesas era a evidência maior do sucesso.

Allen (1978), então vice-presidente de estratégia corporativa da General Electric, escreveu um artigo na McKinsey Quarterly sobre a necessidade do planejamento estratégico com foco competitivo, descrevendo como a GE vinha fazendo isso, com sucesso, durante a década de 70. A expressão “vantagem competitiva” foi usada em vários outros artigos desse mesmo periódico em uma acepção mais ampla, envolvendo unidades de negócios inteiras e não apenas um produto (OHMAE, 1978; MORRISON; LEE, 1979). Gluck, Kaufman e Walleck (1980), todos consultores da McKinsey, escreveram um artigo na Harvard Business Review com o título “Strategic management for competitive advantage”. No mesmo ano, South (1981), então diretor de planejamento corporativo da Clark Equipment Company, publicou no Journal of Business Strategy um artigo intitulado “Competitive advantage: the cornerstone of strategic thinking”. Nesse momento, final dos anos 1970 e início da década de 1980, a vantagem competitiva começava a ocupar um papel central no campo da estratégia. O planejamento e a liderança passavam a ser mecanismos para alcançá-la. O processo de gestão estratégica tornava-se gestão da vantagem competitiva, ou seja, o processo de criar, desenvolver e manter vantagens competitivas (SOUTH, 1981).

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a vantagem competitiva no centro da estratégia e consolidando a visão prática desenvolvida no final da década de 1970.

De modo geral, na literatura, até então, a vantagem competitiva estava associada ao sucesso tomado de forma ampla. O crescimento e a conquista de mercado eram evidências claras de vantagem competitiva de uma empresa. A idéia de “rendimentos acima da norma” como medida de vantagem competitiva não era ainda usada pelos autores

No início dos anos 80 a academia passou a adotar crescentemente a expressão. Aaker (1984), por exemplo, propôs que a escolha de uma estratégia de negócios possuía dois elementos centrais. O primeiro era a decisão sobre onde competir, a decisão produto-mercado. O segundo era o desenvolvimento de uma vantagem competitiva sustentável. Spence (1984) analisou a criação de vantagem competitiva em empresas multinacionais a partir de políticas de subsídio e restrição de acesso. Caves (1984) interpretou a noção de vantagem competitiva sob o ângulo da organização industrial. Finalmente, Porter (1985) lançou o seu segundo livro, com o título “Competitive Advantage”. Enquanto na obra original de Porter (1980) o conceito de vantagem competitiva simplesmente não aparecia de forma destacada, em 1985 ele veio para a posição central. O objetivo e a medida de sucesso da estratégia passaram a ser a conquista de uma vantagem competitiva. O conceito de cadeia de valor foi usado por Porter (1985) como ferramenta para explicar a geração da vantagem competitiva. Uma empresa conquistaria uma vantagem competitiva executando as atividades estrategicamente mais importantes da cadeia de valor de forma mais barata, ou melhor, do que a concorrência.

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Desde então, a expressão vantagem competitiva foi incorporada à literatura e quase como tema obrigatório nos estudos de estratégia.

Toda esta evolução e a ligação com a competição associaram vantagem competitiva à lucratividade, mas não de forma excludente em relação ao crescimento. O tema crescimento simplesmente não foi evidenciado.

2.1.2 A visão baseada em recursos da estratégia

Embora a visão baseada em recursos da estratégia seja um desenvolvimento relativamente recente, concentrado nos últimos 15 ou 20 anos, e tenha se tornado a abordagem dominante em gestão estratégica contemporânea (FOSS, 2002), suas origens primárias podem ser encontradas em abordagens muito mais antigas e clássicas tanto em sociologia como em economia. É a abordagem da visão baseada em recursos da estratégia que deu um formalismo maior ao conceito de vantagem competitiva.

Barney e Arikan (2001) identificaram pelo menos quatro origens teóricas que podem ser consideradas como precursoras da visão baseada em recursos: 1) a abordagem das competências distintivas (SELZNICK, 1957); 2) a abordagem econômica de Ricardo (1817); 3) o trabalho de Penrose (1959) sobre o crescimento da firma; e 4) o questionamento das iniciativas antitruste na economia americana.

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administrativa e a capacidade de tomar melhores decisões. A liderança institucional cria e define uma razão de ser da organização, um propósito, cria uma visão. Os líderes institucionais também organizam e estruturam uma firma de modo a refletir este propósito e esta visão. A combinação da visão e da estrutura auxilia a definir a competência distintiva da empresa, ou aquelas atividades que ela consegue desempenhar melhor do que a maioria dos concorrentes. Selznick, contudo, não analisou as implicações desta competência distintiva na performance, nem desenvolveu outras formas de diferenciação e fonte de vantagem em desempenho das firmas.

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Gráfico 1 - Rendas ricardianas decorrentes de um recurso que oferece menor custo Fonte: PETERAF, 1993.

A economia normalmente assume de forma implícita que relativamente poucos fatores de produção têm oferta inelástica. Se o preço for convidativo, maior quantidade do fator será ofertada. A colocação da RBV é que justamente os numerosos recursos usados pelas empresas são inelásticos por natureza e podem ser a origem de rendas. A RBV desenvolve a questão de como estes recursos são gerados ou adquiridos. Dierickx e Cool (1989) apresentaram em um texto clássico um processo de criação destes recursos não comercializáveis que podiam ser concebidos como estoques desenvolvidos, ou perdidos, ao longo do tempo. Barney (1986a) discutiu o custo de aquisição dos recursos e colocou que se o comprador tivesse que pagar o valor pleno do recurso, ele não teria lucro econômico já que desembolsaria todo o valor presente do benefício na aquisição do recurso. O ganho justamente residiria nas imperfeições do mercado de fatores e na incerteza. Estes pontos não foram desenvolvidos na abordagem de Ricardo (1817).

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fundadora da RBV (WERNERFELT, 1984; BARNEY, 1991; CONNER, 1991; GRANT, 1991; MAHONEY; PANDIAN, 1992; PETERAF, 1993; WILLIAMS, 1994) há, contudo, quem discorde. Foss (2002) argumentou fortemente que a influência real de Penrose (1959) na RBV é praticamente inexistente. Penrose preocupava-se com o fenômeno de desequilíbrio e crescimento, ao passo que a RBV, da forma como se desenvolveu até hoje, tenta explicar rendas acima da norma em uma situação de equilíbrio. Para Penrose (1959) a variável dependente mais relevante era o crescimento e não o lucro. Rugman e Verbeke (2002) argumentaram de forma similar, mas reconheceram a contribuição de Penrose (1959) para o conceito de firma e o fato de seu trabalho ter inspirado muitas das questões de pesquisa no campo da visão de recursos da estratégia (KOR; MAHONEY, 2000).

A quarta origem da RBV decorre do estudo na área de regulação antitruste nos Estados Unidos. No início da década de 70 começou um questionamento à abordagem econômica tradicional para este problema (o modelo SCP – Estrutura – Conduta – Performance). Demsetz (1973) publicou um influente artigo argumentando que a estrutura do ramo de negócios não era o único determinante da performance da firma e que o fato de uma firma ter lucros excelentes não podia ser tomado como indicativo de que esta firma estivesse empregando práticas anticompetitivas. Demsetz (1973) antecipou elementos da lógica da RBV e, curiosamente, colocou o crescimento como um resultado paralelo ou alternativo ao desempenho econômico puro:

Superior performance can be attributed to the combination of great uncertainty plus luck or atypical insight by the management of the firm... Even though the profits that arise from a firm’s activities may be eroded by competitive imitation, since information is costly to obtain and techniques are difficult to duplicate, the firm may enjoy growth and a superior rate of return for some time… (DEMSETZ, 1973, p. XX, grifo nosso).

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Wernerfelt (1984). Neste artigo o autor pretendeu oferecer uma visão alternativa com a intenção de complementar a teoria de Porter (1980), que defendia a idéia da definição de uma posição de mercado de um produto de uma firma como centrais para uma estratégia empresarial. Uma firma tem um portfólio de produtos e suas posições de mercado, que reflete um portfólio de recursos que a firma detém. A competição podia ser vista tanto pela análise das posições de mercado como pela análise dos recursos.

Quase simultaneamente ao artigo de Wernerfelt (1984), Rumelt (1984) publicou um trabalho em um livro de textos discutidos em uma conferência de estratégia. Neste artigo, Rumelt (1984) propôs elementos de uma teoria da firma pela perspectiva de estratégia. A firma era novamente vista como um conjunto de recursos. Segundo o autor, a heterogeneidade intra-ramo de negócios era natural.

Firms in the same industry compete with substantially different bundles of resources using disparate approaches. These firms differ because of different histories of strategic choice and performance and because managements appear to seek asymmetric competitive positions. (RUMELT, 1984, p. 132).

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isolamento tornavam estas rendas mais ou menos sustentáveis. “There cannot be a simple algorithm for creating wealth” (RUMELT, 1984, p. 142).

Um terceiro trabalho que pode ser considerado um dos fundadores da RBV é o de Barney (1986a). Em seu texto Barney (1986a) levou a discussão para o mercado de fatores estratégicos complementando e ampliando os dois outros textos já citados. Um retorno à lógica de Porter (1980) é fundamental para entender a argumentação de Barney (1986a).

O desenvolvimento da escola de posicionamento estratégico liderada por Porter (1980) vinha enfatizando o fato de observar-se uma clara correlação entre mercados imperfeitos de produtos e firmas com rentabilidade superior. A lógica do autor foi então criar ou modificar estas imperfeições nos mercados de produtos para atingir desempenho superior. Esta é a implicação gerencial do trabalho de Porter (1980). Um exemplo seria: se barreiras de entrada criam uma imperfeição de mercado que causa desempenho superior, a firma deveria concentrar-se em criar estas barreiras de entrada.

Barney (1986a) atacou a centralidade desta posição, argumentando que a questão fundamental não é a imperfeição no mercado de produtos, mas sim a imperfeição no mercado de fatores estratégicos. Se, no exemplo acima colocado, o mercado de fatores estratégicos necessário para a criação de barreiras de entrada fosse um mercado perfeito, o custo de criar a barreira seria igual ao valor presente de todas as rendas derivadas dela e, portanto, a firma que tentasse este caminho não teria rentabilidade superior à norma. A questão fundamental não era se a barreira de entrada está correlacionada a rendimentos superiores, mas sim qual seria o custo de criar estas barreiras versus o valor que seria gerado por elas. Em outras palavras, era a imperfeição nos mercados de fatores que contava.

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Esperar isto era confiar na existência de “rules for riches”. A análise das habilidades e capacidades internas da firma, contudo, podia evidenciar recursos que a firma já possuía (não precisava adquirir a preço de mercado pagando todo o benefício no custo de aquisição) e podia explorar. Nesta análise, além disso, a firma teria um grau de incerteza menor do que as demais já que estaria analisando sua própria realidade, muitas vezes, apenas imperfeitamente disponível aos demais (BARNEY, 1986a).

Barney (1986a) desenvolveu o argumento demonstrando que as imperfeições no mercado de fatores estratégicos só podiam ter dois tipos de origens. Primeiramente, elas podiam decorrer de diferenças em percepções de expectativa de valor futuro dos recursos (algumas firmas conseguiam ter uma “visão” mais precisa sobre a competição no futuro). Estas firmas não necessitariam pagar o valor total do recurso, pois este não era reconhecido pelo mercado. O segundo tipo, seguindo também um raciocínio já antecipado por Demsetz (1973) podia ser atribuído à sorte. Neste caso as firmas adquiriam os recursos e estes inesperadamente passavam a ter um valor muito maior não previsto por ninguém. Barney (1986a) mostrou que vários outros tipos de imperfeições, aparentemente diferentes, podiam ser reduzidas a estes casos básicos.

Estes três textos (WERNERFELT, 1984; RUMELT, 1984; BARNEY, 1986a) podem ser considerados como o arcabouço conceitual básico da RBV. Todos viam a firma como um conjunto de recursos. Os textos de Rumelt (1984) e Wernerfelt (1984) focaram a heterogeneidade dos recursos como a causa fundamental da heterogeneidade observada na performance. Eles começaram a construção do que se poderia chamar de uma teoria de vantagem competitiva. A dimensão crescimento não estava ausente conceitualmente. Já o texto de Barney (1986a) tratou dos processos de aquisição e desenvolvimento dos recursos, seus custos de aquisição versus os benefícios de desempenho que podem ser obtidos deles. Neste sentido, o texto foi o início da construção de uma teoria de rendas econômicas.

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desenvolvidos no texto foi que os mercados de fatores estratégicos, mais que imperfeitos são incompletos. Uma grande quantidade de fatores não podia, simplesmente, ser adquirida. Este mercado simplesmente não existia. Muitos dos recursos tinham que ser desenvolvidos internamente. Um exemplo disto era a reputação corporativa: onde seria possível comprá-la? Outros exemplos podiam ser a lealdade ou confiança. Estes fatores simplesmente não eram negociáveis.

Enquanto o trabalho de Barney (1986a) considerava que existia um mercado de fatores, mas imperfeito, Dierickx e Cool (1989) desenvolveram uma estrutura de análise para os fatores que não eram negociáveis, para os quais não existiam mercados, mas estes fatores eram acumuláveis internamente nas empresas. Este tipo de ativos era o resultado da acumulação ao longo de um período de tempo. Os autores usaram a metáfora de uma banheira onde o conteúdo de água era o ativo acumulado resultante dos fluxos de entrada e saída ao longo do tempo. Um exemplo seria o know-how de uma empresa resultante de seus processos de pesquisa e desenvolvimento. O estoque acumulado de know-how que seria o recurso a ser usado poderia ser representado pelo conteúdo de água da banheira. O fluxo de entrada seria o investimento em pesquisa e desenvolvimento a cada ano composto com sua eficiência. O fluxo de saída seria decorrente dos processos naturais de obsolescência do conhecimento tecnológico e evolução da tecnologia aberta. Esta metáfora da banheira evidenciava que enquanto os fluxos podem ser ajustados de forma quase instantânea, mas o estoque, que era na verdade o recurso, não podia.

Como já havia apontado Barney (1986a), os ativos estratégicos mais importantes eram aqueles já possuídos pela firma. Dierickx e Cool (1989) acrescentaram a isto que estes ativos estratégicos mais relevantes eram, em geral, não negociáveis, não imitáveis e não substituíveis. A dificuldade de imitação decorria da combinação e interação de algumas características típicas destes ativos acumuláveis.

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construídos e a tentativa de construção dos mesmos em tempos mais curtos ou era impossível ou provocava custos adicionais mais altos. A tentativa de criação de uma reputação ou marca forte em um curto espaço de tempo é um exemplo. As eficiências de massa relacionavam-se ao fato que, em algumas situações, a posse de um estoque elevado de um ativo, criava por si só, condições mais favoráveis para o crescimento posterior do mesmo. Um exemplo poderia ser uma firma com elevado conhecimento tecnológico e know-how derivado de elevados fluxos de pesquisa e desenvolvimento ao longo do tempo. Esta firma, pelo fato de possuir este estoque, podia estar em melhores condições de encontrar a próxima descoberta relevante em termos tecnológicos. A interconexão entre os ativos ocorria quando o aumento de estoque de um determinado ativo dependia do estoque de outros ativos relacionados ou complementares. A erosão era um fenômeno natural dos estoques de ativos. Ela podia ter uma velocidade maior ou menor dependendo de cada caso e tipos de estoques de ativos com maior velocidade de erosão eram menos úteis para diferenciar as firmas já que o efeito do tempo tendia a igualar as situações das duas firmas. Mesmo neste caso, a empresa com maior estoque dos ativos teria um custo de manutenção (o fluxo necessário para manter o nível de estoque) menor e, portanto, uma vantagem. A ambigüidade causal referia-se à falta de domínio sobre o processo de acumulação.

Em alguns casos, não era possível identificar nem controlar os fatores que influiam no processo de acumulação, mesmo para as empresas que possuíam estes estoques (NELSON; WINTER, 1982). O processo podia também ter uma natureza estocástica, como no caso de pesquisa e desenvolvimento em busca de novas drogas na indústria farmacêutica. Nestes casos os processos podiam aumentar a probabilidade de aumento do estoque, mas retinham esta natureza estocástica, contribuindo para a situação de ambigüidade causal.

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Conner (1991), por outro lado, comparou a abordagem da RBV a várias tradições microeconômicas. O tema tamanho da firma ou crescimento foi também abandonado sem uma discussão mais profunda e apenas referido como a busca para o tamanho ótimo pela curva de custos (CONNER, 1991, p. 124). O Quadro 1 apresenta as similaridades e diferenças entre as várias escolas de pensamento que precederam a RBV segundo Conner (1991).

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Em 1992, Mahoney e Pandian publicaram um artigo integrador revisando vários aspectos da RBV até então. Na verdade, o texto, em forma preliminar, estava disponível como mimeo desde 1990 e influenciou vários outros artigos, inclusive alguns já mencionados. Neste texto, os autores procuraram estabelecer ligações da então emergente RBV com outras áreas da estratégia desenvolvendo que a visão baseada em recursos oferecia uma estrutura de diálogo entre as várias áreas de estratégia e economia. O tema crescimento foi central no artigo. A visão baseada em recursos da estratégia poderia oferecer tanto oportunidades de definir os limites do crescimento como a motivação e a direção deste (MAHONEY; PANDIAN, 1992, p. 365-366). Toda a área de diversificação em estratégia estaria ligada à RBV.

Barney (1991) publicou um texto influente propondo uma definição ampla de vantagem competitiva fundamentada na visão baseada em recursos:

[...] a firm is said to have a sustained competitive advantage when it is implementing a value creating strategy not simultaneously being implemented by any current or potential competitors and when these other firms are unable to duplicate the benefits of this strategy. (BARNEY, 1991, p. 102).

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Embora o crescimento não estivesse explicitamente mencionado, ele estava claramente incluído nesta conceituação de Barney (1991).

Peteraf (1993) foi o primeiro trabalho a formalizar o conceito de vantagem competitiva dentro de uma estrutura de microeconomia. A autora propôs um modelo de análise, ilustrado pelo Esquema 1. Este modelo tinha quatro aspectos fundamentais necessários para a existência de vantagem competitiva: heterogeneidade dos recursos; limites ex-post à competição; mobilidade imperfeita dos recursos; limites ex-ante à competição. A heterogeneidade entre as firmas era uma condição absolutamente necessária para a existência de vantagem competitiva. Esta heterogeneidade podia ser decorrente da heterogeneidade dos recursos que constituem as firmas, seguindo a tradição mais clássica da RBV e de Ricardo (1817), ou decorrente da exploração de rendas de monopólio, seguindo a tradição de organização industrial. Um exemplo desta última abordagem seria a heterogeneidade resultante das diferenças entre grupos de firmas dentro do mesmo ramo de negócios (CAVES; PORTER, 1977). Embora Peteraf (1993) citasse o tema de competências essenciais (PRAHALAD; HAMEL, 1990) como um dos aspectos de recursos que provocam heterogeneidade e determinasse a base e a direção do crescimento, o desenvolvimento do conceito seguiu uma linha de rendas e custos. A condição de limites ex-post à competição ligava-se à questão da sustentabilidade da vantagem competitiva. Se não houvesse limites à competição, uma vez observada a heterogeneidade, ela seria apenas um fenômeno transitório, pois novos entrantes acabariam por igualar a posição das firmas melhor sucedidas eliminando sua vantagem.

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Esquema 1 - Um modelo de análise da vantagem competitiva Fonte: PETERAF, 1993, p. 186.

Lipmann e Rumelt (1982) introduziram o conceito de ambigüidade causal, quando a relação entre ações e resultados não é clara, que também pode funcionar como um mecanismo de isolamento. Todo o trabalho de Dierickx e Cool (1989) sobre as características dos estoques de ativos acumulados ao longo do tempo também explicava a dificuldade da imitação. Os limites ex-post à competição garantiam que a heterogeneidade, uma vez estabelecida se mantivesse.

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serem relativamente especializados para a firma em questão ou atuarem de forma mais eficaz em conjunto com outros recursos também específicos a esta firma.

Como o conceito de lucro econômico engloba a consideração do custo de oportunidade, o fato dos recursos serem relativamente imóveis e terem valores diferentes para diferentes firmas era uma condição necessária para a existência da vantagem competitiva.

Finalmente, a última condição para a existência da vantagem competitiva era a presença de limites também ex-ante a competição. Essa condição estava relacionada à capacidade dos gestores em perceber imperfeições de mercado de fatores que outros não percebiam e que representariam uma fonte de vantagem competitiva para a firma. Este ponto retoma ao argumento de Barney (1986a) que a questão não estava na competição no mercado de produtos, mas sim no mercado de fatores ou dos recursos que permitiriam à firma uma vantagem competitiva. Se não houvesse limites na competição pelos recursos, o seu valor de aquisição cresceria ao ponto de eliminar o benefício advindo do mesmo.

Embora a conceituação ampla do modelo de Peteraf (1993) não excluísse a possibilidade de considerar-se o crescimento como um dos resultados decorrentes da vantagem competitiva, todo o desenvolvimento e os exemplos foram direcionados para rendas econômicas. O crescimento ficou para um comentário na parte final do artigo sobre estratégia corporativa. Crescimento estava ligado à diversificação. No caso, Peteraf (1993) argumentou que a diversificação mais acentuada tenderia a reduzir o tamanho das rendas por uma redução da especialização. A análise não levou em conta, contudo, que a empresa diversificada talvez poderia ser maior e ,mesmo com rentabilidade relativa menor, poderia representar um valor total maior.

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ativos estratégicos da firma seriam os recursos difíceis de comercializar, de serem imitados, escassos, apropriáveis e especializados à firma que criavam a sua vantagem competitiva. Os fatores estratégicos do ramo de negócios seriam determinados ao nível do mercado através de interações complexas entre os competidores, clientes, agentes reguladores, inovadores externos ao ramo e outros stakeholders. Eles representavam as falhas de mercado (market failures) que permitiam o surgimento de rendas. Eles representavam uma estrutura dinâmica cujas mudanças não podiam ser previstas ex-ante. Eles determinavam quais ativos estratégicos da firma poderiam ser ou vir a ser fontes de vantagem competitiva.

Castanias e Helfat (1991) aplicaram a lógica da RBV, principalmente como uma teoria de rendas econômicas a avaliação de um dos recursos mais relevantes para a administração: a capacidade gerencial da alta administração. Em seu desenvolvimento teórico, ligado à teoria da agência, existia um alinhamento maior entre os interesses do agente e do principal devido a dois mecanismos de geração de rendas derivados do recurso gerencial. As rendas ricardianas seriam as associadas à escassez de recursos gerenciais superiores, mas de aplicação generalizada e que poderiam, sem qualquer perda de valor, serem dedicados a uma outra firma. A possibilidade dos gerentes se beneficiarem destas rendas agia como um incentivo positivo aos gerentes para usarem suas habilidades superiores lucrativamente tanto em benefício próprio como para os acionistas. O segundo mecanismo de geração de rendas advindo da capacidade gerencial derivava de capacidades específicas ao ramo de negócios ou mesmo à firma na qual o gerente estava atuando. Esta capacidade não era totalmente transferível ao mercado sem perda de valor. As rendas daí decorrentes eram mais bem caracterizadas como quasi-rents. Estas são definidas como a diferença entre o valor de um ativo em sua melhor alternativa de uso e o seu valor na segunda melhor alternativa (KLEIN; CRAWFORD; ALCHIAN, 1978). Esta possibilidade de coletar quasi-rents funcionava como um desincentivo para um mau comportamento gerencial já que este resultaria em sua perda.

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gestão estratégica por duas razões. Primeiro, a falta de um modelo integrador único. A RBV foi surgindo aos poucos, com contribuições de vários autores, como um processo gradativo e evolutivo. Segundo, tinha havido pouco esforço até então para desenvolver as implicações práticas da teoria. Seu artigo tentou contribuir no sentido de minorar estes efeitos. O autor apresentou um modelo de gestão estratégica (reproduzido no Esquema 2) e desenvolveu uma explicação didática do mesmo com uma profusão de exemplos reais. Curiosamente, embora o crescimento estivesse presente em grande parte dos exemplos, ele não passou para a formulação teórica que continuava a referir-se exclusivamente a rendas.

Em 1991, Rumelt (1991) publicou um resultado de pesquisa empírica que analisou a composição da variância da performance, tomada como rentabilidade, dividindo-a entre efeitos do ramo de negócios, efeitos da firma, efeitos da corporação e efeitos ano. Este trabalho, que foi a inspiração original desta tese, indicou que os efeitos firma, ou os fatores idiossincráticos associados às firmas individuais, respondiam por mais de 40% da variância observada, muito mais do que qualquer outro fator. Este resultado deu um suporte empírico a todo desenvolvimento teórico emergente da RBV. Se a firma realmente importava tanto mais do que o ramo de negócios, toda a abordagem baseada em recursos estava amplamente justificada. Os resultados detalhados desta pesquisa de Rumelt (1991) e toda a linha de pesquisa relacionada a ela são explorados na seção 2.4. O fato do trabalho de Rumelt (1991) ter tomado apenas a performance financeira pode também ter contribuído para o crescimento ter sido relegado a um segundo plano no desenvolvimento teórico da RBV.

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Esquema 2 - Uma estrutura prática de análise baseada na visão de recursos Fonte: GRANT, 1991, p. 115.

De forma paralela, outras correntes teóricas em estratégia e organizações se desenvolveram quase simultaneamente usando uma estrutura lógica similar a RBV, mas não a citando especificamente, nem utilizando seus trabalhos básicos como fundamento. Três das mais importantes correntes paralelas foram: a teoria de ativos invisíveis (ITAMI, 1987), a teoria de competências aplicada à diversificação de empresas (PRAHALAD; BETTIS, 1986; PRAHALAD; HAMEL, 1990; BETTIS; PRAHALAD, 1995), e a mais recente corrente que trata o conhecimento como o principal ativo de uma organização (KOGUT; ZANDER, 1992; GRANT, 1996; LIEBESKIND, 1996; SPENDER, 1996; DECAROLIS; DEEDS, 1999; EISENHARDT; SANTOS, 2002).

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os ativos físicos que provocavam o sucesso competitivo. Os ativos físicos eram apenas necessários para que as operações ocorressem. Os ativos invisíveis eram acumulados ao longo do tempo diretamente por decisões gerenciais e indiretamente como subprodutos da operação rotineira diária. A lógica era extremamente similar ao argumento desenvolvido por Dierickx e Cool (1989). As firmas que tinham a pretensão de crescimento, segundo Itami (1987) deveriam desviar-se um pouco da lógica de atuar apenas nas suas áreas de maior conhecimento e capacidade para conseguir criar novos ativos invisíveis. Estas firmas deveriam entender que elas normalmente não conseguiriam competir em um novo negócio tão eficazmente quanto o faziam no negócio de sua maior competência. Esta perda temporária de eficiência seria um caminho necessário para o crescimento e desenvolvimento.

Enquanto a maior parte dos estudos iniciais sobre diversificação de empresas (RUMELT, 1974) focou no compartilhamento de ativos tangíveis, Teece (1980) foi um dos primeiros autores a usar uma lógica de análise com vários elementos da visão de recursos à análise da diversificação. Nesta linha, Prahalad e Bettis (1986) criaram o conceito de lógica dominante como um conjunto de crenças e práticas compartilhadas pelo corpo gerencial das organizações que determinava como eles viam a realidade, a interpretavam e agiam respondendo ao ambiente. A lógica dominante podia ser vista como um ativo intangível da organização. Ela podia ser a justificativa econômica para a diversificação usando uma base intangível e cognitiva. Uma empresa diversificada teria como ponto de ligação entre as várias unidades de negócios a lógica dominante que contribuiria para o desempenho. Os autores fizeram uma comparação da lógica dominante como fator integrador e direcionador de uma empresa diversificada e os paradigmas no desenvolvimento da ciência na abordagem de Khun (1970).

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reconhecidos nos processos de diversificação podiam ter origem na inadequação da lógica dominante antiga à nova situação. Um alto nível de desempenho em uma empresa diversificada exigia, muitas vezes, respostas rápidas e acertadas a movimentos da concorrência. Sem uma lógica dominante adequada desenvolvida, as respostas tenderiam a ser mais lentas ou não tão adequadas, trazendo estes custos ocultos. Terceiro, o processo de mudar ou adicionar lógicas dominantes não era simples.

A mudança de uma lógica dominante requeria, normalmente, uma crise. Ela tinha que ser desaprendida antes da nova ser desenvolvida. A resposta inicial à crise seria, provavelmente, inadequada e só com o agravamento da crise a nova lógica, modificada, emergiria. Quarto, o conceito de diversificação relacionada e não relacionada deveria ser revisto. Poderia haver uma diversificação relacionada baseada em similaridades estratégicas e na composição cognitiva do time gerencial mais alto. Grant (1988) explorou exatamente este aspecto enfatizando a importância da noção de lógica dominante em identificar negócios relacionados no nível estratégico em vez de no nível operacional. Em texto mais recente, Bettis e Prahalad (1995) atualizaram o conceito indicando que o mesmo ainda seria útil em situações mais dinâmicas como em sistemas adaptativos complexos.

O artigo de Prahalad e Hamel (1990) ampliou o conceito de lógica dominante introduzindo a noção de competência essencial da organização. Os autores definiram a competência essencial de uma corporação como “the collective learning in the organization, especially how to coordinate diverse production skills and

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de similaridade com base no SIC (Standard Industry Classification) que certamente não representava adequadamente a visão baseada em recursos ou competências. Esta medida de similaridade mostrou-se um componente significativo para poder prever um desempenho superior.

A terceira corrente teórica de desenvolvimento paralelo, de desenvolvimento mais recente, foi a que vê o conhecimento como o ativo estratégico mais importante e que poderia ser até chamada da visão baseada no conhecimento da estratégia (KBV – Knowledge-Based View). Alguns pesquisadores viram a KBV como uma extensão da lógica de recursos que incluiria um ativo intangível fundamental: o conhecimento (GRANT, 1996; DECAROLIS; DEEDS, 1999). Outros argumentaram que o conhecimento deveria ser tratado como um processo contínuo de construção social e não como um recurso (SPENDER, 1996).

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Existem distinções possíveis entre todos estes conceitos e termos como recursos, capacidades, competências, capacidades dinâmicas, conhecimento. Em especial, a diferença entre recursos e capacidades foi o tema de um artigo de Stalk, Evans e Shulman (1992). Hitt, Ireland e Hoskisson (1999) também enfatizaram a distinção entre os recursos que seriam os atributos fundamentais (físicos, humanos, financeiros e organizacionais) da firma e as capacidades (capabilities). Essas seriam habilidades da firma explorar recursos na implementação das estratégias. Barney e Arikan (2001), por outro lado, ressaltaram as similaridades entre todos estes conceitos e como eles podiam ser integrados dentro da teoria usando a lógica de recursos: “Battles over the label of this common theoretical framework are an extreme example of a classic academic ‘tempest in a tea pot’ – full of sound and fury

but signifying nothing.” (BARNEY; ARIKAN, 2001, p. 140).

Com todas estas contribuições de correntes paralelas a visão baseada em recursos da estratégica assumiu, no início do século XXI, a posição de paradigma dominante em estratégia (FOSS, 2002). Barney e Arikan (2001) reportaram uma lista de 167 publicações que exploraram, testaram e desenvolveram a abordagem de recursos, classificando-os em diferentes áreas de pesquisa e tópicos específicos. Alguns trabalhos que podiam ser considerados exemplares. Neste aspecto pode-se citar o trabalho de Henderson e Cockburn (1994), que analisou o impacto da “competência componente” e da “arquitetura de competências” na produtividade de pesquisa das empresas farmacêuticas e o de Makadok (1999) que examinou o impacto de diferentes níveis de economias de escala na habilidade de fundos do mercado financeiro em aumentar a sua participação de mercado. Ambos os trabalhos podem ser considerados testes rigorosos da RBV (BARNEY; ARIKAN, 2001).

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crítica era relacionada às limitações da abordagem baseada em recursos. A RBV criticava o modelo neoclássico por considerar que o mercado de fatores era um mercado perfeito e que, na realidade eram exatamente as imperfeições deste mercado de fatores que importavam. Para um recurso ser fonte de vantagem competitiva ele deveria custar à empresa menos do que valia e, portanto, ter sido obtido em um mercado imperfeito. O valor dos recursos dependia, contudo do mercado. Ele era definido de forma exógena em função de sua capacidade para aproveitar oportunidades e neutralizar ameaças. O ambiente competitivo estava, também, em constante mudança e com isso o valor dos recursos mudava. Esta natureza dinâmica do valor dos recursos não estava considerada nos conceitos fundamentais da RBV. Ela acabava implicitamente assumindo a estabilidade do mercado de produtos e incorrendo em uma limitação simétrica àquela incorrida pelo modelo neoclássico (PRIEM; BUTLER, 2001, p. 30). Uma outra crítica, diretamente relacionada com este trabalho e derivada do raciocínio anterior, era a natureza estática da abordagem que se desenvolveu na RBV apesar de sua origem ser dinâmica e fundamentada na mudança. Priem e Butler (2001) não focaram no crescimento como uma alternativa, mas sim no caráter temporal e evolutivo dos recursos e da vantagem competitiva.

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xeque exatamente o desenvolvimento do conceito. Poderia ser o início de um tratamento teórico independente, próprio da área de estratégia, sem a vinculação tão direta com o fundamento microeconômico tão presente no início da RBV.

O segundo texto de Lippman e Rumelt (2003b) complementou o primeiro discutindo a questão da alocação dos ganhos desde uma perspectiva de barganha fundamentada em teoria dos jogos. Trata-se de um questionamento da própria definição de vantagem competitiva ou vantagem derivada dos recursos que dependeria deste mecanismo de barganha para ser materializada.

2.1.3 O esquecimento e o resgate do crescimento como dimensão da

vantagem competitiva

O crescimento como um dos resultados decorrentes da utilização dos recursos estava presente nos fundamentos da RBV. Em especial, o trabalho de Penrose (1959) via o crescimento como a variável dependente mais relevante e foi um dos inspiradores de toda a visão baseada em recursos. Wernerfelt (1984) e Mahoney e Pandian (1992) também abordaram o crescimento como um dos resultados relevantes derivados dos recursos, mas não desenvolveram o tema mais formalmente. A definição original de Barney (1991) sobre vantagem competitiva não excluía conceitualmente o crescimento como uma dimensão da mesma. Até o texto de Peteraf (1993) não deixava de comentar o crescimento e desculpava-se por usar um exemplo apenas de custos para ilustrar a interpretação econômica da vantagem competitiva. Os textos iniciais que introduziram o conceito de vantagem competitiva tinham um grande número de exemplos onde o resultado da vantagem competitiva era muito mais um ganho de mercado (portanto um crescimento de vendas) do que o conceito atual de retornos acima da média.

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dos grandes responsáveis por esta abordagem, mas mesmo os textos mais recentes e questionadores da questão do lucro econômico (LIPPMAN; RUMELT, 2003a,b) não fizeram qualquer menção ao crescimento.

Esta visão estática de rendas, que tem como único aspecto dinâmico a sustentabilidade destas rendas parece ser uma das limitações do estágio atual da RBV (PRIEM; BUTLER, 2001). Este ponto foi desenvolvido por Rugman e Verbeke (2002) quando fizeram uma revisão da contribuição da obra de Penrose (1959) para a área de estratégia. Eles reconheceram que a contribuição de Penrose (1959) não estava nas rendas derivadas dos recursos e dos mecanismos de isolamento que permitiam que elas se sustentassem. Na verdade, Penrose (1959) considerava que as rendas não eram um objetivo crítico tanto como um resultado do processo de crescimento como quanto a sua instrumentalidade para este processo (RUGMAN; VERBEKE, 2002, p. 775). Penrose explicitamente rejeitava o conceito de equilíbrio e, portanto de lucratividade acima da norma sustentável no longo prazo. Sua perspectiva pode ser vista mais como uma teoria de criação de valor em oposição à apropriação do valor. Rugman e Verbeke (2002) propuseram um modelo de análise que integra várias correntes incluindo a RBV, negócios internacionais, a abordagem de capacidades dinâmicas e a própria abordagem de Penrose, no sentido de combinar os objetivos gerenciais de rendas e crescimento. O modelo proposto está representado no Quadro 2.

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Quadro 2 - Os fundamentos prescritivos da abordagem de recursos e de Penrose a estratégia Fonte: RUGMAN; VERBEKE, 2002, p. 774, adaptado pelo autor.

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crescimento não o foi. Ela foi apenas objeto de vários trabalhos econométricos que tinham por objetivo maior entender e prever a estrutura do ramo de negócios resultante e não avaliara a relevância relativa dos vários fatores que influem no crescimento da firma. Esta é a essência da contribuição deste trabalho.

Quadro 3 - Uma proposta de concepção bidimensional da vantagem competitiva incluindo o crescimento

Fonte: o autor.

2.2

Os fundamentos teóricos do crescimento da firma

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em organização industrial. O objeto de maior interesse é a estrutura do ramo de negócios em determinado momento ou sua evolução no tempo. O crescimento das firmas é um dos processos relevantes que o determinam.

A obra de Edith Penrose (1959), “The Theory of the Growth of the Firm”, é sem qualquer dúvida o texto mais influente. Pitelis (2002, p. 1) afirmou que a obra pode muito bem ser o livro individual mais relevante em economia e administração na segunda metade do século XX. Embora Penrose (1959) fosse uma economista, sua obra influenciou várias outras tradições teóricas como organizações e, especialmente, estratégia.

Esta seção da revisão teórica usa a obra de Penrose (1959) como eixo central. Primeiramente, faz-se uma revisão dos principais aspectos da obra retratando a visão de Penrose sobre o crescimento das firmas, sua motivação, processos e direção. Na subseção seguinte, outras abordagens ao crescimento são contrapostas à de Penrose (1959). Em cada uma destas subseções é feita uma tentativa de ligar as diferentes abordagens teóricas do crescimento da firma aos resultados de análise de variabilidade da taxa de crescimento. Elas servirão de interpretação teórica à relevância e interação dos diferentes efeitos na variância da taxa de crescimento: efeito firma, ramo de negócios, país, ano.

2.2.1 A contribuição teórica de Penrose ao crescimento da firma

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firma o faz dentro de uma organização administrativa enquanto que o mercado não (PENROSE, 1959, p. 15, 197). Um aspecto importante na definição da firma envolve o seu papel como uma unidade administrativa autônoma não limitada a certo tipo de produto ou atividade. Ela não estava, pois, convenientemente representada pelas curvas de custo e receita, ou certos produtos e mercados. A firma concebida desta forma tem liberdade para, quando recursos adequados estão disponíveis, produzir qualquer coisa para qual uma demanda possa ser encontrada ou criada. A expansão da firma não era o simples aumento do volume de produção com suas implicações na curva de custos. Esta definição de firma coincide com a descrição de “modern business enterprise” ou a sua subespécie a “modern industrial enterprise” de Chandler (1990, p.14).

A firma de Penrose (1959) era um conjunto de recursos (humanos e não-humanos) sob coordenação administrativa. Destes recursos, os recursos humanos, em particular os recursos gerenciais, eram os mais importantes. Penrose (1959) fez uma clara distinção entre recursos e os serviços derivados deles. Não são os recursos propriamente ditos que alimentavam processo produtivo, mas sim os serviços derivados destes recursos. Os serviços eram função de como os recursos são usados e o mesmo recurso poderia fornecer serviços diferentes quando usado de forma diferente para objetivos diferentes. Isto é especialmente verdade no caso dos serviços gerenciais dada a sua flexibilidade de utilização. Recursos eram, portanto, um conjunto de serviços potenciais e podem ser definidos independentemente de seu uso enquanto que os serviços não (PENROSE, 1959, p. 25). O grupo gerencial existente em uma firma em determinado momento fornecia os serviços gerenciais que compõem a sua capacidade administrativa e de planejamento. Mesmo que os gerentes decidissem contratar serviços externos ou novos funcionários, estes eram atos administrativos e usavam os serviços gerenciais para a sua execução.

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Penrose (1955) como o princípio dos múltiplos. O crescimento da firma era, portanto, um processo natural, causado pela sua própria natureza.

[...] if a collection of invisible productive resources is to be fully used, the minimum level of output at which the firm must produce must correspond to the least common multiple of the various outputs obtainable from the smallest units in which each type of resource can be acquired. […] This output will tend to be greater the larger the variety of resources and the more diverse the units they come. A firm would have to produce on a vast scale if it were to use fully the services of all the resources required for much smaller levels of output. (PENROSE, 1955, p. 533).

Um segundo ponto que se adiciona a este é o fato, já comentado, que os recursos poderiam ser usados de diferentes formas, ou, na terminologia de Penrose (1959) o mesmo recurso poderia fornecer diferentes serviços. Uma firma que dispusesse de recursos em excesso de determinado tipo tinha, portanto, uma gama de serviços produtivos possíveis dentre os quais poderia escolher ou decidir aplicar no crescimento. Estes recursos eram também, muitas vezes, específicos à firma em questão e não poderiam ser adquiridos no mercado de forma perfeita.

Quando os recursos eram usados para a expansão da firma, os mesmos eram liberados, uma vez realizada esta expansão. Assim, ao completar a expansão, estes recursos passavam a fazer parte do conjunto de recursos disponíveis promovendo um novo estímulo a uma continuação do processo de crescimento. As firmas estariam, pois, em constante crescimento. Marris (2002) criticou esta justificativa teórica, comparando-a, de forma jocosa, à conhecida Lei de Parkinson. Parkinson (1958) sugeriu que o trabalho se expande de forma a ocupar todo o tempo disponível. Na verdade, a crítica de Marris (2002) referia-se à falta de uma fundamentação quantitativa da afirmativa de Penrose. Se o fato dos recursos estarem disponíveis em quantidades discretas tivesse um efeito, a taxa de crescimento da firma seria função do tamanho do “lote” disponíveis para os recursos e o tamanho da firma. Este efeito seria menor para firmas maiores que, devido a sua maior escala, não necessitariam de tantos recursos em excesso.

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crescimento. A originalidade da abordagem de Penrose residiu na sua referência ao tempo. Penrose (1959, p. 56) via o crescimento como um processo natural, que tem origem no fato que sempre existiam, nas empresas, recursos não usados. Seu foco foi mais no processo do crescimento do que no tamanho.

Este estímulo interno ao crescimento tinha duas conseqüências importantes. A primeira era que ele impedia o equilíbrio de mercado. Esta foi uma justificativa da situação de constante desequilíbrio e continuada inovação. Não haveria tamanho ótimo para a firma e nem limite para o tamanho na concepção de Penrose. A segunda conseqüência foi o desenvolvimento por parte da firma de áreas de especialização ou bases de produção ou tecnológicas que dirigiriam o crescimento (PENROSE, 1959, p. 109). Penrose (1959) chamou estas áreas de bases inexpugnáveis (impregnable bases) antecipando em vários anos a idéia de competências essenciais.

Penrose (1959) não via limites ao tamanho das firmas, mas apenas a sua taxa de crescimento. Uma questão fundamental para este conceito de firma era se elas poderiam crescer até um ponto em que fiquem grandes demais. A capacidade gerencial foi inicialmente vista como um fator fixo e, como conseqüência, o crescimento levaria a uma situação de retornos decrescentes devido à necessidade de coordenação e à característica finita da capacidade do ser humano individual. Penrose (1959, p.18-19) argumentou que esta limitação não podia ser observada devido ao fato da organização ter a capacidade de alterar a sua estrutura administrativa de tal forma que decisões gerenciais não-rotineiras pudessem ser feitas por um grande número de pessoas diferentes dentro da mesma firma sem destruir sua unidade essencial como firma. Esta constatação tornava difícil prever um ponto a partir do qual uma firma passasse a ser grande demais para ser eficientemente gerenciada devido à sua complexidade. Firmas grandes e pequenas deveriam ser vistas como duas espécies de um mesmo gênero. Elas teriam o mesmo objetivo, mas o atingiriam de forma diferente. Como colocou Penrose:

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Gráfico 1 - Rendas ricardianas decorrentes de um recurso que oferece menor custo  Fonte: PETERAF, 1993
Tabela  1 - Resumo dos estudos sobre componentes de variância da performance
Tabela  2 - Observações eliminadas e total de observações utilizadas na análise final de  crescimento
Tabela  4 - Análise descritiva das distribuições das taxas de crescimento e dos índices de  rentabilidade
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Referências

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