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A Volta do Conceito de Desenvolvimento Sustentável

1.2. Do Desenvolvimento Ao Desenvolvimento Sustentável

1.2.2. A Volta do Conceito de Desenvolvimento Sustentável

O Desenvolvimento Sustentável é tido como, o desenvolvimento que dá resposta às necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de poderem satisfazer as suas (WCSD, 1987: 54). Nesta perspectiva deve se considerar, em simultâneo, as três dimensões de desenvolvimento sustentável, designadamente, a social, económica e a ambiental (Baker, 2006).

Há um sentimento que a reunião da cúpula de 2002 em Johanesburg logrou os resultados esperados, debatendo questões centradas no ser humano e o estado dos recursos naturais (Sequinel, 2002; Mikhailova, 2005; Lago, 2006). O desenvolvimento sustentável procura a melhoria da qualidade de vida de todos os habitantes do mundo sem aumentar o uso de recursos naturais além da capacidade da Terra.

Sobre o conceito de desenvolvimento sustentável, Mueller (2005:9) destaca a necessidade de satisfação global, portanto das necessidades de todos: O foco central é o bem-estar presente e futuro da humanidade (Mueller, 2005: 1). Que o desenvolvimento sustentável deve ser encarado como um mandamento para que o nosso actual padrão de vida não seja alcançado à custa do empobrecimento das futuras gerações.

Carmo (2014) analisa a questão da responsabilidade e do compromisso entre gerações como um direito de cidadania chamando atenção para um diálogo necessário e permanente entre gerações em presença como um valor acrescentado para sustentabilidade. Debruçando-se sobre a orientação coletiva e a coesão social como alicerces para governação Carmo (2014) enfatiza a necessidade de haver reciprocidade intergeracional. Nessa perspetiva devem ser definidas políticas e implementadas estratégias que protejam as futuras gerações ao mesmo tempo que se faça o mesmo em relação as gerações de idosos, proporcionando-lhes um envelhecimento ativo, otimizando as oportunidades para saúde, segurança social, educação e participação a medida que as pessoas crescem (OMS, 2008). Esta responsabilidade recíproca pode contribuir para despertar a consciência de

21 qualquer cidadão, sobretudo da população ativa a ser mais solidário com as futuras gerações (Muellar, 2005).

Definir desenvolvimento sustentável é também definir sustentabilidade (Barbosa, 2008). O termo Sustentabilidade vem do latim Sustentare, que significa suster, sustentar, suportar, conservar em bom estado, manter, resistir. Desta forma Sustentabilidade é tudo aquilo que é capaz de ser suportado e mantido (Siche, et al., 2007: 140).

Apesar de esse conceito ser universalmente aceite, existem outras formulações sobre sustentabilidade (Pearce et al., 1989), chegando a se atribuir diferentes significados por diferentes pessoas (Keeney, 1990; Redclift, 1993). Para alguns autores como Baker (2006) a busca de uma definição precisa sobre desenvolvimento sustentável é vista por alguns autores como um esforço frustrante por ser um processo dinâmico fortemente dependente dos contextos no qual são aplicados (Brown et al., 1987; Franco, 2010).

Se o consenso quanto ao significado de Sustentabilidade é muito pouco provável de ser obtido, no caso do desenvolvimento sustentável a dificuldade é maior, pois definir desenvolvimento também não tem sido um aspecto fácil e ainda se discute a sua definição (Marcatto, 2008). O grande mérito conferido às definições universais de sustentabilidade e de desenvolvimento sustentável reside no facto de as mesmas serem genéricas e por isso abrangentes.

O debate a volta do conceito de desenvolvimento sustentável continua (Sachs, 1990; Pezzey, 1992; Reid, 1995; Hopwoods et al., 2005; Mueller, 2005; Siche et al., 2007), havendo correntes que sugerem a inclusão explícita de outros pilares como, o cultural e o da educação nas análises (Carmo, 2009). Os debates desse género levaram Marcatto (2008: 4) a concluir que a sustentabilidade é um conceito em disputa.

Para justificar o debate interminável, Bell & Morse (2003) referiram que falar de sustentabilidade é tratar-se de um processo dinâmico, com ações inclusivas devendo se perceber que as pessoas e a sociedade estão em constante mudança. Segundo Marcatto (2008), isso permite a várias correntes e ao mundo, em geral, poderem se identificar com essas definições, respeitá-las como orientadoras e adaptá-las nos vários contextos políticos, económicos e socioculturais (Reid, 1995; Ehlers, 1996).

Na perspectiva de Marcatto (2008), as definições sobre sustentabilidade e sobre desenvolvimento sustentável revelam diferentes valores, perceções e visões políticas a respeito do desenvolvimento e de como os recursos naturais deveriam ser utilizados nesse processo. Sustentabilidade é um conceito complexo e que possui diferentes abordagens mas em todas elas está intrínseco o conceito de equilíbrio da biosfera e do bem-estar da humanidade (Siche et al., 2007: 146). Entretanto, a interpretação de conceitos e análises de estudos, por si só não vão resolver os problemas associados ao desenvolvimento, mencionado no Relatório de Brundtland (WCSD, 1987) mas ajudam na consciencialização e podem orientar a planificação e intervenções.

Apesar de os países serem soberanos, a dinâmica do seu desenvolvimento e as opções políticas e económicas são cada vez mais influenciadas ou até condicionadas pelos efeitos da globalização. Nesta perspetiva Giddens (2000: 16) mencionou que a globalização diz nos que ao mesmo tempo que somos singulares como indivíduos e coletivamente soberanos como nações, estamos num mundo marcado por relações de interdependência.

Reconhecendo que o desenho de Políticas e de Estratégias de Desenvolvimento Sustentável adequadas é fundamental para a orientação de intervenções, existe um grande desafio para pô-las em prática para o bem global repetido em debates e documentos diversos (WCSD, 1987; ONU, 2010). O Relatório de Brundthland (1987) e a Agenda 21 (1992), são exemplos inequívocos de compromissos assumidos pelos Países à volta do desenvolvimento sustentável. Mais recentes temos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ONUBR, 2016), Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (PNUD, 2000) e a UNECE (2012) e, a nível da União Europeia (UE), destaca-se a Estratégia 2020 (UE, 2010) e a Estratégia de Desenvolvimento Sustentável 2050 (EU Council, 2009) e a NEPAD para África (NEPAD, 2002 e UA, 2002) expressando a busca de instrumentos orientadores mais integrados.

A sustentabilidade é um conceito dinâmico que considera as necessidades crescentes das populações num contexto internacional em expansão (Sachs, 1990). Com esse dinamismo, pode se entender a complexidade na implementação de intervenções de sustentabilidade como uma tarefa desafiadora. Entretanto, para o sucesso na implementação de acções conducentes ao desenvolvimento sustentável é importante haver um alinhamento firme

23 entre as políticas, estratégias e a implementação de programas, sobretudo os de benefício comunitário, como a extensão agrária (MADER, 1995; Foo & Harris, 2010; MINAG, 2011a).